sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

França volta hoje a ser palco de greve geral contra reforma das pensões.!


França volta hoje a ser palco de greve geral contra reforma das pensões.

Depois de 51 dias de greve com cada vez maior apoio da restante população trabalhadora e obrigar o governo a recuar e manter a idade de aposentação aos 62 anos, o proletariado francês, volta à luta contra as restante medidas reaccionárias previstas no projecto sobre a reforma das pensões que é hoje apresentada no Conselho de Ministros


Em Portugal ao invés do exemplo de coragem transmitido pela luta ousada do proletariado francês e os vários governos capitalistas anteriores PSD/CDS e PS terem prolongado a idade da reforma para próximo dos 67 anos, rasgado por várias vezes a Lei Laboral ainda mais a favor do aprofundamento da exploração capitalista, a permanência de salários e reformas altamente miseráveis, continua-se a colaborar com os objectivos económicos e políticos da burguesia, em vez de se chamar à luta a VALER e não como até aqui a simulacros de luta bem limitados que estão na origem das várias derrotas impostas aos trabalhadores, impedindo que se consiga conquistar as reivindicações exigidas e defender os direitos laborais e sociais, discute-se as cedências sociais ditas de combate às desigualdades sociais, com que o governo procura comprar os grupos parlamentares à sua esquerda e as direções sindicais da CGTP e UGT, com o objectivo politico bem evidente de poder garantir a paz social necessária para poder aplicar o OE, que a UE e as associações patronais lhe determinaram.

Na medida em que tais grupos parlamentares e direcções sindicais colaborantes vêm demonstrando a cada dia da luta de classes o seu oportunismo e servilismo, apelamos à unidade e mobilização e vigilância dos trabalhadores para que a luta a reiniciar a 31 de Janeiro, não fique por aí como tem sido prática dos seus organizadores em situações anteriores, que se amplie, aprofunde e radicalize como condição necessária à conquista dos objectivos reivindicativos exigidos.





quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Augusto Bebel, Líder dos Operários Alemães.Por: J. V. Stálin

Que a vida, o espirito revolucionário e o ódio de classe à burguesia de Augusto Bebel, inspire a nossa classe proletária e em particular os operários mais conscientes. A Chispa!


Augusto Bebel, Líder dos Operários Alemães
J. V. Stálin
1910

Quem não conhece Bebel, o líder venerado dos operários alemães, o “simples” torneiro de outrora e o eminente homem político de hoje, aquele que, com a sua crítica, comparável a marteladas, fez várias vezes recuarem “cabeças coroadas” e cientistas diplomados, aquele que, com a palavra convincente, como a de um profeta, mantém desperta a atenção do proletariado da Alemanha, que conta milhões de homens?

A 22 de fevereiro deste ano completou ele setenta anos.

Nesse dia o proletariado militante de toda a Alemanha, o Bureau internacional socialista, os operários organizados de todos os países do mundo festejaram solenemente o septuagésimo aniversário do velho Bebel.

De que maneira Bebel tornou-se merecedor dessa honra, que fez pelo proletariado?

De que maneira saiu das camadas operárias inferiores, de que maneira pôde, de “simples” torneiro, transformar-se num grande combatente do proletariado mundial?

Qual é a história da sua vida?

Bebel passou a infância na miséria e nas privações. Tinha apenas três anos quando perdeu o pai, um pobre suboficial tuberculoso, único arrimo da família. Para dar um novo arrimo aos seus filhos, a mãe de Bebel casou-se de novo, desta vez com um carcereiro, e com os filhos passou da caserna, onde havia vivido até então, para o edifício da prisão.

Mas após três anos morre também o segundo marido. Ficando sem arrimo, a família transfere-se para a aldeia de origem, um rincão perdido no interior da província, onde leva uma existência de sofrimentos. Dada sua extrema indigência, Bebel é admitido na “escola dos pobres”, que frequenta com bons resultados até aos quatorze anos. Porém, no penúltimo ano do curso, uma nova desgraça o golpeia: perde a mãe, seu último apoio. Órfão de pai e mãe, abandonado a si mesmo, sem possibilidades de continuar os estudos, Bebel entra como aprendiz junto a um torneiro seu conhecido.

Começa para ele uma vida exaustiva, de forçado. Permanece na oficina das cinco da manhã às sete da noite. Os livros, a cuja leitura dedica todo o tempo livre, trazem algum derivativo à sua vida. Com os quatro soldos que percebe por semana levando todas as manhãs água à sua patroa, antes do trabalho, toma assinatura junto a uma biblioteca.

É evidente que a miséria e as privações não só não aniquilaram o jovem Bebel, não só não extinguiram nele a aspiração à luz, mas, pelo contrário, temperaram ainda mais a' sua vontade, aguçaram a sua sede de saber, fizeram surgir nele perguntas às quais procurava com avidez uma resposta nos livros.

Assim, na luta contra a necessidade formou-se o futuro incansável combatente pela emancipação do proletariado.

Aos dezoito anos Bebel termina o período de aprendizado e começa a sua vida de torneiro independente. Aos vinte anos participa já de uma reunião operária em Leipzig e ouve os discursos de operários socialistas. Foi a primeira reunião onde Bebel se encontrou face a face com oradores operários. Não é ainda socialista, simpatiza com os liberais, mas sente-se realmente feliz quando escuta as intervenções dos operários com espírito independente, inveja-os, arde do desejo de tornar-se também, como eles, um orador operário.

A partir de então uma nova vida começa para Bebel: ele já escolheu o seu caminho. Entra para as organizações operárias e aí trabalha intensamente. Bem depressa adquire influência e é eleito membro do comitê dos sindicatos operários. Enquanto trabalha nos sindicatos, luta contra os socialistas, está com os liberais, mas, justamente nessa luta, se convence pouco a pouco de que os socialistas têm razão.

Aos vinte e seis anos já é social-democrata. A notoriedade de Bebel cresce tão rapidamente que depois de um ano (em 1867) é eleito presidente do comitê dos sindicatos e primeiro deputado dos operários no parlamento.

Assim Bebel lutando e vencendo supera passo a passo os obstáculos que o circundam, sai por fim das camadas operárias inferiores para transformar-se num líder dos operários combatentes da Alemanha.

Já então fala abertamente a favor da social-democracia. Seu objetivo imediato é o de combater os liberais, de ajudar os operários a libertarem-se de sua influência, de unir os operários em seu partido operário social-democrata.

E atinge o seu objetivo no ano seguinte, em 1868, no Congresso de Nuremberg. Um hábil e impiedoso ataque de Bebel àquele congresso dá como resultado a derrota completa dos liberais, e sobre as ruínas do liberalismo nasce a social-democracia alemã.

A emancipação dos operários pode ser somente obra dos próprios operários, diz Bebel ao congresso, os operários devem por isso romper com o liberalismo burguês e unir-se num partido operário deles. E a imensa maioria do congresso, a despeito do grupinho dos liberais, repetiu depois dele as grandes palavras de Carlos Marx.

