20 de Nov de 2025
Por que a Venezuela é uma ameaça estratégica para os Estados Unidos?
A verdadeira arma secreta da nação.
Patro Anaya (União Proletária).
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Conhecida mundialmente por suas colossal riquezas naturais, a Venezuela é muito mais do que um butim para o saque imperial. É um país costeiro no norte da América do Sul, com um território que duplica o da Espanha e uma população de cerca de 29 milhões de habitantes, posicionando-se entre as dez nações com maior biodiversidade do planeta.
Sua riqueza material é bem conhecida e constitui um objetivo cobiçado:
- Energia: Possui as maiores reservas de petróleo do mundo e vastas reservas de gás natural.
- Minerais Preciosos e Estratégicos: Conta com importantes jazidas de ouro, diamantes e coltão, além de ser rica em ferro, bauxita, níquel, cobre e elementos de terras raras.
- Recursos Vitais: Abriga uma das maiores bacias de água doce do continente e uma imensa variedade de recursos não metálicos.
Diante deste inventário, surge a pergunta:É apenas o saque desses recursos que motiva a agressividade militar dos imperialistas estadunidenses?
A resposta transcende o material. Existe um ativo estratégico, tão potente quanto invisível para o mundo, que representa uma ameaça existencial para a ordem capitalista:a organização soberana do povo trabalhador venezuelano em Comunas.
No contexto de uma Terceira Guerra Mundial não declarada, impulsionada por um imperialismo em crise, a Revolução Bolivariana se prepara para cumprir o mandato testamentário do Comandante Hugo Chávez: “Independência ou nada, comuna ou nada”. Este não é um lema retórico; é a concretização de um poder popular alternativo.
A Comuna socialista é o baluarte que garante a liberdade e prosperidade da Venezuela. É esta capacidade de autogoverno, de resistência desde a base e de construção de um modelo social alternativo que faz tremer as elites globais. Os Estados Unidos não buscam apenas seus recursos; precisam aniquilar o exemplo de que um povo organizado pode ser dono do seu próprio destino, porque esse é um vírus ideológico que não podem controlar.
.Comuna ou nada!
Esta consigna sintetiza um projeto de organização popular. Em sua intervenção de 20 de outubro de 2012, Chávez colocou a necessidade de tecer uma rede de novo tipo que cobrisse o território, alertando que, caso contrário, o projeto seria absorvido pelo sistema anterior, que comparou a uma «gigantesca ameba» ou a um «monstro»: o capitalismo. (1)
O modelo comunal finca suas raízes na heroica Comuna de Paris de 1871, gestada como resposta à traição da burguesia e reconhecida como o primeiro governo operário da história. Este legado foi posteriormente desenvolvido e ampliado pelos sovietes ou conselhos na Rússia, órgãos de base que fundiam as funções legislativa e executiva, com representantes revogáveis e sujeitos a mandato imperativo.
Mesmo antes de tudo isso, a rebelião comunera de El Socorro de 1781 nos Andes colombo-venezuelanos proclamou a «União dos oprimidos contra os opressores». (2)
Após o falecimento do Comandante Chávez, a Venezuela enfrentou uma escalada de agressões externas, com sanções lideradas pelos Estados Unidos em apoio à contrarrevolução interna. Estas tentativas fracassaram graças à base de organização popular previamente construída, à sabedoria de um povo mobilizado e à liderança do Presidente Nicolás Maduro na continuidade do legado bolivariano.
A experiência venezuelana demonstrou que o sucesso na superação da pobreza não reside nos programas de organismos como o FMI ou o Banco Mundial, mas no fortalecimento da soberania nacional e na orientação social da economia. (3) Por outras palavras, durante os últimos 25 anos, este projeto revolucionário tornou-se a expressão da vontade política do poder centralizado e do entusiasmo das comunas populares em benefício da maioria da sociedade venezuelana.
.Comuna? O que é e como se forma?
A Comuna na Venezuela representa a célula fundamental de um novo modelo de organização social, política e económica. Surge como um modelo de organização social e territorial que promove uma prática coletiva. É a materialização de um projeto de poder popular que busca transformar a estrutura do Estado desde a base.
.Origens e Evolução
O processo começa em 2003 com a promoção de formas de práxis coletiva como cooperativas, Empresas de Propriedade Social e fábricas sob controlo operário. O impulso oficial para as comunas ocorre em dezembro de 2008, fundindo recursos materiais com uma firme vontade política para impulsionar uma economia alternativa.
