domingo, 29 de março de 2020

COVID-19 expôs ainda mais o capitalismo americano em decadência fascista


 
O tenente-governador do Texas, Dan Patrick, provocou polêmica com seu recente pedido de que as pessoas trabalhem para "salvar a economia", chegando ao ponto de dizer que os avós devem estar dispostos a arriscar suas vidas pelo futuro econômico de seus netos. É fácil descrever isso como reflexões assassinas de um trompetista reacionário que olha aterrorizado seu portfólio de ações, mas esse pensamento dificilmente está isolado na política americana no momento e reflete o movimento fascista geral que ocorre desde o 11 de setembro , o ato patriota e a perseguição desumana de imigrantes.
 
Enquanto muitos da esquerda ainda se recusam a considerar Trump e seu movimento como proto-fascista, abertamente em direção ao fascismo, e subestimam as diferenças significativas na maneira como o Estado americano exerce seu chauvinismo terrorista contra comunidades imigrantes desde 2016, esses novos desenvolvimentos e retóricas políticas na era do COVID-19 impulsionam ainda mais o debate. Todas as nossas vidas mudaram fundamentalmente, e o corpo político do país começou a refletir isso.
 
Existem dois aspectos principais dessa retórica do desejo da morte, impulsionada economicamente, que refletem a decadência fascista do capitalismo americano. Primeiro, Dan Patrick e muitos trompetistas refletem a “razão” cínica que estava no coração da 20ª barbárie fascista e é o coração do apologismo fascista do século 21. Os fascistas sempre procuram retratar os esforços para priorizar a vida humana às custas econômicas ou nacionais, como o produto de um liberalismo decadente e fraco que carece de estômago para alcançar o verdadeiro sucesso. Certamente, para os Dan Patrick do mundo, milhares de idosos morrerão, mas quantos, eles perguntam com discrição, sofrerão com uma recessão econômica? Matar milhares para obter ganhos econômicos, em tal construção, é realmente bom para o país, porque salva muitos milhões da destruição financeira. Nosso destino e o destino dos acionistas são o mesmo destino - o antigo mito da reaganita, superficial. Mas quem, em última análise, o Estado americano ajudou na última recessão? Eles ofereceram uma hipoteca para quem perdeu a casa? Perdão de empréstimo de estudante para graduados que não conseguiram encontrar um emprego? Não, eles ofereceram trilhões para empresas. Somos solicitados a arriscar nossas vidas, as vidas de nossos pais e avós, para o bem da nação - mas sabemos por experiência própria quem sofre e quem não sofre durante as crises do capitalismo. Entendemos que a razão cínica dos fascistas é apenas um floreio retórico destinado a obscurecer a priorização do ganho econômico da classe dominante sobre a vida humana. Hitler pode ter sido um tirano, dizem os apologistas fascistas, mas pelo menos ele era bom para a economia!
 
Segundo, um argumento como o de Dan Patrick exige que estratifiquemos a sociedade em pessoas “produtivas” e “não produtivas”, uma necessidade para a criminalidade fascista. Os idosos, considerados improdutivos, devem ser gastos como moeda em mais um plano de estímulo para os ricos. Não devemos nos iludir pensando que esse entendimento é exclusivo do COVID-19 e aplicável apenas a suas qualidades particulares (taxas de mortalidade mais altas entre a população mais idosa, por exemplo). Esse tipo de pensamento é a base de ataques fascistas contra pessoas com deficiência e problemas de saúde mental, grupos que foram os primeiros a serem mortos durante o holocausto e sobre quem Zyklon B foi testado após a Conferência de Wansee. As condições econômicas criadas pelo COVID-19 aceleraram essa descida fascista, de modo que um líder político pode defender abertamente grandes áreas da população americana que estão morrendo para salvar a economia e ser defendido pelo establishment de direita, mas essa diferenciação entre produtivo e não pessoas produtivas há muito tempo estão no coração do rastejamento fascista americano. Os imigrantes são abusados ​​e mortos na fronteira porque são retratados como sanguessugas que não pagam impostos e ainda usam serviços sociais como educação e bem-estar (ambos mitos flagrantes). O capitalismo em decadência  procura semear o separatismo nas classes trabalhadoras que possam se unir para sua destruição, deve criar uma diferença entre aqueles que são "produtivos" e "improdutivos". É preciso convencer-nos de que temos menos em comum com uma pessoa idosa que trabalhou a vida inteira do que com capitalistas de risco em Wall Street. Foi o desmembramento da solidariedade da classe trabalhadora e a oposição de diferentes setores da classe trabalhadora que capacitou os fascistas a cometer seus maiores crimes.
 
Devemos não ter medo de rotular uma política que participa de uma razão cínica que negocia alegremente vidas por ganhos em ações e procura tornar os trabalhadores uns contra os outros para obter ganhos corporativos como fascistas. O capitalismo, diante de um movimento socialista ressurgente e de uma crise interna, está se voltando para seu último bastião. Como trabalhadores e socialistas, cabe a nós pressionar a ansiedade, o desespero e o isolamento que muitos de nós enfrentamos e nos recompor com novo vigor e engenhosidade à tarefa de destruir o fascismo de uma vez por todas.
 
https://theredphoenixapl.org/ 

quarta-feira, 25 de março de 2020

A crise viral à luz da crise do capital !

A crise viral à luz da crise do capital.
Manuel Raposo - Terça-feira, 24 Março, 2020
Vai ser fácil atribuir ao coronavírus a crise económica que está em curso. Os propagandistas de serviço já lhe chamam “a crise do covid-19”. Mas, como em química, é preciso distinguir os reagentes dos catalizadores. A emergência criada com a epidemia viral veio apenas precipitar o que já se desenhava e que os observadores mais atentos previam desde, pelo menos, há meses.
A deflagração da crise financeira mundial de 2008 foi prontamente atribuída à “ganância” dos especuladores. Agora, aponta-se o dedo ao imprevisto covid-19. Em ambos os casos, pressente-se o propósito de absolver o sistema capitalista e desse modo esconder as causas essenciais deste novo colapso.
Uma queda abrupta mas previsível
As recentes quedas verticais das bolsas mostram que o inevitável está já a dar-se: a bolha financeira criada na última década estoira de forma fragorosa, o capital fictício movimentado na especulação esfuma-se ao ritmo de milhões por hora. A “recuperação” de que se falava ainda há meses revela-se inexistente. Toda a riqueza acumulada nas mãos de uns poucos, real ou virtual, mostra ser inteiramente inútil para responder à crise, tanto sanitária como económica.

