Em princípios do ano de 1917, na Rússia depauperada pela participação na
Grande Guerra, crescia o ódio popular contra as classes dominantes. O Partido
Bolchevique, declarado ilegal pelo Czar, era o único a se posicionar
abertamente contra a guerra de rapina promovida pelas potências imperialistas.
Com palavras de ordem acessíveis ao povo, um programa político radical e
preciso, denúncias firmes contra a guerra odiosa e a exploração burguesa, os
bolcheviques atraíam cada vez mais a classe operária e o campesinato para a
luta organizada. O vulcão da revolução estava prestes a explodir.
O descontentamento generalizado das massas seria responsável pela eclosão
de mais de 1.300 greves no mês de Fevereiro, nas quais tomaram parte cerca de
670 mil trabalhadores. Em 23 de Fevereiro (8 de Março no calendário actual), o
Dia da Mulher Trabalhadora transformou-se numa grande jornada de protestos. As
greves e manifestações evoluíram para uma revolta armada em 26 de Fevereiro. Em
todo o país, Sovietes de Deputados dos Operários e Soldados assumiam o poder.
Em Petrogrado, o Soviete era dirigido pelos mencheviques e socialistas
revolucionários (SRs), grupos reformistas vacilantes, pois os bolcheviques se
concentraram nas tarefas da luta revolucionária e muitos de seus dirigentes
estavam presos ou exilados.
Em 27 de Fevereiro, a autocracia era derrubada: um grupo de deputados da
Duma instalou um Comité Provisório, que não quis assumir o poder nem romper com
a monarquia. A fúria da massa contra estas vacilações obrigou a que, em 2 de
março, fosse instalado o Governo Provisório. Este, entretanto, era liderado por
um membro da aristocracia russa, o príncipe Lvov, e basicamente formado por
representantes da burguesia e dos latifundiários. Estava concluída apenas a
primeira etapa do processo revolucionário.
Em 03 de Abril (16 de Abril no calendário ocidental), à meia-noite, um trem
blindado repleto de revolucionários bolcheviques que havia partido da Suíça,
onde estavam exilados, e atravessado o território alemão, chegou em Petrogrado,
na Estação Finlândia. Uma massa de operários e soldados aguardava pela chegada
de Lenine, que discursou defendendo ser necessário avançar para a segunda etapa
da revolução, quando então o poder teria de ser tomado pelos proletários e
pelas camadas mais pobres do campesinato.
No dia seguinte, Lenine reuniu-se com os bolcheviques que eram delegados à
Conferência do Soviete de Deputados Operários e Soldados de Toda a Rússia,
apresentando-lhes suas propostas, que ficaram conhecidas como as Teses de Abril.
Lenin fazia uma análise da conjuntura e definia os objectivos da revolução,
através de dez pontos que criticavam a fase burguesa da revolução, negando
apoio ao governo provisório e propondo a ruptura socialista, sob o lema “Todo o
Poder aos Sovietes!”. Nelas incluíam-se bandeiras de luta como a supressão da
polícia, do exército e da burocracia estatal a serviço do capital, o confisco
das grandes propriedades rurais, a nacionalização da terra, a criação de um
banco nacional único, o controle da produção social e da distribuição dos
produtos pelos Sovietes.
Nos meses seguintes, o povo continuou mobilizado. Os trabalhadores não se
sentiam representados no governo, e novas greves explodiram, acompanhadas de
ocupações de fábricas e organização de comités de autogestão das mesmas. Muitos
camponeses passaram a se apropriar das terras desocupadas, apoderando-se também
do material agrícola e do gado arrendado. Eram formados comités nas aldeias,
que reavaliavam as taxas de alugueis, definiam o uso das pastagens, etc. Os
grandes proprietários reagiam, exigindo do governo medidas contra a “anarquia”
e interrompendo as semeaduras, uma espécie de locaute rural. Alastrava-se pela
Rússia a palavra de ordem “Todo Poder aos Sovietes!”.

