"No entanto, na Europa tudo vai na mesma linha, seja qual for o país e seja qual for a coligação de governo. A política é o rearmamento e os cortes, para levar o dinheiro às fábricas militares, não só contra a Rússia mas contra a própria classe operária."
"Mas na terça-feira, houve alguns sinais de que algo começa a mudar. Não foi a típica procissão aborrecida..."
Esta terça-feira uma multidão voltou a invadir as ruas de Bruxelas. Os aviões não puderam descolar nem chegar aos aeroportos, as escolas permaneceram fechadas, os negócios paralisados e o transporte público também. Só funcionaram os comboios, cujo tráfego aumentou para transportar os manifestantes para a capital. Foram mais numerosos desta vez do que em mobilizações anteriores. Os cálculos falam em bem mais de 100.000.
Tem havido numerosas mobilizações, greves e manifestações desde a formação do novo governo há nove meses. O seu programa não pretendeu enganar os trabalhadores activos, os desempregados, os reformados, os requerentes de asilo, os serviços públicos, a educação, a cultura e a saúde…
Mas na terça-feira, houve alguns sinais de que algo começa a mudar. Não foi a típica procissão aborrecida, não se viam sorrisos, e até se produziram “incidentes menores” e danos na fachada do edifício do Gabinete de Imigração porque os trabalhadores começam a perder a paciência. Ao regressar de uma visita aos Estados Unidos, o ministro da Defesa, Theo Francken, defendeu equipar a polícia com armas não letais e utilizar balas de borracha contra os manifestantes no futuro.
As reduções nas contribuições para a segurança social para as pessoas com altos rendimentos ilustram que tudo sai sempre dos mesmos bolsos.
Enquanto as ruas estavam cheias, os assentos estavam vazios porque a maioria parlamentar não tinha conseguido um acordo sobre os orçamentos. O Primeiro-Ministro, Bart de Wever, não perdeu tempo em pronunciar o seu discurso perante a Câmara.
Como em toda a Europa, as conquistas da classe operária têm sido erodidas na Bélgica durante quase meio século porque retrocedemos. Os partidos parlamentares chamam a “adaptar-se aos novos tempos”. Não querem mais convenções colectivas; é a lei da selva: que cada um se desenrasque como puder. Os primeiros afectados são os sindicatos que acabarão reduzidos a nada. Entretanto, cada vez há mais trabalhadores que chegaram ao seu limite de resistência.
Mas ainda há ilusões por consumir, sobretudo as daqueles que creem que a culpa é deste governo e que é preciso outro diferente. Outros dizem que a culpa não é do governo mas sim das decisões que aprova.
No entanto, na Europa tudo vai na mesma linha, seja qual for o país e seja qual for a coligação de governo. A política é o rearmamento e os cortes, para levar o dinheiro às fábricas militares, não só contra a Rússia mas contra a própria classe operária. Em cima da mesa do Parlamento há um projeto de lei para proibir as organizações radicais.
Mas isso é só o chocolate do papagaio. O primeiro-ministro Bart de Wever quer duplicar a despesa militar. Para isso há sempre dinheiro disponível. O governo quer somar 34.000 milhões de euros adicionais ao exército, incluindo a compra de mais aviões F35.
Por se não fosse suficiente, quer pressionar o Tribunal de Estrasburgo. Juntamente com outros oito chefes de Estado europeus, publicou uma carta criticando a sua jurisprudência em matéria de emigração.
Thierry Bodson, presidente da FGTB, um sindicato social-democrata, disse que a luta contra os planos económicos do governo não é de um dia nem de um ano, mas sim de “toda uma geração que se recusa a ver destruído em seis meses o que os nossos pais e avós demoraram tanto a construir”.
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