As principais economias do mundo, para não dizer todas, sofrem recuos e entram em recessão. A Organização Internacional do Trabalho prevê um crescimento do desemprego entre 5 e 25 milhões, em cima dos quase 200 milhões existentes. A pobreza atingirá mais 9 milhões de trabalhadores. Grandes empresas (como entre nós a TAP , a Autoeuropa, a PSA ou a Continental) encerram ou abeiram-se da falência. Milhares de pequenas empresas fecham portas para não mais abrir.

Doze anos volvidos, nenhum dos males de 2008 foi resolvido e a queda, hoje, promete ser ainda mais violenta.

Uma crise dentro da crise

Na verdade, não se trata de uma segunda crise, esta que se atribui ao vírus. Trata-se antes de uma recaída da crise aberta em 2008. Diante do colapso dos negócios, a “solução” consistiu então em tentar cobrir a dívida gigantesca das instituições financeiras enchendo-lhes os cofres com mais dinheiro fresco. A “solução” para a dívida foi aumentar a dívida — e fazê-la pagar pelo trabalho, sob medidas de austeridade.

Nos doze anos decorridos assistiu-se a uma colossal acumulação de capital e de riqueza num número cada vez menor de mãos. Longe de significar um efectivo progresso, isso deu-se à custa do empobrecimento do trabalho assalariado; da degradação acentuada das infraestruturas e dos serviços públicos, nomeadamente da saúde e da assistência social (que agora se revela de efeitos criminosos); duma destruição ambiental mais acelerada; duma competição entre capitais e impérios mais feroz; duma multiplicação desenfreada de agressões armadas e de sanções económicas.

Nenhum real relançamento económico teve lugar — apenas a estabilização temporária da finança e a recuperação dos lucros do capital especulativo. Enquanto a euforia das bolsas durou, o poder e os seus altifalantes foram enganando a massa trabalhadora com a ideia falsa de que a economia estava em retoma. Foram espalhando ilusões de progresso num futuro indefinido de modo a calar as resistências daqueles que no presente pagavam os custos da salvação do capital.

A ordem dos factores conta

A epidemia tem pois o efeito de um acelerador, mas não está na origem da crise económica que agora se desencadeia de novo. É aliás perfeitamente plausível admitir que, se a economia capitalista estivesse de boa saúde e em progresso, os efeitos da pandemia poderiam ser debelados, com prejuízos, mas sem a catástrofe que agora se desenha.

Mais: se a economia e o poder dos Estados estivessem virados para o bem comum, haveria extensos cuidados sanitários, reservas de bens e medicamentos, investigação direccionada para a prevenção de novas doenças, franca cooperação internacional desinteressada — e a crise sanitária seria então encarada sem pânico e combatida com meios que agora não existem porque foram desprezados.

Neste sentido, é a crise arrastada deste capitalismo senil que faz da epidemia do coronavírus uma catástrofe, e não o contrário.

O capitalismo mundial a nu

O que fica à vista é, pois, a fraqueza intrínseca do capitalismo de hoje; a decorrente incapacidade de todo o sistema social por ele moldado em responder às necessidades colectivas; a sua total desadequação para responder às exigências de uma sociedade humana aberta, transnacional, global, igualitária.

A recaída a que agora assistimos evidencia não apenas o marasmo vivido desde 2008. Confirma também os limites do processo de globalização desencadeado nos anos de 1990. Os benefícios que o capital imperialista tirou da expansão verificada nos últimos 30 anos tudo indica que chegaram ao fim. É a percepção desse limite que está na base do proteccionismo e do nacionalismo a que recorrem potências de primeiro plano como os EUA ou o Reino Unido.

Dado o beco sem saída a que todo o sistema chegou, o que se perspectiva não é um mirífico novo surto de progresso: é uma atrofia do capitalismo mundializado.

A intervenção do Estado

Na emergência da pandemia, salta à vista a incapacidade da glorificada “iniciativa privada” e do sacrossanto “mercado” para responderem às exigências sociais mínimas: vida e saúde. Não faltam exemplos: clínicas e hospitais privados só se tornam úteis quando incorporados no Serviço Nacional de Saúde, a prática de “stock zero” cria faltas clamorosas de bens e equipamentos essenciais, inúmeras actividades económicas revelam-se absolutamente supérfluas por não haver plano para as necessidades sociais, a burocracia estatal mostra ser um empecilho no socorro às vítimas, os monopólios das cadeias de abastecimento abeiram-se da ruptura, a condição privada da banca impede que a riqueza social que ela acumula seja devidamente direccionada.

O Estado arregaça as mangas e chama a si todos os encargos da vida colectiva para assegurar as tarefas que os empresários não asseguram, numa demonstração mais de como o capital se tornou inútil e parasitário. Mas o Estado só entra em cena, em última análise, para salvar o capital da morte — socializando prejuízos, estatizando empresas se preciso for, imprimindo dinheiro a rodos — na esperança de que a onda passe e os negócios possam mais tarde ser retomados, cobrando com juros as perdas de agora.

As gigantescas injecções de dinheiro (muito superiores às de 2008) que os Estados estão já a fazer — dando liquidez a empresas paradas, distribuindo dinheiro para tentar manter o consumo, suspendendo as limitações orçamentais no caso da União Europeia, etc. — vão fazer aumentar as dívidas públicas e os défices estatais para níveis nunca vistos, e não vão conseguir impedir mais uma liquidação maciça de capital, isto é, de riqueza social.

A consequência que se adivinha será o desemprego em massa, a quebra dos salários directos, a perda irremediável das pensões de reforma sujeitas aos azares da especulação bolsista, a degradação ainda maior dos serviços públicos — tudo contribuindo para aumentar o fardo nas costas da massa trabalhadora.

O que faz falta

Todo aquele esforço comprova como a economia capitalista, tornada senil, não consegue responder às exigências colectivas de hoje, e como a sobrevida do capitalismo arrasta a sociedade por inteiro para o caos. Ganha pleno sentido a exigência de uma ordem social nova, socialista.

As próprias medidas de emergência, ironicamente, aproximam-se em termos formais dessa necessidade: assegurar poder de compra mínimo a toda a gente, proporcionar cuidados de saúde e apoio social gratuitos e universais, manter emprego e salários apesar da queda dos negócios, requisitar empresas privadas para produção útil, estatizar sectores estratégicos. Mas a natureza de classe do Estado faz com que tudo isto seja limitado, temporário e feito na mira de repor mais adiante o sistema de exploração.