Com sua prisão decretada, Lenine se viu forçado a partir para a
clandestinidade. Classificando esta fase como o fim da evolução pacífica da
revolução, orientou o Partido a priorizar o trabalho de conquista da hegemonia
no interior dos Sovietes, dominado pelos traidores, ao mesmo tempo em que se
deviam adoptar novas formas de luta, prevendo que os combates armados seriam
inevitáveis: “Ou a vitória da ditadura militar ou a vitória do movimento
operário armado”.
Em torno do general Kornilov passaram a se reunir as forças mais
reaccionárias, que desejavam dispor de pleno poderes no exército e impor uma
ditadura militar no país em Agosto. Mas uma greve de protesto que mobilizou 400
mil operários frustrou os planos do golpe. Os bolcheviques foram os grandes
responsáveis pela derrota de Kornilov: o Partido foi prontamente atendido no
seu apelo aos operários e soldados para que assumissem a defesa da revolução, ao
mesmo tempo em que desmascaravam a postura oportunista de Kerenski, que
desejava ver os bolcheviques destruídos. Tanto no centro como nas províncias,
pelo contrário, os bolcheviques conquistavam posições decisivas no meio do
proletariado. Este foi o momento de maior importância na fase de preparação da
revolução socialista.
Sob a direcção de Lenine, os bolcheviques organizaram em toda a Rússia a
preparação metódica da revolução. Em vários pontos do país realizavam-se
reuniões e congressos dos Sovietes, que, um após outro, aprovavam a proposta de
passagem de todo o poder aos Sovietes, elegendo para suas direcções quadros
bolcheviques. Nas unidades militares, fábricas e usinas, realizavam-se comícios
gigantescos. Mesmo com as ordens do Governo para prisão dos bolcheviques,
confinamento e julgamento dos membros do Comité Militar Revolucionário, além do
desmonte das pontes de comunicação dos bairros proletários com o Soviete de
Petrogrado, na noite de 24 de Outubro, Lenine chegava ao Instituto Smolni, onde
se instalara o Estado-maior da insurreição.
Na madrugada, tropas do Comité Militar Revolucionário ocupavam estações de
trem, as pontes do Rio Neva, o Banco do Governo, as emissoras de rádio e as
redacções dos jornais centrais. O cruzador Aurora apontava seus canhões para o
Palácio de Inverno, sede do Governo Provisório. Na manhã de 25 de Outubro (07
de Novembro em nosso calendário), o Comité Militar do Soviete de Petrogrado
divulgava mensagem escrita por Lenine aos cidadãos da Rússia em que se
anunciava a passagem do poder aos Sovietes. À tarde foi aberta a histórica
Reunião Extraordinária do Soviete, na qual Lenine discursou, saudando a vitória
da Revolução Socialista. À noite, as unidades revolucionárias tomaram de
assalto o Palácio de Inverno, último baluarte do governo burguês.
No poder, os bolcheviques mantiveram as unidades do Exército Vermelho
ligadas à classe operária e aos camponeses, democratizaram a justiça,
transformaram a polícia em instrumento de defesa diária da segurança da
população, implantaram a eleição e o mandato revogável dos funcionários
públicos, garantiram a participação dos sindicatos e dos sovietes na criação de
organismos económicos, na elaboração dos planos de produção e na gestão
industrial, suprimiram as desigualdades sociais e socializaram os meios de
produção, colocando-os a serviço dos interesses e necessidades da maioria.
Houve ainda um esforço gigantesco para superação de condições seculares de
atraso impostas pelos regimes anteriores. Os comunistas foram responsáveis pela
realização de uma verdadeira revolução cultural, com a extinção do
analfabetismo e a construção da educação pública universal em todos os níveis,
iniciativas associadas às medidas voltadas à formação de uma nova e superior
estrutura social.
A Revolução Bolchevique mudou o mundo. Foi o mais importante evento
histórico do século XX, uma experiência ímpar de democracia popular radical.
Mesmo que, posteriormente, esta experiência tenha sofrido revezes em
decorrência de inúmeros factores, há que se destacar sempre que a vitória da
Revolução de Outubro de 1917 deu início a um processo de mudanças económicas e
sociais profundas que serviram de exemplo para os trabalhadores e as
trabalhadoras em todo o mundo, estimulando, até hoje, as lutas anticapitalistas
e a mobilização dos povos por sua libertação no rumo do poder popular e do
socialismo.
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