segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O socialismo é o único caminho contra a barbárie imperialista

 

O socialismo é o único caminho contra a barbárie imperialista

Poucas coisas assustam mais os imperialistas e seus lacaios do que a possibilidade de um mundo em paz. Hoje, oportunistas de todos os matizes defendem a OTAN e seus interesses na Ucrânia, levantando as mãos diante da invasão russa quando esses mesmos oportunistas estão completamente calados há oito anos sobre o golpe de Maidan – apoiado e financiado pelos imperialistas dos EUA e UE – a sangrenta guerra civil contra as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, e a existência de forças de choque abertamente neonazistas que compõem a estrutura fascista do Estado e do exército ucranianos.

Esses oportunistas mentem descaradamente ao proletariado quando clamam contra a guerra, como se esta fosse uma anomalia dentro de nossa sociedade "democrática", quando a realidade nos mostra que a guerra não é um fenômeno independente do modo de produção capitalista, mas a continuação do acumulação e concentração do capital por outros meios, fruto do desejo imperialista de estabelecer uma nova distribuição de um mundo já dividido.

Como demonstrou Volodymyr Zelensky quando assinou uma declaração de guerra contra a Rússia em 24 de março e Vladimir Putin com suas recentes declarações, ninguém espera uma solução pacífica para o conflito, mas o único objetivo é dominar o território da Crimeia e do Mar Negro através da força militar. Os importantes recursos de petróleo e gás existentes na bacia do Mar Negro chamam perigosamente a atenção dos estados imperialistas e dos monopólios, pois um dos aspectos que determina a crise global do imperialismo é o fato de sua economia estar fortemente baseada na exploração de recursos fósseis combustíveis. E é por isso que a OTAN se preparou para a eclosão da guerra.

Durante os últimos anos, as potências imperialistas da OTAN realizaram uma intensa corrida de rearmamento armamentista, sofisticação e aprimoramento de seus equipamentos e forças militares – estamos falando de alianças como AUKUS , projetos militares como Future Soldier e Ranger, ou os acordos comerciais e militares entre Marrocos e a besta sionista – que mostram o entrelaçamento entre os Estados capitalistas e os monopólios onde a sofisticação dos armamentos é feita por meio de empresas privadas, para que todos os esforços econômicos, técnico-científicos, materiais e militares - os recursos industriais estão à disposição dos monopólios e a corrida armamentista torna-se um meio de redistribuição do orçamento em favor da oligarquia. Também não podemos esquecer as manobras navais Sea Breeze – no Mar Negro –, as manobras Defender-Europe 21 – nos Balcãs e na zona do Mar Negro – e o Steadfast Defender 2021– distribuídos na zona atlântica, Alemanha e Romênia com entrada, novamente, no Mar Negro – o que demonstrou o conhecimento dos imperialistas sobre as possibilidades de uma nova etapa na guerra.

Por seu lado, os acontecimentos recentes são a expressão do culminar da actividade dos oligarcas russos no Donbass, que aproveitam a necessidade de ajuda das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk para se apoderarem de uma área rica em recursos materiais, legitimando-se com discursos vazios e hipócritas sobre pacifismo e antifascismo. Portanto, o conflito interimperialista entre a OTAN e a Rússia teve na Ucrânia e na região do Mar Negro seu terreno fértil perfeito para que a barbárie do imperialismo se expressasse da maneira mais violenta e direta.

Imperialismo é guerra, imperialismo é a putrefacção e parasitismo superlativo.

 Enquanto as oligarquias resolvem suas disputas pela pilhagem do mundo, desta vez no território da antiga União Soviética, através da guerra a classe trabalhadora colocará os mortos sobre os quais se baseia o enriquecimento dos oligarcas, sejam eles da OTAN ou da Rússia . Sem dúvida, o proletariado de todas as partes do mundo deve renunciar a um conflito armado entre estados imperialistas, lutar energicamente contra a burguesia e entender que essas escaladas de guerra são uma consequência do desenvolvimento de contradições dentro do capitalismo em nível mundial. Contradições que o verme burguês rapidamente não hesita em aproveitar, também internamente, como no Estado espanhol, para salvar a economia face à guerra na Ucrânia ” que se traduz em mais dinheiro público para os empresários, que no caso do CEOE se traduz em mais 20.000 milhões de euros que os empresários pretendem obter do Estado ao custo de serem pagos pelos trabalhadores.

A contradição fundamental que o sistema capitalista atravessa hoje é a contradição entre imperialismo e socialismo, onde o enorme aumento dos gastos militares está indubitavelmente relacionado ao perigo de acirramento da luta de classes nos próprios países capitalistas. É por isso que nós comunistas devemos dar um golpe na mesa nesses momentos de importância histórica, expurgando do movimento qualquer elemento oportunista, reformista, social-patriota ou social-pacifista e reivindicando a ditadura do proletariado como a única alternativa possível para ditadura da burguesia, avançando a luta revolucionária,

 

PAZ ENTRE OS POVOS, GUERRA ENTRE AS CLASSES!

PELA TRANSFORMAÇÃO DA GUERRA IMPERIALISTA EM UMA GUERRA REVOLUCIONÁRIA PELO SOCIALISMO!

Madri, 24 de fevereiro de 2022

COMITÊ EXECUTIVO DO PARTIDO DOS TRABALHADORES COMUNISTAS ESPANHOL (PCOE)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

A luta dos povos da Ucrânia é uma só: derrotar o fascismo e impedir qualquer intervenção imperialista em seu país.

 

Felipe Annunziata | Redação Rio

A luta dos povos da Ucrânia é uma só: derrotar o fascismo e impedir qualquer intervenção imperialista em seu país. As ameaças de guerra promovidas por EUA/União Europeia, de um lado, e pela Rússia, de outro, devem ser repudiadas, bem como toda solidariedade aos que enfrentam o fascismo naquele país deve ser prestada. 

