domingo, 27 de outubro de 2013

GREVE DOS CTT EM MAIO DE 1974

GREVE DOS CTT EM MAIO DE 1974

Todo o processo começou a 5 de Maio de 1974, durante a assembleia geral dos funcionários dos CTT realizada no Pavilhão dos Desportos de Lisboa, que contou com a presença de 10.000 trabalhadores, a fim de exigir a formação dum sindicato único do sector, ocasião em que foi eleita uma Comissão Provisória Pró-Sindicato dos Trabalhadores, e ao mesmo tempo foi decidido pedir à Junta de Salvação Nacional a nomeação de uma comissão para proceder ao saneamento da empresa.
                
Dias volvidos, a 14 de Maio de 1974, em reunião de delegados dos serviços é formada uma Comissão de Apoio ao Conselho de Gerência dos CTT, de carácter transitório, representativa dos interesses dos trabalhadores, constituída por uma maioria afecta ao PCP e por uma minoria de três elementos afectos à Comissão Provisória Pró-Sindicato.
                                           
No dia seguinte, a 15 de Maio, a Comissão de Apoio ao Conselho de Gerência dos CTT é encarregada de elaborar um projecto de linhas gerais de reestruturação de carreiras e actualização dos vencimentos dos trabalhadores.
                                           
Contudo, a 21 de Maio de 1974, os trabalhadores dos CTT rejeitam por esmagadora maioria o caderno reivindicativo elaborado pela mesma Comissão de Apoio, em especial devido à proposta para reajustamento das carreiras e por ficar aquém do espectável no que concerne à questão do saneamento da administração e dos elementos afectos ao anterior regime.
                       
Nesse ínterim começa um absoluto jogo do gato e do rato, com o Conselho de Gerência a adiar a sua resposta cabal às prementes exigências, sempre para o dia seguinte, tal como qualquer dieta que começa indefinidamente amanhã. Perante esse impasse premeditado, os trabalhadores dão um prazo até ao dia 26 de Maio, na esperança de ouvirem a resposta da administração, a qual, mais uma vez não chegou. Foi então convocado um plenário de emergência para o dia seguinte.
                                          
Durante o Plenário de Trabalhadores da Estação Central dos Correios de Lisboa, que teve lugar a 27 de Maio de 1974, a Comissão Provisória Pró-Sindicato dos Trabalhadores dos CTT apresenta um novocaderno reivindicativo, consubstanciado em aumentos salariais com efeitos retroactivos a partir de 1 de Maio, congelamento imediato dos vencimentos superiores a quinze mil escudos, aumento das regalias sociais, subsídio de férias, obrigatoriedade de um dia de folga semanal, 35 horas semanais de trabalho, promoções automáticas, redução do leque salarial, saneamento da empresa e outras reivindicações sociais e laborais.
                            
Logo de imediato, e durante a discussão, «a greve foi desencadeada espontaneamente pelos trabalhadores de todos os sectores da Estação Central, desacreditados já das promessas para satisfação das suas reivindicações, uma vez que o prazo estabelecido já estava mais do que ultrapassado». Em consequência disso, os trabalhadores ocupam ainda as instalações a partir das 9 horas.
                     
A greve em si, causou grande impacto, inserida que estava no movimento grevista que estalara de lés a lés durante esse mês, envolvendo sectores tão díspares como os transportes, mineiros da Panasqueira, lanifícios, construção civil, Timex, Companhia Carris de Lisboa, Metropolitano, indústria de panificação, etc.
                    
Teve defensores acérrimos e detractores empenhados, pois ninguém ficou neutro, uns a favor outros contra. Contou com o amparo expresso das forças políticas do espectro da extrema-esquerda e comunicados de solidariedade do CARP (m-l)LCIMESMRPPfacção Mendes do PCP (m-l)PRP-BR e URML, enquanto oPCPMDP/CDEIntersindical Nacional e o Governo Provisório procuraram travar e, até, denegrir o conflito.
                              
Logo no preciso momento da paralisação e ocupação das instalações, o PCP declara que «as greves selvagens não podem servir a causa dos trabalhadores», insiste nos perigos do surto grevista, que imputa a «elementos reaccionários» e «facilitados pela acção de grupos esquerdistas».
                                        
Tão abruptamento como começara, devido ao bloqueio levado a cabo pelos dirigentes sindicais, a ocupação e greve dos trabalhadores da Estação Central dos Correios de Lisboa terminou às 17 horas do dia 28 de Maio, a fim de facilitar as negociações que decorriam nos gabinetes. Apesar da greve ter sido desconvocada, a Intersindical Nacional, pela voz de Francisco Canais da Rocha, expressa a sua crítica negativa na mesma tarde.
                                   
Mais veemente na condenação, de catadura e cenho carregado, o comunicado da Comissão Executiva do Comité Central do PCP intitulado “Sobre Manobras da Reacção”, datado também de 28 de Maio, manifesta-se contra a onda de greves «com a autoridade que lhe dá a sua acção de dezenas de anos à frente da luta dos trabalhadores e do povo contra a opressão fascista e a exploração capitalista, vem alertar-vos contra os graves perigos da hora presente, contra os manejos daqueles que tentam dividir o movimento popular de massas, cindir a sua aliança com o Movimento das Forças Armadas e abrir caminho à contra-revolução».
              
A luta dos trabalhadores dos CTT foi uma das mais controversas e marcantes no período imediato ao 25 de Abril. Era, tão-somente, o primeiro assalto, porquanto, a fogueira grevista do conflito sindical e laboral na empresa reacendeu-se no mês seguinte, em labaredas de frenesi e exaltação obreirista.
NOTA: a fotografia mostra o Plenário de Trabalhadores da Estação Central dos Correios de Lisboa, em Maio de 1974.

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