Não por acaso, os governantes e os propagandistas do poder falam em “guerra” a respeito da pandemia. Têm em vista criar na população uma unanimidade obediente, ganhar margem para combater protestos sociais e reivindicações que venham a levantar-se. Criam assim condições para a arbitrariedade do poder, para a intervenção repressiva, sob o argumento falso de que o mal atinge todos por igual e que todos estarão a ser defendidos por igual.

Debaixo da bandeira da “guerra” à pandemia, o poder procura ocultar a verdadeira guerra de classes que inevitavelmente se agudiza nas condições de penúria e de descalabro social que se avizinham. A guerra efectiva, do ponto de vista de quem trabalha, é contra um sistema social-económico que repetidamente se mostra incapaz de assegurar bem-estar, vida, saúde.

Quando toda a humanidade é conduzida à beira do caos — é nessa iminência que estamos — a questão que se coloca é criar a força social que empurre para a cova um capitalismo que esgotou a sua capacidade de proporcionar progresso. Na ausência dessa força, torna-se inevitável que a massa trabalhadora sofra de novo (e agora, com toda a probabilidade, de forma agravada) os custos de mais esta síncope do velho mundo capitalista. O único agente capaz de uma verdadeira mudança social são as classes trabalhadoras. Está nas suas mãos ganharem consciência disso mesmo e organizarem-se para imporem uma tal mudança.
 Partilhado de www.jornalmudardevida.net

terça-feira, 24 de março de 2020

Sobre a pandemia do coronavírus

Federação Sindical Mundial (FSM)

Os trabalhadores não têm de pagar os efeitos do surto de coronavírus na economia global, com medidas como despedimentos em setores como o turismo, o trabalho no domicílio e, mesmo, horários de trabalho ainda mais flexíveis.
 
Nenhum trabalhador deve perder o seu trabalho!

A Federação Sindical Mundial, em nome de seus 100 milhões de membros em todo o mundo, expressa seu apoio a todos trabalhadores do globo, que enfrentam consequências na sua saúde e riscos nos seus direitos laborais, devido ao surto de coronavírus que agora regista um grande número de casos e mortes.

Instamos os governos a tomarem imediatamente todas as medidas necessárias para garantir a vida e a saúde dos trabalhadores, bem como a proteção dos seus direitos laborais.

A nossa grande família sindical de classe enfatiza a heroica contribuição dos trabalhadores da saúde e cientistas, nos hospitais e noutros serviços, que estão a lutar para proteger as vidas dos trabalhadores e de todas as pessoas, em condições de exaustão e em sistemas de saúde pobres e inadequados
.
Estamos a descobrir as enormes lacunas nos Sistemas de Saúde, em resultado das políticas de subfinanciamento e comercialização dos Estados, que não consideram a Saúde e a Prevenção como um direito global, mas como uma mercadoria que gera imensos lucros às indústrias da Saúde e Farmacêutica. As miseráveis ​​e, até, inexistentes estruturas de Saúde nos países africanos, asiáticos e latino-americanos expõem os trabalhadores a uma séria ameaça, devido à pandemia.

Os trabalhadores não têm de pagar os efeitos do surto de coronavírus na economia global, com medidas como despedimentos em setores como o turismo, o trabalho no domicílio e, mesmo, horários de trabalho ainda mais flexíveis.

Nós exigimos:
  1. Recrutamento de pessoal médico e de enfermagem permanente, bem como a criação de novas estruturas públicas de saúde.
  2. Todos os serviços públicos devem estar totalmente equipados com o necessário material de desinfeção e proteção, fornecido pelo Estado gratuitamente à população.
  3. Dias de folga adicionais remunerados e seguro devem ser garantidos para: 
    • Trabalhadores doentes.
    • Trabalhadores que são forçados a abster-se de trabalhar por causa de medidas preventivas de emergência.
    • Os chamados a cuidar de uma criança doente ou de um membro idoso da sua família; os que têm de ficar com os seus filhos em casa, devido ao encerramento preventivo de escolas e creches.
  4. Medidas de proteção substanciais e adequadas em todos os locais de trabalho.
  5. A exploração dos estratos populares por parte dos monopólios e multinacionais deve ser esmagada.
Na era dos rápidos desenvolvimento e avanço tecnológico, há todas as possibilidades científicas e produtivas para o efetivo combate às epidemias e proteção dos povos. Em vez disso, os trabalhadores e os estratos populares estão a sofrer as consequências do bárbaro sistema capitalista e estão expostos ao risco das suas próprias vidas e à sobrevivência das suas famílias.

Exigimos que todos os Estados, governos e organizações internacionais assumam, sem qualquer demora, medidas completas e substanciais para a prevenção e proteção da saúde e da vida dos trabalhadores e dos povos, bem como para a proteção dos seus direitos laborais, através  da eficácia das medidas que estão anunciadas.
O Secretariado

domingo, 8 de março de 2020

Viva o 8de Março: A luta da mulher proletária pelos seus direitos, será incompleta sem a luta pelo comunismo!

Por Fatima Bikmetova 

O capitalismo, como qualquer sociedade de classes, baseia-se na opressão, exploração e humilhação.

 E como em qualquer sociedade de classes, os mais humilhados e oprimidos, os que mais sofrem com a exploração e com todas as úlceras morais do capitalismo são as mulheres.

A sociedade de classe dá origem tanto à opressão de classe quanto à opressão de um sexo por outro. Para destruir a opressão das mulheres e, em geral, qualquer opressão, é necessário destruir a opressão de classe, destruir a sociedade de classes.

Portanto, a questão da emancipação das mulheres não pode ser resolvida a não ser destruindo o sistema burguês e construindo o socialismo, uma sociedade sem classes, sem exploração e opressão. A luta pela destruição do capitalismo, a luta pelo comunismo é ao mesmo tempo uma luta pela libertação das mulheres, pela sua igualdade.

O feminismo moderno separa em sua maior parte a luta pelos direitos das mulheres da luta pela reconstrução social da sociedade. As feministas acreditam que as mulheres devem lutar apenas por sua igualdade — pelos mesmos salários que os homens, as mesmas oportunidades de crescimento na carreira e afins.

Muitos movimentos feministas são totalmente baseados em inimizade e ódio ao sexo masculino, elas o consideram o culpado de todos os males. A luta pela igualdade das mulheres é vista apenas como uma luta contra os homens.