O ano de 2022 tem sido marcado pelo confronto diplomático entre Rússia e OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) diante da crise na Ucrânia. Desde 2014, quando ocorreu um golpe patrocinado pelos EUA e realizado por grupos neonazistas, o país do leste europeu vem passando por sucessivos governos reacionários. 

Mas uma questão fundamental tem se colocado: por que e quais as origem dessa crise envolvendo a Ucrânia? 

Temos visto várias narrativas da mídia sobre o tema. No Brasil, a maior parte dos meios de comunicação da burguesia já tomou o lado dos EUA e da OTAN, chamando a Rússia de agressora. Por outro lado, a imprensa social-democrata, liderada pelos blogs e canais de youtube ditos “de esquerda”, tem tomado o partido da Rússia, sob o argumento da expansão imperialista dos EUA e da OTAN sobre o leste europeu após o fim da URSS. 

Rússia e Ucrânia: relações milenares entre dois países irmãos

O fato é que nenhum dos dois lados explica a origem das disputas e da crise entre esses países. Na verdade, quando a Ucrânia não é usada para insuflar discursos anticomunistas, ela é colocada apenas como um apêndice da Rússia. 

A história dos povos que compuseram o antigo Império Russo e, posteriormente, a URSS, é muito rica. O Estado russo surgiu onde hoje é o território ucraniano, ainda no século 10, na Idade Média. Com o tempo, invasões, guerras e mudanças de governo finalmente levaram o centro político da Rússia de Kiev (capital ucraniana) para Moscou.

Essas mudanças também levaram a transformações culturais, linguísticas e econômicas, que tornaram cada vez mais clara a diferença entre ucranianos e russos. No entanto, a estrutura opressora e colonial da Rússia czarista nunca permitiu à Ucrânia se constituir enquanto nação independente. 

De fato, foi só com a Revolução Socialista de 1917 e a vitória bolchevique na Guerra Civil, em 1921, que pela primeira vez na história a Ucrânia criou um Estado próprio. A República Socialista Soviética Ucraniana foi um dos países, junto com Rússia e Bielorrússia, a fundar a URSS, em 1922.

Os ucranianos lutaram fortemente contra a ocupação nazista durante a 2ª Guerra Mundial. Muitos generais e marechais que lideraram o Exército Vermelho eram ucranianos. No entanto, como a parte do extremo-oeste do país só havia entrado na URSS em 1940, a Ucrânia também foi um dos territórios soviéticos com mais colaboradores nazistas. 

Na época do socialismo, a independência da Ucrânia era tão grande que o país contava com exército e corpo diplomático próprios. No entanto, o golpe kruchovista, em 1956, e a restauração capitalista na URSS, na década de 1980, levou à dissolução e à separação da Ucrânia. 

Restauração capitalista e disputas interimperialistas

Com o fim da URSS, em 1991, uma onda de privatizações e políticas neoliberais abateu os povos das antigas repúblicas soviéticas. Empresas estatais, fábricas e terras eram vendidas a preço de banana para uma nova burguesia nascente. 

Na Ucrânia não foi diferente. Lá, a burguesia local se dividiu em facções distintas e rivais. No leste, se constituiu uma maioria russa na população, enquanto que no oeste a maioria é ucraniana. Isso também se refletiu na formação da nova classe burguesa. 

Os oligarcas bilionários ucranianos, que tomaram o poder com o golpe fascista de 2014, construíram nos últimos 30 anos grandes laços econômicos com o capital financeiro europeu e norte-americano. A história da Ucrânia pós-URSS coincidiu com o surgimento do euro e a expansão da Zona do Euro para o Leste Europeu. 

Enquanto isso, no leste do país, a grande burguesia buscou continuar suas relações econômicas e históricas com a Rússia. Os principais gasodutos russos para a Europa passam por território ucraniano, e a economia nessa área do país é muito interligada com a economia russa.

Governo fascista e guerra civil

Essa conjuntura levou a uma disputa interna muito grande no país, culminando no golpe de 2014. O atual governo ucraniano, de viés fascista, começou a perseguir russos e falantes da língua russa, tornou ilegal qualquer referência positiva ao período soviético e colocou o Partido Comunista na ilegalidade. 

Para a burguesia ucraniana ligada ao governo de Kiev, isso se alinhava com seus interesses, pois abria as portas para a entrada do país na OTAN e na UE. Por isso também que eles financiam até hoje grupos neonazistas que perseguem a população russa do leste da Ucrânia.

A situação levou a uma mobilização armada da população de diversas cidades do leste ucraniano, que se concentra principalmente em Donetsk e Lugansk, cidades próximas à fronteira com a Rússia. No sul, a população da península da Crimeia decidiu abandonar a Ucrânia e aceitar a anexação da Rússia.

Disputas interimperialistas pela Ucrânia

Esse cenário vem sendo explorado de forma oportunista pela oligarquia russa, liderada pelo presidente Vladimir Putin, e pela burguesia russo-ucraniana. O avanço dos neonazistas em Kiev despertou na maioria da população da Ucrânia (principalmente a de etnia russa) os sentimentos antifascistas mais legítimos.

De fato, a luta armada nas cidades de Donetsk e Lugansk contra o governo fascista ucraniano tem sua raiz na memória das atrocidades do nazismo e seus colaboradores. Na Rússia, entretanto, esse discurso vem sendo usado de forma a insuflar posições nacionalistas conservadoras.

Putin não tem demonstrado que seu apoio aos rebeldes ucranianos é por conta do avanço dos grupos neonazistas (embora cite isso em alguns de seus discursos). A única preocupação dele é com dois pontos: o fim da expansão imperialista da OTAN rumo ao leste e a consolidação de todas as ex-repúblicas soviéticas como áreas de influência da Rússia. Logo, engana-se profundamente quem pensa e defende que Putin é progressista ou antiimperialista. 

