"A diversidade de opiniões e a intensidade dos debates sobre a questão do imperialismo moderno nos levam a retomar uma análise mais profunda com base nas concepções marxistas de todo o curso do desenvolvimento socioeconômico da humanidade.
Posições fundamentais.
O início do século XX foi marcado por mudanças significativas que ocorreram em todo o sistema de relações de produção do capitalismo. Do capitalismo da era do domínio da livre concorrência, surgiu o capitalismo monopolista, o que provocou mudanças qualitativas nas relações econômicas capitalistas. Lênin, em seus trabalhos, explicou a dialética geral do desenvolvimento do capitalismo desde os tempos de Marx e mostrou que o capitalismo só se tornou capitalismo imperialista após atingir um nível muito elevado. Os fatores decisivos desse processo de desenvolvimento foram: primeiro, a concentração e centralização da propriedade capitalista, condicionadas pela ação da lei geral da acumulação capitalista (refere-se à concentração e centralização em geral, da propriedade capitalista como um todo, e não apenas de elementos isolados da produção e do capital - !); segundo, a livre concorrência, que começou a se transformar em monopólio, criando grandes produções, substituindo as pequenas, substituindo as grandes por maiores, levando a concentração de produção e capital ao ponto em que dela surgia e surge o monopólio. Assim, Lênin demonstrou de forma convincente quenão foram acasos ou conjunturas, mas o curso objetivo de todo o desenvolvimento econômico do capitalismo que o levou ao monopólio e ao domínio da oligarquia financeira. A próxima manifestação do capitalismo, que continua a se desenvolver vigorosamente, foi sua expansão imperialista mundial. A razão é que os monopolistas nacionais, já maduros e fortalecidos, após dividir o mercado interno e tomar posse mais ou menos completa da produção de seu país, são obrigados a buscar a aplicação mais lucrativa para seu capital, cada vez mais acumulado e concentrado, e, portanto, a passar a dividir o mercado mundial. Como Lênin explica:"Os capitalistas dividem o mundo não por maldade especial, mas porque o nível alcançado de concentração os obriga a seguir esse caminho para obter lucros...". (Lênin, "Imperialismo, fase superior do capitalismo"). Nessa fase, começou a formação vigorosa, por meio de diversos acordos entre monopolistas de diferentes países, de uniões monopolistas mundiais ou cartéis internacionais - supermonopólios, que se tornaram o próximoestágio da concentração mundial de capital e produção. Esse é, esquematicamente, o quadro geral, baseado nas leis objetivas do desenvolvimento capitalista, da dialética do surgimento e "expansão" do capitalismo imperialista. Ao estudar a lógica do desenvolvimento do capitalismo, desde o livre empreendedorismo e a iniciativa privada até o monopólio e o imperialismo como ápice do poder capitalista, Lênin identificou e formulou os 5 principais sinais qualitativos de sua fase monopolista. Ele mostrou claramente como as leis do capitalismo da era da livre concorrência levaram a um alto nível de concentração da produção, que, por sua vez, levou ao monopólio e à oligarquia financeira. A concentração monopolista posterior leva objetivamente os monopólios inicialmente isolados dentro das fronteiras nacionais a criar uma rede internacional de dependências e conexões de capital. No entanto, sempre e incondicionalmente,a base da natureza do imperialismo é o domínio dos monopólios. Não é por acaso que Lênin destacou especialmente que"...se fosse necessário dar uma definição o mais breve possível do imperialismo, dever-se-ia dizer que o imperialismo é a fase monopolista do capitalismo". (Obras Completas, vol.27, p.386).