O feminismo, em primeiro lugar, cria a ilusão de que o problema da desigualdade das mulheres pode ser resolvido dentro da estrutura do sistema capitalista. Ele empurra as mulheres para o caminho estéril da luta liberal pela igualdade formal das mulheres (pois sob o capitalismo, a igualdade das mulheres só pode ser formal, apenas proclamada no papel, falsa e hipócrita).

Não pode haver igualdade real e genuína para as mulheres dentro do capitalismo.

A base do capitalismo é o cinismo e o desprezo pela dignidade individual e humana, e a dignidade de uma mulher em tal sistema será sempre espezinhada de maneira cruel e rude.-Todos os bens, todo o comércio e as mulheres — especialmente a movimentação de mercadorias, o tráfico de corpos de mulheres — é um dos mais lucrativos. 

A igualdade com os homens, proclamada no capitalismo, pela qual as feministas lutam,sempre será uma mentira e uma hipocrisia, empurrando as mulheres no caminho de uma luta liberal pela igualdade formal e falsa, só a luta pela conquista de direitos tendo como perspectiva o socialismo, pode e é a única capaz de dar-lhes igualdade genuína, liberdade real, dignidade e auto-respeito. 

Viva a luta da mulher proletária pela sua emancipação!

Viva o 8 de Março dia internacional da mulher proletária!
 

sexta-feira, 6 de março de 2020

Morreu a heróica guerrelheira comunista albanesa Nexhmije Hoxha. Um exemplo de luta e coragem para todas as mulheres trabalhadoras do mundo!

 
Morre Nexhmije Hoxha: guerrilheira, comunista e revolucionária albanesa
 
Aos 99 anos de idade, Nexhmije Hoxha, revolucionária albanesa, falece em Tirana, cidade onde construiu a maior parte de sua vida política revolucionária ao lado da classe operária livre.


TIRANA – Ilir Hoxha, filho de Nexhmije Hoxha, comunicou a morte da revolucionária através de uma nota pública: “Com profunda dor que informamos que, aos 99 anos, morre a nossa mãe, Nexhmije Hoxha, em 26 de fevereiro de 2020. Durante toda a vida, ela lutou pela libertação do país, pela construção de uma nova Albânia, para que fossemos um país marcado pelo progresso e pelo desenvolvimento”. E ainda continuou: “Nossa família, amigos e todo o povo albanês jamais esquecerá de sua história. Sempre seremos abençoados por seus ensinamentos e por sua luta em vida”. Ilir Hoxha anunciou também que o funeral acontecerá hoje (27) entre as 9h e 12h em Tirana, capital da Albânia. Ao que tudo indica, será enterrada ao lado de seu companheiro de vida, Enver Hoxha.

Durante o governo socialista, Nexhmije desempenhou papel determinante no desenvolvimento econômico e social do país. Foi integrante do secretariado do Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia, Deputada da Assembleia da República e Presidente da Frente Democrática, organização que uniu toda classe trabalhadora contra o nazifascismo. Ativa guerrilheira, durante a guerra contra a Itália e a Alemanha, foi presidenta da Liga de Mulheres Comunistas da Albânia, sendo apenas substituída por sua amiga e camarada até o final da vida, Vito Kapo.

Foi uma ávida estudante e defensora do Marxismo-Leninismo, sendo directora do Instituto de Estudos Marxistas-Leninistas que centralizava o curso superior de Marxismo-Leninismo da Universidade de Tirana, local onde milhares de comunistas estudaram e aprenderam o que tinha de mais rico da teoria revolucionária. Ao final de sua vida, lutou avidamente pela reconstrução completa do partido, sendo bem sucedida em novembro de 2016, liderando o congresso de unificação.

Nexhmije Hoxha está sendo homenageada por artistas, trabalhadores em todo o país. A cantora, pintora e fotografa Rezarta Shkurta registou os últimos dias de Hoxha e a relembrou como “a mulher mais forte da história da Albânia”.

quinta-feira, 5 de março de 2020

Marxismo e Revisionismo V. I. Lénine

Marxismo e Revisionismo
V. I. Lénine
16 de Abril de 1908

Um conhecido adágio diz que se os axiomas geométricos chocassem com os interesses dos homens, certamente se tentaria refutá-los. As teorias das ciências naturais, que se opunham aos velhos preconceitos da teologia provocaram e continuam a provocar até hoje a mais furiosa luta. Não é de estranhar, portanto, que a doutrina de Marx, que serve directamente para educar e organizar a classe de vanguarda da sociedade moderna, que indica as tarefas desta classe e demonstra a substituição inevitável – em virtude do desenvolvimento económico – do actual regime por uma nova ordem de coisas, não é de estanhar que esta doutrina tenha tido de conquistar pela luta cada passo no caminho da vida.

Inútil falar da ciência e da filosofia burguesas, ensinadas escolasticamente pelos professores oficiais para embrutecer as novas gerações das classes possuidoras e “amestrá-las” contra os inimigos de fora e de dentro. Esta ciência não quer nem ouvir falar de marxismo, declarando-o refutado e destruído; tanto os jovens homens de ciências, que fazem carreira refutando o socialismo, como os velhos decrépitos, que guardiães dos legados de toda a espécie de “sistemas” caducos, se lançam sobre Marx com o mesmo zelo. Os avanços do marxismo, a difusão e a afirmação de suas ideias entre a classe operária, tornam inevitavelmente mais frequentes e mais agudos esses ataques burgueses contra o marxismo, que sai mais fortalecido, mais temperado e mais activo após cada uma de suas “destruições” por obra da ciência oficial.

Mas o marxismo não consolidou de forma alguma a sua posição de maneira imediata, mesmo entre as doutrinas vinculadas à luta da classe operária e difundidas principalmente entre o proletariado. Durante o primeiro meio século da sua existência (desde a década de 40 do século XIX), o marxismo lutou contra as teorias que lhes eram radicalmente hostis. Na primeira metade da década de 40, Marx e Engels ajustaram contas com os jovens hegelianos radicais, que se situavam no ponto de vista do idealismo filosófico. Em fins dessa década passa ao primeiro plano, no campo das doutrinas económicas, a luta contra o proudhonismo(N68). Esta luta termina na década de 50: crítica dos partidos e das doutrinas que se tinham manifestado no turbulento ano de 1848. Na década de 60, a luta desloca-se do plano da teoria geral para um domínio mais próximo do movimento operário propriamente dito: expulsão do bakuninismo da Internacional. No início da década de 70, destaca-se na Alemanha, por algum tempo, o proudhonista Mühlberger; em fins da década, o positivista Dühring. Mas a influência de ambos sobre o proletariado já é muito insignificante. O marxismo triunfa já, incondicionalmente, sobre todas as outras ideologias do movimento operário.