Para a sua completa emancipação, os operários de todos os países devem unir-se, diz Bebel; é preciso portanto aderir à Associação internacional dos operários; e a maioria do congresso repete depois dele as palavras do grande mestre.

Assim nasceu o Partido Social-Democrata da Alemanha. Foi Bebel quem deu a contribuição decisiva para o seu nascimento.

A partir de então a vida de Bebel funde-se com a vida do Partido, as suas dores e as suas alegrias fundem-se com as dores e as alegrias do Partido. O próprio Bebel torna-se o benjamim e o animador dos operários alemães, porque não é possível para os seus companheiros deixar de amar um homem que tanto se sacrificou para habilitar os operários a marcharem sozinhos, para libertá-los da tutela dos liberais burgueses e dar-lhes um verdadeiro partido operário.

O ano de 1870 submete o jovem partido à primeira prova. Tem início a guerra contra a França. O governo exige do parlamento, de que Bebel é membro, fundos para a guerra: é necessário pronunciar-se de maneira precisa pró ou contra a guerra. Bebel naturalmente compreende que a guerra só é vantajosa para os inimigos do proletariado; mas todas as camadas da sociedade na Alemanha, dos burgueses aos operários, estão tomadas de um falso ardor patriótico, e a recusa de dar dinheiro ao governo é chamada traição à pátria. Mas Bebel, sem de- ter-se diante dos preconceitos “patrióticos”, sem temer ir contra a corrente, declara em voz alta da tribuna parlamentar : eu, como socialista e republicano, não sou pela guerra, mas pela fraternidade entre os povos; não sou pelo ódio contra os operários franceses, mas pela sua união com os nossos operários alemães. Repreensões, escárnio, desprezo até da parte dos operários: tal a resposta ao corajoso discurso de Bebel. Fiel aos princípios do socialismo científico, Bebel não permite que nem sequer por um instante a bandeira se arrie até aos preconceitos de seus irmãos; pelo contrário, ele procura por todos os modos elevar esses seus irmãos à clara compreensão do caráter funesto da guerra. Em seguida os operários compreenderam o seu erro e amaram ainda mais o seu tenaz e forte Bebel. Em compensação, o governo premiou-o com dois anos de cárcere, onde ele, contudo, não perdeu tempo e escreveu o célebre livro A mulher e o socialismo.

O fim do decênio 1870-1880 submete o Partido a novas provas. O governo alemão, alarmado com o desenvolvimento da social-democracia, promulga as “leis de exceção contra os socialistas”, destrói as organizações do Partido e as sindicais, suprime sem exceção todos os jornais social-democratas, suprime a liberdade de reunião e de associação; o Partido Social-Democrata, ainda ontem legal, é jogado na ilegalidade. Com todas essas medidas, o governo queria provocar a social-democracia a ações prematuras, ruinosas, queria desmoralizá-la e destruí-la. Eram necessárias uma particular firmeza e uma perspicácia sem igual para não perder a cabeça, modificar a tempo a tática, adaptar-se com inteligência às novas condições. Muitos social-democratas deixaram-se apanhar nas redes da provocação e caíram no anarquismo. Outros de- gradaram-se totalmente e acabaram entre os liberais. Mas Bebel permaneceu sempre no seu posto, encorajando uns, moderando o ímpeto irracionável de outros, desmascarando o farisaísmo de outros mais e orientando com habilidade o Partido em direção ao caminho justo, sempre para a frente, só para a frente. Após dez anos o governo foi obrigado a ceder diante da força crescente do movimento operário e abrogou as “leis de exceção”. Ficou provado que a linha de Bebel era a única justa.

Nos últimos anos do século passado e nos primeiros de 1900 o Partido teve de superar ainda uma prova. Encorajados pela ascensão industrial e pela relativa facilidade das vitórias econômicas, os elementos moderados da social-democracia começaram a negar a necessidade de uma luta de classes implacável e da revolução socialista. Não é a intransigência o de que precisamos, nem a revolução, diziam eles, mas a colaboração de classes; devemos pôr-nos de acordo com a burguesia e com o governo para melhorar, juntamente com eles, a ordem social existente: votemos pois a favor do orçamento do governo burguês, participemos do governo burguês existente. Com essas afirmativas, os moderados minavam as bases do socialismo científico, a tática revolucionária da social-democracia. Bebel compreendeu todo o perigo da situação e, juntamente com outros chefes do Partido, declarou uma guerra implacável aos moderados. No Congresso de Dresden (1903) bateu em toda a linha Bernstein e Vollmar, chefes dos moderados alemães, proclamando a necessidade dos métodos revolucionários de luta. E no ano seguinte, em Amsterdam, diante dos socialistas de todos os países, derrotou Jean Jaurès, chefe internacional dos moderados, proclamando mais uma vez a necessidade de uma luta implacável. A partir de então, não deu trégua aos “inimigos moderados do Partido” infligindo-lhes uma derrota após outra em Iena (1905), em Nuremberg (1908). Com isso conseguiu que o Partido saísse da luta intestina unido e forte, extraordinariamente consolidado, desmesuradamente desenvolvido; e de tudo isso o Partido é devedor sobretudo a Augusto Bebel...

Mas Bebel não se contenta com uma atividade desenvolvida unicamente no âmbito do Partido. Os poderosos discursos no parlamento alemão, com os quais flagela os nobres corruptos, arranca a máscara aos liberais e expõe ao vitupério o “governo imperial”, sua longa atividade nos sindicatos: tudo isso nos diz que Bebel, sentinela fiel do proletariado, encontrava-se por onde quer que fervesse a luta, onde era necessária a sua impetuosa energia proletária.

Eis por que os socialistas alemães e de todo o mundo têm por Bebel uma tão grande veneração.

Por certo, Bebel também cometeu erros — e quem não os comete? (só os mortos não se enganam) — mas todos os pequenos erros empalidecem diante dos grandes serviços prestados ao Partido, o qual hoje, após quarenta e dois anos sob a direção de Bebel, conta mais de 600.000 membros inscritos, tem quase dois milhões de operários organizados nos sindicatos, goza da confiança de 3 a 4 milhões de eleitores e a um sinal seu faz baixar às ruas centenas de milhares de prussianos.

E é significativo que as solenes manifestações de apreço a Bebel recaiam justamente nos dias em que a potência da social-democracia alemã se manifesta da maneira mais evidente, nos dias em que se desenvolvem, incomparavelmente bem organizadas, as grandes demonstrações em prol do sufrágio universal na Prússia.

Bebel tem pleno direito a dizer que não trabalhou em vão.

Esta é a vida, a atividade do velho Bebel. Ele é muito velho de anos, sim, mas muito jovem de espírito e, como sempre, está firme no seu posto, na expectativa de novas batalhas, de novas vitórias.

Somente no seio do proletariado combatente podia nascer um Bebel, este homem cheio de vida, eternamente jovem, sempre projetando-se para a frente, como se projeta para a frente o próprio proletariado. Somente a teoria do socialismo científico podia oferecer amplo campo de atividade à natureza ardente de Bebel, propensa incansavelmente à destruição do velho, apodrecido mundo capitalista.

