Por concordarmos inteiramente com a posição politica do jornal MudardeVida, sobre as presidenciais, decidimos reproduzir o seu comunicado. "A Chispa!"
Falta uma candidatura que ataque os problemas a partir de fora e não de dentro do sistema instalado; Que apresente os interesses das classes trabalhadoras sem o complexo derrotista de ter de "defender o regime" e "salvar a economia nacional"
PRESIDÊNCIAIS 2011
PORQUÊ VOTAR CONTRA CAVACO SILVA !
1. O regime está plenamente representado nas diferentes candidaturas presidenciais. Naquilo que importa para os adeptos ou defensores da actual ordem política e social, não sobra nenhum espaço por preencher, da direita à esquerda.Mas, por isso mesmo – como nenhuma das candidaturas coloca em causa os fundamentos do poder e do sistema social –, resta uma larga faixa de gente descontente, indignada, revoltada, desesperada, que não se identifica com nenhum candidato, que não acredita nas suas propostas de campanha e que, por isso, não vê como sair da situação que hoje se vive no país. Será essa a base e a razão maior da abstenção.
2. Cavaco Silva reúne o consenso da direita, o que inclui boa parte da direcção do PS e do seu eleitorado. É sobretudo pelo apoio, velado ou aberto, com que conta dentro do PS que Cavaco tem probabilidades de ganhar as eleições sem recurso a uma segunda volta. Se tal vier a verificar-se, será mais uma confirmação da natureza de direita do PS e mais um feito para o palmarés pessoal de José Sócrates.Cavaco apresenta-se como promotor de equilíbrios em torno do chamado “bloco central” porque a situação crítica do capitalismo português e a instabilidade política entre as forças do poder a isso o obriga. Mas é, sem dúvida, o candidato natural dos sectores mais à direita do regime (empresários, a generalidade dos capitalistas e proprietários, quadros, Igreja, partidos e forças sociais reaccionárias).
3. Os promotores da candidatura de Fernando Nobre pretenderam criar uma alternativa a Cavaco Silva – mas só ligeiramente mais “à esquerda”. Procuraram roubar apoios a Cavaco e anular Manuel Alegre. O resultado, porém, na ânsia de abarcar o maior espectro possível de eleitores e entrar pelo campo da direita, é uma miscelânea de nacionalismo reaccionário e de assistencialismo católico.Prestigiado pelas suas campanhas humanitárias, mas tendo revelado sempre grande inconsistência política, Nobre surge como uma figura instrumentalizada, sem convicções políticas próprias, que procura acertar o discurso pelos ventos dominantes – o que o torna vulnerável sobretudo a ideias de direita.
4. Manuel Alegre, que ganhou a aura de “esquerda do PS” (o que não é difícil), mostra-se incapaz sequer de dar voz a uma linha de contestação à política de José Sócrates – quanto mais de lhe criar uma alternativa. O apoio, formal, de Sócrates compromete-o com a política de direita seguida pelo PS, como se comprova pela sua incapacidade de crítica às medidas de verdadeiro terrorismo social exigidas pelo patronato e aplicadas pelo governo, antes e depois da candidatura estar lançada.O Bloco de Esquerda, que se iludiu com a ideia de fazer vergar Sócrates diante de uma esquerda mobilizada por Manuel Alegre (e de retirar, com isso, campo de manobra ao PCP ) vê-se agora na contingência de não fazer grandes exigências políticas ao candidato para ver se a direcção do PS não deserta por completo da campanha – correndo entretanto o risco de ver desanimar boa parte do próprio eleitorado bloquista.
5. A candidatura do PCP, antes mesmo de se saber que o candidato seria Francisco Lopes, foi anunciada como a única que teria a liberdade de contestar a política do PS e de defender os interesses populares. Tem sido esse o sentido da campanha. Mas o discurso de Francisco Lopes padece de uma falha grave: não ousa ultrapassar os limites do que se poderia chamar a “decência democrática” e a “decência nacional”. Fica-se pela indignação comum – nada contra o regime, nada contra o capitalismo.
Numa palavra, não ousa atacar a política do patronato, do governo e dos partidos da direita nos seus fundamentos capitalistas e burgueses. Ora, mais do que nunca, a presente crise capitalista mostra os limites do sistema social dominante e o futuro negro que está reservado para as próximas gerações. Sem mostrar isso mesmo à população, sem apontar a incapacidade presente e futura do capitalismo para satisfazer as necessidades sociais – não se dá a entender aos trabalhadores quais são os caminhos de resposta. E não se libertam as energias sociais capazes de fazer frente à ofensiva direitista do patronato europeu e português.
A candidatura do PCP apresenta-se, assim, como porta-voz daquilo que mais à esquerda se pode dizer sem sair dos limites do regime político e social dominante – mas não do que de mais à esquerda se pode dizer contra o regime político e social dominante.
6. Falta uma candidatura que ataque os problemas políticos e sociais a partir de fora e não de dentro do regime. Que apresente os interesses exclusivos das classes trabalhadoras sem compromissos nem meias tintas, sem o complexo derrotista de ter de “defender o regime” e “salvar a economia nacional”. Nas actuais condições, isso significaria, do nosso ponto de vista, conduzir uma campanha em torno de uma ideia central: mobilizar forças para obrigar o capital a pagar a crise. Só a partir de uma tal posição, descomprometida com o regime, se poderia chamar à acção massas capazes de fazer frente à política actual.
A ausência na campanha destas posições políticas não pode, obviamente, ser assacada a nenhuma das forças partidárias existentes, que cumprem os seus respectivos papéis, cada uma no seu lugar. A falta de uma candidatura deste tipo tem de ser encarada como um sinal da fraqueza, política e organizativa, da esquerda revolucionária.
7. Somos, por isso, indiferentes ao resultado da eleição presidencial? Não. Estamos certos de que nada de fundamental mudará sem uma participação directa das massas trabalhadoras na acção política, em defesa dos seus próprios interesses. E que, portanto, nada de fundamental mudará com as próximas eleições.
Mas reconhecemos, apesar de tudo, uma diferença entre uma vitória de Cavaco Silva e uma derrota de Cavaco Silva. Não por acreditarmos que qualquer dos outros candidatos possa operar uma mudança do quadro político no sentido que sugerimos – mas porque a derrota do principal candidato da burguesia alteraria, mesmo que momentaneamente, os equilíbrios políticos do poder; provocaria um período de confusão nas hostes da direita; seria um sinal público de condenação da política seguida pelo governo e, portanto, um aviso ao patronato que a promove, até aqui impunemente.
Mas, acima de tudo, daria conta de que uma alteração da relação de forças sociais é possível. E isso poderia ser um incentivo para a resistência de massas. A abstenção do eleitorado situado à esquerda favorece, para mais nas condições em que decorre o acto eleitoral, a possibilidade de Cavaco Silva arrecadar mais de metade dos votos e, assim, ganhar à primeira volta. Mesmo sendo difícil inverter esta tendência, a aposta política tem, de qualquer modo, de ser feita no sentido de derrotar Cavaco Silva – votando contra Cavaco Silva.
Colectivo Mudar de Vida
18 de Janeiro de 2011
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