Por volta da década de 90 do século passado, esse triunfo estava, nas suas linhas gerais, consumado. Até nos países latinos, onde se haviam mantido por mais tempo as tradições do proudhonismo, os partidos operários elaboraram, de facto, os seus programas e sua táctica em bases marxistas. Ao reavivar-se - sob a forma de congressos internacionais periódicos - a organização internacional do movimento operário, esta coloca-se imediatamente, e quase sem luta, em todas as questões essenciais, no terreno do marxismo. Mas quando o marxismo suplantou todas as doutrinas mais ou menos completas que se opunham, as tendências que se expressavam através destas doutrinas começaram a procurar outros caminhos. Modificaram-se as formas e os motivos da luta, mas a luta continuou. E o segundo meio século de existência do marxismo (década de 90 do século passado) começou com a luta de uma corrente hostil ao marxismo no seio do marxismo.

Esta corrente deve seu nome ao ex-marxista ortodoxo Bernstein(N69), que é quem fez mais barulho e quem deu a expressão mais completa às emendas feitas a Marx, à revisão de Marx, ao revisionismo. Mesmo na Rússia, aonde o socialismo não marxista, logicamente - em virtude do atraso económico do país e da preponderância da população camponesa oprimida pelas sobrevivências da servidão -, se manteve por mais tempo, mesmo na Rússia esse socialismo se converte claramente, diante dos nossos próprios olhos, em revisionismo. Tanto na questão agrária (programa de municipalização de toda a terra) como nas questões gerais programáticas e tácticas, os nossos social-populistas substituem cada vez mais por “emendas” a Marx os restos agonizantes e caducos do velho sistema, que era coerente a seu modo e radicalmente hostil ao marxismo.

O socialismo pré-marxista foi derrotado. Já não continua a luta em seu próprio terreno, mas sim no terreno geral do marxismo, como revisionismo. Vejamos, pois, qual é o conteúdo ideológico do revisionismo.

No domínio da filosofia, o revisionismo caminhava a reboque da “ciência” académica burguesa. Os professores “voltavam a Kant”, e o revisionismo arrastava-se atrás dos neokantianos(N70); os professores repetiam, pela milésima vez, as vulgaridades dos padres contra o materialismo filosófico, e os revisionistas, sorrindo condescendentemente, resmungavam (repetindo palavra por palavra o último Handbuch [Manual]) que o materialismo havia sido “refutado” há muito tempo. Os professores tratavam Hegel como um “cão morto” e, pregando eles próprios, o idealismo, mas um idealismo mil mil vezes mais mesquinho e banal que o hegeliano, encolhiam desdenhosamente os ombros diante da dialéctica, e os revisionistas mergulhavam atrás deles no pântano do aviltamento filosófico da ciência, substituindo a “subtil” (e revolucionária) dialéctica pela “simples” (e tranquila) “evolução”; os professores ganhavam os seus ordenados do Estado acomodando os seus sistemas, tanto os idealistas como os “críticos”, à “filosofia” medieval dominante (isto é, à teologia), e os revisionistas aproximavam-se deles, esforçando-se por fazer da religião “assunto privado”, não em relação ao Estado moderno, mas em relação ao partido da classe de vanguarda.

Não é preciso dizer que significação real de classe tinham semelhantes “emendas” a Marx; a coisa é clara por si mesma. Assinalaremos apenas que Plekhánov foi o único marxista dentro da social democracia internacional que criticou, do ponto de vista do materialismo dialéctico consequente, aquelas incríveis banalidades acumuladas pelos revisionistas. É tanto mais necessário sublinhar isto decididamente quanto se fazem nos nossos dias tentativas profundamente erróneas para fazer passar o velho e reaccionário lixo filosófico sob o disfarce da crítica ao oportunismo táctico de Plekhánov(1*).

Passando à economia política, temos de assinalar, antes de mais nada, que neste campo as “emendas” dos revisionistas eram muitíssimo mais variadas e circunstanciadas; esforçaram-se por sugestionar o público com “novos dados sobre o desenvolvimento económico”. Diziam que no domínio da economia rural não se operam de forma alguma a concentração e suplantação da pequena produção e que no comércio e na indústria a concentração se processa com extrema lentidão. Diziam que, hoje, as crises se tornaram mais raras e mais fracas e que era provável que os cartéis e os trusts dessem ao capital a possibilidade de eliminar por completo as crises. Diziam que a “teoria da bancarrota”, para a qual marcha o capitalismo, é inconsistente por causa da tendência para as contradições de classe se suavizarem e atenuarem. Diziam, finalmente, que não seria mau corrigir também a teoria do valor de Marx de acordo com Böhm-Bawerk.

A luta contra os revisionistas nestas questões serviu para um fecundo reavivamento do pensamento teórico do socialismo internacional, tal como ocorrera, vinte anos antes, com a polémica de Engels com Dühring. Os argumentos dos revisionistas foram analisados com factos e números na mão. Demonstrou-se que os revisionistas embelezavam sistematicamente a pequena produção actual. A superioridade técnica e comercial da grande produção sobre a pequena, tanto na indústria como na agricultura, é um facto confirmado por dados irrefutáveis. Mas a produção mercantil está imensamente menos desenvolvida na agricultura e os especialistas de estatística e os economistas actuais não sabem, em geral, destacar os ramos (por vezes mesmo as operações) especiais da agricultura que demonstram como ela é integrada progressivamente, no intercâmbio da economia mundial. A pequena produção mantém-se sobre as ruínas da economia natural, graças à infinita piora da alimentação, à fome crónica, ao prolongamento do dia de trabalho, à baixa da qualidade do gado e do tratamento deste; resumindo, com os mesmos meios pelos quais também a produção artesanal se mantivera contra a manufatura capitalista. Cada passo em frente da ciência e da técnica mina, inevitável e inexoravelmente os alicerces da pequena produção na sociedade capitalista. E a tarefa da economia socialista é investigar este processo sob todas as suas formas, não raro complexas e intrincadas, e demonstrar ao pequeno produtor a impossibilidade de se manter sob o capitalismo, a situação desesperada das explorações camponesas no regime capitalista e a necessidade de que o camponês aceite o ponto de vista do proletariado. Em relação ao problema que tratamos, os revisionistas cometeram, no aspecto científico, o pecado de generalizar de modo superficial de alguns factos unilateralmente seleccionados, desligados da sua conexão com o conjunto do regime capitalista, e, no aspecto político, cometeram o pecado de, voluntária ou involuntariamente, chamar ou impelir inevitavelmente o camponês para o ponto de vista do proprietário (isto é, o ponto de vista da burguesia), em vez de o impelir para o ponto de vista do proletário revolucionário.