A vida e a atividade de Bebel são um testemunho da força e da invencibilidade do proletariado, da inelutabilidade da vitória do socialismo...

Enviemos pois a nossa saudação, camaradas, ao nosso caro mestre, o torneiro Augusto Bebel!

Sirva ele de exemplo a nós, operários russos, que temos particularmente necessidade de outros Bebel em nosso movimento operário.

Viva Bebel!

Viva a social-democracia internacional!*

O Comitê de Baku do P.O.S.D.R

*Para que não se estabeleça qualquer confusão com a social democracia reformista e liberal de hoje, os antigos partidos operários denominavam-se social-democratas  e eram revolucionários.


quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

O que é que "se puede" ?

A semelhança com a realidade portuguesa não é mera coincidência, mas o resultado das mesmas politicas reacionárias pró-imperialistas impostas pela UE/BCE/FMI com o acordo dos vários governos capitalistas de ambos os países. A Chispa!

por Ángeles Maestro [*]

O que é que "se puede" ?

– O que se pode esperar do novo governo espanhol e como actuar em consequência

Após o recente espectáculo do debate da posse, na qual as três extrema direitas capitaneadas pela VOX acenaram com o espantalho mais rançoso do franquismo, a reacção esperada de boa parte do público foi a de suspiro de alívio diante do risco de ser governada por tais energúmenos.

Provavelmente essa será a melhor prenda que a VOX fez ao novo governo: uma espécie de 23F preventivo. Um calafrio carregado de recordações sinistras que tinha a virtude – para os novos coligados – de paralisar qualquer pensamento crítico.

Uma vez apagados os focos e calados os gritos, a realidade obcecada torna a impor-se na vida quotidiana dos milhões de pessoas que nunca saíram da crise.

Os dados mais recentes do Indicador Europeu de Pobreza e Exclusão Social (2019) mostram que a miséria extrema se estende no Estado espanhol, que é a maior nos últimos três anos e que afecta 12 milhões de pessoas, a quarta parte da população [1] . Além disso, mais da metade da população não chega ao fim do mês, não compra regularmente carne ou peixe ou não pode ligar a calefacção. Esta situação não é exclusiva das pessoas desempregadas, mas abrange aqueles que trabalham em condições de precariedade (que são a imensa maioria) ou recebem pensões míseras (nove milhões de pessoas).

Se a isto acrescentarmos a situação das listas de espera na saúde pública, que levam milhares de pessoas a uma morte perfeitamente evitável, a degradação permanente do ensino, a exclusão de filhas e filhos da classe operária do ensino superior ou a clamorosa insuficiência dos serviços sociais, teremos um panorama que se pode qualificar de emergência social, em sentido estrito.

O recrudescimento da luta de classes pode ser apreciado em toda a sua dimensão quando se relacionam estes dados:
A criação de riqueza pela classe operária cresceu de forma importante: 200 mil milhões de euros entre 2014 e 2019 [2] .

Os lucros empresariais, segundo dados do Banco de Espanha para 2018, revelam um aumento de 60% [3] e que isto vem acontecendo de forma constante nos últimos seis anos.

Neste mesmo período os salários aumentaram nominalmente uns míseros 1,5%, que em termos reais implicou uma perda da capacidade aquisitiva de 133 euros por ano [4] .

E esta situação de emergência social, de sobre-exploração escandalosa e de aumento desmesurado das desigualdades sociais, como o governo pretende coibi-la? Não há qualquer proposta minimamente séria; alguns panos quentes e muito pequenos.

Suas palavras não deixam dúvidas. O pacto PSOE—Podemos está assente estritamente sobre os limites impostos pela UE sobre redução do défice e da dívida, tal como assinalou Pedro Sánchez após o abraço que abriu as portas ao governo de coligação. As ameaças da Comissão Europeia continuam a ressoar com força e a alertar sobre os reiterados incumprimentos em matéria de redução do défice e da dívida e sobre a necessidade de adoptar "nova medidas compensatórias" para assegurar a sustentabilidade das pensões [5] .

No dia 1 de Janeiro de 2020 entraram em vigor os artigos 11 e 13 da Lei 2/2012 de Estabilidade Orçamental [6] que obrigam todas as administrações públicas a tornar efectiva a redução da dívida para 60% do PIB – no caso do Estado espanhol atinge 500 mil milhões de euros – e a reduzir o desequilíbrio orçamental em mais de 25 mil milhões de euros.

O artigo 11.2 estabelece taxativamente: "Nenhuma Administração Púlica poderá incorrer em défice estrutural" e entende como administrações públicas o Estado, as Comunidades Autónomas, as municipalidades e a Segurança Social.

A Lei, que desenvolve tanto o Tratado de Estabilidade da Zona Euro (2013) como a reforma do artigo 135 de Constituição, proposta pelo governo Zapatero e aprovada em Agosto de 2011 pelo PSOE, PP e UN, obriga a tornar efectiva a prioridade absoluta ao pagamento dos vencimentos de capital mais juros. A cada ano dedica-se para tal efeito quase a metade dos orçamentos gerais do Estado, mais do triplo do gasto de toda a saúde pública. E este escandaloso montante é pago aos grandes bancos, em virtude de uma dívida contraída mediante a cessão maciça de dinheiro público precisamente a esses mesmos bancos que, como se recorda, recusaram-se a devolvê-lo, sem que o governo actual ou os anteriores tenham movido um dedo para impedi-lo.

Como tem alertado a Red Roja [7] desde que foram aprovadas estas normas, este quadro legislativo anula a soberania efectiva de qualquer governo estatal, autonómico ou municipal que não se atreva a enfrentá-lo. E não são palavras. A Lei 2/2012 estabelece graves e progressivas sanções pelos incumprimentos nas reduções de défice e dívida. O artigo 26.1, "Medidas de cumprimento forçoso" [8] , estabelece que em caso de incumprimentos reiterados da parte de governos autonómicos será aplicada ao infractor o famoso artigo 155 da Constituição. Às corporações locais rebeldes será aplicado artigo 61 da Lei de Regime Local que prevê a dissolução dos seus órgãos de governo... "por grave incumprimento das suas obrigações constitucionais", ou seja, do artigo 135 da Constituição.

Alguém ouviu falar de tudo isto nos programas eleitorais ou no debate da posse? Aqueles que falam dos famosos 100 dias de graça do novo governo por acaso perguntam como se compatibilizarão os aumentos prometidos da despesa social com estas medidas férreas que foram propostas e aprovadas pelo PSOE e que estão em vigor desde 1 de Janeiro? Aqueles que nas bancadas do Podemos e da Izquierda Unida, ou na porta do Congresso, gritavam em lágrimas: "Si, se puede", a que é que se referiam? Sim, se pode, mas o que?

Aqueles que ganharam pastas ministeriais ou altos cargos estão perfeitamente conscientes de que seu "relato" é mero ilusionismo e, portanto, a negação em essência de qualquer "transparência". Quando os enviados da famosa Troika (UE, BCE e FMI), os "homens de negro", encarregados de controlar as contas de todas as administrações públicas exibirem seu poder – ameaças, chantagens ou subornos – e mostrem o que vale a suposta "soberania popular" será mudada rapidamente a ilusão do "Sim, se pode" pelo "Não se podia fazer outra coisa".

