
Por concordar com a iniciativa e com os objectivos politicos a alcançar, o colectivo comunista A Chispa! decidiu não só divulgar este Manifesto como empenhar-se arduamente para a sua concretização. Desejando a todos os camaradas envolvidos neste projecto os maiores exitos revolucionários.
A Constituição progressista saída da crise revolucionária de 1974/75, aprovada a
2 de Abril de 1976, já foi revista oito vezes, sempre em sentido contrário ao dos
interesses dos trabalhadores, ao sabor das alianças de conveniência entre o
PS/PSD/CDS, com o objectivo de subordinar o documento constitucional aos
interesses do grande capital. À sombra destas revisões foram alterando as leis
laborais, despindo-as de praticamente todas e quaisquer salvaguardas dos
interesses dos trabalhadores. As rubricas orçamentais e apoios destinados aos
serviços de saúde, à educação e à segurança social, ainda que contemplada na
constituição a tendência da sua gratuitidade, estão cada vez mais reduzidos,
expulsando para fora do sistema um crescente número de pessoas que durante
toda a sua vida de trabalho contribuíram para o alimentar financeiramente.
As grandes empresas que sempre pertenceram ao Estado e as que foram nacionalizadas após o 25 de Abril, foram privatizadas e reprivatizadas de acordo com os interesses dos grandes grupos económicos nacionais e internacionais, com altos custos para o Estado e para os trabalhadores, sendo que o pouco que resta tem tendência para ser delapidado ao abrigo da mesma lógica.
As terras ocupadas pelos assalariados rurais no Alentejo, grande parte
abandonadas ou praticamente improdutivas, passaram a produzir e dar trabalho a
milhares de trabalhadores, para serem posteriormente desocupadas por uma
enorme força repressiva da GNR, que poucas possibilidades deu de resistência
aos trabalhadores. Devolvidos ao desemprego e à miséria secular por que
passaram os seus antepassados, foram obrigados a sujeitar-se às novas condições
de exploração e muitos a procurar na emigração o seu modo de vida.
Com a entrada na CEE, hoje UE, a troco dos subsídios dos chamados quadros
comunitários de apoio, a burguesia vendeu e transformou o país numa colónia
das principais burguesias imperialistas da Europa. A burguesia agrária associada
na CAP recebeu e continua a receber milhões de euros desses fundos, ora para
não produzir, ora para produzir apenas aquilo a que a UE não se opõe. Por esta
via os principais países agrícolas europeus conseguem exportar e introduzir os
seus produtos no mercado nacional a preços imbatíveis. Entre os pequenos
agricultores e parte dos médios, pelas suas várias dificuldades, apenas uma
pequena fracção consegue ter acesso a tais subsídios. Empobrecidos e sem
capacidade para confrontar e poder concorrer no contexto de tal situação,
arruinados e tendo que se assalariar e emigrar, os que procuram resistir, estão
também condenados à ruína e à proletarização.
No sector das pescas, pela via das indemnizações aos médios e grandes
armadores, desmantelou-se a já então pequena frota pesqueira existente. O
mercado nacional passou a ser abastecido particularmente por Espanha, os
pescadores portugueses passaram a ser vítimas do desemprego e a viver em ainda
piores condições de miséria, muitos também obrigados a emigrar. Temos uma
enorme àrea económica marítima, mas não temos navios para pescar.
Nos primeiros anos de permanência, os baixos custos de produção, em particular
por via dos baixos salários praticados, na altura os mais baixos da UE,
permitiram à burguesia não só captar investimento estrangeiro, como assegurar
uma certa competitividade económica. A partir de 1991 com o avançar da contra revolução
nos países do leste europeu, a situação alterou-se profundamente, pelo
que as empresas portuguesas confrontadas com a concorrência dos novos
mercados capitalistas perdem competitividade; centenas, senão milhares
encerram e as multinacionais a operar em Portugal deslocam-se para esses países
na medida em que os seus custos de produção eram ainda mais baixos.
O
desemprego cresce na ordem das centenas de milhares de trabalhadores, a
economia entra num longo e lento processo de agonia, que a burguesia a todo o
custo procura reverter, recorrendo ao trabalho a prazo e precário, baixando ainda
mais os salários, reduzindo os direitos laborais, e aumentando os ritmos de
trabalho.
Os ataques que vinham sendo feitos de forma continuada pelos vários governos
do PS, do PSD ou de coligação, nomeadamente com o CDS, no sentido de
proporcionarem melhores condições de exploração à burguesia, na tentativa de
esta poder recuperar a competitividade perdida, foram aprofundados com o
agravamento da crise económica a partir de 2008.
