Nos últimos anos o ensino superior nas universidades austríacas vem se deteriorando. As verbas destinadas à educação pública são insuficientes. Faltam professores, salas de aula e infra-estrutura em geral. Em vez de resolver os problemas, o Estado impõe uma reforma universitária, para restringir cada vez mais o acesso às universidades, estabelecendo o pagamento de mensalidades e, em vários cursos, provas eliminatórias. Além disso, quer também reduzir o número de vagas para certos cursos. Com o começo do novo semestre no inicio de Outubro de 2009, a situação se agravou ainda mais.
Descontentes com essa situação, cerca de 400 estudantes se mobilizaram e realizaram protestos e uma passeata em frente à Universidade de Viena para denunciar as deficiências das atuais condições de ensino. No
decorrer dos protestos, centenas de estudantes aderiram ao movimento que teve como desfecho a ocupação do auditório principal, o Audi Max. Os organizadores da passeata fizeram ali um breve discurso para esclarecer aos estudantes presentes – a ocupação aconteceu durante uma aula - o objetivo da manifestação e as principais reivindicações definidas até então. De imediato, muitos estudantes decidiram se juntar aos manifestantes. A aula foi dada como encerrada e a partir de então se deu inicio ao que os estudantes batizaram como o Movimento Universidade em Chamas.
Nos dias que se seguiram o “Audi Max” tornou-se o quartel general do movimento. Mais mil estudantes aprofundaram a discussão sobre as reivindicações e começaram a decidir em conjunto sobre as próximas ações. Diante da necessidade de se organizar melhor, vários grupos de trabalho foram criados. As propostas são apresentadas e votadas nas plenárias que acontecem diariamente no auditório. Algumas salas de aula foram adaptadas para servir como dormitórios à noite. Além disso, uma cozinha popular coletiva foi instalada pelos estudantes.
Sob o lema “Nossa Universidade - A Universidade em Chamas”, os protestos se espalharam rapidamente pelo país inteiro. Outras universidades nas principais cidades da Áustria foram ocupadas nos dias seguintes. Grandes passeatas foram organizada em Viena com 50.000 participantes no dia 28 de Outubro e 20.000 no dia 5 de Novembro.
As principais reivindicações dos estudantes são:
Organização democrática das universidades, com professores, estudantes e funcionários participaram de forma igualitária dos processos de decisão e com liberdade de definir o ensino, a pesquisa, a ciência e a arte em cada universidade
Transparência maior em relação às finanças das universidades
Educação pública e gratuita para todos e livre das imposições econômicas de capitalistas e grandes empresas
Melhoria das condições de estudo para os estudantes universitários e das condições de trabalho para os professores e funcionários, para que a qualidade e a continuidade na pesquisa e no ensino estejam asseguradas
Como os professores e funcionários das universidades se encontram muitas vezes em relações de trabalho precárias (dependendo, por exemplo, de contratos que precisam de uma renovação anual), vários deles passaram a apoiar o movimento dos estudantes. Além disso, algumas organizações dos estudantes secundaristas e alguns sindicatos participaram das passeatas. Isso fez com que os protestos tivessem um caráter amplo, apoiado por diferentes setores da sociedade.
Otto Bruckner, trabalhador e dirigente da Iniciativa Comunista, organização que apóia o movimento estudantil, explicou em entrevista a A Verdade o objetivo do moviemnto: "Não queremos universidades nas quais somente as elites se reproduzem. Os filhos dos trabalhadores também têm o direito a uma educação de qualidade e a um estudo sem restrições de acesso e sem barreiras. Queremos uma sociedade livre! Queremos que os jovens possam estudar para se desenvolver e não para funcionar!"
Hoje, funcionam em todo o País mais de 150 grupos de trabalho com diferentes temas. Uma parte deles se dedica também a divulgar as ações de luta dos estudantes. Além de vários panfletos, os estudantes publicam um jornal semanal e mantêm várias páginas na internet.
Através da comunicação digital, os protestos se tornaram também rapidamente conhecidos a nível internacional. Os próprios estudantes colocam todos os desenvolvimentos mais recentes na internet e ainda traduzem as matérias em vários idiomas. Desde o começo, a interação internacional foi um fator importante para o movimento, até porque a luta dos estudantes não se restringe apenas ao governo austríaco, mas uma política desenvolvida a nível europeu através do “Processo de Bologna” que tem como objetivo transformar as universidades, passo a passo, em empresas que funcionam dentro da lógica da economia de mercado. Encorajados pelo forte movimento na Áustria, estudantes em outros países europeus começaram a se solidarizar e aderiram também à luta. Especialmente na Alemanha, várias universidades estão hoje ocupadas e/ou em greve. O total das universidades ocupadas já soma mais que 70.
Katharina Kirsch-Soriano da Silva, de Viena, Áustria
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