domingo, 31 de janeiro de 2021

Sobre os Fundamentos do Leninismo. VIII — O Partido


J. V. Stálin


VIII — O Partido


No período pré-revolucionário, no período de desenvolvimento mais ou menos pacífico, quando os partidos da II Internacional eram a força dominante do movimento operário e as formas parlamentares de luta eram consideradas as principais, naquelas condições o Partido não tinha, nem podia ter, a importância séria e decisiva que adquiriu em seguida, num período de grandes batalhas revolucionárias. Defendendo a II Internacional dos ataques de que é alvo, Kautsky disse que os partidos da II Internacional são instrumentos de paz e não de guerra, que justamente por isso não estavam em condições de empreender alguma coisa de sério, durante a guerra, no período das ações revolucionárias do proletariado. Isto é verdade. Mas, que significa isto? Significa que os partidos da II Internacional não servem para a luta do proletariado, que não são partidos de luta do proletariado, que possam conduzir os operários à conquista do Poder, mas um aparelho eleitoral, adaptado às eleições parlamentares e à luta parlamentar. Assim se explica, precisamente, o fato de que, no período de predomínio dos oportunistas da II Internacional, a organização política fundamental do proletariado não era o Partido, mas o grupo parlamentar. É sabido que, naquele período, o Partido era na prática um apêndice, um elemento a serviço do grupo parlamentar. É desnecessário demonstrar que, em tais condições e sob orientação de tal partido, não se podia falar sequer na preparação do proletariado para a revolução.

As coisas mudaram, porém, radicalmente, ao se iniciar o novo período. O novo período é o dos conflitos abertos de classes, é o período das ações. revolucionárias do proletariado, o período da revolução proletária, o período da preparação imediata das forças para a derrocada do imperialismo, para a tomada do Poder pelo proletariado. Este período coloca diante do proletariado tarefas novas: a reorganização de todo o trabalho do Partido numa base nova, numa base revolucionária, a educação dos operários no espírito da luta revolucionária pelo Poder, a preparação e mobilização das reservas, aliança com os proletários dos países vizinhos, a criação de sólidos laços com o movimento de libertação das colônias e dos países dependentes, etc. etc.. Pensar que estas novas tarefas podem ser resolvidas com as forças dos velhos partidos social-democratas, educados nas pacíficas condições do parlamentarismo, significa condenar-se irremediavelmente à desesperação, a uma derrota certa. Permanecer sob a direção dos velhos partidos, quando se tem sobre os ombros tarefas dessa ordem, significa ficar inteiramente desarmado. Não é preciso demonstrar que proletariado não podia resignar-se a tal situação.

Daí a necessidade de um novo partido, de um partido combativo, de um partido revolucionário, bastante audaz para conduzir os proletários à luta pelo Poder, bastante experiente para saber orientar-se nas complicadas condições de uma situarão revolucionária, e bastante ágil para evitar toda sorte de escolhos no caminho que leva ao objetivo.

Sem um partido desse tipo não se pode sequer pensar na derrubada do imperialismo, na conquista da ditadura do proletariado.

Este novo partido é o Partido do leninismo.

Quais são as particularidades deste novo Partido?

1) O Partido, destacamento de vanguarda da classe operária.

O Partido deve ser, antes de tudo, o destacamento de vanguarda da classe operária.. O Partido deve incorporar às suas fileiras todos os melhores elementos da classe operária, assimilar a sua experiência, o seu espírito revolucionário, a sua dedicação infinita à causa do proletariado. Mas, para ser efetivamente o destacamento de vanguarda, o Partido precisa armar-se de uma teoria revolucionária, deve conhecer as leis do movimento, deve conhecer as leis da revolução. Em caso contrário, não está em condições de dirigir do proletariado, arrastar consigo o proletariado. O Partido não pode ser um verdadeiro partido se se limita a registrar o que a massa da classe operária sente e pensa, se vai a reboque do movimento espontâneo, se não sabe vencer a inércia e a indiferença política do movimento espontâneo, se não sabe colocar-se acima dos interesses momentâneos do proletariado, se não sabe elevar as massas ao nível dos interesses de classe do proletariado. O Partido deve pôr-se à frente de classe operária, deve enxergar mais longe do que á classe operária, deve arrastar consigo o proletariado e não ficar a reboque do movimento espontâneo. Os partidos da II Internacional, que pregam o "seguidismo", são agentes da política burguesa, que condena o proletariado ao papel de instrumentos nas mãos da burguesia. Somente um partido que se coloque no ponto-de-vista do destacamento de vanguarda do proletariado e seja capaz de elevar as massas ao nível dos interesses de classe do proletariado somente um partido desse tipo é capaz de afastar a classe operária do caminho do trade-unionismo e de transformá-la em força política independente.

O Partido é o chefe político da classe operária. Já falei das dificuldades da luta da classe operária, da complexidade das condições da luta, da estratégia e da tática, das reservas e das manobras, da ofensiva e da retirada, Estas condições não são menos complexas, e talvez sejam mais complexas do que as condições de guerra. Quem pode orientar-se nestas condições, quem pode dar uma orientação justa a uma massa de milhões de proletários? Nenhum exercito em guerra pode prescindir de um Estado-Maior experimentado, se não quer condenar-se à derrota. Não é porventura claro que o proletariado, com maior razão ainda, não pode prescindir de um tal Estado-Maior, se não quer ficar a mercê dos seus inimigos jurados? Mas, onde encontrar esse Estado-Maior? Somente o Partido revolucionário do proletariado pode ser esse Estado-Maior. A classe operaria, sem um partido revolucionário, é um exercito sem Estado-Maior.

O Partido é o Estado-Maior da luta do proletariado. Mas o Partido não pode ser apenas destacamento de vanguarda. Deve ser, ao mesmo tempo, um destacamento, uma parte da classe operária, parte intimamente ligada a esta com todas as fibras da sua existência. A diferença entre a vanguarda e a massa restante da classe operária, entre os membros do Partido e os sem partido, não pode desaparecer enquanto não desaparecerem as classes, enquanto o proletariado engrossar as suas fileiras com elementos de outras classes, enquanto a classe operária, no seu conjunto, estiver impossibilitada de elevar-se ao nível do destacamento de vanguarda. Mas o Partido deixaria de ser o Partido se esta diferença se transformasse em ruptura, se o Partido se fechasse dentro de si mesmo e se se divorciasse das massas sem partido. O Partido não pode dirigir a classe se não se liga às massas sem partido, se não existem vínculos entre o Partido e as massas sem partido, se estas massas não aceitam a sua direção, se o Partido não desfruta entre as massas de credito moral e político. Recentemente, foram admitidos no nosso Partido duzentos mil novos membros operários. É digno de nota que não ingressaram no Partido por si mesmos, mas, antes, foram enviados pelas restantes massas sem partido, que participaram ativamente na admissão dos novos membros e sem cuja aprovação não foram admitidos, em geral, novos membros. Este fato mostra que as grandes massas dos operários sem partido consideram o nosso Partido como seu partido, partido que lhes é próximo e querido, a cujo desenvolvimento e fortalecimento se ligam os seus interesses vitais e a cuja direção confiam voluntariamente o seu destino. Não é preciso demonstrar que, sem esses vínculos morais imperceptíveis, que unem o Partido às massas sem partido, o partido não poderia tornar-se a força decisiva da sua classe. O Partido é a parte inseparável da classe operária.

«Nós — disse Lênin — somos o Partido da classe e, por isso, quase toda a classe (e, em tempo de guerra, na época da guerra civil, a classe inteira) deve agir sob a direção do nosso Partido, deve manter com o nosso - Partido - a mais estreita ligação possível; mas seria «manilovismo» e «seguidismo» pensar que, no regime capitalista, quase toda ou toda a classe pode algum dia alcançar o grau de consciência e de atividade do seu destacamento de vanguarda, do seu partido social-democrata. Nenhum social-democrata sensato jamais pôs em dúvida que, sob o regime capitalista, nem mesmo a organização sindical (por mais rudimentar e acessível à consciência das camadas atrasadas) está em condições de abranger quase toda ou toda a classe operária. Esquecer a diferença que existe entre o destacamento de vanguarda e todas as massas que gravitam em torno dele, esquecer o dever constante do destacamento de vanguarda de elevar camadas cada vez mais amplas a este nível da vanguarda, seria enganar a si próprio, fechar os olhos diante da grandiosidade das nossas tarefas, restringir estas tarefas». (Vide vol. VI, págs. 205-206).[N79]

2) O Partido, destacamento organizado da classe operária.

O Partido não é apenas o destacamento de vanguarda da classe operária. Se quer realmente dirigir a luta da sua classe, deve ser, ao mesmo tempo, o destacamento organizado da mesma. No regime capitalista, as tarefas do Partido são estraordinariamente grandes e várias. O Partido deve dirigir a luta do proletariado em condições extraordinariamente difíceis de desenvolvimento interno e externo, deve conduzir o proletariado à ofensiva quando a situação exige a ofensiva, deve subtrair o proletariado aos golpes de um adversário poderoso quando a situação exige a retirada, deve infundir em massas de milhões de operários sem partido, desorganizados, o espírito de disciplina e de método na luta, o espírito de organização e de firmeza. Mas o Partido só pode cumprir essas tarefas se ele próprio é a personificação da disciplina e da organização, se ele próprio é um destacamento organizado do proletariado. Sem estas condições não se pode sequer falar de uma verdadeira direção, pelo Partido, de milhões de proletários.

O Partido é o destacamento organizado da classe operária.