A divida pública e privada contraída para servir os interesses do grande capital
financeiro nacional e internacional já era colossal mas com o pedido de resgate à
UE/BCE/FMI tomou dimensões ainda mais desmesuradas, ascendendo a
componente pública a 240.100 milhões de euros, 131,6% do PIB, sendo que as
duas vertentes conjuntas se cifram em duas vezes e meia este valor. As regras
impostas pela UE/BCE/FMI, com a colaboração subserviente e agravadas pelo
governo PSD/CDS são asfixiantes - a austeridade, a redução dos salários e das
pensões, aumento colossal dos impostos, agravado com uma sobretaxa de mais
3,5% - empobrece e reduz grande parte da população trabalhadora a condições de
miséria que remetem para o tempo do fascismo. A soberania nacional, já de si
reduzida graças à submissão cada vez maior da burguesia nacional em relação às
burguesias imperialistas, é constantemente colocada em causa pelos ditames da
UE. Os governos e parlamento nacionais submetem-se e sujeitam-se a ser
simples marionetas e agentes de gestão da nova ordem imperialista europeia. Os
programas com que são eleitos para governar são sujeitos aos pareceres prévios e
às imposições das regras do Tratado Orçamental Europeu.
A ESQUERDA DO QUADRO PARLAMENTAR DE RECUO EM RECUO
Os partidos da esquerda reformista sempre se opuseram a todos os processos de
revisão Constitucional, mas na medida em que cada revisão reaccionária é
ratificada, ao invés de denunciarem o regime novembrista , que criou tal situação,
passam a defendê-la como se da Constituição de Abril se tratasse.
Antes da adesão à CEE/EU aquelas forças políticas manifestavam-se contra o
processo de união e por isso defendiam o referendo,para que fosse dada voz ao
povo. Hoje criticam as suas politicas mais reaccionárias de destruição do
chamado Estado Social, mas deixam cair a ideia de um referendo à permanência
e muito menos defendem abertamente a saída da UE, criando a falsa e perigosa
ilusão de que esta pode ser reformável.
Ao invés de se oporem ao pagamento da dívida capitalista, dado que o seu
cumprimento é um dos principais motivos de que decorre a aliança da burguesia
com a UE, impõem a austeridade e destroem os direitos sociais, defendendo a sua
renegociação e reestruturação, ou seja, em termos práticos o que propõem por
essa via não é propriamente acabar com a austeridade, mas antes moderá-la com
três objectivos:
1º- Evitar que o radicalismo imposto pelo governo PSD/CDS/UE/BCE/FMI,
rompa com as suas políticas reformistas.
2º- Para que tal austeridade não afogue a economia e permita o seu
desenvolvimento.
3º- Evitar qualquer explosão social que rompa com o parlamentarismo burguês e
com o capitalismo.
O mesmo acontece com a saída do euro. Se antes defendiam a saída da moeda
única de forma pura e simples, hoje defendem uma saída negociada e
responsável, mas visto que não colocam a base económica do sistema capitalista
em causa e presentemente, nem a própria União Europeia, só se pode concluir
que tal saída só tem como objectivo ajudar a burguesia a recuperar a
competitividade perdida, na medida em que poderá passar a utilizar a valorização
ou desvalorização da moeda de acordo com as suas conveniências e interesses
comerciais e financeiros. No entanto, os primeiros a sofrer com esta solução
seriam os trabalhadores, já que tais oscilações cambiais têm efeitos directos e
imediatos nos salários das classes laboriosas.
POR UM MOVIMENTO SINDICAL FORTE, UNIDO E COMBATIVO
A UGT tem sido, desde a sua origem, pau mandado dos vários governos
PS,PSD,CDS e das associações de capitalistas. O seu papel resume-se a furar as
lutas e a assinar acordos altamente prejudiciais aos interesses dos trabalhadores.
Os seus principais dirigentes sempre tiveram uma estreita relação com o capital
financeiro e económico. Basta estar atento às notícias sobre esta matéria,
diariamente divulgadas, para comprovar que assim é.