O revisionismo saiu-se ainda pior quanto à teoria das crises e à teoria da bancarrota. Somente durante um espaço de tempo muito curto, e unicamente pessoas muito míopes, podiam pensar em modificar as bases da doutrina de Marx sob a influência de uns poucos anos de ascenso e prosperidade industrial. Não tardou que a realidade se encarregasse de demonstrar ao revisionistas que as crises não tinham desaparecido: após a prosperidade veio a crise. Mudaram as formas, a sucessão, o quadro das diferentes crises, mas elas continuam a ser parte integrante, inevitável, do regime capitalista. Os cartéis e os trusts, unificando a produção, reforçaram ao mesmo tempo, à vista de todos, a anarquia da produção, a insegurança económica do proletariado e a opressão do capital, agravando dessa forma em grau nunca visto as contradições de classe. Que o capitalismo marcha para a bancarrota – tanto no sentido das crises políticas e económicas isoladas como no sentido da completa derrocada de todo o regime capitalista – demonstraram-no de modo muito palpável e em vasta escala os modernos e gigantescos trusts. A recente crise financeira na América, o espantoso crescimento do desemprego em toda a Europa, sem falar da próxima crise industrial, que muitos sintomas anunciam, tudo isso fez com que as recentes “teorias” dos revisionistas tenham sido esquecidas por todos, e mesmo, ao que parece, por muitos deles próprios. O que não se deve esquecer são os ensinamentos que esta instabilidade dos intelectuais deu à classe operária.

Quanto à teoria do valor, basta dizer que, à parte alusões e suspiros muito vagos, à maneira de Böhm-Bawerk, os revisionistas não trouxeram absolutamente nada de novo a esse respeito, nem deixaram, portanto, qualquer marca no desenvolvimento do pensamento científico.

No campo da política, o revisionismo tentou rever o que realmente constitui a base do marxismo, ou seja, a teoria da luta de classes. A liberdade política, a democracia, o sufrágio universal, destroem a base da luta de classes – diziam-nos os revisionistas – e desmentem o velho princípio do Manifesto Comunista de que os operários não têm pátria. Uma vez que na democracia impera a “vontade da maioria”, não devemos ver no Estado, segundo eles, o órgão da dominação de classe, nem negar-nos a entrar em alianças com a burguesia progressista, social-reformista, contra os reacionários.

É indiscutível que estas objecções dos revisionistas se reduziam a um sistema bastante coerente de concepções, a saber: as sobejamente conhecidas concepções burguesas liberais. Os liberais disseram sempre que o parlamentarismo burguês suprime as classes e as diferenças de classe, visto que todos os cidadãos sem excepção têm direito de voto e de intervir nos assuntos do Estado. Toda a história da Europa na segunda metade do século XIX e toda a história da revolução russa, em princípios do século XX, demonstram à evidência como são absurdas tais concepções. Com as liberdades do capitalismo “democrático”, as diferenças económicas, longe de se atenuarem, acentuam-se e agravam-se. O parlamentarismo não elimina, antes põe a nu, a essência das repúblicas burguesas mais democráticas como órgãos de opressão de classe. Ajudando a esclarecer e educar massas de população incomparavelmente mais extensas do que as que antes participavam de modo activo nos acontecimentos políticos, o parlamentarismo prepara assim, não a supressão das crises e das revoluções políticas, mas a maior agudização da guerra civil durante essas revoluções. Os acontecimentos de Paris, na Primavera de 1871, e os da Rússia, no Inverno de 1905, mostraram, com excepcional clareza, como esta agudização se produz inevitavelmente. A burguesia francesa, para esmagar o movimento proletário, não vacilou nem um segundo em pactuar com o inimigo de toda a nação, com as tropas estrangeiras que tinham arruinado a sua pátria. Quem não compreender a inevitável dialéctica interna do parlamentarismo e da democracia burguesa, que conduz a solucionar a disputa pela violência de massas de modo ainda mais brutal do que anteriormente, jamais saberá desenvolver, na base desse parlamentarismo, uma propaganda e uma agitação consequentes do ponto de vista dos princípios, que preparam verdadeiramente as massas operárias para participarem vitoriosamente em tais “disputas”. A experiência das alianças, dos acordos, dos blocos com o liberalismo social-reformista no Ocidente e com o reformismo liberal (democratas-constitucionalistas(N72)) na revolução russa, demonstrou, de maneira convincente, que esses acordos não fazem senão embotar a consciência das massas, não reforçando mas debilitando o significado real da sua luta, unindo os lutadores aos elementos menos capazes de lutar, aos elementos mais vacilantes e traidores. O "millerandismo"(N73) francês – a maior experiência de aplicação da táctica política revisionista numa vasta escala, realmente nacional – deu-nos uma apreciação prática do revisionismo que o proletariado do mundo inteiro jamais esquecerá.

O complemento natural das tendências económicas e políticas do revisionismo era a sua atitude em relação ao objectivo final do movimento socialista. “O objetivo final não é nada, o movimento é tudo” - esta frase proverbial de Bernstein exprime a essência do revisionismo melhor do que muitas longas dissertações. A política revisionista consiste em determinar o seu comportamento em função das circunstâncias, em adaptar-se aos acontecimentos do dia, às viragens dos pequenos factos políticos, em esquecer os interesses fundamentais do proletariado e os traços essenciais de todo o regime capitalista, de toda a evolução do capitalismo, em sacrificar estes interesses fundamentais em favor das vantagens reais ou supostas do momento. E da própria essência desta política se deduz, com toda a evidência, que pode tomar formas infinitamente variadas e que cada problema um pouco “novo”, cada viragem um pouco inesperada e imprevista dos acontecimentos – embora tal viragem só altere a linha fundamental do desenvolvimento em proporções mínimas e pelo prazo mais curto – dará sempre, inevitavelmente, origem a esta ou àquela variedade de revisionismo.

