A
forma imperialista do capitalismo, que exprime a tendência para a coesão das
diversas facções da classe dominante, opõe as grandes massas do proletariado
não a um patrão isolado, mas, cada vez mais, a toda a classe dos capitalistas e
ao seu Estado. Por outro lado, esta forma de capitalismo desfaz as fronteiras
dos estados nacionais tornadas demasiado estreitas e alarga o quadro do poder
capitalista das grandes potências, opondo a esse poder os milhões de homens das
nacionalidades oprimidas, das «pequenas» nações e dos povos coloniais. Enfim,
esta forma de capitalismo opõe com mais agudeza os estados imperialistas uns
aos outros.
Neste estado de coisas, o poder político adquire para a burguesia
uma importância particular, torna-se na ditadura de uma oligarquia financeira e
capitalista, a expressão do seu poderio concentrado. As funções desse Estado
imperialista, que compreende numerosas nacionalidades, desenvolvem-se em todos
os sentidos. O desenvolvimento das formas do capitalismo de Estado facilita ao
mesmo tempo a luta nos mercados externos (mobilização militar da economia) e a
luta contra a classe operária.
O desenvolvimento monstruoso ao extremo do
militarismo (exército, frotas aérea e naval, armas químicas e biológicas), a
pressão crescente do Estado imperialista sobre a classe operária (exploração
acrescida e repressão directa, por um lado, corrupção sistemática da burocracia
reformista dirigente, por outro), exprimem o enorme crescimento do papel do
Estado. Nestas condições qualquer acção mais ou menos importante do
proletariado se transforma numa acção contra o Estado, quer dizer, numa acção
política. Assim, o desenvolvimento do capitalismo e, mais particularmente, a
época imperialista reproduzem as condições fundamentais do capitalismo a uma
escala cada vez mais considerável.
A concorrência entre pequenos capitalistas
não cessa senão para dar lugar à concorrência entre grandes capitalistas;
quando esta se acalma, desencadeia-se a concorrência entre as formidáveis
coligações dos magnatas do Capital e dos seus estados; as crises locais e
nacionais estendem-se a diversos países e acabam por abraçar o mundo inteiro;
as guerras locais dão lugar às guerras de coligações e às guerras mundiais; a
luta de classes passa da acção isolada de certos grupos de operários às lutas
nacionais, depois à luta internacional do proletariado mundial contra a
burguesia mundial. Enfim, levantam-se e organizam-se contra as forças do
capital financeiro poderosamente organizado, duas grandes forças
revolucionárias: de um lado, os operários dos estados capitalistas e, do outro
lado, as massas populares das colónias curvadas sob o jugo do capital
estrangeiro, mas lutando sob a direcção e hegemonia do movimento revolucionário
proletário internacional.
Esta tendência revolucionária fundamental é no
entanto temporariamente paralisada pela corrupção de certos elementos do
proletariado europeu, norte-americano e japonês vendidos à burguesia
imperialista e pela traição da burguesia nacional dos países coloniais e
semicoloniais assustados pelo movimento revolucionário das massas. A burguesia
das grandes potências imperialistas, arrecadando um lucro suplementar, tanto em
razão da sua posição no mercado mundial em geral (técnica mais desenvolvida,
exportação de capitais para países onde a taxa de lucro é mais alta, etc.) como
em razão da pilhagem das colónias e das semicolónias, pôde aumentar, graças a
esses superlucros, os salários dos «seus» operários, despertando-lhes assim o
interesse pelo desenvolvimento do capitalismo da sua «pátria», pela pilhagem
das colónias e pela fidelidade para com o Estado imperialista.
Esta corrupção
sistemática manifestou-se e manifesta-se particularmente ainda em larga escala
nos países imperialistas mais poderosos; encontra a sua expressão mais
relevante na ideologia e na acção da aristocracia operária e nas camadas
burocráticas da classe operária, quer dizer nos quadros dirigentes da
social-democracia e dos sindicatos que se revelaram como agentes directos da
influência burguesa no seio do proletariado e os melhores apoios do regime
capitalista.