É indispensável não esquecer que os ventos da recessão galopam e que sempre, desde os Pactos de Moncloa, as crises são o argumento reiterado para retrocessos sem fim em direitos e liberdades, que sistematicamente não se recuperam.

E essa é a grande vigarice, a do Syriza na Grécia ou a que aqui se prepara.

Mas se já sabemos o que nos espera, o que sim se pode e é urgente é preparar as lutas operárias e populares para enfrentar os mandatos da Troika e impor um objectivo tão humano e tão de bom senso como o de que as necessidades vitais das pessoas são – essas sim – prioridade absoluta, frente ao pagamento à grande banca, outra vez, do que já nos roubaram.

Esta é a nossa tarefa. Aqueles que ocupam cargos no governo e vão comprovar a margem estreitíssima que lhes concedem os poderes reais têm a possibilidade de abandonar miragens e ocupar o seu lugar na dura batalha que se vislumbra. O que não se pode tolerar é que, no altar da governabilidade, utilizem o pequeno poder que alcançaram, que não lhes serve para enfrentar os poderes reais, mas que podem utilizar para tentar debilitar, confundir e dividir o movimento popular. E essas manobras já emergiram no movimento de pensionistas, quando os novos altos cargos ainda não tiveram tempo de aquecer a poltrona, com o objectivo de abortar o apoio em todos os territórios do Estado à Greve Geral convocada para 30 de Janeiro no País Vasco, em defesa das pensões públicas.

Estas artimanhas repetem-se a cada governo "progressista" desde a Transição [do franquismo]. O bom de haver assistido a tantas "ilusões" é que sabemos o enredo do filme e não vamos aguardar impassíveis que os grandes poderes cumpram seus objectivos em duplicado: porque suas medidas contra a classe operária se fazem efectivas e porque destroçam as organizações populares.

18/Janeiro/2020

[1] www.eapn.es/estadodepobreza/
[2] datosmacro.expansion.com/pib/espana
[3] www.rtve.es/...
[4] www.lavanguardia.com/...
[5] elpais.com/economia/2019/11/19/actualidad/1574199971_155779.html
[6} www.boe.es/buscar/act.php?id=BOE-A-2012-5730&tn=1&p=20150613
[7] Um relatório pormenorizado sobre este quadro legislativo e em especial sobre a Lei Orgânica 2/2012 pode ser consultado em redroja.net/...
[8] Ibid. www.boe.es/buscar/act.php?id=BOE-A-2012-5730&tn=1&p=20150613


[*] Médica, dirigente da Red Roja.

O original encontra-se em diario-octubre.com/2020/01/18/angeles-maestro-si-se-puede-que/

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ 

domingo, 19 de janeiro de 2020

KKE: Encontro Comunista Europeu em Bruxelas - DISCURSO DE D.KOUTSOUMPAS (KKE) NO ENCONTRO COMUNISTA EUROPEU EM BRUXELAS

KKE: Encontro Comunista Europeu em Bruxelas
18 de dezembro de 2019

DISCURSO DE D.KOUTSOUMPAS (KKE) NO ENCONTRO COMUNISTA EUROPEU EM BRUXELAS

“Os partidos comunistas e operários da Europa contra o anticomunismo, a falsificação da História por parte da UE e dos governos, para o reagrupamento do movimento operário, como condição prévia necessária, na luta pelo fim da barbárie capitalista, pelo socialismo”.

Estimados camaradas:

Desde que se expressou pela primeira vez na história a avaliação de que “o fantasma do comunismo percorre a Europa”, 171 anos se passaram, como é sabido. Esse mesmo “fantasma” é que também assombra hoje a grande maioria do Parlamento Europeu e a própria União Europeia, que transformou o anticomunismo em sua política oficial.

Então, há 171 anos, “todas as forças da velha Europa” se uniram … “em uma santa cruzada para perseguir esse fantasma: o papa e o czar, Metternich e Guizot, os radicais franceses e os agentes alemães. ”Hoje, e especificamente em meados de setembro passado, no Parlamento Europeu, os grupos políticos do Partido Popular, dos Social Democratas e dos Liberais, dos Verdes e dos Conservadores e reformistas uniram forças e aprovaram com 535 votos a favor, 66 votos contra e 52 votos em branco, uma resolução anticomunista.

Hoje, há quase dois séculos, as principais forças políticas da “velha Europa uniram forças contra o “fantasma” da revolução social, da justiça social, da abolição da exploração do homem pelo homem, da nova sociedade socialista-comunista, que ainda os persegue. No passado, os autores do “Manifesto do Partido Comunista ”, Karl Marx e Friedrich Engels, enfatizaram que“ o comunismo já é reconhecido como uma força por todas as potências da Europa”. Hoje, o ataque anticomunista, através da vergonhosa resolução do Parlamento Europeu, revela que ideais revolucionários do comunismo continuam a inspirar trabalhadores e forças populares na Europa, apesar das gravíssimas consequências causadas ao movimento comunista da derrubada contrarrevolucionária na URSS, na Europa Central e Oriental, apesar do que foi escrito sobre o “fim de História” e das grandes dificuldades enfrentadas pelos partidos comunistas e operários em atividade na Europa.

Bem, aqui estamos nós, presentes! Para dizer a todas as forças da Europa “velha” e “envelhecida”, a todas as forças que defendem a sociedade capitalista velha e podre e que temem por suas próprias razões, que seus esforços são em vão”. “O rio não corre para trás”. “Se o gelo quebrou, o caminho se abriu”.

Caros camaradas:

Tenhamos em conta a magnitude do ataque anticomunista que vem se desenvolvendo há anos no âmbito europeu e em cada país europeu, e estamos cientes das difíceis condições em que os comunistas agem em vários países europeus, nos países bálticos, na Ucrânia, na Polônia, das prisões de militantes, dos julgamentos e do encarceramento de comunistas e outros combatentes. Aproveitamos a oportunidade para expressar a solidariedade do KKE (Partido Comunista da Grécia) para com todos os partidos e militantes comunistas que enfrentam esse tipo de perseguição.

Observamos que, por ocasião do 80º aniversário do início da Segunda Guerra Mundial, a recente resolução anticomunista exige a tomada e generalização em toda a Europa de medidas anticomunistas mais duras, como a abolição de símbolos, monumentos e o aumento da repressão contra os partidos comunistas. O anticomunismo da União Europeia atinge o nível de delírio ao apresentar a União Soviética como um “aliado de Hitler” e corresponsável pelo início da guerra, tentando distorcer a realidade, ou seja, a Segunda Guerra Mundial, assim como a Primeira Guerra Mundial, foi o resultado da intensificação das contradições interimperialistas e da luta pela nova repartição do mundo, que se tornaram ainda mais agudas devido à existência da União Soviética, em combinação com a crise econômica capitalista mundial (1929- 1933). A partir de certo ponto, os problemas da grande crise do capitalismo só poderiam ser resolvidos através de uma guerra entre os estados capitalistas.