É importante notar que, nos julgamentos de alguns comunistas modernos, o imperialismo frequentemente é retratado como um "monstro impuro", uma criatura monstruosa, literalmente corpórea, que existe de forma independente, por si só, e devora países fracos. Esses comunistas não compreenderam ou ignoram a dialética marxista na compreensão do capitalismo, o que naturalmente os leva a uma visão unilateral e superficial de todo o conceito. Lênin já ridicularizava aqueles marxistas que consideravam o imperialismo como umtraço ruimde algum povo. Hoje, essa ideia volta a encontrar espaço nas fileiras dos comunistas. Principalmente entre os russos, que em seus raciocínios chegaram até ao absurdo de afirmar que o imperialismo, supostamente, não é inerente à Rússia. Nesse caso, não apenas a própria natureza do imperialismo é ignorada, mas também toda a dialética do desenvolvimento capitalista é descartada, que reside no fato de que a acumulação e concentração de capital, sendo uma lei incondicional e universal do desenvolvimento capitalista, mais cedo ou mais tarde, levará inevitavelmente os capitalistas russos a aspirações imperialistas. Através da formação e fortalecimento de monopólios, como centros de concentração de capital, e da formação adicional de monopólios financeiros, que, através da fusão e integração do capital bancário com o industrial, se tornam instituições verdadeiramente universais de enorme poder econômico, os monopolistas russos certamente criarão todas as condições para suas próprias aspirações imperialistas e se tornarão os verdadeiros imperialistas russos. Além disso, é importante esclarecer que, ao contrário do monopólio, que representa um objeto materializado concreto, o imperialismo é um processo. É a manifestação de uma atividade, bem como a própria atividade, o funcionamento. A partir dessa compreensão do significado de ambos os conceitos, fica claro que o imperialismo é uma característica, qualidade de um certo nível de desenvolvimentode estruturas monopolistas, mas de forma alguma um sujeito independente. Aliás, é essa qualidade que permite definir que o imperialismo, mesmo para o capitalismo, é um fenômeno histórico, transitório, temporário, característico não apenas de um alto nível de desenvolvimento dos monopólios, mas de condições sociais específicas e, portanto, atuante apenas durante um determinado período histórico. Já agora, é possível vislumbrar a perspectiva de conter as aspirações imperialistas dos monopolistas pela resistência dos povos do mundo, o que os enviará para a história, assim como os anteriores ataques coloniais imperialistas. Portanto, é correto falar não de um imperialismo em geral, mas das aspirações imperialistas de monopolistas específicos, sejam eles globais ou russos, em um estágio determinado e elevado do desenvolvimento capitalista.
As reflexões apresentadas não apenas delineiam brevemente o curso geral do desenvolvimento capitalista, antecipando discussões posteriores, mas são principalmente destinadas àqueles numerosos "esquerdistas" pseudomarxistas ou que se consideram marxistas hoje em dia, que, conscientemente ou não, vulgarizam a própria concepção marxista do imperialismo. Reduzem-no a um clichê banal de terror. Essa abordagem, desvinculada da lógica objetiva do desenvolvimento dos eventos, afasta-se da compreensão essencial do imperialismo, causando grande dano a todo o movimento comunista marxista. O verdadeiro marxista moderno não deve simplesmente atribuir, sem pensar, todo o desenvolvimento atual dos eventos a maquinações do maldito imperialismo e às tramas traiçoeiras dos monopolistas, mas deve ver e compreender por trás deles os processos profundos que, mesmo invisíveis, são os verdadeiros motores de todo o desenvolvimento. Processos que conduzem o capitalismo não pelo caminho desejado pelos capitalistas monopolistas, mas pelo caminho traçado pelas leis objetivas do desenvolvimento social. E quer alguém reconheça ou não, goste ou não, a ação dessas leis leva o capitalismo, de forma inexorável e irreversível, ao único caminho de desenvolvimento progressivo da sociedade humana moderna – o socialista, o comunista. Ao implementar hoje diversos programas sociais, realizando melhorias, mudanças e transformações sistêmicas de todos os tipos, o capitalismo, no entanto, é forçado a avançar em direção ao socialismo. Pois quaisquer outros caminhos, mais cedo ou mais tarde, levam a becos sem saída e, portanto, no final, são dolorosamente, lentamente, penosamente, mas irrevogavelmente descartados, seguindo uma espécie de seleção natural, cedendo lugar a formas mais progressistas, precisamente socialistas. Não por acaso, mas pelas leis do progresso, até mesmo um sistema tão poderoso e extremamente lucrativo para os monopolistas, como o colonial, entrou em colapso. Contra seus desejos, mas seguindo a necessidade objetiva do desenvolvimento progressivo geral. Nessa objetividade está a verdade do marxismo, nessa objetividade está sua força e invencibilidade.