O conceito de partido, como de um todo organizado, foi estabelecido na conhecida formulação dada por Lênin ao artigo primeiro dos estatutos do nosso Partido, em que o Partido é considerado como a soma das suas organizações, e seus membros, como integrantes de uma das organizações do Partido. Os mencheviques que, já em 1903, se opunham a esta fórmula, propunham, em lugar dela, um "sistema" de auto-adesão ao Partido, um "sistema" da extensão do "título" de membro do Partido a qualquer "professor" e "estudante", a todo "simpatizante" e "grevista", que de um modo ou de outro apoiasse o Partido, mesmo sem aderir e sem querer aderir a nenhuma das organizações do Partido. É desnecessário demonstrar que esse "sistema" original, se chegasse a prevalecer no nosso Partido, teria provocado inevitavelmente urna invasão do Partido pelos professores e estudantes e o teria levado a degenerar numa "entidade" mal definida, amorfa, desorganizada, submersa num mar de "simpatizantes", que teria extinguido as fronteiras entre o Partido e a classe e levado ao malogro a tarefa de elevar as massas desorganizadas ao nível da vanguarda. Nem é preciso dizer que, com tal "sistema" oportunista, o nosso Partido não teria podido desempenhar o seu papel de núcleo organizador da classe operária no curso da nossa revolução.

«Segundo o ponto-de-vista de Mártov — disse Lênin — as fronteiras do Partido ficam absolutamente indeterminadas, porque «todo grevista» pode «declarar-se membro do Partido».

Qual a utilidade de semelhante imprecisão? A grande difusão dum «titulo». O dano que traz é dar curso à idéia desorganizadora da confusão da classe operária com o Partido». (Vide vol. VI, pág. 211).[N80]

Mas o Partido não é somente a soma das suas organizações. O Partido é ao mesmo tempo o sistema único destas organizações, a sua união formal num todo único, no qual existem órgãos de direção superiores e inferiores, no qual existe uma submissão da minoria à maioria, no qual existem decisões práticas, obrigatórias para todos os membros do Partido. Sem esta condição, o Partido não se acha em condições de ser um todo único organizado, capaz de assegurar uma direção organizada e sistemática da luta da classe operária.

«Antes — disse Lênin — o nosso Partido não era um todo formalmente organizado, mas apenas uma soma de grupos particulares, e, por isso, entre esses grupos não podia existir relação alguma, além da influência ideológica. Hoje, já somos um partido organizado, e isto significa a criação de uma autoridade, a transformação do prestígio da idéia no prestígio da autoridade, submissão das instâncias inferiores do Partido às instâncias superiores». (Vide vol. VI, pág. 291).[N81]

O princípio da subordinação da minoria à maioria, o princípio da direção do trabalho do Partido por um organismo central suscita, com freqüência, ataques dos elementos instáveis, acusações de "burocratismo", de "formalismo", etc.. Não é preciso demonstrar que, a aplicação desses princípios, o Partido, como um todo único, não poderia trabalhar sistematicamente, nem dirigir a luta da classe operária. No campo da organização, o leninismo é a aplicação inflexível desses princípios. Lênin chama à luta esses princípios de "niilismo russo" e "anarquismo senhorial", que devem ser postos em ridículo e repudiados.

Eis o que disse Lênin de tais elementos instáveis, no seu livro "Um passo à frente":

Este anarquismo senhorial é característico do niilista russo. A organização do Partido parece-lhe uma «fábrica» monstruosa; a subordinação da parte ao todo e da minoria à maioria parece-lhe uma «servidão»... a divisão do trabalho sob a direção de um organismo central leva-o a proferir alaridos tragicômicos contra a transformação dos homens em «rodas e parafusos»..., a simples menção dos estatutos de organização do Partido suscita nele um gesto de desdém e a desdenhosa... observação de que poderia passar muito bem sem os estatutos...

É claro, parece-me, que os clamores contra o famoso burocratismo não servem senão para mascarar o descontentamento diante da composição dos organismos centrais, não são senão folha de parreira... És um burocrata, porque foste designado pelo Congresso sem o meu consentimento e contra ele; és um formalista, porque te apóias nas decisões formais do Congresso e não no meu consentimento; ages de modo brutal e mecânico, porque recorres à maioria «mecânica» do Congresso do Partido e não levas em conta o meu desejo de ser cooptado; és um autocrata, porque não queres pôr o poder nas mãos da velha tertúlia de bons compadres!»(10) (Vide vol. VI, págs. 287 e 310).[N82]

3) O Partido, forma suprema de organização de classe do proletariado.

O Partido é o destacamento organizado da classe operária. Mas o Partido não é a única organização da classe operária. O proletariado tem toda uma série de outras organizações, sem as quais não pode lutar com êxito contra o capital: sindicatos, cooperativas, organizações de fábrica, grupos parlamentares, associações de mulheres sem partido, imprensa, organizações culturais, educativas, federações de jovens, organizações revolucionárias de combate (durante as grandes batalhas revolucionárias), Soviets de deputados como forma de organização estatal (se o proletariado está no Poder) etc.. A imensa maioria dessas organizações não são organizações de partido e somente uma parte delas adere diretamente ao Partido ou constitui uma das suas ramificações. Todas essas organizações são, em condições dadas, absolutamente necessárias à classe operária, porque sem a sua existência é impossível consolidar as posições de classe do proletariado nos diversos campos da luta, porque sem a sua existência é impossível temperar o proletariado como força chamada a substituir a ordem burguesa pela ordem socialista. Mas, como organizar uma direção única, com tal abundância de organizações? Que garantia há de que a existência de uma multiplicidade de organizações não tornará a direção incoerente? Poder-se-ia responder que cada uma dessas organizações exerce a sua atividade no campo que lhe é próprio e que, por conseguinte, não podem perturbar-se mutuamente. Isto, naturalmente, é certo. Mas é também certo que todas essas organizações devem trabalhar sob uma direção única, porque elas servem a uma só classe, a classe dos proletários. Pergunta-se: quem determina a linha, a direção comum, segundo a qual todas essas organizações devem desenvolver o seu trabalho? Qual a organização central que não só tem a capacidade de elaborar esta linha comum, por ter a experiência necessária, mas também a possibilidade, por ter o prestígio suficiente para fazê-lo, de estimular todas essas organizações e pôr em prática esta linha, com o objetivo de realizar a unidade de direção e de excluir a possibilidade de incoerência?

Esta organização é o Partido do proletariado. O Partido tem todos os requisitos para esse papel, porque, em primeiro lugar, o Partido é o ponto em torno do qual se reúnem os melhores elementos da classe operária, que mantêm laços diretos com as organizações proletárias sem partido e que com freqüência as dirigem; porque, em segundo lugar, o Partido, como ponto em torno do qual se reúnem os melhores elementos da classe operária, é a melhor escola para a formação de chefes da classe operária, capazes de dirigir todas as formas de organização da sua classe; porque, em terceiro lugar, o Partido, como a melhor escola de chefes da classe operária, é, pela sua experiência e prestígio, a única organização capaz de centralizar a direção da luta do proletariado e de transformar, desse modo, as organizações operárias sem partido de toda espécie em organismos auxiliares e em correias de transmissão que o ligam à classe.

O Partido é forma suprema de organização de classe do proletariado.

Não quer isto dizer, naturalmente, que as organizações sem partido, os sindicatos, as cooperativas, etc., devam ficar formalmente subordinadas à direção do Partido. O que importa é que os membros do Partido, que integram essas organizações e nas quais exercem incontestável influência, tomem todas as medidas de persuasão, a fim de que as organizações sem partido se aproximem, no seu trabalho, do Partido do proletariado e aceitem de bom grado a sua direção política.

Por isso, disse Lênin que o Partido é "a forma suprema de união de classe dos proletários" e que a sua direção política deve estender-se a todas as outras formas de organização do proletariado. (Vide vol. XXV, pág. 194).[N83]

Eis porque a teoria oportunista da "independência" e "neutralidade" das organizações sem partido, teoria que gera os parlamentares independentes e os jornalistas desligados do Partido, os funcionários sindicais de mentalidade estreita e os cooperativistas imbuídos de espírito pequeno-burguês é absolutamente incompatível com a teoria e com a prática do leninismo.

4) O Partido, instrumento da ditadura do proletariado.

O Partido é a forma suprema de organização do proletariado. O Partido é o fator essencial de direção no seio da classe dos proletários e entre as organizações desta classe. Mas disso não se depreende, de modo algum, que o Partido se possa considerar como um fim em si, como força que se baste a si mesma. O Partido não é apenas a forma suprema de união de classe dos proletários, é, ao mesmo tempo, um instrumento nas mãos do proletariado para a conquista da ditadura, quando esta ainda não foi conquistada, e para a consolidação e ampliação da ditadura, quando esta já foi conquistada. O Partido não teria podido adquirir importância tão grande, nem prevalecer sobre todas as outras formas de organização do proletariado, se o proletariado não tivesse diante de si o problema do Poder, se as condições existentes no período do imperialismo, a inevitabilidade das guerras, a existência da crise, não tivessem exigido a concentração de todas as forças do proletariado num só ponto, a convergência para um só ponto de todos os fios do movimento revolucionário, com o objetivo de derrubar a burguesia e conquistar a ditadura do proletariado. O Partido é necessário ao proletariado, antes de tudo, como Estado-Maior de combate, indispensável para a conquista vitoriosa do Poder. É supérfluo demonstrar que, sem um partido capaz de reunir em torno de si as organizações de massas do proletariado e de centralizar, no curso da luta, a direção do movimento em seu conjunto, o proletariado na Rússia não teria podido instaurar a sua ditadura revolucionária. Mas o Partido é necessário ao proletariado não somente para a conquista da ditadura; é ainda mais necessário para manter a ditadura, para consolidá-la e no interesse da vitória completa do socialismo.