Não é à toa que o presidente russo se encontrou no último dia 2/02 com um dos principais líderes da extrema-direita europeia, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán. Putin também vai se encontrar com o presidente fascista Jair Bolsonaro nas próximas semanas. O objetivo é claro: buscar apoio, até de líderes fascistas, para conter a escalada da OTAN.

Do lado dos EUA e da Europa, os objetivos também não chegam nem perto de levar a “liberdade” e a “democracia” aos ucranianos. Tampouco o objetivo deles é defender a soberania do país. Essa história já conhecemos muito bem.

O objetivo dos imperialistas do Ocidente é o de sempre: garantir sua expansão para leste, subordinar mais um país, apossando-se de suas riquezas e recursos naturais, e, principalmente, conter qualquer avanço do bloco liderado por China e Rússia contra seus interesses.

Lutar contra a ameaça de guerra e o imperialismo 

O que está posto neste momento é que a luta dos povos da Ucrânia é uma só: lutar contra o fascismo e qualquer intervenção imperialista em seu país. As ameaças de guerra de parte a parte devem ser repudiadas, bem como toda solidariedade aos que enfrentam o fascismo naquele país deve ser feita. 

A Ucrânia hoje é palco de mais uma disputa interimperialista. Embora haja diferenças concretas entre a ação dos EUA, que apoiam grupos abertamente fascistas, e a Rússia, o que está em jogo é a disputa por zonas de influência e pela dominação do país. 

O desafio do povo ucraniano é o mesmo que acomete todos os povos do antigo bloco socialista: a reorganização das forças revolucionárias. É fato que, desde o fim da URSS, esses países passaram por uma grande repressão aos comunistas e viram a ascensão de forças reacionárias e fascistas. Sem também superar essa tarefa histórica, as bases sob as quais se darão a luta antifascista e antiimperialista naquele país serão muito precárias.

 Via jornal "averdade.org.br"

domingo, 13 de fevereiro de 2022

A participação dos partidos comunistas em governos burgueses é uma estratégia profundamente errônea

A participação dos partidos comunistas em governos burgueses é uma estratégia profundamente errônea

Por Nikos Mottas.

Toda vez que um Partido Comunista comprometeu o objetivo do poder operário para participar (ou apoiar) um governo burguês “progressista”, “esquerdista”, “anticapitalista”, “antifascista” etc., os resultados foram absolutamente decepcionante, levando à degeneração ideológica e à desintegração do movimento operário-popular.

Há poucos dias, o Partido Comunista Português (PCP), partido com uma história significativa, pagou o preço da sua participação no governo “progressista” dos socialistas, ao receber uns decepcionantes 4,39% e seis lugares nas eleições legislativas. Esse resultado marca uma perda de 6 deputados e quase 2% em relação à eleição de 2019. 

Nas eleições realizadas no passado mês de Outubro na República Checa, o Partido Comunista da Boémia e da Morávia (KSČM) obteve amargos 3,62% dos votos, deixando de entrar no Parlamento pela primeira vez desde 1948. Foi o resultado da decisão de KSČM de apoiar o governo de Andrej Babis em 2018.

Os dois casos acima são exemplos característicos de partidos comunistas que cederam à “tentação” de participar de um governo burguês, na ilusão de que assim podem servir aos interesses do povo. A mesma estratégia foi seguida recentemente pelo Partido Comunista do Chile que apoiou activamente a aliança social-democrata “Apruebo Dignidade” durante as eleições presidenciais de dezembro passado. Agora, quadros do Partido Comunista chileno estão prontos para assumir cargos oficiais no governo de Gabriel Boric .

A raiz do problema está na percepção de que o capitalismo pode ser reformado em favor das massas trabalhadoras. Se voltarmos ao início do século XX, veremos a luta feroz de Lênin contra as teorias então reformistas (como a de Bernstein) que promoviam a ideia de transformação da sociedade por meio de reformas em vez de revolução. O XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), realizado em 1956, adoptou uma série de políticas revisionistas, incluindo a de “transição pacífica ao socialismo”, espalhando assim a ilusão de que pode haver uma “transição parlamentar”. do capitalismo ao socialismo. Aparentemente, a adopção dessa estratégia causou grandes danos ao movimento comunista internacional.

A ascensão do eurocomunismo foi fruto de flagrantes distorções ideológicas do marxismo, segundo as quais os comunistas poderiam transformar o estado burguês em uma direção pró-trabalhador e pró-povo através da “expansão da democracia”. Nenhuma revolução seria necessária; apenas reformas que acabariam por mudar a natureza do Estado. No entanto, essa teoria reacionária ignorou a própria natureza do Estado burguês como órgão de dominação da classe burguesa. Em vez disso, considerou o Estado como uma “coleção de instituições” neutra que pode ser transformada “de dentro” para o benefício das massas.

Em sua obra " A Ideologia Alemã" Karl Marx analisa como o Estado burguês é apresentado como algo estranho à classe burguesa: "A esta propriedade privada moderna corresponde o Estado moderno (...) , ao lado e fora da sociedade civil; mas nada mais é do que a forma de organização que os burgueses necessariamente adoptam tanto para fins internos como externos, para a garantia mútua de seus bens e interesses... interesses comuns, e no qual se resume toda a sociedade civil de uma época, segue-se que o Estado medeia na formação de todas as instituições comuns e que as instituições recebem uma forma política” (p. Parte I: Feuerbach: Oposição da Perspectiva Materialista e Idealista, C. A Base Real da Ideologia). 