Antes e depois da eclosão da Segunda Guerra Mundial, o objetivo de ambos os blocos imperialistas, os Estados capitalistas fascistas e não fascistas, era destruir o primeiro estado socialista dos trabalhadores, a URSS, que era um farol para todos os povos. As guerras imperialistas mundiais, bem como centenas de guerras locais, no interesse dos estados capitalistas mais fortes, foram monstruosos crimes imperialistas contra a humanidade, incluindo milhares de assassinatos em massa brutais, atrozes e sem precedentes. Esta é a verdade!

Os partidos comunistas e operários da Europa rejeitam a campanha difamatória dos chamados “dois extremos”. Enfatizamos a conexão orgânica entre o monstro do nazifascismo e o capitalismo monopolista. Note-se que não é surpreendente que o ataque anticomunista seja combinado com a tentativa de várias forças políticas burguesas para absolver o fascismo, tornar heróis aqueles que colaboraram com os nazistas nos países bálticos, na Ucrânia etc. Desta tentativa participam todos os países da UE que há anos votam contra a resolução há anos que “condena a exaltação do nazismo”, que é apresentada todos os anos pela Rússia na Assembleia Geral da ONU. Há alguns anos, a UE não teve nenhum problema em apoiar forças reacionárias ou mesmo forças abertamente fascistas para alcançar seus objetivos geopolíticos, em conjunto com os EUA, a Ucrânia …

Gostaríamos de lembrar aos povos da Europa e do mundo inteiro que a Bandeira Vermelha, o símbolo do primeiro estado socialista, da URSS, que subiu triunfante no Reichstag, foi fincada pelo Exército Vermelho, que havia acabado de derrotar a maioria das tropas supostamente invencíveis do estado nazista alemão. O objetivo da União Européia se refletiu na resolução anticomunista que pede a montagem de um novo “Nuremberg”, desta vez para o comunismo. Falou-se sobre uma “necessidade urgente de conscientização total, bem como avaliação moral e legal dos crimes do stalinismo e das ditaduras comunistas” … Isso não aponta apenas contra comunistas. Também aponta para a revisão dos resultados da Segunda Guerra Mundial, alcançados com o sangue do Exército Vermelho, da União Soviética, das lutas dos comunistas e de outros combatentes, de todos os países europeus contra o fascismo. , pela libertação nacional.

Por ocasião do 75º aniversário da Vitória Antifascista dos Povos, prestamos homenagem às mulheres e homens que sacrificaram suas vidas ou ficaram incapacitados nos campos de batalha e na clandestinidade para derrotar o imperialismo fascista. Aos partidos comunistas de todo o mundo que desempenharam um papel de liderança nas lutas pela libertação nacional.

Por que se desenvolve tão profundamente agora esse ataque aos ideais comunistas e comunistas, quando nossos adversários dizem de qualquer maneira que “terminaram” com o comunismo, que é um” caso perdido”. Estamos certos que todos dizem isso porque sabem muito bem que, por mais que digam proclamar “o fim da luta de classes”, não conseguirão isso enquanto prevalecer a chamada “economia de mercado”. O capitalismo, o sistema que se baseia nos lucros derivados da exploração, cria, mantém e aprimora os problemas sofridos pelos povos e não pode satisfazer as necessidades populares contemporâneas. Faz parte da contradição básica entre capital e trabalho, que gera desemprego, pobreza e injustiça para a maioria e novas crises capitalistas, enquanto duros conflitos inter-imperialistas ocorrem e semeiam guerras, derramamento de sangue, milhões de refugiados e perseguição de imigrantes.

Pelo contrário, o socialismo no século XX resolveu grandes problemas dos trabalhadores: saúde, educação e moradia gratuita, eliminação do desemprego, garantia do direito à seguridade social, às pensões, o lazer, a cultura e o desporto. As conquistas sem precedentes da União Soviética e de outros países socialistas têm sido e continuam sendo um “farol” para as pessoas ao redor do mundo, verificando que “sim”, essa visão pode se tornar realidade. Pode-se construir uma sociedade diferente, que não seja baseada nos lucros capitalistas, uma sociedade da humanidade que garanta a “segurança do dia seguinte”, uma vida com dignidade e significado.

O objetivo dos capitalistas é usar “ toneladas de lama ”para desacreditar os esforços feitos na Europa no século passado para construir uma nova sociedade, uma sociedade socialista-comunista. Não só porque todas as burguesias se beneficiaram da derrubada contrarrevolucionária, mas também porque o aforismo da experiência socialista do século 20 procura convencer especialmente as gerações mais jovens de que não faz sentido questionar o sistema de exploração, suas contradições ou lutar pelo fim da barbárie. Neste planejamento, além de meios ideológicos e políticos, eles também usam meios judiciais, policiais e de repressão em muitos países da União Europeia. Essas medidas são combinadas com o fortalecimento de forças nacionalistas, racistas, de ultra-direita e fascistas que levantam suas cabeças e são usadas como postos avançados que servem aos interesses da burguesia.

Camaradas:

Infelizmente, na campanha anticomunista, várias forças autodeterminadas como “de esquerda e progressistas” têm dado uma contribuição particular … Essas são as forças conhecidas do oportunismo na Europa que há anos, desde a época do chamado “Eurocomunismo”, se dedicam à calúnia antissoviética, especialmente ao período em que as bases da construção do socialismo na União Soviética foram lançadas nas décadas de 20 e 30, bem como o período que levou à luta anti-imperialista antifascista dos povos antes e durante o Segunda Guerra Mundial.

Ouvimos tantas coisas durante anos pela boca das forças que absolvem a UE de um ponto de vista supostamente de esquerda. Lembre-se de que o Sr. Tsipras, chefe do SYRIZA e do único partido do Partido da Esquerda Europeia (PIE) que governou, assinou em maio passado, numa cúpula informal da UE em Sibiu, Romênia, uma declaração “monumento” ao anticomunismo, celebrando a derrubada e o desmantelamento do sistema socialista, afirmando que: “Trinta anos atrás, milhões de pessoas lutaram por sua liberdade e unidade e derrubaram a cortina de ferro!”. É a “esquerda europeia do PIE que participa das festividades pela queda do muro de Berlim, em geral na tentativa sistemática de difundir entre os jovens a ideia de que o socialismo é um “regime sem liberdade e antidemocrático”, em contraste com o capitalismo, que é um “oásis de liberdade e democracia”.

No “moinho” da manipulação ideológica, as ideias de democracia e liberdade são lançadas para perder suas características históricas e, acima de tudo, classistas. Como se “democracia” fosse ou pudesse ser a mesma ao longo dos séculos, de Atenas ao sistema escravista, da Inglaterra do feudalismo ou da França da revolução burguesa que marcou a transição do feudalismo para o capitalismo, para o atual capitalismo monopolista, ou seja, a era do imperialismo, que também é a época da transição do capitalismo ao socialismo-comunismo. “Democracia” sempre foi algo diferente, mas sempre foi sujeita à questão indiscutível de estar a serviço do sistema dominante em cada período, ou seja, nas sociedades anteriores e hoje, a serviço do sistema de exploração, uma vez que apenas o socialismo-comunismo, como um poder realmente popular-operário, pode construir um tipo superior de democracia.