A Comuna é definida como uma unidade de governo local com dimensão territorial, que nasce da união concertada de vários Conselhos Comunitários após um estudo detalhado do seu espaço geográfico e social. Funciona como um órgão de poder baseado na busca de soluções coletivas. (4)
O seu objetivo vai além de satisfazer necessidades materiais imediatas; propõe-se a reduzir os défices históricos da nação, sanar desigualdades sociais e incluir setores tradicionalmente marginalizados, avançando assim para a construção de um novo modelo social. (2)
.Enquadramento Legal e Institucional
O Estado tem impulsionado este processo através de ferramentas legais e institucionais, entre as quais estão:
- 25 de abril de 2019: É fundada a Universidade Bolivariana das Comunas (Diário Oficial No. 6.453), para a formação teórica e prática dos comunheiros.
- Em 30 de dezembro de 2024, foi decretada a Lei de reforma da Lei Orgânica das Comunas (Diário Oficial Extraordinário No. 6.872), que consolida o seu quadro jurídico e imprime a sua fisionomia atual. Nela, amplia-se a democracia, na medida em que estabelece que é a Assembleia de Cidadãos e Cidadãs a detentora de a faculdade de decidir. (5)
.Estrutura e Funcionamento: O Governo da Comuna
A lei estabelece o conceito de Governo da Comuna, que sintetiza as formas organizativas, de administração e de articulação no espaço territorial, onde esta tem assento. (6)
A sua estrutura compõe-se de:
- Parlamento da Comuna (Instância legislativa)
- Conselho Executivo da Comuna
- Conselho de Controladoria (Fiscal) da Comuna
- Conselho de Justiça de Paz da Comuna
- Comissão Eleitoral da Comuna
- Banco da Comuna
Este Governo é responsável por planear, administrar e executar a gestão comunal, atuando como ponte com o Estado para a realização de políticas públicas.
Deste modo, quando a comunidade aprova um projeto e este recebe fundos estatais, o Banco Comunal encarrega-se da sua administração, materializando-se assim a democracia participativa.
É o próprio povo que se organiza, decide de forma planeada, democrática e consensual, como administrar os recursos dados pelo Estado Venezuelano, em prol do benefício de todos os cidadãos da Comuna. Todos os trabalhadores participam na vida política da sua Comuna.
.Democracia Participativa
A base deste sistema é aAssembleia de Cidadãos e Cidadãs, instância máxima de decisão onde a comunidade discute e vota os projetos. Aqui reside a essência da democracia direta: a comunidade discute, modifica e vota os projetos.
Os representantes estão sujeitos a um mandato imperativoe são revogáveis, o que os obriga a agir em estrito cumprimento das decisões assembleárias, em contraste com o mandato representativo do parlamentarismo burguês. Pelo que representa um avanço importantíssimo, no que diz respeito à participação democrática social. (7)
.Gestão Económica e Produtiva e Defesa Nacional
Como instituição financeira de carácter social, o Banco Comunal encarrega-se da Organização económico-financeira de carácter social que gere, administra, transfere, financia, facilita, capta e controla, de acordo com as diretrizes estabelecidas no Plano da Pátria Comunal, os recursos financeiros e não financeiros de âmbito comunal, retornáveis e não retornáveis, impulsionando as políticas económicas com a participação democrática e protagónica do povo, sob um enfoque social, político, económico e cultural para a construção do modelo produtivo socialista. (8)
Apoia iniciativas produtivas e fortalece a economia local através de um mecanismo de prestação de contas em assembleias periódicas, assegurando que os projetos se alinhem com as necessidades reais da comunidade.
O Conselho Executivo, como vanguarda organizativa, estrutura-se em comissões (Planeamento, Economia, Segurança e Paz, etc.) para sustentar as diversas atividades produtivas e administrativas.
Esta autonomia comunitária, sustentada na prática assembleária, constitui uma rutura com a lógica capitalista da produção, que prioriza o lucro privado num quadro de anarquia mercantil. Pelo contrário, o modelo comunal orienta-se para aobtenção de benefícios sociais através de uma economia democraticamente planeada.
E constitui uma formidável barreira contra as agressões internas como golpes de Estado com governos fantoches, e contra as agressões externas e imperialistas. Como advertiu o comandante Chávez, era necessário tecer uma «gigantesca teia de aranha» do novo para não sermos absorvidos pelo velho sistema. Uma rede de comunas com autonomia própria e uma população consciente e organizada representa um desafio estratégico para o imperialismo, já que um povo que é dono do seu destino defende com convicção o seu projeto.