Em sua obra-prima " O Estado e a Revolução ", Lenin elaborou ainda mais a teoria de Marx, revelando a necessidade de esmagar o Estado burguês como pré-condição para a vitória do proletariado. Ele destacou que não existe democracia "pura", mas democracia de classe. Com base nas relações capitalistas de produção, mesmo a democracia parlamentar mais desenvolvida e progressista não pode ultrapassar os limites da dominação burguesa sobre a classe trabalhadora. Como Lenin escreveu, mesmo a república burguesa mais democrática nada mais é do que um aparelho de opressão da classe trabalhadora pela burguesia, da massa de trabalhadores por um punhado de capitalistas.

O domínio da ideologia eurocomunista na Europa Ocidental na década de 1970 levou os principais partidos comunistas (Itália, França, Espanha) a colaborar com as forças social-democratas (por exemplo, a participação do PCF no governo de François Mitterrand). Essa estratégia levou posteriormente à mutação ideológica desses partidos comunistas e à aniquilação do movimento operário. Partidos históricos com antecedentes de lutas heróicas abandonaram o marxismo-leninismo e o internacionalismo proletário tornando-se assim uma “cauda” política da social-democracia. Um caso característico é o Partido Comunista da Espanha (PCE) que, ainda, permanece politicamente ligado à social-democracia e participa do governo do Partido Socialista Operário (PSOE).

Como mencionamos acima, essas visões equivocadas continuam a existir nas fileiras do movimento comunista internacional. Em um artigo recente intitulado “ Aspectos da luta político-ideológica nas fileiras do movimento comunista internacional ”, o KKE aponta:

“A questão da participação ou apoio dos PCs em governos de “esquerda” e “progressistas” que surgem no contexto de gestão do capitalismo, continua sendo um ponto crucial nos confrontos ideológico-políticos. Em primeiro lugar, porque os partidos que seguem essa postura política com várias construções ideológicas, como a “humanização” do capitalismo, a “democratização” da UE, as “etapas para o socialismo” e a chamada ruptura com política de direita, alimentam ilusões sobre a gestão do capitalismo, branqueiam o papel sujo da social-democracia e concentram suas críticas em uma forma de gestão burguesa, ou seja,  o "neoliberalismo". Tais forças ignoram e menosprezam as leis que regem a economia capitalista e o carácter de facto e irrevogavelmente reacionário do Estado burguês, que não pode ser negado com qualquer tipo de fórmula de gestão burguesa. Essas forças adiam a luta pelo socialismo pela “perspectiva de longo prazo” e, na prática, assumem enormes responsabilidades para com os povos ao renunciar ao árduo trabalho diário de mobilizar forças sociais que têm interesse em enfrentar os monopólios e o capitalismo”.

A posição do KKE durante o período 2012-2015, quando o Partido se recusou firmemente a apoiar ou participar de um “governo de esquerda” com o SYRIZA, consiste em um legado político de imensa importância estratégica para o movimento comunista internacional. Não seria exagero dizer que a persistente recusa do KKE em recorrer ao oportunismo e se tornar um acessório das políticas antitrabalhadores e antipopulares do governo SYRIZA é um farol para os marxistas-leninistas em todo o mundo, para todos aqueles revolucionários que permanecem leais à herança ideológica leninista.

A missão dos Partidos Comunistas é desempenhar um papel de liderança no desenvolvimento da luta de classes contra o capitalismo e os monopólios, para reagrupar e organizar o movimento operário para a conquista do poder dos trabalhadores. Cada retirada de um Partido Comunista da luta organizativa, ideológica e política independente, cada forma de apoio aos governos burgueses, causa sérios danos aos interesses vitais do movimento da classe trabalhadora. Os partidos comunistas não têm nenhuma razão para participar da manipulação das massas populares e para espalhar ilusões de que um governo burguês (não importa se é liderado por partidos de esquerda, social-democratas, centristas ou liberais) pode servir tanto aos interesses dos monopólios e as necessidades dos trabalhadores.

A questão do apoio ou participação dos comunistas nos governos burgueses é crucial e precisa ser aprofundada pelos partidos comunistas de todo o mundo, tendo como guia a teoria marxista-leninista. O problema está na estratégia dos “estágios” que veem o socialismo como uma visão distante, quase invisível, e não como uma necessidade pontual. Essa estratégia errônea leva os partidos comunistas a deixar de lado a luta pela derrubada do capitalismo e a buscar formas de reformar o sistema explorador.

À medida que as contradições do sistema capitalista se intensificam, o dever dos Partidos Comunistas é corresponder efetivamente à sua missão histórica de vanguarda do movimento operário, formando uma estratégia clara de ruptura com o poder dos monopólios e imperialismo. Trinta anos após os eventos contrarrevolucionários na União Soviética e na Europa Oriental, não há espaço para manobras ideológicas que levem ao compromisso de classe. A história mostrou que só o povo pode salvar o povo quando ele trilha decididamente o caminho da derrubada revolucionária, para tomar o leme do poder em suas próprias mãos.

* Nikos Mottas é editor-chefe de Em Defesa do Comunismo

 http://www.idcommunism.com/

sábado, 12 de fevereiro de 2022

"O papel das mulheres na defesa de Stalingrado"



 

"O papel das mulheres na defesa de Stalingrado"


"Recordando a batalha nas margens de Volga, devo conter-me por um momento em uma questão importante que, na minha opinião, não tem recebido grande atenção na literatura da guerra e que, ás vezes, sem motivo, é desprezada, na intenção de tirar conclusões de nossa experiência com ela. Estou pensando no enorme papel desempenhado na guerra pelas mulheres, não apenas na retaguarda, como também na linha de frente.
 
