A sociedade capitalista, fundada sobre o desenvolvimento da produção de mercadorias, é
caracterizada pelo monopólio da classe dos capitalistas e dos grandes proprietários de
terras sobre os mais importantes e decisivos meios de produção, pela exploração da mãode-obra
assalariada da classe dos proletários, privados dos meios de produção e obrigados a
vender a sua força de trabalho, pela produção de mercadorias com o objectivo da obtenção
de lucro, pela ausência de planificação e pela anarquia que resulta destas diversas causas no
conjunto do processo de produção. As relações sociais de exploração e a dominação
económica da burguesia encontram a sua expressão política na organização do Estado
capitalista, aparelho de coerção contra o proletariado.
A história do capitalismo confirma inteiramente a doutrina de Marx sobre as leis do
desenvolvimento da sociedade capitalista e sobre as contradições inerentes a esse
desenvolvimento que levam o sistema capitalista à sua inelutável perda.
Na sua corrida ao lucro, a burguesia foi obrigada a desenvolver, em proporções sempre
crescentes, as forças produtivas, a reforçar e alargar o domínio das relações capitalistas de
produção. O desenvolvimento do capitalismo, por esse motivo, reproduziu constantemente,
numa base alargada, todas as contradições internas do sistema, antes do mais a contradição
decisiva entre o carácter social do trabalho e o carácter privado da apropriação, entre o
crescimento das forças produtivas e as relações capitalistas de propriedade. A propriedade
dos meios de produção e o funcionamento espontâneo e anárquico da própria produção
provocaram a ruptura do equilíbrio económico entre os diferentes ramos da produção
devido ao desenvolvimento da contradição entre o alargamento ilimitado da produção e o
consumo limitado das massas proletárias (sobreprodução geral), o que arrastou a crises
periódicas devastadoras e levou ao desemprego massas de proletários.
O domínio da
propriedade privada traduziu-se por uma concorrência incessantemente crescente, tanto no
interior de cada país capitalista como no mercado mundial. Esta última forma de rivalidade entre capitalistas teve como consequência as guerras que acompanham inevitavelmente o
desenvolvimento capitalista.
As vantagens técnicas e económicas da grande produção provocaram, por outro lado,
através do jogo da concorrência, a eliminação e a destruição das formas pré-capitalistas da
economia e uma concentração e uma centralização crescente do capital. Na indústria, esta
lei de concentração e de centralização manifestou-se antes de tudo através do definhamento
da pequena produção ou pela sua redução a um papel de auxiliar subordinado às grandes
empresas. Na agricultura, cujo desenvolvimento é necessariamente atrasado em
consequência do monopólio da propriedade do solo e da renda absoluta, esta lei exprimiu-se
não apenas pela diferenciação do campesinato e pela proletarização de largas camadas
de camponeses, mas também e sobretudo por formas visíveis ou veladas da dominação do
grande capital sobre a pequena economia rural que, neste caso, não pode conservar uma
aparência de independência senão ao preço de uma extrema intensidade do trabalho e de
um subconsumo sistemático.
A utilização crescente das máquinas, o aperfeiçoamento constante da técnica e, nesta
base, o crescimento incessante da composição orgânica do capital, acompanhadas da
crescente divisão do trabalho, do aumento da sua produtividade e a sua intensificação,
significaram igualmente o emprego mais amplo da mão-de-obra feminina e infantil e a
formação de enormes exércitos industriais de reserva, engrossados sem cessar pelos
camponeses proletarizados, expulsos dos campos, e pela pequena e média burguesia
arruinada das cidades.
Num dos pólos das relações sociais, a formação de massas
consideráveis de proletários, intensificação contínua da exploração da classe operária,
reprodução numa base alargada das contradições profundas do capitalismo e das suas
consequências (crises, guerras, etc.), aumento constante da desigualdade social,
crescimento da indignação do proletariado, concentrado e educado pelo próprio
mecanismo da produção capitalista, tudo isto mina infalivelmente as bases do capitalismo e
aproxima o momento da sua derrocada.
Uma profunda convulsão produziu-se simultaneamente em toda a ordem moral e
cultural da sociedade capitalista: decomposição parasitária dos grupos rentistas da
burguesia, dissolução da família, exprimindo a contradição crescente entre a participação
em massas das mulheres na produção social e as formas da família e da vida doméstica
herdadas em larga medida das épocas econômicas anteriores; desenvolvimento monstruoso
das grandes cidades e mediocridade da vida rural em consequência da divisão e da
especialização do trabalho; empobrecimento e degenerescência da vida intelectual e da
cultura geral; incapacidade da burguesia de criar, a despeito dos grandes progressos das
ciências naturais, uma síntese filosófica científica do mundo; desenvolvimento das
superstições idealistas, místicas e religiosas, todos estes fenómenos assinalam a
aproximação do fim histórico do sistema capitalista.