«É certo — disse Lênin — que já agora quase todos vêem que os bolcheviques não se teriam mantido no Poder, não digo por dois anos e meio, mas nem mesmo dois meses e meio, se não existisse uma disciplina severíssima, verdadeiramente férrea, no nosso Partido, se o Partido não tivesse tido o apoio total e cheio de abnegação de toda a massa da classe operária, isto é, de tudo o que ela tem de consciente, de honesto, de abnegado, de influente e capaz de arrastar ou de atrair as camadas atrasadas». (Vide vol. XXV, pág. 173).[N84]

Mas, que significa "manter" e "estender" a ditadura? Significa infundir nas massas de milhões de proletários o espírito de disciplina e de organização; significa criar nas massas proletárias uma coesão, uma barreira contra as influências deletérias do caráter pequeno-burguês e dos hábitos pequeno-burgueses; significa reforçar o trabalho de organização dos proletários para a reeducação e a transformação das camadas pequeno-burguêsas, significa ajudar as massas proletárias a se educarem a si mesmas como força capaz de suprimir as classes e de preparar as condições para a organização da produção socialista. Mas, não é possível realizar tudo isso sem um partido forte pela sua coesão e a sua disciplina.

«A ditadura do proletariado - disse Lênin — é uma luta tenaz, cruenta e incruenta, violenta e pacífica, militar e econômica, pedagógica, e administrativa, contra as forças e as tradições da velha sociedade. A força do hábito de milhões e dezenas de milhões de homens é a mais terrível das forças. Sem um partido de ferro, temperado na luta sem um partido que desfrute da confiança de tudo quanto há de honesto na sua classe, sem um partido que saiba observar o estado de ânimo das massas e influenciá-lo, é impossível levar a efeito com êxito semelhante luta». (Vide vol. XXV, pág. 90).[N85]

O Partido é necessário ao proletariado para conquistar e manter a ditadura. O Partido é o instrumento da ditadura do proletariado.

Daí se depreende que, com o desaparecimento das classes, com a extinção da ditadura do proletariado, deverá extinguir-se também o Partido.

5) O Partido, unidade de vontade, incompatível com a existência de frações.

A conquista e a manutenção da ditadura do proletariado não são possíveis sem um partido forte pela sua coesão e a sua disciplina de ferro. Mas não se concebe uma disciplina férrea no Partido sem unidade de vontade, sem uma completa e absoluta unidade de ação de todos os membros do Partido. Isto não significa, naturalmente, que desse modo se exclui a possibilidade de uma luta de opiniões no seio do Partido. Ao contrário, a disciplina férrea não exclui, mas pressupõe, a crítica e a luta de opiniões no seio do Partido. Com maior razão, não significa que a disciplina deva ser "cega". Ao contrário, a disciplina férrea não exclui, mas pressupõe, a subordinação consciente e voluntária, porque só uma disciplina consciente pode ser uma disciplina verdadeiramente férrea. Mas, uma vez terminada a luta de opiniões, esgotada a crítica, tomada uma decisão, a unidade de vontade e a unidade de ação de todos os membros do Partido são uma condição indispensável, sem a qual não se podem conceber nem um partido unido nem uma disciplina férrea no Partido.

«Na época atual de guerra civil aguda — disse Lênin — o Partido Comunista só poderá cumprir o seu dever se for organizado do modo mais centralizado, se no seu seio reinar uma disciplina férrea, confinante com a disciplina militar, e se o centro do Partido for um órgão de grande prestígio e autoridade, dotado de amplos poderes, que desfrute da confiança geral dos membros do Partido». (Vide vol. XXV, págs. 282-283).[N86]

Assim está colocada a questão da disciplina do Partido nas condições da luta anterior à conquista da ditadura.

O mesmo se deve dizer, mas em grau ainda maior, da disciplina do Partido depois da conquista da ditadura.

«O que enfraquece, por pouco que seja — disse Lênin — a disciplina férrea do Partido do proletariado (sobretudo durante a ditadura do proletariado) ajuda na realidade a burguesia contra o proletariado.» (Vide vol. XXV, pág. 190).[N87]

Não se pode deixar de concluir que a existência de frações não é compatível nem com a unidade do Partido, nem com a disciplina férrea. Não é preciso demonstrar que a existência de frações leva à existência de diversos organismos centrais, que a existência desses organismos significa a inexistência de um centro comum a todo o Partido, a ruptura da vontade única, o relaxamento e a desagregação da disciplina, o enfraquecimento e a decomposição da ditadura. Naturalmente, os partidos da II Internacional, que lutam contra a ditadura do proletariado e não querem levar o proletariado ao Poder, podem permitir-se um liberalismo como o de dar liberdade às frações, porque eles na realidade não precisam de uma disciplina férrea. Mas os partidos da Internacional Comunista, que organizam o seu trabalho levando em consideração as tarefas da conquista e do fortalecimento da ditadura do proletariado, não podem aceitar nem "liberalismo" nem liberdade de frações.

O Partido é uma unidade de vontade que exclui todo fracionismo, toda divisão do poder no Partido.

Daí os esclarecimentos de Lênin sobre o "perigo do fracionismo, do ponto-de-vista da unidade do Partido e da realização da unidade de vontade da vanguarda do proletariado, como condição essencial do êxito da ditadura do proletariado", esclarecimentos fixados na resolução especial do X Congresso do nosso Partido, "Sobre a unidade do Partido."[N88]

Daí a exigência feita por Lênin sobre "a supressão completa de todo fracionismo" e "a dissolução imediata de todos os grupos, sem exceção, formados na base desta ou daquela plataforma", sob pena de "imediata e incondicional expulsão do Partido." (Vide a resolução "Sobre a unidade do Partido.")

6) O Partido se reforça depurando-se dos oportunistas.

Fonte de fracionismo no Partido são os seus elementos oportunistas. O proletariado não é uma classe fechada dentro de si mesma. A ele afluem continuamente elementos proletarizados pelo desenvolvimento do capitalismo, de origem camponesa, pequeno-burguesa e intelectual. Ao mesmo tempo se desenvolve um processo de decomposição das camadas superiores do proletariado, compostas principalmente de funcionários sindicais e de parlamentares que a burguesia corrompe, servindo-se dos superlucros coloniais.

"Essa camada de operários aburguesados — dizia Lênin — essa "aristocracia operária", inteiramente pequeno-burguesa pelo seu gênero de vida, pelos seus vencimentos, por toda a sua concepção do mundo, é o apoio principal da II Internacional e hoje constitui o principal apoio social (não militar) da burguesia. Trata-se, com efeito, de verdadeiros agentes da burguesia no movimento operário, de lugares-tenentes operários da classe dos capitalistas, de verdadeiros veículos do reformismo e do chauvinismo." (Vide vol. XIX, pág. 77).[N89]

Todos esses grupos pequeno-burgueses penetram de um modo ou de outro no Partido, nele introduzindo o espírito de vacilação e do oportunismo, o espírito da desagregação e da incerteza. São a fonte principal do fracionismo e da desagregação, a fonte da desorganização e da demolição do Partido por dentro. Fazer a guerra ao imperialismo tendo à retaguarda tais "aliados", significa ocupar posição de quem se acha entre dois fogos, alvejado pela frente e pela retaguarda. Por isso, a luta implacável contra esses elementos, a sua expulsão do Partido, é condição prévia do êxito da luta contra o imperialismo.

A teoria da "superação" dos elementos oportunistas mediante a luta ideológica no seio do Partido, a teoria da "liquidação" desses elementos no quadro de um só partido urna teoria podre e perigosa, que ameaça condenar o Partido à paralisia e a uma enfermidade crônica, que ameaça deixar proletariado sem partido revolucionário, que ameaça privar o proletariado da arma principal na luta contra o imperialismo. O nosso Partido não teria podido tomar o caminho justo, não teria conquistado o Poder e organizado a ditadura do proletariado, não teria saído vitorioso da guerra civil, se tivesse nas suas fileiras os Mártov e os Dan, os Potressov e os Axelrod. Se o nosso Partido conseguiu criar uma unidade interna e uma coesão sem paralelo das suas fileiras, deve-se isto sobretudo ao fato de que soube livrar-se a tempo da podridão oportunista, soube expulsar do seu seio os liquidacionistas e os mencheviques. A via do desenvolvimento e da consolidação dos partidos proletários passa através da sua depuração dos elementos oportunistas e dos reformistas, dos social-imperialistas e dos social-chauvinistas, dos social-patriotas e dos social-pacifistas.

O Partido se reforça depurando-se dos elementos oportunistas.

«Tendo nas próprias fileiras os reformistas, os mencheviques — disse Lênin — não se pode fazer triunfar a revolução proletária, não se pode defendê-la. Isto é evidente do ponto-de-vista dos princípios. Isto foi confirmado luminosamente pela experiência da Rússia e da Hungria... Na Rússia, muitas vezes estivemos em situações difíceis, nas quais o regime soviético certamente teria sido derrubado, se os mencheviques, os reformistas, os democratas pequeno-burgueses tivessem ficado no nosso Partido... Na Itália, segundo a opinião geral, as coisas marcham para batalhas decisivas entre o proletariado e a burguesia, pela conquista do Poder do Estado. Em tal momento, não só é absolutamente indispensável afastar do Partido os mencheviques, os reformistas, os turatistas, mas pode ser mesmo útil afastar de todos os postos de responsabilidade aqueles que, embora excelentes comunistas, sejam suscetíveis de vacilações e manifestem inclinação para a «unidade» com os reformistas... Nas vésperas da revolução e nos momentos da luta mais encarniçada pela sua vitória, a mais leve hesitação no seio do Partido pode pender tudo, pode levar a revolução ao fracasso arrebatar o Poder das mãos do proletariado, porque este Poder ainda não está consolidado, porque as arremetidas contra ele ainda são demasiado fortes. Se, num momento como esse, os dirigentes vacilantes se afastam, isto não enfraquece, mas reforça o Partido, o movimento operário, a revolução». (Vide vol. XXV, págs. 462-464).[N90]

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Grécia : Estudantes universitários quebraram as proibições antidemocráticas do governo.