 Suportaram as dificuldades da vida militar do mesmo modo que os homens e os acompanharam até Berlin. Houve muitas mulheres na história militar, desde as marketankti dos tempos de Pedro, O Grande e Suvorov até as guerrilhas de 1812, as irmãs da caridade na defesa de Sevastopol e de Porto Arthur, as mulheres da Primeira Guerra Mundial, que recordamos como russas dedicadas e patriotas. Porém, em nenhuma guerra antes, haviam mulheres desempenhando um papel tão importante como na guerra germano-soviética de 1941-1945. 
 
 A pesar de que, no passado, muitas mulheres haviam servido no exército e na linha de frente por sua própria iniciativa, as mulheres soviéticas partiram para a frente convocadas pelo Partido e pelo Komsomol [1], profundamente conscientes de seus deveres na defesa dos intereses de sua pátria socialista. Haviam sido preparadas para isso pelo Partido Comunista, porque neste momento, nosso Estado era o único no mundo onde as mulheres disfrutavam, de acordo com a Constituição, dos mesmos direitos dos homens. Ainda há quem provavelmente não compreenda o que fizeram como construtoras do socialismo e defensoras dos interesses dos trabalhadores. 
 
Eis porque, na guerra contra os invasores nazistas, vimos as mulheres soviéticas servindo como enfermeiras, levando dezenas e centenas de feridos para a retaguarda, como médicas, realizando intervenções cirúrgicas sob ataque aéreo de artilharia, ou como telefonistas e rádio-operadoras, cuidando das conversações operacionais e da administração em batalha. Vimo-las trabalhando nos comandos e nas organizações políticas, onde realizavam trabalhos de administração militar e educavam as tropas no espírito da tenacidade em combate. 
 
Quem quer que visitasse a frente veria mulheres agindo como artilheiras em unidades antiaéreas, como pilotos combatendo contra os ases alemães, como comandantes de barcos blindados, na Frota do Volga, por exemplo, transportando cargas da margem esquerda para a margem direita, ida e volta, em condições incrivelmente difíceis. Não há exagero em dizer que as mulheres combateram juntamente com os homens, em toda a parte, durante a guerra.
 
 Deve-se também recordar quVia "e, na segunda metade de 1942, quando os nossos exércitos haviam se retirado para uma linha que corria por Leningrado, Mozhaysk, Voronezh, Stalingrado e Mozdok, deixando áreas densamente povoadas em mãos inimigas, novos recrutas eram necessários. As mulheres, em massa, se apresentaram como voluntárias ao Exército e isto nos tornou possível repor em toda sua eficiência as nossas unidades e estabelecimentos. Tínhamos unidades inteiras (como as baterias anti-aéreas e os regimentos noturnos de bombardeio PO-2) em que a maioria dos artilheiros e das tripulações era constituída de mulheres. E é de justiça dizer que essas unidades cumpriram as suas tarefas tão bem quanto as unidades em que predominavam os homens. Podemos tomar, por exemplo, dois tipos de trabalho das operações de defesa – a artilharia antiaérea e as comunicações.  A maioria dos artilheiros no corpo de defesa antiaérea de Stalingrado, tanto das baterias antiaéreas como dos holofotes, eram mulheres. Porém, a eficácia dessas tripulações e baterias não eram de modo algum inferiores à das unidades anti-aéreas que vimos no Don e em outros pontos da frente, onde a maioria da tripulação era de homens. 
 
Em termos de tenacidade e abnegação, na batalha contra os aviões de mergulho alemães as guarnições antiaéreas femininas às margens do Volga eram modelos de coragem. Elas se agarravam aos seus canhões e continuavam disparando mesmo quando as bombas explodiam à sua volta, quando parecia impossível, não apenas disparar com pontaria certeira, mas até mesmo ficar ao lado dos canhões. Envolvidas em fogo e fumaça, em meio a explosões de bombas, aparentemente sem tomar conhecimento das colunas de terra que saltavam no ar em redor delas, mantinham-se firmes até o fim. As incursões da Luftwaffe [2] sobre a cidade, a despeito de pesadas perdas entre as guarnições anti-aéreas, eram sempre recebidas com fogo concentrado, que em regra fazia grande número de baixas entre os aviões atacantes. As nossas artilheiras antiaéreas derrubaram dezenas de aviões inimigos sobre a cidade em chamas. As tropas do 2º Exército jamais esquecerão como as artilheiras antiaéreas resistiram na estreita faixa de terra às margens do Volga e combateram os aviões inimigos até o último tiro. 
 
 Em Outubro de 1942, encontrei uma tropa que continha cinco garotas, muito jovens, porém combatentes e corajosas. Jamais esquecerei a tristeza que se estampou no rosto de uma moça loura a quem, após disparar contra uma formação de nove aviões inimigos, e derrubar um deles, uma das companheiras disse que, na sua opinião, teria sido possível derrubar dois ou três. As garotas das unidades antiaéreas da cidade não fechavam os olhos ao perigo, não cobriam a cabeça nem corriam para se protegerem, mesmo nos dias em que o inimigo fazia mais de 2000 saídas aéreas. Estou certo que não havia soldado no 62º Exército que tivesse alguma coisa a reprovar a mulheres que, com eles, defendiam a sua terra natal. 
 
 As unidades de comunicações do 62º Exército compunham-se principalmente de mulheres, que executavam com dedicação as suas instruções. Se as mandávamos para um posto de comunicações, podíamos estar certos de que as comunicações estavam asseguradas. A artilharia e os morteiros podiam disparar contra o posto, aviões podiam atirar bombas contra ele, as tropas inimigas poderiam cerca-lo –mas, a menos que recebessem ordens de o fazer, as mulheres não abandonavam o seu posto nem mesmo diante da morte. 
 