Apesar de ter se passado um século desde a escrita das obras de Lênin, não ocorreram mudanças essenciais na natureza interna do modo de produção capitalista.A essência econômica do capitalismo imperialista, mesmo em nossos dias, continua sendo o domínio dos monopólios. Isso confirma a validade do pensamento central de Lenin, de que o monopólio é a última palavra do desenvolvimento capitalista, que o monopólio representa a transição do capitalismo para uma ordem superior. Portanto, a análise do imperialismo ainda deve ser realizada com base no aprofundamento do estudo dos problemas que constituem o conteúdo principal das obras de Lenin, especialmente da obra "Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo". Ao mesmo tempo, no último século, o capitalismo não permaneceu estagnado – o grau de concentração da produção e do capital nas mãos dos monopólios aumentou significativamente, surgiram formas de concentração mundial do capital e da produção, os métodos de domínio dos monopólios se modificaram e novos métodos de exploração dos trabalhadores por eles foram criados. Aqui, destacamos que o fator decisivo para qualquer mudança sistêmica no capitalismo sempre éa lei geral da acumulação capitalista, cuja ação objetiva continua irresistivelmente a ampliar, concentrar e centralizar a propriedade capitalista. É sob sua influência que, por um lado, aumentam as capacidades produtivas da própria produção; por outro, cresce o poder econômico e, consequentemente, político dos monopólios e da oligarquia; e, por fim, intensifica-se a gravidade da contradição fundamental do capitalismo – a contradição entre o caráter social da produção e o modo capitalista de apropriação. Portanto, para compreender corretamente tanto o desenvolvimento geral do capitalismo quanto qualquer mudança específica nele, é essencial partir desse fator fundamental, bem como das circunstâncias geradas por sua ação, em seu entrelaçamento orgânico, interconexão e interdependência.
Ao conduzir qualquer análise do capitalismo, é preciso lembrar que o marxismo considera as relações de produção, as relações econômicas, como primárias, ou seja, como aquelas que determinam todo o desenvolvimento da sociedade. No entendimento marxista, são precisamente as relações econômicas que constituem a base sobre a qual crescem todas as ideias sociais e são construídas todas as instituições políticas, jurídicas e outras instituições sociais, que, assim, são secundárias, derivadas das relações econômicas. Ou seja, o marxismo considera o conjunto das relações de produção como a base da sociedade, e as formas e relações políticas, jurídicas e ideológicas (o Estado, o direito, a moral, a religião, a filosofia, a arte) – como a superestrutura. Todos os diversos fenômenos sociais surgem com base na estrutura econômica comum de uma determinada sociedade (o que permite considerá-los como um sistema único e interligado de relações sociais, sujeito a certas leis gerais de desenvolvimento), são condicionados por essa estrutura, são seu produto e reflexo. Os ideólogos burgueses tentam refutar essas posições do marxismo, invertendo a concepção e apresentando a vida econômica da sociedade ou como independente e equivalente à vida ideológica, ou como derivada da vida espiritual e política. No entanto, a prática da vida e a experiência histórica da humanidade testemunham a correção precisamente da concepção marxista. Somente guiando-se por sua dialética, comparando a sociedade a um edifício no qual as relações econômicas servem de alicerce para a construção dos corpos das ideias sociais, é possível explicar plenamente tanto qualquer estrutura socioeconômica individual quanto toda a formação social como um todo. E não apenas explicar, mas, como foi repetidamente confirmado na história, prever seu desenvolvimento e mudanças subsequentes. Ao mesmo tempo, é importante notar que a superestrutura não é simplesmente uma consequência passiva da base, mas é uma ferramenta poderosa de desenvolvimento nas mãos das pessoas em geral e da classe dominante em