Por:Pedro Goulart
Segundo dados da UNICEF, seis milhões de crianças
continuam a morrer no mundo todos os anos devido a causas que são evitáveis.
Apesar dos progressos alcançados nas últimas décadas — há 15 anos havia quase o
dobro das crianças hoje nesta situação — a UNICEF recorda que as crianças dos
agregados familiares mais pobres têm duas vezes mais probabilidades de morrer
antes dos cinco anos do que as crianças dos meios mais ricos. E a verdade é que
doenças infecciosas, diarreia, desidratação mortal e subnutrição crónica,
causas de morte da maior parte destas crianças, seriam tratáveis a custos
relativamente baixos.
Mas,
analisando a questão mais globalmente, e se evitada a morte destes seis milhões
de crianças anualmente, a verdade é que também seria necessário alimentar,
educar e empregar mais uns quantos milhões de seres humanos todos os anos
poupados a este genocídio. Ora, o sistema capitalista, que domina à escala
mundial e cujo objectivo central é a obtenção do lucro máximo e a acumulação de
capital, é um sistema que constrói grandes hotéis de luxo, carros e iates de
milhões, sofisticado armamento, além de possibilitar o voo em poderosas naves
espaciais. Mas, ao mesmo tempo, é também um sistema que não se mostra capaz de
resolver pequenos problemas de saúde e de vida de milhões de crianças, assim
como de muitas outras centenas de milhões de seres humanos. Assim, seria de
esperar que um tal sistema fosse capaz de resolver os grandes problemas da
Humanidade?
Mais,
a UNICEF afirma que são quase 385 milhões as crianças a viver em situação de
pobreza extrema e mais de 250 milhões de crianças em idade escolar não estão a
frequentar a escola ou a aprender. E acrescenta: “Os direitos das crianças
encurraladas em zonas sob cerco — nomeadamente na Síria, no Iraque, no norte da
Nigéria — estão ainda mais ameaçados, pois as suas escolas, hospitais e casas
têm sido alvo de ataques. A directora executiva da UNICEF Portugal sublinha que
os conflitos, as crises e a pobreza extrema estão “a colocar a vida e o futuro
de milhões de crianças em risco”. O que o relatório não diz (ou até sugere
soluções enviesadas) é que as guerras que refere responsáveis por algumas
destas situações, geralmente foram promovidas e alimentadas pelos países
imperialistas, tal como EUA, França, Reino Unido e Alemanha.
Em
Portugal, a UNICEF reconhece os progressos alcançados desde a década de 1990,
com especial destaque para a redução da mortalidade infantil. E acrescenta:
“outros problemas agravaram-se ou persistem nos últimos anos, como a pobreza
infantil, que afecta perto de um quarto das crianças em Portugal”. Refere ainda
a UNICEF Portugal que estes são problemas altamente preocupantes e que exigem
políticas e medidas concretas — sabendo-se que “a pobreza e as privações na
infância, na esmagadora maioria dos casos, condicionam não apenas o presente
das crianças mas também o seu futuro e o futuro da sociedade”. Certamente que,
também neste campo, nos tempos da troika e do seu governo PSD/CDS, o
agravamento verificado nas desigualdades, e apesar do relatório da UNICEF não o
dizer, também se deve ter traduzido numa influência negativa no evoluir da
situação portuguesa.
Sendo
meritória a denúncia e altamente preocupantes os dados revelados pela UNICEF
Portugal, assim como fortemente condenáveis os responsáveis por esta
intolerável situação, o relatório da UNICEF limita-se a referir particularmente
as consequências do actual sistema mundial, mas nada aprofunda (não pode, dada
a estrutura e a dependência destas organizações, assim como a natureza de
classe dos seus dirigentes) sobre as causas fundamentais do descrito: a ordem
mundial do sistema capitalista e o imperialismo são efectivamente os grandes
responsáveis pelo que acontece neste campo, dadas a opressão e a exploração que
exercem sobre os trabalhadores e os povos.
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