 Conheço o caso de uma garota que estava em um posto de comunicações próxima á estação de Basargino, uma jovem chamada Nadya Klimenko. Suas companheiras tinham sido mortas ou feridas, porém ela permaneceu em seu posto e seguiu informando o que ocorria no campo de batalha, este foi o seu último informe ao centro de comunicações do Exército: “Não há mais ninguém no posto. Estou só. Obuses explodem em redor...À direita posso ver carros, com cruzes pintadas sobre eles, em movimento, com a infantaria atrás...É tarde demais para eu sair. Não me importo que atirem! Continuarei a informar do mesmo modo. Escutem! Um carro se aproxima do meu posto. Dois homens saltam dele...Estão olhando em volta –penso que são oficiais. Vêm na minha direção. O meu coração parou de bater com receio do que possa acontecer...”. Isto foi o fim. Ninguém sabe o que aconteceu a Nadya Klimenko. (...) 
 
 Frequentemente lembro das condições em que nossas camaradas tinham que trabalhar e viver. Nos combates nas cidades ninguém faziam-lhes refúgios ou trincheiras; elas mesmas, sozinhas, ou em conjunto, cavaram trincheiras e sobre elas colocaram uma fina cobertura de tudo o que puderam conseguir e durante meses sem fim viveram juntas nessas trincheiras. Muitas vezes foram soterradas onde trabalhavam. Em outubro, quando o inimigo destruiu todos os refúgios do QG, as condições em que as mulheres trabalhavam e viviam se tornaram ainda mais difíceis. Trabalhavam em abrigos abafados e empoeirados, repousavam a céu aberto, comiam o que podiam conseguir e durante muitos meses não viam água quente. Como quer que a vejamos, a vida era dura e difícil para as mulheres na frente. Mas elas não se deixaram vencer pelas dificuldades e executaram as suas tarefas militares com integridade e abnegação. 
 
 Na divisão de Batiuk havia uma enfermeira chamada Tamara Shmakova. Eu a conheci pessoalmente. Ganhou fama por sua capacidade de retirar soldados gravemente feridos da linha de frente, quando parecia impossível levantar um dedo sequer do solo. Se arrastava até o ferido, esticava-se ao seu lado e observava os ferimentos. Tendo se certificado do seu estado, decidia então o que fazer. Se o soldado estava tão gravemente ferido que não podia continuar no campo de batalha, tomava medidas para evacuá-lo imediatamente. Para remover um soldado do campo de batalha normalmente são necessários dois homens, com ou sem padiola. Muitas vezes, porém, Tamara o fazia sozinha. O que fazia era pôr-se em baixo do ferido e arrastar-se de volta, tendo às costas um peso muitas vezes o dobro do seu. Mas, quando o ferido não podia ser levantado, ela abria um tapete, enrolava-o nele e, novamente, rastejando, o trazia a reboque. Tamara Shmakova salvou muitas vidas. Muitos homens que estão vivos hoje lhe devem a vida. Os soldados salvos da morte, vezes nem sequer sabiam o nome da moça que os socorrera. Ela trabalha atualmente como médica, no distrito de Tomsk. Havia muitas heroínas como Tamara no 62º Exército.
 
 Mais de mil mulheres foram condecoradas
 
 Entre estas estavam Maria Ulyanova, que se empenhou na defesa da Casa do Sargento Pavlov do começo ao fim, Valia Pakhomova, que retirou mais de 100 feridos do campo de batalha, Nadia Koltsova, duas vezes condecorada com a Ordem da Bandeira Vermelha, a dra. Maria Velyamidova, que cuidou dos ferimentos de centenas de soldados, sob fogo, nas posições avançadas, e muitas outras. Não terá sido uma heroína Lyuba Nesterenko, que, no prédio sob ataque do tenente Dragan, curou os ferimentos de centenas de guardas feridos e, sangrando gravemente, morreu com uma bandagem na mão ao lado de um camarada ferido? Me recordo das mulheres que trabalhavam nos batalhões de saúde das divisões e nos pontos de evacuação nas margens de Volga; cada uma delas, em cada noite, tratava e curava as feridas de centenas de soldados. Houve casos em que a equipe médica de qualquer ponto de evacuação enviava, em apenas uma noite, de dois a três mil feridos até o outro lado de Volga. E fizeram tudo isso debaixo do incessante bombardeio e fogo de todos os tipos de armamento... Este era o tipo de mulheres que tínhamos na frente".

Extraído das Memórias do Marechal Vassilli Ivanovitch Chuikov, comandante do 62º Exército de Stalingrado.

  Notas 

 [1] Komsomol, em russo, КОМСОМОЛ, também comumente abreviado como ВЛКСМ (VLKSM) vem de Всесою́ зный ле́нинский коммунисти́ческий сою́ з молодёжи (Liga Comunista Leninista da Juventude de Toda a União), era a juventude do Partido Comunista da União Soviética, fundada em Outubro de 1918.  

[2] Luftwaffe foi a força aérea do Exército Alemão (Wehrmacht) durante a Segunda Guerra Mundial.

  Via "NOVACULTURA.info"
 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico

 

Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico
 
J. V. Stálin
Setembro de 1938
 
"Se a natureza, a existência, o mundo material são o primário, e a consciência, o pensamento, o secundário, o derivado; se o mundo material constitui a realidade objetiva, que existe independentemente da consciência do homem, e a consciência é a imagem refletida dessa realidade objetiva, daí se deduz que a vida material da sociedade, sua existência, é também o primário, e sua vida espiritual, o secundário, o derivado; que a vida material da sociedade é a realidade objetiva, que existe independentemente da vontade dos homens, e a vida espiritual da sociedade, o reflexo dessa realidade objetiva, o reflexo do ser.
 
Isto quer dizer que a fonte donde provém a vida espiritual da sociedade, a fonte da qual emanam as idéias sociais, as teorias sociais, as concepções e as instituições-políticas devem ser procuradas não nessas mesmas idéias, teorias, concepções, instituições políticas, mas nas condições da vida material da sociedade, na existência social, da qual são reflexo essas idéias, teorias, concepções, etc.
 