particular, pois concentra sua força econômica e política. Além disso, ela pode agir tanto progressivamente, acelerando e facilitando o desenvolvimento econômico, quanto reacionariamente, retardando o desenvolvimento e minando sua própria base econômica. A um ou outro resultado conduzem não apenas a habilidade ou inabilidade, a competência ou incompetência dos executores, mas, o que é essencialmente importante, certas circunstâncias ou condições objetivas. A decisiva entre elas é o grau de correspondência entre a base econômica dada e a superestrutura existente no momento. O marxismo define isso como a lei da correspondência entre as forças produtivas e as relações de produção. Considerando as forças produtivas como o conteúdo do processo de desenvolvimento da sociedade e as relações de produção como a forma social desse conteúdo, pode-se ver que quaisquer mudanças, incluindo todas as mudanças revolucionárias nos modos de produção, são determinadas pelas primeiras após entrarem em contradição com as segundas. Ou seja, o desenvolvimento objetivo da base econômica sempre exige uma superestrutura estritamente correspondente. Caso contrário, surge uma contradição entre elas, que começa a frear o processo de desenvolvimento e leva à sua paralisação. Para continuar o desenvolvimento, é necessário eliminar ou pelo menos suavizar a contradição surgida, reduzir a intensidade de sua ação. É nisso que consiste a dialética de todo o desenvolvimento da sociedade humana – após as forças produtivas, que se desenvolvem, aperfeiçoam e mudam objetivamente, deve necessariamente seguir um certo desenvolvimento ou mudança nas relações de produção. Para estabelecer entre elas uma correspondência harmoniosa. Essa é a dialética geral do desenvolvimento social na concepção dos marxistas.
Do ponto de vista do exposto acima, vamos agora olhar para o capitalismo contemporâneo. Mas antes, destaquemos que, atualmente, é o monopólio, que surgiu no alto nível de concentração da propriedade capitalista, que constitui a base para o crescimento adicional da concentração. Ou seja, o processo de concentração ocorre não mais apenas no nível do capital, masmonopolísticocapital. Hoje, o crescimento da monopolização é gerado pela própria monopolização. Isso acelera e expande enormemente todo o processo. Os fatores da concentração moderna, além dos anteriores – a busca dos capitalistas por mais-valia relativa e sua variante, a mais-valia excedente, a competição capitalista, a lei da tendência decrescente da taxa de lucro, a ciclicidade do desenvolvimento da produção capitalista, etc. – incluem também novos fatores: o domínio dos monopólios, o progresso científico-tecnológico, o uso do Estado, a competição internacional, a diversificação, etc. Uma característica marcante da fase atual do desenvolvimento capitalista é que, diferentemente das formas iniciais de concentração e centralização horizontal, onde o aumento da produção ocorria pela concentração de força de trabalho, capacidade produtiva e produção em empresas cada vez maiores, agora ocorre a união de uma massa de produtores diversos e independentes sob uma gestão única e centralizada. Isso permite a criação de impérios monopolísticos imensos com um capital próprio relativamente pequeno. A combinação de produção, já observada por Lênin, evoluiu hoje para a diversificação, que representa uma forma vertical de concentração e centralização e, essencialmente, é a forma mais recente de centralização monopolista do capital e da produção. Os economistas burgueses buscam usar fatos externos de desaceleração da monopolização horizontal para reforçar suas concepções de "desconcentração" e "desmonopolização". Na realidade, o tamanho da produção concentrada pelos monopólios aumenta significativamente devido ao crescimento do número de unidades produtivas que eles controlam e administram. Portanto, nas pesquisas atuais, deve-se considerar não o tamanho de uma empresa individual, mas o tamanho de toda a produção concentrada nas mãos do monopólio.
A situação atual do capitalismo.