A época do capital financeiro (imperialismo)
O período do capitalismo industrial foi, em geral, um período de «livre concorrência»
durante o qual o capitalismo evoluiu com uma relativa regularidade e se expandiu por todo
o globo através da repartição das colónias ainda livres, conquistadas pela força das armas,
recaindo o peso das contradições internas do capitalismo, em crescimento incessante,
principalmente sobre a periferia colonial oprimida, aterrorizada e sistematicamente
espoliada.
Este período deu lugar, por volta do princípio do século XX, ao do imperialismo,
caracterizado pelo desenvolvimento do capitalismo por saltos bruscos e por conflitos, num
momento em que a livre concorrência cedeu o seu lugar ao monopólio, em que as terras
coloniais antes «livres» se encontravam repartidas e em que a luta por uma nova partilha
das colónias e das esferas de influência começou a tomar, inevitavelmente e em primeiro
lugar, a forma da luta armada.
Deste modo, as contradições do capitalismo adquiriram em toda a sua dimensão e à
escala mundial a sua expressão mais nítida na época do imperialismo (capitalismo
financeiro), que representa uma nova forma histórica do próprio capitalismo, uma nova
relação entre as diferentes partes da economia capitalista mundial e uma modificação das
relações entre as classes fundamentais da sociedade capitalista.
Este novo período histórico resulta da acção das leis essenciais do desenvolvimento da
sociedade capitalista. Amadurece com o desenvolvimento do capitalismo industrial e é a
sua continuação histórica.
Acentua a manifestação das tendências fundamentais e das leis
do movimento da sociedade capitalista, das suas contradições e antagonismos
fundamentais. A lei da concentração e da centralização do capital conduz à formação de
poderosos grupos monopolistas (cartéis, sindicatos, trusts), a uma nova forma de empresas
gigantes combinadas. Ligadas num só feixe pelos bancos. A fusão do capital industrial e do
capital bancário, a entrada da grande propriedade fundiária no sistema geral do
capitalismo, caracterizado a partir de então pelos monopólios, transformaram o período do
capital industrial no do capital financeiro. A «livre concorrência» do capitalismo industrial,
que tinha outrora substituído o monopólio feudal e o monopólio do capital comercial,
transformou-se ela própria em monopólio do capital financeiro. Os monopólios
capitalistas, saídos da livre concorrência, embora não a suprimam, dominam-na ou
coexistem com ela, provocando assim contradições, confrontos e conflitos de uma acuidade
e gravidade particulares.
O emprego crescente de máquinas complexas, de processos químicos e de energia
eléctrica, o aumento da composição orgânica do capital nesta base e a queda da taxa de
lucro que daqui decorre – que só parcialmente é travada em favor das maiores associações
monopolistas pela política de altos preços dos cartéis – provocam a continuação da corrida
aos super lucros coloniais e a luta por uma nova partilha do mundo. A produção em massa,
standarizada, exige novos mercados externos de escoamento. A procura crescente de
matérias-primas e de combustíveis provoca ásperas rivalidades pelo controlo das suas
fontes.
Por fim, o alto proteccionismo, impedindo a exportação de mercadorias e
assegurando um super lucro ao capital exportado, cria estímulos complementares à
exportação de capitais que se torna na forma decisiva e específica da conexão económica
entre as diferentes partes da economia capitalista mundial. Em resultado, o controlo
monopolista dos mercados coloniais de escoamento, das fontes de matérias primas e das
esferas de investimentos de capitais acentua fortemente a desigualdade do
desenvolvimento capitalista e agrava os conflitos entre as «grandes potências» do capital
financeiro por uma nova partilha das colónias e das esferas de influência.
O crescimento das forças produtivas da economia mundial conduz portanto a uma maior
internacionalização da vida económica e, ao mesmo tempo, à luta por uma nova partilha do
mundo, já repartido entre os grandes estados do capital financeiro; provoca igualmente
uma alteração e um agravamento das formas desta luta: a substituição cada vez mais
frequente da concorrência mediante o abaixamento dos preços pelo apelo directo à força
(boicote, alto proteccionismo, guerras alfandegárias, guerras no sentido próprio da palavra,
etc.). O capitalismo, sob a sua forma monopolista, é, por consequência, acompanhado de
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guerras imperialistas inevitáveis que, pela sua amplitude e poder destrutivo da técnica
usada, não têm precedente na história do mundo.
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