  

Milhares de universitários de todo o país, junto com professores, pais e alunos, enviaram uma forte mensagem contra a política anti-educacional do governo nesta quinta-feira, 28/01/2021.

Refira-se que na véspera das mobilizações, o governo do ND, a pretexto de fazer face à pandemia, proibiu o ajuntamento de mais de 99 pessoas em todo o país. Ao mesmo tempo, o governo, aproveitando a maioria governante no parlamento, aprovou uma nova lei antidemocrática, segundo a qual, para que tal comício seja permitido, deve ser previamente declarado em uma polícia online especial plataforma, juntamente com as informações fiscais dos organizadores. Assim, é óbvio que o governo pretende reprimir comícios e manifestações contra sua política, bem como exterminar financeiramente qualquer organizador, já que este será chamado a assumir a responsabilidade pelas ações de diversos grupos provocadores. O KKE votou contra e denunciou esses métodos antidemocráticos do governo do ND.

Em 28 de janeiro, a participação em massa de milhares de jovens nas manifestações aboliu na prática tanto a nova lei antidemocrática sobre os comícios quanto a decisão antidemocrática do governo de proibir os comícios de mais de 99 pessoas.

Os milhares de estudantes universitários e alunos se mobilizaram contra a nova Lei de Educação do governo, apresentada por N. Kerameos, o Ministro da Educação, e M. Chrysochoidis, o Ministro da Proteção ao Cidadão. O projecto prevê novas barreiras de turma para o acesso ao ensino superior, 30 milhões de euros para a criação de uma força policial separada para o policiamento nas universidades, ao mesmo tempo que procede à deportação dos alunos que estão a concluir os estudos. Isto está ocorrendo em condições de uma nova crise capitalista, quando a Grécia não desenvolveu um sistema de residências e outros serviços estudantis, fazendo com que crianças de famílias trabalhadoras e populares sejam obrigadas a trabalhar para sobreviver e estudar, frequentemente à custa da conclusão oportuna de seus estudos.

Estudantes manifestaram-se em Atenas, Salónica e em muitas outras cidades da Grécia contra todas as disposições anteriores do projeto de lei do governo, exigindo ao mesmo tempo a abertura de universidades, que permanecem fechadas pelo segundo ano con
secutivo, com todas as medidas necessárias para a proteção da saúde pública contra a pandemia.

Em comunicado sobre os comícios, Dimitris Koutsoumbas, o GS do CC do KKE, observou

“Estudantes universitários, acadêmicos, professores do ensino médio, alunos e pais hoje cancelaram na prática as proibições pretextuais. Da mesma forma que vão anular o desprezível projeto de lei que coloca novos obstáculos nos estudos, intensifica a repressão dentro e fora das universidades. O governo deve retirar o projeto Kerameos-Crisochoidis e abrir universidades com todas as medidas necessárias. Deve parar de causar angústia a milhares de alunos e suas famílias. Em vez de mudar para pior o acesso às universidades, deve tomar medidas para a abertura segura das escolas ”.

 

29/01/2021

sábado, 23 de janeiro de 2021

Israel continua o genocídio ao deixar palestinos sem vacinas

 “Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Eles nem conseguem respirar sem permissão. Eles perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo ”- Eduardo Galeano

 Foi no final de dezembro, especificamente no dia 23, quando o Estado genocida de Israel, por meio de seu Ministério da Saúde, começou a distribuir a vacina contra o COVID-19. Rapidamente, a mídia internacional ecoou a curiosa eficácia do programa de vacinação israelense: "que atingiu quase 15% de sua população em menos de um mês, mas apenas 100 palestinos fora da Jerusalém Oriental anexada . " (The Washington Post; os esforços de vacinação de Israel estão incompletos até que incluam os palestinos , 2021)

Como se não bastasse o processo de ocupação militar que vem sofrendo a população palestina há mais de sete décadas, com colonização, ataques a veículos, residências, hospitais e escolas palestinos, agora é preciso contemplar como as autoridades israelenses realizam uma campanha vacinação sem precedentes ao custo de deixar milhões de palestinos sem vacinas. Prova irrefutável de até que ponto as vidas de israelenses são consideradas mais importantes que as vidas de palestinos.

O Estado de Israel continua em sua missão criminosa de apagar da face da terra todos os vestígios do povo palestino; nesta ocasião, destacando a segregação como ponta de lança de suas políticas e negando a entrada de vacinas e outros materiais médicos nos Territórios Palestinos Ocupados: “Enquanto o país lidera o ranking mundial de vacinação, os cinco milhões de palestinos que vivem na Cisjordânia ocupada e na Gaza bloqueada, eles ainda terão que esperar meses para receber suas doses ” . (El Periódico; Israel abandona os palestinos em seu plano de vacinação em massa , 2021)

O que observamos aqui é o desenvolvimento do conflito árabe-israelense de outras formas, através da pilhagem da saúde, a fim de dar continuidade aos planos expansionistas do imperialismo sionista, com o massacre de palestinos, de continuar o terror para manter os territórios ocupados e prevenir qualquer possibilidade para o povo palestino de construir um estado independente e pacífico.

A dependência que Israel quer provocar do povo palestino vem de longe. Foi em 2001, três anos depois de sua inauguração, quando o regime israelense destruiu completamente o primeiro aeroporto internacional palestino, símbolo da soberania do povo, “um dos planos de maior projeção que ligava a Faixa de Gaza ao resto do mundo. ” . (Free Palestine; Gaza Airport, A Shattered Dream , 2013)

Essa dependência forçada seria verificada no início da pandemia, quando as remessas de respiradores, máscaras e equipamentos de teste precisavam passar por coordenação com Israel: Na verdade, o Estado da Palestina, como foi oficialmente reconhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidos em 2012, tem pouco controle sobre suas importações, incluindo máscaras, respiradores e agora vacinas, ou sobre sua economia, que deverá perder 35% de seu produto interno bruto com o COVID-19 ” . (The Washington Post; os esforços de vacinação de Israel estão incompletos até que incluam os palestinos , 2021)

A este respeito, observemos o que o direito internacional tem a dizer sobre isso: “Na melhor das suas possibilidades, a Potência ocupante tem o dever de assegurar e manter, com a colaboração das autoridades nacionais e locais, os estabelecimentos e serviços médicos e hospitalares, bem como de saúde e higiene pública no território ocupado, designadamente tomando e aplicando as medidas profiláticas e preventivas necessárias ao combate à propagação de doenças contagiosas e epidemias. Pessoal médico de todos os tipos será autorizado a cumprir sua missão . ( IV Convenção de Genebra relativa à Proteção de Pessoas Civis em Tempos de Guerra ; Seção III - Territórios Ocupados, Artigo 56 - Higiene e Saúde Pública, 1949)

Diante disso, e levando em consideração a legalidade internacional estabelecida pelos Estados burgueses contemporâneos, é mais do que evidente que o Estado de Israel teria a obrigação de garantir os suprimentos necessários para combater a pandemia COVID-19 em território palestino. Por isso, e com mais de 160.000 infectados e 1.800 mortos, a Autoridade Palestina solicitou 10.000 doses para imunizar os trabalhadores da saúde, aos quais o Estado de Israel, por sua natureza desumana e criminosa, informou a entrega de 100 doses de vacinas , pendurando todo tipo de medalhas pelo "gesto humanitário"; O que é ainda mais zombeteiro quando descobrimos que a Autoridade Palestina nega ter recebido tais doses.

Diante do exposto, fica claro que a chamada Comunidade Internacional nem mesmo existe; que é apenas a roupa "humanitária" que as potências burguesas usam, uma falsa contrapartida de sua interferência imperialista, mas a cortina sempre cai e o teatro fica exposto. É claro que a luta pela liberdade dos povos exige a luta contra o modo de produção capitalista que, em sua fase de morte, engendra o monstro do imperialismo, sendo ao mesmo tempo um problema que transcende qualquer fronteira nacional. Lutar contra o imperialismo é lutar pelo socialismo; é aplicar os princípios do internacionalismo proletário que destroem os interesses da burguesia e libertam o proletariado mundial.

O povo palestino, punido, bloqueado e continuamente massacrado, exige a solidariedade do mundo. Na tragédia de Gaza vemos de forma transparente a hipocrisia cotidiana, o silêncio dos oportunistas, os discursos vazios dos políticos social-democratas, as declarações vazias das organizações internacionais, as posições ambíguas, a barbárie imperialista, o abandono, as promessas de paz não cumpridas. e, acima de tudo, a sagrada impunidade de um genocídio que não para.

 

ABAIXO COM O IMPERIALISMO!

VIVA A LUTA DO POVO PALESTINO!

Madrid, 23 de janeiro de 2021

SECRETARIA PARA RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO  COMUNISTA OPERÁRIO ESPANHOL (PCOE)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Viva o 18 de Janeiro de 1934: Viva o Soviéte da Marinha Grande !

"Comemorar hoje o 18 de Janeiro, é ater-se à tradição revolucionária anti-capitalista, é levantar-se contra a ofensiva da burguesia, do Capital. Não é fazer festarola onde se diz tudo menos a verdade sobre o movimento, encobrindo o seu significado revolucionário e posteriormente se disponibilizarem para conciliar e colaborar com a burguesia exploradora e com o capitalismo."
 
