[Artigo Publicado no Labour Standard]
Friedrich Engels
4 de Junho de 1881
Até agora, só tratamos da função dos sindicatos operários sob dois aspectos principais: a regulação do nível dos salários e a garantia dos meios de ação dos trabalhadores na luta contra o capitalismo. Mas isso não esgota nosso assunto.
A luta dos trabalhadores contra o capitalismo, dizíamos, existe de facto, apesar do que dizem os apologistas do capitalismo, e existirá enquanto a redução dos salários for a forma mais simples e segura de aumentar os lucros; mais ainda, enquanto houver trabalho assalariado. A própria existência dos sindicatos constitui uma prova suficiente desse fato; se eles não são feitos para combater as usurpações do capitalismo, por que razão existem? E inútil simular, nenhuma frase vazia pode esconder o facto de que a sociedade actual é dividida em duas grandes classes antagônicas: de um lado, os capitalistas, detentores dos meios de produção e, portanto, controlando a utilização e o emprego dos trabalhadores; e, do outro, os trabalhadores, que possuem apenas sua força de trabalho. O produto do trabalho dessa última deve ser dividido entre as duas classes, e é em torno dessa divisão que a luta acontece. Cada classe tenta reter para si a maior parte possível da produção, e o aspecto mais curioso dessa luta é provavelmente que a classe operária, embora lutando apenas para obter uma parte de sua própria produção, é frequentemente acusada de querer roubar os capitalistas!
Uma luta, porém, entre duas grandes classes sociais torna-se necessariamente uma luta política. Assim foi a luta entre a classe média ou capitalista e a aristocracia fundiária; assim acontece na luta entre a classe operária e estes mesmos capitalistas. No decorrer da luta de uma classe contra outra o objetivo é sempre o poder político; a classe dominante defende sua supremacia política, ou seja, sua maioria na Assembléia Legislativa; a classe oprimida, por sua vez, luta inicialmente por uma parte e depois pela totalidade desse poder, a fim de estar em condições de alterar as leis existentes de forma que ela satisfaça a seus próprios interesses e necessidades. Assim, a classe operária da Grã-Bretanha travou durante anos uma luta encarniçada pela Carta Popular que lhe daria ou teria dado o poder político. Ainda que derrotada, a luta causou tal impressão sobre a classe média vitoriosa que, a partir dessa época, ficou muito satisfeita, concedendo uma série de vantagens aos trabalhadores.
Portanto, na luta política de uma classe contra outra, a organização é a arma mais importante. Enquanto a organização puramente política ou Cartista caía aos pedaços, a organização sindical tornou-se cada vez mais forte, atingindo, no momento, um grau de poder inigualável no mundo. Alguns grandes sindicatos, compreendendo entre um e dois milhões de trabalhadores, apoiados pelos sindicatos menores, representam uma força que cada governo, seja Whig ou Thory, deve levar em conta.
Seguindo as tradições de suas origens e de seu desenvolvimento nesse país, até agora eles se limitaram à função de participar na regulação das horas de trabalho e dos salários, e de forçar a anulação das leis abertamente hostis aos trabalhadores. Mas eles obtiveram mais que isso: a classe dominante, que conhecia sua força mais que eles próprios, fez-lhes concessões de conseqüências mais importantes. O sufrágio doméstico de Disraeli concedeu o direito de voto à maior parte da classe operária organizada. Teria feito a proposta sem que supusesse que esses novos eleitores demonstrariam sua própria vontade e cessariam de ser dirigidos pelos políticos liberais da classe média? Teria sido capaz de fazer aceitar o sufrágio, se os trabalhadores, na direção de seus gigantescos sindicatos, já não tivessem provado suas capacidades administrativas e políticas?
Essa medida ofereceu uma nova perspectiva à classe operária. Ela deu-lhe a maioria em Londres e em todos os centros industriais, e assim lhe permitiu prosseguir a luta contra o capitalismo com novas armas, enviando os membros da classe operária ao Parlamento. Mas aqui, lamentamos lembrá-lo, os sindicatos esqueceram-se do seu dever de vanguarda da classe operária. Faz dez anos que a nova arma está em suas mãos, mas eles utilizaram-na muito pouco. Não deveriam esquecer que não podem conservar a posição que ocupam atualmente se não estiverem realmente à frente da classe operária. É pouco lógico que a classe operária da Inglaterra, que tem o poder de enviar quarenta ou cinqüenta trabalhadores ao Parlamento, se contente em ser representada por capitalistas ou seus lacaios, como advogados, redatores, jornalistas etc.
Além disso, existem numerosos sintomas que indicam que a classe operária desse país tomou consciência de que, desde algum tempo, ela está no caminho errado; que os atuais movimentos que reivindicam exclusivamente melhores salários e menos horas de trabalho a envolvem num círculo vicioso sem saída; que não são os baixos salários, mas o salário em si mesmo que constitui o mal fundamental do sistema. Essa consciência, uma vez difundida no interior da classe operária, deve mudar consideravelmente a posição dos sindicatos. Eles não se aproveitarão mais do privilégio de serem as únicas organizações da classe operária. Ao lado ou acima dos sindicatos é necessário que surja um sindicato geral, uma organização política da classe operária.
Existem, portanto, dois pontos que os sindicatos fariam bem em considerar: primeiro, que não está distante a hora em que a classe operária desse país reivindicará, num tom que não deixará dúvidas, sua plena representação no Parlamento: segundo, que se aproxima a hora em que a classe operária, tendo compreendido que a luta por melhores salários e encurtamento da jornada de trabalho, assim como o conjunto das acções actuais dos sindicatos, não é um fim em si, mas um meio, um meio necessário e eficaz, mas somente um entre muitos outros para atingir um objetivo mais elevado: a abolição do próprio trabalho assalariado.
Para alcançar a plena representação dos trabalhadores no Parlamento, assim como para preparar a abolição do trabalho assalariado, organizações serão necessárias; não aquelas isoladas por ofícios, mas do conjunto da classe operária. Quanto mais cedo isto seja alcançado, melhor; não existe nenhuma força no mundo que poderá resistir à classe operária britânica organizada numa única organização.
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