Na Argélia, os protestos também deixaram mortos. Altos índices de desemprego e falta de perspectivas, além da desigualdade social e repressão política, levam a juventude às ruas.
Os protestos,já atingiram várias cidades do país.
Imagens semelhantes chegam, ao mesmo tempo, da Argélia,o saldo é de dezenas de mortos e centenas de feridos, num balanço provisório dos protestos mais violentos que os dois países do Magreb já vivenciaram.
Os fatores que desencadearam a violência são diversos, embora as razões sejam idênticas nos dois países vizinhos: o desemprego e a falta de perspectiva dos jovens abaixo de 35 anos são comuns tanto na Tunísia quanto na Argélia. A situação atinge não apenas famílias de baixa renda, mas também pessoas com qualificação profissional, seja em nível técnico ou universitário.
"Quem reclama, vai preso"
Rafik, de 27 anos, natural de Tala, na Tunísia, é um exemplo. Há três anos ele tenta, em vão, encontrar um emprego. "Para achar trabalho é preciso pagar propinas ou ter boas relações", reclama. "Se você não tem dinheiro nem conhecidos, não ganha nada. E, se reclamar, ainda acaba na prisão", completa.
Sem emprego, muita coisa torna-se impossível para os jovens. Eles não encontram moradia, não podem se casar, ficam sem perspectivas. Há muito que nos dois países vale a máxima, também conhecida no vizinho Marrocos: quem pode, emigra para a vizinha Europa – legal ou ilegalmente.
Mas não apenas o desemprego leva os jovens às ruas no momento, também a repressão política e a chamada hogra – a sensação vergonhosa de ser desprezado pelos poderosos. Na Tunísia, isso começou há poucas semanas.
A sensação de hogra levou um jovem a se imolar em público. Ele havia conseguido sobreviver, por vários anos, vendendo legumes, em uma situação sem qualquer direito legal e constantemente maltratado por autoridades e departamentos públicos. O caso ganhou força simbólica e levou a uma disseminação rápida dos protestos.
Sensação de desprezo
Na Argélia, muita gente também fala de hogra. No país, os protestos se deram em forma de saques de estabelecimentos comerciais e incêndios de símbolos do bem-estar. O país não é, de forma alguma, pobre, pois pertence ao rol dos mais importantes exportadores de petróleo e gás natural do mundo.
Dos estimados 57 bilhões de dólares que o país contabilizou no último ano com exportações, muito pouco chega à população, avaliam vários especialistas. "A Argélia é um país completamente corrupto", afirma Werner Ruf, cientista político e especialista em questões ligadas à Argélia. "As elites embolsam elas próprias receitas gigantescas. Ou são compradas coisas não produtivas, como armamentos enormes", diz ele. As discrepâncias sociais e o abismo entre ricos e pobres nos três países do Magreb - Marrocos, Argélia e Tunisia é cada vez maior e bem possivel que os protestos se alarguem a outros países da zona, como por exemplo Marrocos que até aqui se manteve ileso à ira popular
A situação na Argélia acalmou-se um pouco depois que o presidente Abdelaziz Bouteflika anunciou uma queda nos preços de alimentos como óleo de cozinha e açúcar.
Por outro lado, as promessas do presidente tunisiano Zine el Abidine Ben Ali de criar 300 mil novos empregos não levou à esperada redução dos tumultos. Tanto na capital, Túnis, quanto no resto do país, cada vez mais gente vai às ruas protestar contra o desemprego, a repressão, a desigualdade e o cerceamento da liberdade de expressão e de imprensa.
"Temos direito a trabalho, bando de ladrões!" é o slogan dos manifestantes na Tunísia.
Autores: Chamselassil Ayari, Loay Mudhoon (sv)
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