De acordo com a doutrina marxista,o aumento do grau de monopolização é uma lei do desenvolvimento da economia capitalista.. Hoje, ele continua em ritmo acelerado e com todas as consequências decorrentes. Se no início do século XX Lênin afirmava que"...dezenas de milhares das maiores empresas são tudo; milhões de pequenas não são nada"(Obras Completas, vol. 27, p. 311), atualmente o processo de monopolização avançou tanto que não são mais dezenas de milhares, mas apenas centenas de monopólios que representam tudo. Hoje, nos EUA, as 100 maiores corporações, dentre quase 1,5 milhão de empresas, detêm mais de 50% de todos os ativos e recebem mais de 2/3 de toda a renda. Vejamos dados sobre o grau de monopolização nos setores mais modernos: atualmente, a Microsoft controla mais de 80% do mercado de sistemas operacionais e 90% do mercado de aplicativos empresariais; as 10 maiores empresas telefônicas do mundo controlam 86% do mercado global; as 10 maiores empresas de computadores detêm 70% do mercado de computadores. Segundo dados recentes, os dez principais fornecedores de notebooks controlam aproximadamente 80% do mercado mundial. Para quem deseja verificar a veracidade do exposto e compreender objetivamente a monopolização do capitalismo moderno, sugerimos consultar fontes burguesas, considerando pelo menos os seguintes indicadores: - participação dos monopólios no total da força de trabalho empregada; - participação das maiores monopólios na produção total; - participação das maiores monopólios no total de ativos; - participação das maiores monopólios no total de lucros. Esses indicadores, apesar de todas as tentativas dos economistas burgueses de provar que o capitalismo moderno, assim como o do séculoXIX , é baseado no "livre empreendedorismo", confirmam plenamente a validade da tese marxista. No entanto, o processo de desenvolvimento não para aí. Para continuar crescendo, os monopólios exigem uma expansão cada vez maior tanto da produção quanto dos mercados. Como consequência natural, sob o domínio da propriedade privada, isso leva ao fortalecimento da oligarquia monopolista em sua busca por domínio econômico e político. Em nossa era, de possibilidades e escalas globais de produção, assim como de poder global dos monopólios, essas aspirações também assumem um caráter global. Assim, em termos marxistas,a base econômica moderna exige e conduz objetivamente à construção de um novo sistema global de relações de produção, ou à criação de uma nova estrutura superestrutural, agora global.É esse processo que está refletido no termo amplamente utilizado hoje,"globalização". Mesmo que ainda seja compreendido de forma inconsistente e confusa pelas massas, ele é essencialmente correto e, portanto, adequado para uso científico no marxismo.
Ao olhar para os dias atuais, é necessário destacar que a economia capitalista atual está novamente à beira de uma crise em larga escala - o crescimento da renda está estagnado, há quedas na produção, aumenta a subutilização das empresas e ocorre a redução da capacidade produtiva, o desemprego aumenta, as manifestações de crise em setores específicos da produção se tornam mais frequentes e profundas, e as possibilidades de superá-las se tornam mais complexas. Tudo isso são sinais característicos de um novo agravamento da contradição entre o crescimento das forças produtivas e as relações de produção existentes. Figurativamente falando, o mecanismo atual das relações de produção capitalistas se torna incapaz de assimilar o que é produzido. E essa condição não surge por acaso, mas é uma propriedade objetiva do funcionamento da economia capitalista. Eis como a causa do surgimento de tais agravamentos é definida por Engels na obra "Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico":"Os meios de produção, os meios de subsistência, os trabalhadores à disposição do capital - todos os elementos da produção e do bem-estar geral existem em abundância. Mas 'a abundância torna-se fonte de necessidade e privação' (Fourier), porque é precisamente ela que impede a transformação dos meios de produção e dos meios de subsistência em capital. Pois, na sociedade capitalista, os meios de produção não podem entrar em ação a não ser transformando-se primeiro em capital, em meio de exploração da força de trabalho humana."