.Um Projeto Civilizacional
Com quase 50.000 conselhos comunais registrados, que se agregam em Circuitos Comunais e Comunas, este modelo representa um avanço significativo na participação democrática. A união voluntária das comunas a nível nacional não é federalismo nem centralismo burocrático, mas uma forma de centralismo democrático onde o povo organizado decide, planeja e administra seus recursos em benefício coletivo, eliminando intermediários e construindo uma base territorial, social e política alternativa.
Ou seja, A Comuna se constrói como ente revolucionário, como base territorial, social, política e como moral proletária, anulando o capital financeiro e os intermediários, para assim eliminar o endividamento prévio para satisfazer suas necessidades de comunidade.
.Últimas considerações:
O imperialismo contemporâneo, agoniado por suas próprias contradições internas que o aproximam perigosamente de um cenário de conflito global (Terceira Guerra Mundial), não conseguiu digerir a perda de influência sobre grande parte da América Latina. E, como resposta, lançou uma contraofensiva de caráter abertamente recolonizador.
A Venezuela se encontra no olho deste furacão. O cerco por parte do imperialismo estadunidense e europeu se intensificou de maneira sistemática através de um bloqueio econômico asfixiante, autêntica medida de castigo coletivo contra a população, e que hoje escala para a ameaça de uma intervenção militar direta.
Esta agressão multifacetada impactou severamente a economia nacional, gerando escassez de alimentos e dificuldades para satisfazer as necessidades materiais básicas. Precisamente, esta pressão externa acelerou a necessidade de fortalecer a Associação Comunal, convertida em um mecanismo vital de defesa e auto-subsistência do povo.
Neste contexto, a Comuna não é um mero instrumento administrativo; não é um órgão de dominação e de opressão de uma classe por outra, mas sim é um órgão de aliança de classes populares e a semente de um novo tipo de Estado. Representa a destruição do Estado capitalista como instrumento de ditadura burguesa e sua substituição pelo proletariado organizando-se a si mesmo no económico, jurídico e social, junto ao resto do povo. Por isso, é tão perigoso que se divulgue internacionalmente e que seja tomado como modelo pelas populações dos países capitalistas.
Qualquer tentativa de intervenção militar se chocará contra a férrea determinação de um povo que se sente soberano de sua pátria.
Diante deste cenário, resulta estratégico e premente impulsionar um processo de construção comunal que, partindo da base, se nutra e dialogue permanentemente com a orientação e o conhecimento científico que provê a direção revolucionária, criando um processo dialético onde a práxis popular e a orientação científica da vanguarda se retroalimentam de maneira indispensável.
Embora seu desenvolvimento não tenha estado isento de desafios e não tenha alcançado a extensão desejada, é a construção, a partir do povo trabalhador, de um modelo onde a propriedade social demonstra sua viabilidade frente à hegemonia da propriedade privada, iluminando cientificamente um caminho de emancipação integral.
E longe de ser uma declaração teórica, trata-se de um modelo com resultados comprovados. Aprofundarei este tema em um próximo artigo.
Portanto, a Comuna se ergue como a forma histórica através da qual a Venezuela anuncia e constrói seu próprio caminho para o Socialismo do Século XXI.
E agora, o que fazemos desde a Espanha? Aprendamos, divulguemos e apoiemos esta enriquecedora experiência de nossos irmãos de classe venezuelanos.
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Mãos imperialistas fora da Venezuela!
Viva a luta da classe operária!
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Notas:
(1) Hugo R, Chávez F. Un Golpe de Timón, 20/10/2012, b:16
(2) Amílcar Jesús Figueroa Salazar. A comuna como elemento substantivo da transição socialista. 2025. Conferência Internacional Anti-imperialista de Caracas.
(3) Plataforma Báltica. A Comuna do Povo - Caminho para o Socialismo na Venezuela. 2025. Conferência Internacional Anti-imperialista de Caracas.
(4) Hugo R, Chávez F: Tese apresentada para consideração da Oficina de Formação, 7/12/2008
(5) Artigo 21. Lei de reforma da lei orgânica das Comunas – Gaceta Oficial 6.872 Extraordinário. Caracas, 30/12/2024
(6) Artigo 22. Lei de reforma da lei orgânica das Comunas – Gaceta Oficial 6.872 Extraordinário. Caracas, 30/12/2024
(7) Artigo 56. Lei de reforma da lei orgânica das Comunas – Gaceta Oficial 6.872 Extraordinário. Caracas, 30/12/2024
(8) Artigo 4. Lei de reforma da lei orgânica das Comunas – Gaceta Oficial 6.872 Extraordinário. Caracas, 30/12/2024
Via: "www.unionproletaria"

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