Isto, afinal, é o que pretendem esconder todos aqueles que reduzem os 70 anos de história da URSS a zero e particularmente o período em que sua base socialista foi concebida. Em todo o caso, eles apoiam as eleições políticas que identificam a democracia com o parlamentarismo burguês, liberdade com individualismo burguês e propriedade capitalista individual. O verdadeiro conteúdo da liberdade e da democracia no capitalismo é a coerção econômica da escravidão assalariada e a ditadura do capital na sociedade em geral e principalmente através dos negócios capitalistas.

Caros camaradas:

Surge a questão de saber se podemos e como bloquear o ataque anticomunista. O ataque à ideologia comunista e aos partidos comunistas em todo o mundo anda de mãos dadas com o ataque aos direitos sociais, democráticos e sindicais, às conquistas obtidas pela classe trabalhadora e pelas camadas populares com dificuldades, o que significa que a burguesia não deixará nem por um momento de pensar em métodos para atacar os partidos comunistas a fim de promover seus planos antipopulares.

É claro que os partidos comunistas podem e devem responder a isso. De acordo com a experiência do nosso partido, o grande trabalho realizado pelos membros e amigos do KKE e da KNE (Juventude Comunista) por meio de vários eventos e respectivas edições para iluminar jovens e trabalhadores contribui, em certa medida, na luta contra anticomunismo.

Além disso, a defesa de um ponto de princípios da revolução e da construção socialista e, ao mesmo tempo, a avaliação críticas dos resultados, dos erros e das deficiências na economia, na superestrutura política, na estratégia do movimento comunista internacional, na investigação coletiva e no estudo dos erros que levaram à restauração do capitalismo são questões que temos tentado e em grande parte conseguimos estudar em nosso país. Eles reforçaram ideológica, teórica e politicamente nosso partido, todos os comunistas, trabalhadores e jovens que abraçam esse conhecimento coletivo.

O anticomunismo, o ressurgimento de forças nacionalistas, racistas e fascistas não podem ser confrontados de maneira consistente, estável e efetiva pelas supostas “frentes antifascistas” com forças burguesas ou oportunistas. O grande intelectual comunista Bertolt Brecht disse: “O fascismo só pode ser combatido como capitalismo em sua forma mais grosseira, insolente e opressiva, mais enganosa. Então, qual é a utilidade de dizer a verdade sobre o fascismo que se condena se não se diz nada contra o capitalismo que o origina?”.

O KKE considera que quem deve e pode deixar sua marca nos acontecimentos é o movimento operário de cada país, da Europa e do mundo em geral. As trabalhadoras e os trabalhadores entendem, sentem em sua carne que o ataque anticomunista vai ao mesmo tempo com o ataque aos seus direitos … É um ataque contra os direitos sociais, sindicais e democráticos conquistados na Europa nas décadas anteriores, por meio de lutas duras e muitas vezes sangrentas travadas pelo movimento operário sob a influência das conquistas sociais da URSS e outros países socialistas.

Hoje, os governos burgueses, de direita, socialdemocratas e pseudo-esquerdistas (como o SYRIZA em nosso país até recentemente), bem como a ND que seguiu e encontrou “a estrada pavimentada” pelo governo anterior, reduzem e eliminam direitos dos trabalhadores e conquistas populares em nome da “competitividade” da economia, da lucratividade do capital. Porque os trabalhadores entendem que os comunistas são os que estão ao seu lado quando seus salários são cortados, quando são golpeados seus direitos à pensão e assistência médica e à saúde, o direito de seus filhos à educação, quando são demitidos, quando destroem e poluem o meio ambiente para beneficiar os interesses dos monopólios. Os trabalhadores podem perceber que o ataque contra os comunistas, para silenciar os partidos comunistas, enfraquecer os partidos comunistas, é um ataque contra eles e seus direitos e visa privá-los de seu apoio, sua oposição à onda de medidas antipopulares promovidas pela UE e pelos governos.

Os trabalhadores entendem que o KKE insiste na luta pela derrubada dessa injusta “classe social”, na luta pela construção de uma nova sociedade, sem a injustiça que estão sofrendo, sem desemprego, sem pobreza, sem obstáculos de classe na educação e nos serviços de saúde, sem guerras imperialistas. Apesar das dificuldades, o KKE acredita que hoje o movimento comunista também na Europa, superando as posições errôneas que prevaleciam no movimento comunista internacional nas décadas anteriores, combinando ação revolucionária com teoria revolucionária, construindo bases sólidas no meio da classe trabalhadora, em setores estratégicos da economia e fortalecendo sua intervenção no movimento operário-popular, pode não apenas interromper o ataque anticomunista, mas também lançar as bases para o reagrupamento do movimento operário e para a construção da aliança social, que em nossa opinião são uma condição necessária na luta pela derrocada da barbárie capitalista, pelo socialismo”.


11.12.2019


Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)



Fonte: https://inter.kke.gr/es/articles/DISCURSO-DE-D.KOUTSOUMPAS-EN-EL-ENCUENTRO-COMUNISTA-EUROPEO-EN-BRUSELAS/

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

EUA ameaçam guerra generalizada

Sara Flounders (*) 
Quinta-feira, 9 Janeiro, 2020

Esta nova década inicia-se com ameaças abertas de barbárie por parte dos EUA. Mas, ao mesmo tempo, os sinais que vêm do Médio Oriente (e de outras partes do mundo) dão conta de uma ampla resistência de milhões de pessoas, fartas de tiranias e de más condições de vida. Resistência essa que não parece já episódica e de propósitos limitados, mas que sugere o germinar de novas ondas de lutas de massas de maior alcance. Não sendo, na maioria, expressamente anti-imperialistas e anticapitalistas, têm contudo como alvo objectivo a dominação das grandes potências (nomeadamente os EUA) e o descalabro a que o capitalismo conduziu o mundo. São por isso potencialmente revolucionárias.

O texto que publicamos aborda o recente conflito entre EUA e Irão, na sequência do assassinato do general Soleimani. Os dados que fornece permitem compreender melhor o quadro dos acontecimentos. E, ao chamar a atenção para as fraquezas dos EUA, alerta precisamente para o facto de poder estar a gerar-se uma mudança histórica na resistência dos povos do Médio Oriente que ponha em causa a dominação imperialista norte-americana.

Alvejando o Iraque e o Irão, os EUA ameaçam guerra generalizada

Enormes manifestações no Irão, no Iraque e em toda a região expressam o ódio anti-imperialista e sinalizam um novo dia, um renascimento dos movimentos de massas que expulsarão os EUA da região.

Um acto criminoso dos EUA desencadeou a tempestade.