Isto quer dizer que, se nos diversos períodos da história da sociedade nos encontramos com diversas idéias, teorias e concepções sociais e instituições políticas diferentes; se sob o regime da escravidão observamos umas idéias, teorias, e concepções sociais, umas instituições políticas, sob o feudalismo outras, e outras diferentes sob o capitalismo, a explicação disso não está na "natureza" nem na "peculiaridade" das próprias idéias, teorias, concepções e instituições políticas, mas nas diversas condições da vida material da sociedade dentro dos vários períodos de desenvolvimento social.
 
Segundo sejam as condições de existência da sociedade, as condições em que se desenvolve sua vida material, assim são suas idéias, suas teorias, suas concepções e instituições políticas.
 
A esse respeito, diz Marx:
 
"Não é a consciência do homem que determina a sua existência, mas, ao contrário, sua existência social é que determina a sua consciência" (Karl Marx, Obras Escolhidas, t. I, pag. 339, "Contribuição à critica da Economia política").
 
Isto quer dizer que, em política, o Partido do proletariado para não se equivocar e não se converter num conjunto de vagos sonhadores, deve tomar como ponto de partida para a sua atuação, não os "princípios" abstratos da "razão humana", mas as condições concretas da vida material da sociedade, que constituem a força decisiva do desenvolvimento social; não as boas intenções dos "grande homens", mas as exigências reais, impostas pelo desenvolvimento da vida material da sociedade."
(...)
 
O fracasso dos utopistas, incluindo entre eles os populistas, os anarquistas e os social-revolucionários, explica-se entre outras razões, porque não reconheciam a importância primária das condições da vida material da sociedade quanto ao desenvolvimento desta, motivo pelo qual, caindo no idealismo, erigiam toda a sua atividade prática, não sobre as exigências do desenvolvimento da vida material da sociedade, mas, independentemente delas e contra elas, sobre "planos ideais" e "projetos universais", desligados da vida real da sociedade.
 
A força e a vitalidade do marxismo-leninismo se estribam precisamente no fato de que este toma como base para a sua atuação prática as exigências do desenvolvimento da vida material da sociedade, sem nunca se desligar da vida real desta última.
 
Entretanto, das palavras de Marx não se depreende que as idéias e as teorias sociais, as concepções e as instituições políticas, não tenham importância alguma na vida da sociedade, que não exerçam de maneira incidental uma influência sobre a existência social, sobre o desenvolvimento das condições materiais da vida da sociedade. Até agora, nos temos referido unicamente à origem das idéias e teorias sociais e das concepções e instituições políticas, a seu nascimento, ao fato de que a vida espiritual da sociedade é o reflexo das condições de sua vida material. No tocante à importância das idéias e teorias sociais e das concepções e instituições políticas, no tocante ao papel que desempenham na história, o materialismo histórico não apenas não nega, mas, ao contrário, salienta a importância do papel e da significação que lhes correspondem na vida e na história da sociedade.
 
As idéias e teorias sociais não são porém todas iguais. Há idéias e teorias velhas que já cumpriram sua missão e que servem aos interesses de forças sociais caducas. Seu papel consiste em frear o desenvolvimento da sociedade, sua marcha progressiva. E há idéias e teorias novas, avançadas, que servem aos interesses das forças de vanguarda da sociedade. O papel destas consiste em facilitar o desenvolvimento da sociedade, sua marcha progressiva, sendo sua importância tanto maior quanto maior é a exatidão com que correspondam às exigências do desenvolvimento da vida material da sociedade.
 
As novas idéias e teorias sociais só surgem depois que o desenvolvimento da vida material da sociedade coloca diante dela novas tarefas. Mas, depois de surgirem, convertem-se em uma força importante que facilita a execução dessas novas tarefas surgidas com o desenvolvimento da vida material da sociedade, facilitando o seu progresso. É aqui, precisamente, onde se evidencia a formidável importância organizadora, mobilizadora e transformadora das novas idéias, das novas teorias e das novas concepções políticas, das novas instituições políticas. Por isso, as novas idéias e teorias sociais surgem a rigor porque são necessárias à sociedade, porque sem seu trabalho organizador, mobilizador o transformador, seria impossível ultimar as tarefas que o desenvolvimento da vida material da sociedade faz surgir, e que já estão em tempo de ser cumpridas. E na base das novas tarefas formuladas pelo desenvolvimento da vida material da sociedade, as novas idéias e teorias sociais surgem e abrem caminho, convertem-se em patrimônio das massas populares, mobilizam e organizam estas contra as forças sociais caducas, facilitando assim a derrocada dessas forças sociais que freiam o desenvolvimento da vida material da sociedade.
 
Eis como as idéias e teorias sociais, as instituições políticas, que brotam na base das tarefas já maduras para a sua solução, formuladas pelo desenvolvimento da vida material da sociedade, pelo desenvolvimento da existência social, atuam logo depois, por sua vez, sobre essa existência social, sobre a vida material da sociedade, criando as condições necessárias para ultimar a execução das tarefas já maduras da vida material da sociedade e tornar possível o seu ulterior desenvolvimento.
 
A esse respeito, diz Marx:
 
"A teoria se converte numa força material logo que se apodera das massas" (Karl Marx e F. Engels, Obras Completas, t. 1, pag. 403, "Em torno da crítica à filosofia hegeliana do direito").
 
Isto quer dizer que, para poder atuar sobre as condições da vida material da sociedade e acelerar seu desenvolvimento, acelerar seu melhoramento, o Partido do proletariado tem que se apoiar em uma teoria social, em uma idéia social que reflita fielmente as exigências do desenvolvimento da vida material da sociedade e que, graças a isso, seja capaz de pôr em movimento grandes massas do povo, de mobilizá-las e organizar com elas o grande exército do Partido proletário, apto a esmagar as forças reacionárias e a aplainar o caminho para as forças avançadas da sociedade.
(...)
 