Mas após ter desenvolvido a aristocracia corrompida da classe
operária, o imperialismo acaba por destruir a sua influência sobre o
proletariado, na medida em que se acentuam as contradições do regime, o
agravamento das condições de vida e o desemprego de grandes massas operárias,
as despesas e os enormes custos provocados pelos conflitos armados, a perda de
certas posições que os monopólios detinham no mercado mundial, a separação das
colónias, etc., abalam a base do social-imperialismo nas massas. Do mesmo modo,
a corrupção sistemática de diversas camadas da burguesia das colónias e das
semicolónias, a sua traição ao movimento nacional-revolucionário e aproximação
às potências imperialistas não paralisam senão temporariamente o
desenvolvimento da crise revolucionária. Este processo leva, por fim, ao
reforço da opressão imperialista, ao enfraquecimento da influência da burguesia
nacional sobre as massas populares, ao agravamento da crise revolucionária, ao
desencadear da revolução agrária de grandes massas camponesas e à criação de
condições favoráveis à hegemonia do proletariado dos países coloniais e
dependentes na luta das massas populares, pela independência e por uma completa
libertação nacional.
O IMPERIALISMO E A QUEDA DO CAPITALISMO.
O imperialismo
elevou as forças produtivas do capitalismo mundial a um alto grau de
desenvolvimento. Concluiu a preparação das premissas materiais para a
organização socialista da sociedade. Demonstra, pelas suas guerras, que as
forças produtivas da economia mundial ultrapassaram o quadro restrito dos
estados imperialistas e exigem a organização da economia a uma escala
internacional mundial.
O imperialismo esforça-se por resolver esta contradição,
rompendo a ferro e fogo a via para um trust capitalista de Estado mundial e
único que organizaria a economia mundial. Esta sangrenta utopia é glorificada
pelos ideólogos sociais-democratas que vêem nela o método pacífico do novo
capitalismo «organizado». Na realidade, ela confronta-se com obstáculos
insuperáveis objectivos de uma tal dimensão que o capitalismo sucumbirá
inevitavelmente sob o peso das suas próprias contradições. A lei da
desigualdade do desenvolvimento capitalista, acentuada na época imperialista,
torna possíveis agrupamentos estáveis e duradouros de potências imperialistas.
Por outro lado, as guerras imperialistas, que se transformam em guerras
mundiais pelas quais a lei de concentração do capital se esforça por atingir o
seu limite extremo – o trust mundial único –, são acompanhadas de tais
devastações, impõem à classe operária e aos milhões de proletários e de
camponeses das colónias tais agravos, que o capitalismo perecerá
inevitavelmente sob os golpes da revolução proletária, bem antes de ter
atingido essa finalidade. Fase suprema do desenvolvimento capitalista, levando
as forças produtivas da economia mundial a um desenvolvimento de amplitude
formidável, recriando o mundo inteiro à sua imagem, o imperialismo arrasta para
o campo da exploração do capital financeiro todas as colónias, todas as raças e
todos os povos.
Mas a forma monopolista do capital desenvolve simultaneamente
num grau crescente os elementos de degenerescência parasitária, de
apodrecimento e declínio do capitalismo. Destruindo em certa medida essa força
motriz que é a concorrência, levando a cabo uma política de altos preços
fixados pelos cartéis, dispondo sem restrições do mercado, o capital
monopolista tende a travar o desenvolvimento ulterior das forças produtivas.
Arrancando a milhões de operários e de camponeses coloniais superlucros
fabulosos e acumulando enormes proventos dessa exploração, o imperialismo cria
um tipo de Estado dependente da renda, em degeneração parasitária e
apodrecimento, e camadas inteiras parasitas que vivem de cupões de renda.
Concluindo o processo da criação das premissas materiais do socialismo
(concentração dos meios de produção, imensa socialização do trabalho,
crescimento das organizações operárias), a época imperialista agrava as
contradições existentes entre as «grandes potências» e engendra guerras que
culminam na desagregação da unidade da economia mundial. O imperialismo é, por
esse motivo, o capitalismo em decomposição e agonizante e, em geral, a última
etapa da evolução capitalista, o prelúdio da revolução socialista mundial. A
revolução proletária internacional decorre assim das condições do
desenvolvimento do capitalismo em geral e da sua fase imperialista em
particular. O sistema capitalista conduz no seu conjunto a uma falência
definitiva. A ditadura do capital financeiro perece, dando lugar à ditadura do
proletariado.
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