Em 2 de Janeiro, o imperialismo dos EUA elevou a sua guerra agressiva contra o Irão para um novo nível. Um drone norte-americano realizou um ataque furtivo que assassinou o principal general iraniano Qassem Soleimani, chefe do Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana – Quds.

Soleimani estava em visita oficial ao Iraque, numa missão como negociador pela paz na zona. Foi recebido por Abu Mahdi al-Muhandis, líder das Forças de Mobilização Popular do Iraque (FMP), que também foi assassinado no ataque. As FMP fazem parte oficialmente das forças de segurança iraquianas.

O Departamento de Defesa dos EUA admitiu ter realizado o ataque seguindo as ordens do presidente Donald Trump.

Nos dias após essa provocação de guerra, ocorreu o seguinte:

No Iraque, dezenas de milhares de pessoas uniram-se na marcha fúnebre dos dois líderes militares assassinados pelo Pentágono. O Parlamento iraquiano votou a expulsão dos 5.000 militares dos EUA que estão estacionados no Iraque logo que os parlamentares souberam do assassinato político cometido pelos EUA violando a soberania do Iraque.

O primeiro-ministro iraquiano Adil Abdul-Mahdi disse ao parlamento que o governo dos EUA sabia que o general Soleimani estava em viagem no Iraque como emissário oficial de paz e que iria encontrar-se com ele para estabelecer negociações com a Arábia Saudita a fim de diminuir a tensão na região. O Iraque actuaria como mediador. Abdul-Mahdi disse que Trump também pediu ao Iraque para desempenhar um papel mediador com o Irão.

No Irão, os líderes do governo prometeram que vão responder militarmente aos EUA. Centenas de milhares, se não milhões, de pessoas marcharam pelas ruas em luto por Soleimani e pelo seu homólogo iraquiano. O grito dominante era “Morte à América!” – significando os Estados Unidos.

Dos EUA, Trump enviou um tweet ameaçando destruir 52 alvos iranianos, incluindo sítios culturais. Tal ataque seria um crime de guerra. Entretanto, Washington indicou aos cidadãos dos EUA que deixassem o Iraque.

Embora os acontecimentos tenham exposto algumas das fraquezas do imperialismo norte-americano no Iraque e na região, eles tornaram mais provável uma guerra agressiva por parte dos EUA.

EUA humilhados no Iraque

A mais recente escalada de Trump segue-se a uma experiência humilhante em Bagdade, no último dia de 2019. Um desfile fúnebre desarmado de milhares de pessoas passou sem oposição por postos de guarda, barreiras e postos de controle no complexo da embaixada dos EUA mais altamente seguro do mundo.

As forças de segurança do governo iraquiano não fizeram nada para impedir que membros da milícia e seus líderes entrassem na Zona Verde, onde a embaixada dos EUA está localizada.

Esta acção ousada ocorreu após um funeral em massa de membros de unidades da Milícia Popular mortos num atentado cometido pelos EUA. Isto expôs a vulnerabilidade dos ocupantes norte-americanos, e enviou uma mensagem clara: nenhuma base dos EUA no Iraque é segura.

As próprias forças iraquianas em que os EUA confiam, na embaixada mais fortemente fortificada do mundo, abriram as portas à multidão. Claramente, os EUA não têm aliados. Até as forças iraquianas que colaboraram com a ocupação alinharam agora contra os EUA.

Desde então, a escalada dos EUA incluiu a chegada bem divulgada de tropas americanas da 82.ª Divisão Aerotransportada no Kuwait, tropas frequentemente usadas para evacuar cidadãos americanos. Milhares de outras tropas estão a caminho, antecipando uma guerra mais ampla.

O papel do imperialismo dos EUA é destrutivo em todo o mundo. Em nenhum lugar ele foi mais destrutivo nas últimas décadas do que nos países da região do oeste da Ásia ao norte da África, designado como Oriente Médio.

No momento em que os EUA desencadeiam uma crise, é importante avaliar a sua posição, a sua força e as suas alianças, e avaliar o desenvolvimento da movimentação dos povos de toda a região pela soberania.

Zona Verde: uma coutada dos EUA

A Zona Verde é uma bolsa de segurança criada pelos EUA, uma colónia independente que ocupa 10 quilómetros quadrados do centro de Bagdad, cercada por muros de betão e por arame farpado, fortificada com sacos de areia, holofotes e postos de controle.

A embaixada dos EUA, na Zona Verde, ocupa mais de 40 hectares de propriedades imobiliárias de primeira linha. É do tamanho da Cidade do Vaticano. Seis vezes maior que a sede das Nações Unidas em Nova Iorque, é a maior embaixada do mundo.

O facto de as forças de segurança iraquianas mais altamente treinadas, supostamente confiáveis para proteger os interesses dos EUA, não terem feito nenhum esforço para travar os manifestantes quando eles marcharam para a Zona Verde, fortemente fortificada, é um desenvolvimento impressionante que envia uma mensagem sobre a segurança de todas as bases dos EUA no Iraque.

A ocupação da Zona Verde não foi um evento isolado ou excepcional. Pelo contrário, foi a terceira vez nos últimos meses de 2019 que o poder dos EUA foi desafiado com sucesso de maneiras inteiramente novas e criativas — e numa região que tem sido brutalmente dominada, ocupada e intencionalmente empobrecida pelas forças dos EUA durante décadas.

A escala destas humilhações pode ser mais bem apreciada quando comparada com as grandiosas promessas de cinco presidentes consecutivos dos EUA e cerca de 30 anos de sanções, bombardeios e ocupações fracassadas dos EUA que torturaram esta região de vasta riqueza.

Forças populares em movimento

O governo iraquiano está enfraquecido e dividido por meses de protestos populares que assolaram Bagdade e o sul do Iraque desde o início de Outubro.

A repressão das manifestações — que reclamam serviços básicos, oportunidades de emprego e o fim da corrupção — resultaram em pelo menos 470 mortos e mais de 20.000 feridos. Os protestos contínuos resultaram na exigência de uma revisão completa do sistema político corrupto e sectário estabelecido sob a ocupação dos EUA.

Nas últimas semanas, uma série de ataques com rockets atingiu instalações militares no Iraque, onde o pessoal dos EUA está estacionado. A ocupação popular da Praça Tahrir, também conhecida como Praça da Libertação, estava em curso durante o ataque à embaixada dos EUA.

Estratégia dos EUA: manter a região dividida

O ódio popular explodiu depois de as as tropas norte-americanas terem bombardeado as Forças de Mobilização Popular, que são oficialmente parte das Forças de Segurança do Iraque. O ataque dos EUA em 29 de Dezembro matou 32 e feriu 55 pessoas que foram homenageadas como combatentes da linha da frente contra o grupo Estado Islâmico (EI).

Os EUA disseram que lançaram esta ofensiva em represália a um ataque de rockets ocorrido em 27 de Dezembro perto de Kirkuk, que matou um “contratado” dos EUA (na verdade, um mercenário). Mas o alvo escolhido pelos militares dos EUA para a represália situa-se a centenas de quilómetros do local onde o mercenário dos EUA morreu.