O movimento operário de 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande ou, melhor dizendo,que culminou nesse dia, quando não esquecido tem sido alvo de variadas "revisões".
 
Os principais interessados no esquecimento, revisões ou desvirtuamento são a burguesia, as correntes pequeno burguêsas social-democratas, BE e o revisionismo moderno, no qual o PCP em Portugal é o seu principal representante. Mas também outros sectores o têm vindo a desvirtuar ou truncar. 
 
Desse modo, pretendemos colocar aqui as palavras de dirigentes politicos revolucionários da altura e daqueles que nele participaram ou naquela época o sintetizaram e tiveram algumas atitudes criticas ou de autocritica.
 
Apenas lembraremos o que foi dito pelos dirigentes ou participantes operários revolucionários e comunistas e no que respeita à Marinha Grande, porque apesar do movimento de revolta se alargar a outros pontos do País, pois foi aqui que o carácter do movimento tomou a forma de luta superior.
 
A discussão sobre se o movimento teve erros, se foi precipitado, a questão das alianças, a questão do frentismo ou não, sobre quem mais dirigiu, sobre quem era mais ou menos jovem, sobre a mitificação ou não, tal como outros aspectos, deverão ser discutidos e analisados profundamente, de modo a retirar ensinamentos para o presente e futuro, num PARTIDO COMUNISTA REVOLUCIONÁRIO a edificar, com a utilização dos princípios e do método da crítica e autocrítica e outros métodos próprios dum verdadeiro partido da classe operária. Na verdade, alguns daqueles aspectos postos na primeira linha da discussão (aliás reduzidíssima discussão, tratando-se mais de monólogos), colocados como os aspectos fundamentais, servem bem para desvirtuar, como se disse, o movimento e não dar a conhecer o carácter da luta de classes e a viabilidade e inevitabilidade do movimento operário contra o capital, esquecer a próxima etapa histórica - que será uma sociedade diferente da actual - a etapa da revolução socialista e da ditadura do proletariado revolucionário.
 
O movimento sintetiza-se, pelo menos no que respeita à Marinha Grande, num contra-ataque da classe operária contra a ofensiva do capitalismo em aspectos não só económicos mas essencialmente politicos. Não foi apenas um movimento de resistência à fasciszação dos sindicatos, como quer fazer crer a burguesia reformista e revisionista e outros grupos anarco/trostkyzantes, mas de resistência à ofensiva geral do capitalismo na sua forma mais ditatorial, como os fortes golpes contra as liberdades fundamentais, e um contra-ataque, de ofensiva real, tendo sido idealizado pela maioria dos intervenientes da Marinha Grande e por alguns de outras localidades, como o início da tomada do poder pela classe operária.
 
Comemorar hoje o 18 de Janeiro, é ater-se à tradição revolucionária anti-capitalista, é levantar-se contra a ofensiva da burguesia, do Capital. Não é fazer festarola onde se diz tudo menos a verdade sobre o movimento, encobrindo o seu significado revolucionário e posteriormente se disponibilizarem para conciliar e colaborar com a burguesia exploradora e com o capitalismo.
 
Vejamos então alguns extratos do que disse um dirigente do PCP e do Sindicato vermelho vidreiro da Marinha Grande, na época em que o PCP era um partido proletário revolucionário. Logo após os acontecimentos, saído em entrevista ao jornal da Comissão Inter Sindical (do PCP), "O Proletário", de Março de 1934: ..." O proletariado da Marinha Grande, mercê de formidáveis lutas que vinha conduzindo contra o patronato e o Estado fascista/capitalista, ocupava realmente um lugar de vanguarda em relação ao grosso do proletariado português. Sob a direcção do Partido e do Sindicato Vermelho vidreiro, ele tinha forçado os patrões, não só a satisfazer importantes reivindicações económicas, como impor o reconhecimento dos seus comités de fábrica, comités que o patronato era forçado a consultar em todos os casos relacionados com o pessoal.
 
Em segundo lugar, o agravamento da crise económica, as violentas medidas de repressão da Ditadura (o Sindicato estava encerrado e muitos militantes presos e perseguidos), a desilusão do "reviralho", dos chefes republicanos e anarco-sindicalistas, o exemplo de Cuba, os sucessos politicos e económicos do proletariado da União Soviética, tudo isso contribuia para dar à luta contra a fascização dos sindicatos, na Marinha Grande, um carácter mais amplo, mais profundo. Tudo isso indicava que a greve de massas, na Marinha Grande, tomaria o aspecto de levantamento armado.
 
O nosso Partido e o Sindicato Vermelho, dando carácter organizado a esta explosão da indignação das massas, cumpriu o seu dever revolucionário"...
 
..."Às cinco horas da manhã toda a Marinha Grande estava nas mãos do proletariado e milhares de trabalhadores percorriam a vila vitoriando o nosso Partido".
 
 ..."Até às nove da manhã resistimos. Já umas dezenas de camaradas nos ajudavam e encorajavam... e as munições esgotavam-se. Era loucura prolongar a resistência. Pouco mais de vinte possuíamos armas de fogo. O governo opunha-nos artilharia, cavalaria, infantaria, metralhadoras... e até um avião que já voava sobre a vila, para regular o tiro da artilharia!"
 
..."Só cerca das onze 11 horas os "heróicos" mantenedores da ordem entraram na Marinha Grande. Decidimos dividir-nos em pequenos grupos de quatro ou cinco, e abandonar a luta procurando iludir o cerco. Ainda isto se fez de modo organizado."
No fim faz uma autocritica e termina com um apelo:
 
"Aproveitar bem as lições recebidas, reagrupar as forças à base dessas lições e a caminho de novos combates... até à luta final!"
 
É neste espirito combativo e revolucionário, que também apelamos, para, que os comunistas portugueses se unam, reconstruam e edifiquem o movimento comunista revolucionário em Portugal.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Sobre os Fundamentos do Leninismo. VII — Estratégia e tática


 

Sobre os Fundamentos do Leninismo

J. V. Stálin

VII — Estratégia e tática


Analisarei seis questões deste tema:

a) a estratégia e a tática como a ciência da direção da luta de classe do proletariado;

b) as etapas da revolução e a estratégia;

c) os fluxos e refluxos do movimento e a tática;

d) a direção estratégica;

e) a direção tática;

f) reformismo e revolucionarismo.

1) A estratégia e a tática, como a ciência da direção da luta de classe do proletariado.

O período do domínio da II Internacional foi, principalmente, o período da formação e da instrução dos exércitos proletários, numa situação de desenvolvimento mais ou menos pacífico. Foi o período cm que o parlamentarismo era a forma preponderante da luta de classes. Os problemas relativos aos grandes conflitos de classes, à preparação do proletariado para as batalhas revolucionárias, aos meios para conquistar a ditadura do proletariado não estavam, então, segundo parecia, na ordem do dia. A tarefa reduzia-se a utilizar todos, os caminhos de desenvolvimento legal para formar e instruir os exércitos proletários, a utilizar o parlamentarismo tendo-se em conta uma situação em que o proletariado assumia e, segundo parecia, devia assumir o papel de oposição. Não creio que seja necessário demonstrar que em semelhante período e com uma tal concepção das tarefas do proletariado não podia existir nem uma estratégia completa, nem uma tática bem elaborada. Havia pensamentos fragmentários, idéias isoladas sobre tática e estratégia, mas não havia nem tática nem estratégia.

O pecado mortal da II Internacional não consiste em ter aplicado, em seu tempo, a tática da utilização das formas parlamentares de luta, mas em ter superestimado a importância dessas formas, até considerá-las quase como as únicas existentes, tanto assim que, quando chegou o período das batalhas revolucionárias abertas e a questão das formas extraparlamentares de luta, se tornou a mais importante, os partidos da II Internacional fugiram às novas tarefas, não se reconheceram.

Somente no período seguinte, período de ações abertas do proletariado, período da revolução proletária, quando o problema da derrubada da burguesia se tornou um problema prático imediato, quando a questão das reservas do proletariado (estratégia) se tornou uma das questões mais palpitantes, quando todas as formas de luta e de organização — parlamentares e extraparlamentares (tática) — se manifestaram com toda nitidez, somente nesse período foi possível elaborar uma estratégia completa e uma tática aprofundada da luta do proletariado. As idéias geniais de Marx e Engels sobre tática e estratégia, que os oportunistas da II Internacional haviam sepultado, foram trazidas à luz do dia por Lênin, precisamente nesse período. Mas Lênin não se limitou a restaurar as diferentes teses táticas de Marx e Engels. Desenvolveu-as e completou-as com idéias e teses novas, compendiando-as num sistema de regras e princípios de orientação para dirigir a luta de classe do proletariado. Obras de Lênin como: "Que fazer?", "Duas táticas", "O imperialismo", "O Estado e a Revolução", "A revolução proletária e o renegado Kautsky", "A doença infantil" constituem, incontestàvelmente, uma contribuição preciosíssima ao tesouro comum do marxismo, ao seu arsenal revolucionário. A estratégia e a tática do leninismo são a ciência da direção da luta revolucionária do proletariado.

2) As etapas da revolução e a estratégia.

A estratégia consiste em fixar, numa determinada etapa da revolução, a .direção do golpe principal do proletariado, em elaborar um plano correspondente de disposição das forças revolucionárias (reservas principais e secundárias) e em lutar pela execução desse plano durante todo o curso dessa etapa da revolução.

A nossa revolução já percorreu duas etapas e, após a Revolução de Outubro, entrou na terceira. De acordo com isso, foi modificada a estratégia.

Primeira etapa: 1903–fevereiro de 1917.

