domingo, 15 de abril de 2012

Simples Verdades Socialistas: De Paul Lafargue



Simples Verdades Socialistas
Paul Lafargue
1903

Trabalhador. Mas se não houver mais patrões, quem me dará trabalho?

Socialista. Essa é uma pergunta que frequentemente me fazem; vamos examiná-la. A fim de trabalhar, três coisas são exigidas: uma oficina, máquinas e matéria-prima.

T. Certo.

S. Quem constrói as oficinas?

T. Pedreiros.

S. Quem constrói as máquinas?

T. Engenheiros.

S. Quem cultiva o algodão que você tece, quem poda a lã que a sua mulher fia, quem escava os minerais que o seu filho funde?

T. Lavradores, pastores, mineiros – trabalhadores como eu.

S. Consequentemente, você, sua mulher e seu filho só podem trabalhar devido a todos esses outros trabalhadores que já lhes forneceram construções, maquinaria e matéria-prima.

T. Isso mesmo; eu não poderia tecer chita sem algodão e sem tear.

S. Pois então, não é o capitalista ou o patrão quem lhe dá trabalho, mas sim o pedreiro, o engenheiro, o fazendeiro. Você sabe como o seu patrão conseguiu tudo o que é necessário para o seu trabalho?

T. Ele comprou.

S. Quem lhe deu o dinheiro?

T. Como irei saber? Seu pai deve ter-lhe deixado um pouco; hoje ele é milionário.

S. Ele conseguiu esta quantia manejando suas próprias máquinas e tecendo seu próprio algodão?

T. Provavelmente não; foi nos fazendo trabalhar que ele conseguiu.

S. Então ele enriqueceu sem ter feito nada; este é o único modo de se fazer fortuna. Aqueles que trabalham conseguem somente o suficiente para continuarem vivendo. Mas, me diga, se você e seus companheiros não trabalhassem, as máquinas do seu patrão não enferrujariam e seu algodão não seriam comido pelos insetos?

T. Tudo o que tem na oficina iria estragar se não trabalhássemos.

S. Consequentemente, trabalhando você acaba por preservar as máquinas e a matéria-prima necessárias para o seu trabalho.

T. Isso é verdade; nunca havia pensado nisso.

S. O seu patrão cuida do trabalho de vocês?

T. Não muito; ele faz uma ronda diária para nos ver trabalhando, mas mantém as mãos nos bolsos por medo de sujá-las. Na fiação, onde minha esposa e filha trabalham, os patrões nunca são vistos, mesmo sendo quatro; é ainda pior na fundição, onde o meu filho trabalha; ninguém nunca vê os patrões, nem mesmo os conhecem; não veem nem sombra deles. É uma companhia limitada que tem posse dos negócios. Suponha que eu e você temos quinhentos francos guardados, nós poderíamos comprar uma parte e nos tornarmos um dos patrões, sem nunca ter colocado, ou nunca colocar, o pé no lugar.

S. Quem, então, dirige e supervisiona o trabalho neste lugar onde os patrões são acionistas, sendo que eles nunca são vistos lá, ou se o são, é tão raro que nem conta?

T. Diretores e capatazes.

S. Mas se são os trabalhadores que construíram a oficina, fizeram as máquinas e produziram a matéria-prima; se são os trabalhadores que mantém as máquinas funcionando e os diretores e capatazes quem tomam conta de tudo, o que, então, fazem os patrões?

T. Nada, a não ser girar os dedões.

S. Se tivesse uma ferrovia daqui até a lua, poderíamos mandar os patrões para lá, sem uma passagem de volta, e o seu tecer, a fiação da sua mulher e a moldagem do seu filho continuariam com antes. Você sabe qual foi o lucro do seu patrão no ano passado?

T. Calculamos que tenha sido em torno de cem mil francos.

S. Quantos trabalham para ele, incluindo homens, mulheres e crianças?

T. Cem pessoas.

S. Quanto eles ganham?

T. Em média, cerca de mil francos, contando os salários dos diretores e capatazes.

S. Então estes cem trabalhadores recebem um total de cem mil francos em salários, apenas o suficiente para não deixá-los morrer de fome, enquanto o seu patrão embolsa cem mil francos sem precisar fazer nada. Da onde vem esses duzentos mil francos?

T. Do céu é que não vem; nunca vi chover dinheiro.

S. São os trabalhadores que produziram os cem mil francos que receberam em forma de salários, e, além disso, os cem mil francos de lucro do patrão, que teve uma parte investida na compra de novas máquinas.

T. Não há como negar.

S. Portanto, são os trabalhadores que produzem o dinheiro que o patrão usa na compra novas máquinas para fazê-los trabalhar; são os diretores e capatazes, escravos do salário assim como vocês, que dirigem a produção; onde, então, o patrão entra? Em que ele é bom?

T. Em explorar trabalho.

S. Em roubar os trabalhadores, eu diria; é mais claro e exato.

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