A área bombardeada foi a única passagem de fronteira controlada pelas forças iraquianas e sírias, não pelos EUA. Essa passagem tinha sido aberta com grande comemoração depois de estar nas mãos do EI durante cinco anos. Em Setembro passado, Israel bombardeou as forças sírias que tentavam abrir essa passagem de estradas crucial.

A abertura deste posto na fronteira Síria-Iraque significou que, pela primeira vez em 30 anos, o comércio, as viagens e as trocas entre Afeganistão, Irão, Iraque, Síria e Líbano puderam decorrer sem estar sob controlo dos EUA.

A estratégia dos EUA durante décadas concentrou-se na procura de manter toda esta região dividida, dependente e em guerra. Síria, Iraque e Irão eram postos uns contra os outros, pois a política dos EUA inflamava diferenças sectárias, étnicas e religiosas.

Todos esses países estão sujeitos a fortes sanções dos EUA, portanto, abrir a sua capacidade de negociar uns com os outros é um grande passo em frente para salvar vidas. Restabelecer novamente ligações nesta região destruída é um objectivo daqueles que se opõem aos esforços dos EUA para recolonizar a zona. Ao bombardear essa passagem de fronteira, os EUA confirmaram que a sua estratégia é dividir a região pela força.

Estratégia dos EUA contra Irão, Iraque, Síria e Afeganistão

Desde a revolução iraniana de 1979, os EUA tentam esmagar o Irão com sanções. Também apertou as sanções contra o Iraque em Agosto de 1990, seguidas, um ano depois, por uma campanha maciça de bombardeios, e mais sanções que levaram à morte de meio milhão de crianças iraquianas.

Em 2003, os EUA invadiram e ocuparam o Iraque, destruindo seu tecido social e cultural. Mais de um milhão de tropas norte-americanas passaram pelo Iraque — mas não conseguiram subjugar a resistência.

As sanções dos EUA contra a Síria começaram na mesma altura em que os EUA invadiram o Iraque em 2003. Tornaram-se muito mais severas em 2011, num esforço máximo para derrubar o governo sírio. Washington e os seus aliados armaram e forneceram dezenas de milhares de forças mercenárias estrangeiras e, em seguida, forneceram apoio indirecto aos terroristas do EI criados pela Arábia Saudita. O EI tornou-se o novo pretexto para os militares dos EUA bombardearem a Síria e enviarem tropas para o Iraque como “instrutores”.

No Afeganistão, 18 anos de ocupação pelos EUA trouxeram apenas ruínas e divisão sectária.

Quase todas as correntes políticas no Iraque, Síria e Afeganistão, mesmo aquelas que colaboraram com Washington, acabaram por odiar a duplicidade e a arrogância racista do domínio dos EUA.

A única resposta do Pentágono para a crescente resistência em todas as frentes é mais guerra e sanções ainda mais severas.

De acordo com o Washington Post de 4 de Janeiro, os EUA têm cerca de 6.000 soldados no Iraque, e uma brigada de 3.500 soldados aerotransportados está a caminho. Existem mais de 14.000 soldados dos EUA / NATO no Afeganistão. No sudoeste da Ásia, do Afeganistão ao Mediterrâneo, há um total de 70.000 militares dos EUA. Existem também dezenas de milhares de contratados e mercenários no Iraque e no Afeganistão.

O envio de milhares de tropas adicionais não mudará a incapacidade dos EUA de ocupar e controlar um país, mas aumentará tanto a destruição como a resistência.

Culpar o Irão pelos fracassos dos EUA

É política dos EUA culpar o Irão por todos os fracassos e todas as formas de resistência que se levantam na região. O Irão, embora severamente sancionado e cercado, é o único país que escapou à ocupação directa dos EUA e à destruição maciça.

A decisão do governo Trump de cancelar unilateralmente um acordo juridicamente vinculativo, assinado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e pela Alemanha, para pôr fim às sanções ao Irão, aumentou as tensões na região. Novas sanções dos EUA impostas ao Irão são um esforço para desestabilizar o país com hiperinflação e escassez de bens.

Irão, China e Rússia iniciam exercícios navais conjuntos

Mas o Irão enviou a sua própria mensagem quando as ameaças dos EUA aumentarm com a crise no Iraque. Foi uma mensagem de que o mundo inteiro tomou nota.

Um quinto do petróleo do mundo passa pelo Estreito de Ormuz, que se faz ligação ao Golfo de Omã. Em 27 de Dezembro, Irão, a China e a Rússia iniciaram quatro dias de exercícios navais conjuntos no Oceano Índico e no Golfo de Omã.

Este treino naval conjunto mostrou a determinação de oferecer alguma protecção a uma região que foi abertamente saqueada pelos piratas imperialistas modernos. Novos acordos comerciais e fundos para a reconstrução das economias alvo de sanções e devastadas pela guerra estão nos planos do Irão, da China e da Rússia. Já não estamos num mundo unipolar.

Armas americanas caras e de pouca utilidade

Em 14 de Setembro de 2019, os ataques à gigante de energia Aramco, na Arábia Saudita, na sua principal instalação de refinação de petróleo e de processamento de gás — em Abqaiq, perto do campo de petróleo de Khurais — reduziram temporariamente a metade a produção de petróleo da Arábia Saudita. Os rebeldes Houthis do Iémen reclamaram a responsabilidade pelo ataque. Mas Washington e a Arábia Saudita apontaram o dedo a Teerão — uma acusação que o Irão negou veementemente.

As compras sauditas de mais de 67 mil milhões de dólares em armas norte-americanas, incluindo os famosos mísseis Patriot, falharam em alertar ou impedir o ataque. A Arábia Saudita tem o terceiro maior gasto militar do mundo. A incapacidade de proteger as suas mais importantes instalações de petróleo disparou alarmes. Os mísseis Patriot dos EUA podem ser tigres de papel.

Armas de voo a baixa altitude e de baixo custo são uma nova ameaça para as defesas sauditas, projectadas para mísseis de alta altitude.

2020: uma nova década

A resistência inabalável e um ódio permanente ao imperialismo dos EUA são uma força material agora profundamente enraizada nos movimentos populares em toda a região. Estes movimentos estão a encontrar maneiras criativas e de baixa tecnologia de resistir ao todo-poderoso monólito americano. E também estão a desenvolver novas alianças que podem permitir a reconstrução dos seus países.

Sim, a máquina militar e o poder empresarial dos EUA continuam a ser ameaças maciças para muitos países e um enorme desperdício de recursos. O perigo de uma guerra em larga escala dos EUA contra o Irão e o Iraque — enquanto prosseguem as guerras na Síria, no Afeganistão e no Iémen — é real. E isso implica o risco de uma guerra global que coloca em perigo todos nós. Mas, ao mesmo tempo, os acontecimentos mostram que a dominação dos EUA enfrenta um desafio fundamental em 2020.

Todas as vozes e a maior unidade são necessárias para exigir a retirada dos EUA, o fim das guerras e o regresso a casa de todas as tropas dos EUA!
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(*) Artigo publicado em Workers World, 7 Janeiro 2020. Tradução Mudar de Vida