  • Objetivo: derrubar o tzarismo, liquidar por completo as sobrevivências medievais.
  • Força fundamental da revolução: o proletariado.
  • Reserva imediata: os camponeses.
  • Direção do golpe principal: isolamento da burguesia monárquica liberal, que se esforça por atrair para o seu lado os camponeses e por liquidar a revolução mediante uma composição com o tzarismo.
  • Plano de disposição das forças: aliança da classe operária com os camponeses.

"O proletariado deve levar a termo a revolução democrática unindo a si a massa dos camponeses, para esmagar pela força a resistência da autocracia e paralisar a instabilidade da burguesia". (Vide Lênin. vol. VIII, pág. 96).[N69]

Segunda etapa: Março de 1917—Outubro de 1917.

  • Objetivo: derrubar o imperialismo na Rússia e sair da guerra imperialista.
  • Força fundamental da revolução: o proletariado.
  • Reserva imediata: os camponeses pobres. O proletariado dos países vizinhos como reserva provável. O prolongamento da guerra e a crise do imperialismo como circunstância favorável.
  • Direção do golpe principal: isolar a democracia pequeno-burguesa (mencheviques, social-revolucionários) que se esforça por atrair para o seu lado as massas trabalhadoras dos camponeses e por liquidar a revolução mediante uma composição com o imperialismo.
  • Plano de disposição das forças: aliança do proletariado com os camponeses pobres.

"O proletariado deve fazer a revolução socialista unindo a si a massa dos elementos semiproletários da população, para esmagar pela força a resistência da burguesia e paralisar a instabilidade dos camponeses e da pequena burguesia". (Vide obra citada).

Terceira etapa: Começa depois da Revolução de Outubro.

  • Objetivo: consolidar a ditadura do proletariado num só país e utilizá-la como ponto de apoio para derrubar o imperialismo em todos os países. A revolução sai dos limites de um só país; começou a época da revolução mundial.
  • Forças fundamentais da revolução: a ditadura do proletariado num país, o movimento revolucionário do proletariado em todos os países.
  • Reservas principais: as massas de semiproletários e de pequenos camponeses nos países avançados, o movimento de libertação nas colônias e nos países dependentes.
  • Direção do golpe principal: isolar a democracia pequeno-burguesa, isolar os partidos da II Internacional, que são o principal ponto de apoio da política de composição com o imperialismo.
  • Plano de disposição das forças: aliança da revolução proletária com o movimento de libertação das colônias e países dependentes.

A estratégia se ocupa das forças fundamentais da revolução e das suas reservas. Ela se modifica com a passagem da revolução de uma etapa a outra e permanece inalterada, em essência, por todo o curso de uma etapa determinada.

3) Os fluxo e refluxos do movimento e a tática.

A tática tem por objeto fixar a linha de conduta do proletariado para um período relativamente curto de fluxo ou de refluxo do movimento, de ascenso ou de descenso da revolução; lutar pela aplicação dessa linha, substituindo por novas as velhas formas de luta e de organização, por novas palavras de ordem as velhas palavras de ordem, coordenando estas formas, etc.. Se a estratégia se propõe, por exemplo, o objetivo de vencer a guerra contra o tzarismo, ou contra a burguesia, de levar a termo a luta contra o tzarismo ou a burguesia, a tática persegue os objetivos menos essenciais, pois não se propõe vencer a guerra, no seu conjunto, mas esta ou aquela batalha, este ou aquele combate, levar a cabo esta ou aquela campanha, estas ou aquelas ações, correspondentes à situação concreta de um determinado período de ascenso ou de descenso da revolução. A tática é uma parte da estratégia; a ela está subordinada e a serve.

A tática muda segundo os fluxos e refluxos. Enquanto que, durante a primeira etapa da revolução (1903–fevereiro de 1917), o plano estratégico permanecia imutável, a tática, durante esse período, mudou várias vezes. No período de 1903-1905, a tática do partido era ofensiva, porque existia um fluxo revolucionário, o movimento revolucionário seguia uma linha ascendente e a tática devia basear-se neste fato. Em consonância com isso, as formas de luta eram também revolucionárias e correspondiam às exigências do fluxo da revolução. Greves políticas locais, manifestações políticas, greve política geral, boicote à Duma, insurreição, palavras de ordem revolucionárias combativas;tais eram as formas de luta que se sucederam umas às outras nesse período. Em relação com as formas de luta mudaram também as formas de organização. Comitês de fábrica e de usina, comitês revolucionários de camponeses, comitês de greve, Soviets de deputados operários, partido operário mais ou menos legal: tais eram as formas de organização desse período.

No período de 1907-1912, o Partido foi obrigado a passar a uma tática de retirada, porque nos achávamos diante de um descenso do movimento revolucionário, de um refluxo da revolução, e a tática não podia deixar de levar em conta este fato. Em relação com isto, mudaram tanto as formas de luta quanto as formas de organização. Ao invés de boicote à Duma, participação na Duma; ao invés de ações revolucionárias abertas, extraparlamentares, discursos e trabalho na Duma; ao invés de greves gerais políticas, greves econômicas parciais, ou simplesmente calma. É claro que o Partido devia nesse período, passar à atividade clandestina, enquanto as organizações revolucionárias de massas eram substituídas por organizações legais, culturais, educativas, cooperativas, de ajuda mútua, etc..

O mesmo se deve dizer da segunda e da terceira etapas da revolução, no curso das quais a tática mudou dezenas de vezes, enquanto os planos estratégicos continuavam imutáveis.

A tática se ocupa das formas de luta e das formas de organização do proletariado, da sua substituição, da sua coordenação. Numa determinada etapa da revolução, a tática pode mudar várias vezes, segundo os fluxos e refluxos, o ascenso ou o descenso da revolução.

4) A direção estratégica.

As reservas da revolução podem ser:

Diretas: a) os camponeses e, em geral, as camadas intermediárias da população do próprio país; b) o proletariado dos países vizinhos; c) o movimento revolucionário nas colônias e nos países dependentes; d) as conquistas e as realizações da ditadura do proletariado, a uma parte das quais o proletariado pode renunciar, temporariamente, conservando, porém, a superioridade de forças, com o objetivo de obter, em troca desta renúncia, uma trégua de um adversário poderoso.

Indiretas: a) as contradições e os conflitos entre as classes não proletárias do próprio país, suscetíveis de serem utilizadas pelo proletariado para enfraquecer o adversário e reforçar as suas próprias reservas; b) as contradições, os conflitos e as guerras (por exemplo, a guerra imperialista) entre os Estados burgueses hostis ao Estado proletário, conflito e guerras suscetíveis de serem utilizados pelo proletariado no curso de uma ofensiva, ou de uma manobra sua, em caso de retirada forçada.

Não é necessário deter-se sobre as reservas do primeiro gênero, porque a sua importância é conhecida de todos, sem exceção. No que se relaciona às reservas do segundo gênero, cuja importância nem sempre é clara, deve-se dizer que têm àsvezes uma importância primordial para a marcha da revolução. Dificilmente se poderia negar, por exemplo, a enorme importância do conflito entre a democracia pequeno-burguesa (social-revolucionários) e a burguesia monárquico-liberal (democratas constitucionalistas) durante a primeira revolução e depois dela, conflito que, sem dúvida, contribuiu para subtrair os camponeses à influência da burguesia. E há ainda menos razões para negar a enorme importância que teve a guerra de morte entre os grupos fundamentais dos imperialistas, no período da Revolução de Outubro, quando os imperialistas, ocupados em guerrear uns contra os outros, não puderam concentrar as suas forças contra o jovem Poder Soviético, e o proletariado, justamente por isso, pôde dedicar-se seriamente à organização das suas forças e à consolidação do seu Poder e preparar o esmagamento de Koltchak e Deníkin. É de supor que, hoje, quando os antagonismos entre os grupos imperialistas se aprofundam cada vez mais e uma nova guerra entre eles se torna inevitável, essa espécie de reservas terá para o proletariado uma importância cada vez maior.

A missão da direção estratégica consiste em utilizar acertadamente todas essas reservas para alcançar o fim essencial da revolução numa determinada etapa do seu desenvolvimento.

Em que consiste o saber utilizar acertadamente as reservas?

Em observar algumas condições necessárias, entre as quais devem ser consideradas principais as seguintes:

Primeira: Concentrar o grosso das forças da revolução no ponto mais vulnerável do inimigo, no momento decisivo, quando a revolução já está madura, quando a ofensiva marcha a todo vapor, quando a insurreição bate às portas e quando a reunião das reservas em torno da vanguarda é condição decisiva para o êxito. A estratégia do Partido, no período de abril-outubro de 1917, pode ser considerada como um exemplo de utilização das reservas desse modo. É indubitável que o ponto mais vulnerável do inimigo, nesse período, era a guerra. Não há dúvida de que justamente sobre esta questão, considerada como questão fundamental, o Partido reuniu em torno da vanguarda proletária as maiores massas da população. A estratégia do Partido, nesse período, consistia no seguinte: preparar a vanguarda para ações de ruas, por meio de manifestações e demonstrações, e, ao mesmo tempo, reunir em torno da vanguarda as reservas, por meio dos Soviets na retaguarda e dos comitês de soldados na frente de batalha. O êxito da revolução demonstrou que essa utilização das reservas era justa.

Eis o que disse Lênin, parafraseando as conhecidas teses de Marx e Engels sobre a insurreição, a propósito dessa condição de emprego estratégico das forças da revolução:

«1) Não brincar jamais com a insurreição, mas, uma vez iniciada, saber firmemente que é preciso ir até o fim.