O caráter inevitável do revisionismo é determinado pelas suas raízes de classe na sociedade actual. O revisionismo é um fenómeno internacional. Para nenhum socialista um pouco informado e consciente pode existir a menor dúvida de que a relação entre os ortodoxos e os bernsteinianos na Alemanha, entre os guesdistas e os jauressistas (agora, em particular os broussistas(N74)) em França, entre a Federação Social-Democrata(N75) e o Partido Trabalhista Independente, em Inglaterra(N76), entre De Brouckère e Vandervelde(N77), na Bélgica, os integralistas e os reformistas(N78), em Itália, os bolchevistas e os mencheviques na Rússia, é, por toda a parte essencialmente a mesma, não obstante a gigantesca diversidade das condições nacionais e dos factores históricos na situação actual de todos esses países. A “divisão” no seio do socialismo internacional contemporâneo estabelece-se hoje, nos diversos países do mundo, essencialmente, numa mesma linha, o que mostra um formidável passo em frente que se deu em comparação com o que ocorria há trinta ou quarenta anos, quando lutavam nos diversos países tendências heterogéneas dentro de um movimento socialista internacional único. E esse “revisionismo de esquerda” que toma corpo hoje nos países latinos, com o nome de “sindicalismo revolucionário”(N79), adapta-se também ao marxismo “emendando-o”: Labriola em Itália e Lagardelle em França apelam a cada passo do Marx mal compreendido para o Marx bem compreendido.

Não nos podemos deter aqui no exame do o conteúdo ideológico deste revisionismo, que está longe de estar tão desenvolvido como o revisionismo oportunista, e que não se internacionalizou, não travou nem uma única batalha prática de importância com o partido socialista de qualquer país. Por isso nos limitaremos a esse “revisionismo de direita”, que esboçámos mais acima.

Em que se baseia a sua inevitabilidade na sociedade capitalista? Por que é mais profundo que as diferenças decorrentes das particularidades nacionais e dos graus de desenvolvimento do capitalismo? Porque em qualquer país capitalista existem sempre, ao lado do proletariado, extensas camadas de pequena burguesia, de pequenos proprietários. O capitalismo nasceu e continua a nascer, constantemente, da pequena produção. O capitalismo cria de novo, infalivelmente, toda uma série de “camadas médias” (apêndice das fábricas, trabalho a domicílio, pequenas oficinas disseminadas por todo o país em virtude das exigências da grande indústria, por exemplo, da indústria de bicicletas e automóveis, etc.). Estes novos pequenos produtores vêem-se por sua vez lançados. também inevitavelmente, nas fileiras do proletariado. É perfeitamente natural que a mentalidade pequeno-burguesa irrompa repetidamente nas fileiras dos grandes partidos operários. É perfeitamente natural que isso suceda, e assim sucederá sempre, chegando às próprias peripécias da revolução proletária, pois seria um profundo erro pensar que é necessário que a maioria da população se proletarize “por completo” para que essa revolução seja realizável. O que hoje vivemos com frequência num plano puramente ideológico, isto é, as disputas em torno das emendas teóricas a Marx; o que hoje só se manifesta na prática a propósito de certos problemas parciais, isolados, tê-lo-á que viver inevitavelmente a classe operária, em proporções incomparavelmente maiores, quando a revolução proletária agudizar todos os problemas em litígio e concentrar todas as divergências nos pontos de importância mais imediata para a determinação da conduta das massas, obrigando a que se separarem, no fragor da luta, os inimigos dos amigos e a que se rejeitem os maus aliados, para assestar golpes decisivos no inimigo.

A luta ideológica do marxismo revolucionário contra o revisionismo, no final do século XIX, não é mais que o prelúdio dos grandes combates revolucionários do proletariado, que, apesar de todas as vacilações e debilidades dos elementos pequeno-burgueses, avança para o triunfo completo da sua causa.


Notas de rodapé:

(N68) Doutrina de Proudhon: corrente anticientífica, hostil ao marxismo, do socialismo pequeno-burguês. Criticando a grande propriedade capitalista a partir de posições pequeno-burguesas, Proudhon sonhava com perpetuar a pequena propriedade privada, propunha que fossem organizados os bancos "do povo" e de "troca", que, segundo ele, permitiriam aos operários obter meios de produção próprios, tornar-se artesões e garantir a venda "justa" dos seus produtos. Proudhon não compreendia o papel histórico do proletariado, negava a luta de classes, a revolução proletária e a ditadura do proletariado. Partindo de posições anarquistas, negava também a necessidade do Estado.

(N69) Trata-se do bernsteinianismo, corrente oportunista hostil ao marxismo na social-democracia internacional, que surgiu no final do século XIX na Alemanha e deve o seu nome a E. Bernstein, o mais declarado porta-voz do revisionismo. Bernstein, após a morte de F. Engels, empreendeu a revisão da doutrina revolucionária de Marx no espírito do liberalismo burguês, procurando transformar o partido social-democrata num partido pequeno-burguês de reformas sociais. Na Rússia eram partidários do bernsteinianismo os "marxistas legais", os "economistas". os bundistas e os mencheviques.

(N70) Neokantianos: representantes de uma corrente reaccionária na filosofia burguesa que surgiu nos meados do século XIX na Alemanha. Os neokantianos repetiam as teses mais reaccionárias e idealistas da filosofia de Kant e rejeitavam os elementos do materialismo que nela havia. Sob a palavra de ordem "voltar a Kant", os neokantianos conduziam a luta contra o materialismo dialéctico e histórico. Lénine apresentou uma crítica de todos os aspectos da filosofia neokantiana no livro Materialismo e Empiriocriticismo (1909)

(1*) Veja-se o livro “Ensaios sobre a filosofia do marxismo” de Bogdánov, Bazárov e outros. Aqui não é o lugar oportuno para analisar este livro, e no momento, tenho que limitar-me a declarar que, não demora, irei demonstrar em uma série de artigos, ou em um folheto especial, que tudo o que se disse no texto sobre os revisionistas neokantianos guarda, também, relação, em essência com estes “novos” revisionistas neohumanistas e neoberkelianos. (Nota do Autor) (Veja-se V. I. Lénine, Obras, 5ª ed. em russo, t. 18

(N72) Partido Democrata-Constitucionalista ("cadetes"): principal partido da burguesia monárquica liberal na Rússia, foi formado em Outubro de 1905. Faziam parte dele representantes da burguesia, dos latifundiários e dos intelectuais burgueses. Depois da vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro os democratas-constitucionalistas mostraram-se inimigos irreconciliáveis do Poder Soviético, tomaram parte em todas as acções armadas contra-revolucionárias e campanhas dos intervencionistas.