O fracasso dos "economistas" e dos mencheviques se explica, entre outras razões, pelo fato de que não reconheciam a importância mobilizadora, organizadora e transformadora da teoria de vanguarda, da idéia de vanguarda e, caindo num materialismo vulgar, reduziam o seu papel a quase nada, e, consequentemente, condenavam o Partido à passividade, a viver vegetando.
 
A força e a vitalidade do marxismo-leninismo se estribam no fato de se apoiarem numa teoria de vanguarda que reflete fielmente as exigências do desenvolvimento da vida material da sociedade e que coloca a teoria à altura que lhe corresponde e considera seu dever utilizar integralmente sua força de mobilização, de organização e de transformação.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Sobre felicidade e revolução - Por Eleanor Marx

 

Trecho de uma carta da filha de Karl Marx, Eleanor Marx , sobre felicidade e revolução.
 
“É curioso mas acredito que muita gente não compreende o quanto a noção de felicidade é importante para os socialistas, como ela está no coração mesmo do pensamento de Marx. É ela, afinal, o grande objetivo final de nossa luta, a felicidade – não como simples busca do prazer individual – mas como auto-realização do ser humano. O direito que cada indivíduo tem de poder expressar e realizar suas capacidades, realizar-se, colocando sua humanidade no que faz, seja o que for: um objetivo, uma lavoura, uma obra de arte. Que todos possam ser felizes, efetivando suas capacidades e fazendo parte de uma coletividade, um grupo que os reconhece como seus.

 
Muitas pessoas nem sempre associam o “livre desenvolvimento de cada um como condição para o livre desenvolvimento de todos” à noção de felicidade do indivíduo. Não entendem que esse “livre desenvolvimento” de cada um é, justamente, a condição para que se possa ser feliz. Ou pensam que isso é coisa do futuro e deve ser deixada para o futuro. Não se dão conta de que ser feliz é algo para ser buscado no presente; que não deve ser uma utopia, mas algo necessário, agora, algo para ser tentado desde já, algo que nos faz melhores como pessoas e, portanto, mais capazes de enfrentar a longa luta. Não creio que exagero quando penso que a beleza da vida, a alegria de viver é o que deve nos guiar e é o que nos pode dar alguma força. Que a revolução significa não apenas a busca da vida e da liberdade, mas à busca da felicidade.”
 
( Carta a Olive Schreiner, 1897)

sábado, 5 de fevereiro de 2022

O capitalismo destrói o Tejo

 O capitalismo destrói o Tejo

  

Mais uma vez testemunhamos o que Marx advertiu há quase dois séculos: “O capitalismo tende a destruir suas duas fontes de riqueza: a natureza e os seres humanos” .

Boa prova desta citação marxista é a situação actual do rio Tejo, sobretudo quando passa pela cidade de Toledo, onde observamos horrorizados como as águas circulam poluídas, com espuma, a que se deve acrescentar o nível ridículo do caudal. Mas de onde vem toda essa situação e por que a relacionamos com o capitalismo?

Voltemos a 1979, quando foi lançada a famosa transferência Tajo-Segura para irrigar as terras de Almería, Alicante e Múrcia para cultivo massivo. À primeira vista pode parecer que a transferência é feita para o bem comum, mas nossa experiência em analisar e combater as contradições do capitalismo nos diz que não é bem assim: a transferência serve única e exclusivamente ao benefício capitalista das grandes extensões agrícolas do sudeste do Estado espanhol.

A transferência é apenas a culminação deste rio praticamente morto, pois em seu curso por Aranjuez já flui sem força, e se somarmos a isso a extração de suas águas para a transferência, a precariedade do rio torna-se extrema. O Real Decreto 817/2015 estabelece níveis máximos de contaminação para o Tejo de 1 mg/l de amónio e 0,6 mg/l de fosfato, mas a verdade é que os níveis atuais são de 5 mg/l de amónio, enquanto os níveis de fosfato permanecem "estáveis" .

De onde vêm esses resíduos poluentes? Amónio, proveniente de estações de tratamento de águas residuais urbanas (especialmente as da Comunidade de Madrid) e fosfato, de origem agrícola (de fertilizantes).

Ou seja, a principal causa da poluição agressiva do rio Tejo é a má gestão das estações de tratamento de águas residuais de Madrid, que chegam ao Tejo através do seu afluente, o Jarama. Esta contaminação seria contrariada se o caudal do Tejo fosse o que deveria ser sem uma transferência que atendesse aos interesses capitalistas de produção em massa, já que o rio seria capaz de diluir a maior parte dos elementos poluentes.

É por tudo isto que relacionamos a poluição (neste caso do rio Tejo) com o sistema capitalista, que sem pensar no futuro e no bem-estar social, apenas serve os interesses económicos das grandes extensões agrícolas (neste caso).

Enquanto o capitalismo existir, qualquer medida individual tomada de casa, do indivíduo, será em vão, pois as contradições capitalistas atingem níveis que não podemos enfrentar de nossas casas, com gestos tão mínimos quanto reciclar ou não usar produtos tão nocivos. Para o ambiente.

A única maneira de harmonizar as relações de produção, de satisfazer as necessidades da maioria trabalhadora sem destruir o meio ambiente e o planeta, é a implantação de uma economia planificada socialista, cujo objetivo final não é o enriquecimento de uma minoria parasitária, mas o bem-estar da maioria.

 

Vamos acabar com o capitalismo para acabar com a exploração do homem pelo homem e do homem pela natureza!

Socialismo ou barbárie!

 


CIUDAD REAL COMITÊ PROVINCIAL DO PARTIDO COMUNISTA OPERÁRIO ESPANHOL (PCOE)