2) É preciso concentrar, no lugar e no momento decisivos, forças muito superiores às do inimigo, porque, em caso contrário, o inimigo, melhor preparado e organizado, aniquilará os insurretos.

3) Uma vez iniciada a insurreição, é necessário agir com a maior decisão e passar obrigatória e incondicionalmente à ofensiva «A defensiva é a morte da insurreição armada».

4) É necessário esforçar-se para tomar o inimigo de surpresa, aproveitando o momento em que as suas tropas estejam dispersas.

5) É necessário alcançar êxitos diários, ainda que sejam pequenos (e poderia dizer-se, também, êxitos de «hora em hora», se se trata de uma só cidade), conservando a todo custo a «superioridade moral».» (Vide vol. XXI, págs. 319-320).[N70]

Segunda: Escolha do momento do golpe decisivo, do momento para desencadear a insurreição, que deve ser aquele em que a crise tenha alcançado o ponto culminante, quando a vanguarda estiver disposta a lutar até o fim, quando as reservas estiverem prontas para apoiar a vanguarda e, no campo do inimigo, existir o máximo de confusão.

«Pode-se considerar completamente madura a batalha decisiva — disse Lênin — se:

(1) todas as forças de classe que nos são hostis estiverem suficientemente submersas na confusão, suficientemente divididas entre si, suficientemente enfraquecidas numa luta superior às suas forças; se (2) todos os elementos intermédios, hesitantes, vacilantes, instáveis, isto é, a pequena burguesia, a democracia pequeno-burguesa, que se distingue da burguesia, estiverem suficientemente desmascarados diante do povo, suficientemente desacreditados em virtude da sua falência política no terreno prático»; se (3) no proletariado surgir e afirmar-se poderosamente uma tendência de massas para apoiar as ações revolucionárias mais decisivas, mais ousadas e corajosas contra a burguesia. Então, a revolução estará madura, então, se tivermos levado na devida conta todas as condições acima enumeradas e se tivermos escolhido com acerto o momento, a vitória estará assegurada». (Vide vol. XXV, pág. 229).[N71]

A insurreição de Outubro pode ser considerada como modelo dessa estratégia.

Se não se leva em conta essa condição, cai-se num erro perigoso, chamado "perda do ritmo", que ocorre quando o Partido se atrasa em relação à marcha do movimento ou se adianta demasiado, expondo-se ao perigo de fracassar. Um exemplo dessa "perda do ritmo", um exemplo do modo como não se deve escolher o momento da insurreição, deve ser considerada a tentativa de urna parte dos camaradas para começar a insurreição com a prisão dos membros da Conferência Democrática, em setembro de 1917, quando havia hesitação nos Soviets, quando o "front" ainda estava numa encruzilhada e as reservas ainda não estavam reunidas em torno da vanguarda.

Terceira: Aplicar firmemente a linha adotada, apesar de todas as dificuldades e complicações que possam surgir no caminho que conduz ao objetivo, para que a vanguarda não perca de vista o objetivo essencial da luta e para que não se dispersem as massas enquanto marcham na direção desse objetivo e enquanto se esforçam para reunir-se em torno da vanguarda. Se não se leva em conta essa condição, cai-se em grave erro, bem conhecido dos marinheiros pelo nome de "perda da rota". Um exemplo desta "perda da rota" deve ser considerada a errônea posição do nosso Partido, imediatamente após a Conferência Democrática, quando decidiu participar do ante-Parlamento. Era como se o Partido se tivesse esquecido, Daquele momento, de que o ante-Parlamento era uma tentativa da burguesia para desviar o país do caminho dos Soviets para o caminho do parlamentarismo burguês e de que a participação do Partido numa instituição desse gênero podia confundir todas as cartas e desviar do seu caminho os operários e os camponeses, que travavam uma luta revolucionária sob a palavra de ordem de "Todo o Poder aos Soviets!" Este erro foi corrigido com a saída dos bolcheviques do ante-Parlamento.

Quarta: Saber manobrar com as reservas de modo a poder efetuar uma retirada em boa ordem, quando o inimigo é forte, quando a retirada é inevitável, quando é visivelmente prejudicial aceitar a batalha que o inimigo quer impor e quando a retirada, em virtude da correlação das forças existentes, é para a vanguarda, o único meio de esquivar-se ao golpe e de conservar as reservas ao seu lado.

«Os partidos revolucionários — disse Lênin — devem completar a sua instrução. Aprenderam a avançar. Agora, precisam compreender a necessidade de completar esta ciência com a de saber retirar-se acertadamente. É preciso compreender — e a classe revolucionária aprende a compreendê-lo pela sua própria e amarga experiência — que não se pode triunfar sem aprender a lançar a ofensiva e a efetuar, a retirada com acerto». (Vide vol. XXV, pág. 177).[N72]

O objetivo dessa estratégia consiste em ganhar tempo, desmoralizar o adversário e acumular forças para passar em seguida à ofensiva.

Pode-se considerar modelo dessa estratégia a conclusão da paz de Brest-Litovsk, que permitiu ao Partido ganhar tempo, explorar os conflitos no campo do imperialismo, desmoralizar as forças do adversário, manter os laços com os camponeses e acumular forças para preparar a ofensiva contra Koltchak e Deníkin.

«Concluindo a paz em separado — dizia então Lênin — desembaraçamo-nos, o máximo possível no momento atual, dos dois grupos imperialistas adversários, aproveitando-nos da sua hostilidade e da sua guerra, que os impedia de se porem de acordo contra nós; assim conseguimos ter as mãos livres, durante certo tempo, para prosseguir e consolidar a revolução socialista». (Vide vol. XXI, pág. 198).[N73]

«Agora — escrevia Lênin, três anos depois da paz de Brest-Litovsk — até o último dos imbecis compreende que «a paz de Brest-Litovsk» foi uma concessão que aumentou as nossas forças e fracionou as do imperialismo internacional». (vide vol. XXVII, pág.7).[N74]

Tais são as condições principais que asseguram uma justa direção estratégica.

5) A direção tática.

A direção tática é parte da direção estratégica, a cujas exigências e tarefas se acham subordinadas. A missão da direção tática consiste em dominar todas as formas de luta de organização do proletariado e em assegurar a sua justa utilização, com o fim de alcançar, dada a correlação de forças existente, o máximo de resultados, necessário à preparação do êxito estratégico.

Em que consiste a justa utilização das formas de luta e de organização do proletariado?

No cumprimento de algumas condições indispensáveis, das quais podem ser consideradas principais as seguintes:

Primeira. Pôr em primeiro plano precisamente as formas de luta e de organização que, melhor correspondendo às condições do fluxo ou do refluxo do movimento, facilitem e assegurem o deslocamento das massas para posições revolucionárias, o deslocamento de massas de milhões de homens para a frente da revolução, o seu alinhamento na frente da revolução.

O que importa não é que a vanguarda esteja consciente da impossibilidade de manter-se a antiga ordem de coisas e da inevitabilidade da sua derrubada. O que importa é que as massas, massas de milhões de homens, compreendam esta necessidade e se mostrem prontas a apoiar a vanguarda. Mas as massas só podem compreendê-lo através da própria experiência. Dar às massas de milhões de homens a possibilidade de constatar, à base da sua experiência, a inevitabilidade da derrubada do velho Poder, empregar meios de luta e formas de organização que permitam às massas comprovar na base da experiência a justeza das palavras de ordem revolucionárias: esta é a tarefa a resolver.

A vanguarda se distanciaria da classe operária e a classe operária perderia o contato com as massas se, no momento oportuno, o Partido não tivesse decidido participar da Duma se não tivesse resolvido concentrar as forças no trabalho parlamentar e desenvolver a luta na base desse trabalho, a fim de permitir que as massas se convencessem, pela sua própria experiência, da inutilidade da Duma, da falácia das promessas dos democratas constitucionalistas, da impossibilidade de um acordo com o tzarismo, da inevitabilidade da aliança dos camponeses com a classe operária. Sem a experiência das massas no período da Duma, teriam sido impossível desmascarar os democratas constitucionalistas e assegurar a hegemonia do proletariado.

O perigo da tática do otsovismo consistia no fato de que ameaçava separar a vanguarda das suas reservas de milhões de homens.

O Partido se teria desligado da classe operária e a classe operária teria perdido a sua influência entre as grandes massas de camponeses e soldados, se o proletariado tivesse seguido os comunistas de esquerda, que lançaram o apelo à insurreição; em abril de 1917, quando os mencheviques e os social-revolucionários ainda não tinham tido tempo de se desmascararem como partidários da guerra e do imperialismo, quando as massas ainda não tinham tido tempo de se convencer, pela sua própria experiência, da falsidade dos discursos dos mencheeiques e dos social-revolucionários sobre a paz, sobre a terra, sobre a liberdade. Sem a experiência das massas no período do governo de Kerenski, os mencheviques e os social-revolucionários não teriam sido isolados e a ditadura do proletariado teria sido impossível. Por isso, a tática da "explicação paciente" dos erros dos partidos pequeno burgueses e da luta aberta no seio dos Soviets era a única tática justa.

O perigo da tática dos comunistas de esquerda consistia no fato de que ameaçava transformar o Partido, de chefe da revolução proletária, num grupo de conspiradores vazios e sem base.