(N73) Millerandismo (ministerialismo): corrente oportunista na social-democracia, assim designada segundo o nome do socialista-reformista francês Millerand que, em 1899, entrou no governo burguês reaccionário da França e apoiou a sua política antipopular.

(N74) Guesdistas: corrente revolucionária marxista no movimento socialista francês do fim do século XIX e do início do século XX, que foi dirigida por J. Guesde e P.Lafargue. Em 1882, após a cisão do Partido Operário de França no Congresso de Saint-Étienne, os guesdistas formaram um partido independente, conservando a denominação antiga. Em 1901 os partidários da luta de classe revolucionária, com J. Guesde à cabeça, uniram-se no Partido Socialista de França (cujos membros passaram a ser designados pelo nome do seu guia, ou seja, guesdistas). Em 1905, os guesdistas uniram-se com o Partido Socialista Francês reformista. Durante a guerra imperialista de 1914-1918 os dirigentes deste partido (Guesde, Sembat, etc.) traindo a causa da classe operária, passaram para as posições do social-chauvinismo. Jauressistas: partidários do socialista francês J. Jaurés, que nos anos 90 fundou, em conjunto com A. Millerand, o grupo dos "socialistas independentes" e que dirigia a ala direita, reformista, do movimento socialista francês. Encobrindo-se com a exigência da "liberdade crítica", os jauressistas reviam as principais teses do marxismo, preconizavam a colaboração de classes entre o proletariado e a burguesia. Em 1902 fundaram o Partido Socialista Francês, de tendência reformista.

(N75) Se refere à Federação Social Democrata da Inglaterra, fundada em 1884. Juntamente com os reformistas (Hyndman e outros) e os anarquistas, formava parte da Federação Social Democrata da Inglaterra um grupo de social democratas revolucionários partidários do marxismo (Harry Quelch, Tom Mann, Edward Eveling, Leonora Marx e outros), que constituíram a ala esquerda do movimento socialista da Inglaterra. F. Engels criticou energicamente a Federação Social Democrata da Inglaterra pelo seu dogmatismo e sectarismo, por separar-se do movimento operário de massas da Inglaterra e por ignorar as suas peculiaridades. Em 1907, a Federação Social Democrata da Inglaterra passou a chamar-se Partido Social Democrata. Este junto com os elementos de esquerda do Partido Operário Independente formaram, em 1911, o Partido Socialista Britânico; em 1920, a maioria de seus filiados tomou parte na fundação do Partido Comunista da Grã Bretanha.
Independent Labour Party (I.L.P.) (Partido Trabalhista Independente) foi fundado em 1893. Era encabeçado por James Keir Hardie, Ramsay MacDonald e outros. Ainda que pretendesse manter independência política em relação a outros partidos burgueses, na realidade, o Partido Trabalhista Independente só era "independente" do socialismo, porém "muito dependente do liberalismo" (Lênin). No começo da primeira guerra mundial (1914-1918), o Partido Trabalhista Independente publicou um manifesto contra a guerra (em 13 de agosto de 1914). Em seguida, em fevereiro de 1915, na Conferência de Londres dos socialistas dos países do Pacto, os independentes aderiram à resolução social chauvinista adotada pela Conferência. A partir de então, os líderes dos independentes, encobrindo-se com frases pacifistas, mantiveram uma posição social chauvinista. Em 1919, os líderes do Partido Trabalhista Independente, sobre pressão das massas radicalizadas do partido, acordaram em abandonar a II Internacional. Em 1921, os independentes ingressaram na chamada Internacional II e meio e, depois após a desagregação da mesma, voltaram a ingressar na II Internacional. Em 1921, a ala esquerda do Partido Trabalhista Independente da Inglaterra se separou do mesmo e ingressou no Partido Comunista da Grã Bretanha.

(N76) Partido Trabalhista Independente da Inglaterra (Independet Labour Party): organização reformista, fundada pelos dirigentes das "novas trade-unions" em 1893, durante a activação da luta grevista e o fortalecimento do movimento pela independência da classe operária de Inglaterra em relação aos partidos burgueses. Aderiram ao Partido Trabalhista Independente membros de "novas trade-unions" e de uma série de velhos sindicatos, e representantes da intelectualidade e da pequena burguesia, que estavam sobre a influência dos fabianos. À frente do partido estava Keir Hardie. O Partido apresentou como seu programa a luta pela posse colectiva de todos os meios de producção, distribuição e troca, pela jornada de trabalho de 8 horas e proibição do trabalho infantil, pela introducção do seguro social e dos subsídios aos desempregados. Caracterizando o Partido Trabalhista Independente, Lénine escrevia que "na realidade era um partido oportunista sempre dependente da burguesia", que era "independente só do socialismo, mas muito dependente do liberalismo". (ver V.I.Lénine, Sobre as Tarefas da III Internacional e Debates Ingleses sobre a política operária Liberal, Obras completas, 5ª Edição em russo, t.39, p.90; t.22, p.122)

(N77) No seio do Partido Operário Belga, Brouckère e os seus partidários pronunciavam-se contra a participação dos socialistas no governo burguês reaccionário e conduziam a luta contra Vandervelde, que dirigia os revisionistas belgas. Posteriormente, Brouckère passou às posições oportunistas.

(N78) Integralistas: partidários do socialismo "integral", uma variedade do socialismo pequeno-burguês. O dirigente dos integralistas foi Enrico Ferri. Representando a corrente centrista no Partido Socialista Italiano, os integralistas, na primeira decáda do século XX, combatiam numa série de questões os reformistas, que ocupavam posições extremamente oportunistas e colaboravam com a burguesia reaccionária.

(N79) Sindicalismo revolucionário: corrente pequeno-burguesa semi-anarquista, que surgiu no movimento operário duma série de países da Europa Ocidental no fim do século XIX. Os sindicalistas negavam a necessidade da luta política da classe operária, o papel dirigente do partido e a ditadura do proletariado. Pensavam que os sindicatos, pela via da organização de uma greve geral operária sem revolução, podiam derrubar o capitalismo e tomar em suas mãos a direcção da produção.