A CGTP, dada a sua influência no meio laboral, em particular nas camadas mais
pobres do trabalho assalariado, está obrigada a ter uma posição diferente e de
maior resistência à ofensiva capitalista, mas as suas politicas sindicais
influenciadas pelos partidos reformistas que a dominam, tornam-se ineficazes
para promover qualquer resistência de vulto, que obrigue os governos a recuar ou
mesmo a refrear as suas politicas reaccionárias. A agravar tal situação, no seu
último congresso, tendo a consciência e a experiência de que o actual momento
obriga a uma mobilização constante para que se possa resistir à ofensiva das
associações patronais, do PSD, CDS e da UE, e ao mesmo tempo obrigar o
governo capitalista PS a cumprir o prometido e assim criar as condições para que
paulatinamente se possa alterar a correlação de forças e preparar o terreno para a
recuperação de todas as conquistas roubadas, decide refrear a luta perante o
quadro de uma nova maioria parlamentar que suporta o governo, criando a ilusão
de que tal maioria parlamentar se propõe repor os salários e os direitos laborais e
sociais roubados.
Na medida em que a crise económica capitalista mundial se mantém, continua a
dar sinais de agravamento e estando a economia capitalista nacional dependente
do crescimento económico global, o novo Orçamento Geral do Estado para 2017,
bem como os próximos, serão orçamentos de contenção e de redução da despesa
pública, o que significa que as promessas de reposição dos salários e direitos
laborais e sociais, não só não se efectivarão, como estes tenderão a ser
novamente postos em causa por mais medidas de austeridade que terão como
consequência o aumento do desemprego e da pobreza.
Daí que seja ilusório assumir-se que esta crise, quer pela sua natureza, quer pela
sua dimensão, poderá ser resolvida com meras medidas económicas ou reformas
financeiras, como nos propõe a esquerda do quadro constitucional ou outras sem
representação parlamentar, com as suas soluções sociais-democratas. Já o
adensar da austeridade e especificamente da transferência de rendimentos do
trabalho para o capital, propostos pela direita, só pode servir os interesses das
média-alta e grande burguesias.
A verdadeira barreira ao desenvolvimento económico e das forças produtivas é o
próprio capital, ou seja, as relações sociais que este implica. Aumentar o
consumo e o bem estar das populações, está portanto fora de questão. Pelo
contrário o capital vê-se obrigado, por via da concorrência entre os agentes
económicos, a aumentar os ritmos e a duração do tempo do trabalho, baixar os
salários, enquanto milhões de trabalhadores assalariados são atirados para o
desemprego crónico.
Este paradoxo, de milhões de pessoas na mais abjecta miséria e exclusão social,
enquanto que a enorme capacidade produtiva instalada e sua produção não
encontram um mercado de procura, quadro que se repete de forma mais extensa e
profunda a cada nova crise, é não só a revelação da natureza contraditória do
modo de produção, como também do facto de que este se encontra nos limites do
seu período histórico.
Perante o contexto traçado urge a criação de uma Plataforma Política que
promova o debate e a mobilização dos trabalhadores e das camadas populares em
torno da resistência ao imperialismo e à ingerência da União Europeia,
estendendo esta luta às imposições das instituições e interesses económicos
capitalistas nacionais que procuram implementar as suas políticas contra as
classes trabalhadoras e camadas populares, reconhecendo que só através desta
luta será possível erigir um novo sistema económico e uma nova Europa sem
exploradores nem explorados, garante da dignidade humana e do progresso social
e civilizacional, do direito ao trabalho e à distribuição dos seus produtos de
acordo com as necessidades individuais de todos, solidária e inclusiva, no
respeito pela autodeterminação dos povos.
A nova Plataforma Política compromete-se a dinamizar as acções de mobilização
e propaganda que permitam aos trabalhadores levar a cabo esta tarefa, na
resposta aos seus anseios e aspirações concretas, nomeadamente e no imediato
pela elevação dos salários e em particular do Salário Mínimo Nacional, pelo
encurtamento da Jornada de Trabalho, contra todas as formas de Precariedade
Laboral (como sejam os falsos recibos verdes e os falsos contratos e termo
certo),bem como do aumento das Reformas Mínimas para 90% do salário
mínimo e pela reposição de todos os direitos laborais e sociais conquistados após
o 25 de Abril que paulatinamente foram roubados pela via das várias revisões
constitucionais reaccionárias, conclamando à sua UNIÃO em torno destas e
outras reivindicações, rumo à concretização da sua causa histórica de
emancipação.
Projecto de manifesto do colectivo "Por uma Plataforma Politica de Unidade Laboral e Popular
Projecto de manifesto do colectivo "Por uma Plataforma Politica de Unidade Laboral e Popular