«Somente com a vanguarda — dizia Lênin — não se pode vencer. Lançar sozinha a vanguarda à batalha decisiva, antes que toda classe, antes que as grandes massas tenham tomado uma posição de apoio direto à vanguarda ou, pelo menos, de benévola neutralidade para com esta... não seria só uma estupidez, mas também um crime. Mas para que efetivamente toda a classe, para que efetivamente as grandes massas dos trabalhadores e dos oprimidos pelo capital cheguem a tomar essa posição, não bastam a propaganda e a agitação por si sós. Para isso torna-se necessária a experiência política das próprias massas. Tal é a lei fundamental de todas as grandes revoluções, confirmada, hoje, com uma força e um relevo surpreendentes, não só pela Rússia, mas também pela Alemanha. Não somente as massas russas incultas e, mesmo, analfabetas, mas também as massas alemãs, dotadas de alto grau de cultura e entre as quais não há analfabetos, para se voltarem resolutamente para o comunismo, tiveram que verificar por si mesmas toda a impotência, toda a falta de caráter, toda a incapacidade, todo o servilismo, diante da burguesia, toda a infâmia do governo dos paladinos da II Internacional, toda a inevitabilidade da ditadura dos ultra-reacionários (Kornilov na Rússia, Kapp e cia. na Alemanha), como única alternativa para a ditadura do proletariado». (Vide vol. XXV, pág.228).[N75]

Segunda. Encontrar, em cada momento dado, na cadeia dos acontecimentos, o elo especial, segurando-se ao qual será possível dominar toda a cadeia e preparar as condições do êxito estratégico.

Trata-se de destacar, entre as várias tarefas que se colocam diante do Partido, precisamente a tarefa imediata, cuja solução constitua o ponto central e cujo cumprimento assegure a feliz solução de todas as outras tarefas imediatas.

A importância dessa tese poderia ser demonstrada com dois exemplos, um tomado do passado distante (período da formação do Partido) e o outro de um passado mais recente (período da N.E.P.).

No período da formação do Partido, quando existia uma quantidade enorme de círculos e de organizações ainda não ligados entre si, quando os métodos artesãos de trabalho e este espírito estreito de grupo corroíam o Partido de cima a baixo, quando a confusão ideológica era o traço característico da vida interna do Partido, naquele período o elo básico da corrente, a tarefa fundamental da cadeia de tarefas que estavam diante do Partido, era a criação de um jornal ilegal para toda a Rússia (a Iskra"). Por quê? Porque somente por meio de um jornal ilegal para toda a Rússia era possível, nas condições daquela época, criar um núcleo coeso de Partido, capaz de reunir num todo único os círculos e as organizações inumeráveis, de preparar as condições da unidade ideológica e tática e lançar assim, as bases para a formação de um verdadeiro partido.

No período da passagem da guerra à edificação econômica quando a indústria vegetava nas garras da desorganização e a agricultura sofria da falta de produtos industriais, quando a ligação entre a indústria do Estado e a economia camponesa se tornara a condição essencial do êxito da edificação socialista, naquele período o elo essencial na cadeia dos processos, ai tarefa fundamental entre todas as outras era o desenvolvimento do comércio. Por quê? Porque, durante a N.E.P. a ligação da indústria com a economia camponesa não era possível senão através do comércio; porque durante a N.E.P., a produção sem escoamento era a morte da indústria; porque a indústria só poderia ampliar-se mediante a extensão das vendas em conseqüência do fomento do comércio; porque, somente depois deconsolidar-se no campo do comércio, somente depois de dominar o comércio, pode-se contar com a ligação da indústria com o mercado camponês e resolver com êxito as outras tarefas imediatas, com o objetivo de criar as condições para a construção das bases da economia socialista.

«Não basta — dizia Lênin — ser revolucionário do socialismo, ou comunista em geral... É necessário saber encontrar, a cada momento, aquele elo especial da cadeia, ao qual deve agarrar-se com todas as forças, para dominar toda a cadeia e preparar sòlidamente a passagem ao elo seguinte...

No presente momento... este elo é a reanimação do comércio interno, com a condição de que seja bem regulado (orientado) pelo Estado. O comércio: eis o «elo» na cadeia histórica dos acontecimentos, das formas de transição da nossa edificação socialista nos anos de 1921-1922, «ao qual é preciso agarrar-se com todas as forças»... (Vide vol. XXVII, pág. 82).[N76]

Tais são as condições principais que asseguram uma justa direção tática.

6) Reformismo e revolucionarismo.

Em que a tática revolucionária se distingue da tática reformista?

Alguns acham que o leninismo é contra as reformas, contra os compromissos e os acordos, em geral. Isso é absolutamente falso. Os bolcheviques sabem melhor do que ninguém que, em certo sentido, "tudo o que cai na rede é peixe", sabem que, em determinadas circunstâncias, as reformas em geral, os compromissos e os acordos em particular, são necessários e úteis.

«Fazer a guerra — disse Lênin. — para derrubar a burguesia internacional, guerra cem vezes mais difícil, mais prolongada e mais complexa do que as mais encarniçadas das guerras habituais entre os Estados, e de antemão renunciar a toda manobra, renunciar ao aproveitamento dos antagonismos de interesses (mesmo temporários) entre os próprios inimigos, renunciar aos acordos e aos compromissos com possíveis aliados (mesmo temporários, pouco firmes, hesitantes, condicionais), não é coisa sumamente ridícula? Não é como se, na árdua escalada de um monte ainda inexplorado e inacessível, se renunciasse antecipadamente a fazer às vezes ziguezagues, a voltar às vezes sobre os próprios passos, a deixar o rumo tomado no início para tentar rumos diversos?» (Vide vol. XXV, pág. 210).[N77]

Não se trata, evidentemente, das reformas ou dos compromissos e acordos em si, mas do uso que se faz deles.

Para o reformista, a reforma é tudo; o trabalho revolucionário, ao contrário, serve apenas, por assim dizer, para lançar poeira aos olhos dos outros. Por isso, com a tática reformista, enquanto existir o Poder burguês, uma reforma se converte inevitavelmente em instrumento de reforço deste Poder, em instrumento de desagregação da revolução.

Para o revolucionário, ao invés disso, o essencial é o trabalho revolucionário, não a reforma; para ele, a reforma não passa de produto acessório da revolução. Por isso, com a tática revolucionária, enquanto existir o Poder burguês, uma reforma se converte naturalmente em instrumento de desagregação desse Poder, em instrumento para reforçar a revolução, em ponto de apoio para o desenvolvimento do movimento revolucionário.

O revolucionário aceita a reforma com o fim de utilizá-la como ajuda para combinar o trabalho legal com o ilegal, cora o fim de servir-se dela como cobertura para o reforço do trabalho ilegal, que tem por objeto a preparação revolucionária das massas para a derrubada da burguesia.

Esta é a essência da utilização revolucionária das reformas e dos acordos nas condições existentes no período do imperialismo.

O reformista, ao contrário, aceita as reformas para renunciar a todo trabalho ilegal, para sabotar a preparação das massas para a revolução e repousar à sombra da reforma "concedida".

Esta é a essência da tática reformista.

Assim se apresenta o problema das reformas e dos acordos nas condições existentes no período do imperialismo.

As coisas mudam, porém, depois da derrocada do imperialismo, durante a ditadura do proletariado. Em certos casos, em certas condições, o Poder proletário pode ver-se obrigado a abandonar provisoriamente a via da reconstrução revolucionária da ordem de coisas existente e a tomar a via da sua transformação gradual, "a via reformista", como disse Lênin no seu artigo "A importância do ouro", a via dos movimentos envolventes, a via das reformas e das concessões às classes não proletárias, com o objetivo de desagregar essas classes e conceder à revolução uma trégua, com o fim de reunir as próprias forças e preparar as condições para uma nova ofensiva. Não se pode negar que esta via é, em certo sentido, uma via reformista. É necessário, porém, relembrar que nos achamos aqui diante de uma particularidade fundamental, que consiste no fato de que a reforma emana, neste caso, do Poder proletário, que ela reforça o Poder proletário, que ela lhe oferece a trégua necessária, que esta trégua se destina a desagregar, não a revolução, mas as classes não proletárias.

A reforma, nessas condições, se transforma, por conseguinte, no seu contrário.

A adoção de uma tal política por parte do Poder proletário torna-se possível, exclusivamente porque, no período anterior, a revolução se ampliou suficientemente e por isso deixou espaço suficiente para bater em retirada, para substituir a tática da ofensiva pela tática de uma retirada temporária, a tática dos movimentos envolventes.

Se, antes, portanto, sob o Poder burguês, as reformas eramum produto acessório da revolução, agora, durante a ditadura do proletariado, a origem das reformas está nas conquistas revolucionárias do proletariado, nas reservas acumuladas nas mãos do proletariado e constituídas por estas conquistas.

«Somente o marxismo — disse Lênin — determinou exata e justamente a relação entre as reformas e a revolução. Marx só podia ver esta relação sob um dos seus aspectos, isto é na situação anterior a uma primeira vitória do proletariado mais ou menos sólida, mais ou menos duradoura, mesmo num só país. Naquela situação, a base de uma justa relação entre as reformas e a revolução era esta: a reforma é um produto acessório da luta de classe revolucionária do proletariado... Depois da vitória do proletariado, ainda que num só país, surge alguma coisa de novo na relação entre as reformas e a revolução. Em princípio, as coisas estão como antes, na forma, porém, sobrevém uma modificação, que Marx pessoalmente não podia prever, mas cuja presença só pode ser percebida por nós se tomarmos por base a filosofia e a política do marxismo... Depois da vitória, elas (isto é, as reformas, J. St.) (mesmo que em escala internacional continuem a ser o mesmo «produto acessório») constituem, ademais, para o país onde tiver vencido o proletariado, uma trégua, necessária e legítima nos casos em que as forças, depois de uma tensão extrema, são manifestamente insuficientes para superar de modo revolucionário uma ou outra etapa. A vitória proporciona uma tal «reserva de forças», que permite resistir, mesmo no caso de uma retirada forcada, resistir material e moral-- mente». (Vide vol. XXVII, págs. 84-85).[N78]