(K. Marx e F. Engels. Obras, v.19, p. 220). É precisamente essa necessidade de transformação em capital que impede os meios de produção de funcionarem, e os trabalhadores de trabalharem e viverem; é ela que leva não apenas à desaceleração e paralisação, mas também à destruição do potencial produtivo. E o freio ao crescimento do bem-estar social intensifica-se à medida que a abundância aumenta. Isso não é um paradoxo, mas uma lei perversa do modo de produção capitalista. Essa necessidade, repetidamente agravada pela ganância irrefletida do capitalista em busca de lucro e pela espontaneidade caótica do mecanismo de mercado na regulação econômica, sistematicamente provoca o chamado "superprodução" e leva a crises econômicas. O que não só é absurdo, mas monstruosamente desumano. Pois as pessoas precisam desesperadamente dos produtos que a sociedade produz em "excesso". A produção asfixia sob o peso dos bens produzidos, enquanto as massas, ao mesmo tempo, sofrem com a escassez de produtos. O absurdo multiplica-se quando a produção capitalista sai da crise, já que o único método que o capitalismo é capaz de empregar para essa saída não é suprir os necessitados, nem direcionar a eles os "superproduzidos" e acumulados "excedentes", mas sim parar e destruir a própria produção, arruinar sua capacidade de produzir, e permitir a perda ou a destruição bárbara dos "excedentes" de produtos. Um fato incontestável da "civilização" capitalista — a abundância de produtos destrói a economia. Teóricos burgueses tentam provar que as crises são resultado de circunstâncias acidentais e excepcionais que perturbam certas proporções na produção, ou estão ligadas à queda, novamente por acaso, do nível de consumo da população. Em ambos os casos, eles simplesmente mentem. A própria regularidade periódica das crises revela sua natureza inevitável, pois nenhum acidente pode repetir-se com tamanha insistência metódica e sequência. Também é revelador que o capitalismo entra em crise sempre quando a renda da população aumenta, e sai dela quando essa renda cai. Assim, as crises na economia capitalista, sejam elas abrangentes e gerais ou isoladas e específicas, são uma propriedade objetiva do capitalismo, consequência das relações sociais de propriedade privada e do modo espontâneo de regulação mercado-comoditário da produção capitalista. A escala e a complexidade da organização da produção moderna sob o capitalismo aumentam significativamente as precondições para suas falhas críticas, tornando essas falhas cada vez mais frequentes e profundas, e dificultando enormemente sua resolução. Aos céticos, sugerimos que tentem calcular o tempo, mesmo que apenas das últimas duas décadas, em que qualquer sociedade capitalista, atrasada ou moderna e civilizada, não tenha enfrentado problemas de crise. À medida que a massa de meios de produção cresce gigantescamente em nossa era, sua transformação em capital torna-se cada vez mais insustentável para o mecanismo das relações capitalistas, e, sob o peso das forças produtivas que ele mesmo criou, esse mecanismo deixa de funcionar. Pois já não consegue transformar em capital toda a massa de meios de produção, que, portanto, são forçados a permanecer inativos e sem uso. Hoje, o capitalismo ainda consegue resolver o problema das crises sem levá-lo ao extremo. Principalmente por meio do controle artificial, freio e até destruição de sua própria produção, de quotas variadas para a quantidade de produtos fabricados e outros métodos bárbaros semelhantes. E essa selvageria, disfarçada de suposto "ajuste" econômico, ocorre enquanto, segundo dados da UE, mais de 18% da população da abençoada e próspera Europa vive na pobreza. Já passou da hora de a humanidade libertar-se dessa situação, em que a razão e o bem-estar de muitos recuam diante da ganância de alguns indivíduos, dependem de seu arbítrio ou das flutuações do preço do petróleo no mercado, e em que capacidades produtivas essenciais são deliberadamente paralisadas e destruídas para aumentar os lucros de alguns. Já passou da hora de avançar para um desenvolvimento racional, planejado e estável, para o qual já estamos tecnicamente preparados. E embora a humanidade ainda não consiga superar a resistência da classe exploradora dos capitalistas, a eliminação de tais absurdos e barbáries é, sem dúvida, uma perspectiva histórica não muito distante.
Assim, é evidente que o desenvolvimento contínuo do capitalismo exige urgentemente novos aprimoramentos no sistema de relações de produção. E não quaisquer melhorias triviais e cotidianas, mas sim mudanças substanciais. A razão é a necessidade de expandir as possibilidades de transformar os meios de produção em capital. Com o desenvolvimento atual das forças produtivas, esse problema se torna cada vez mais agudo. As relações estatais-monopolistas existentes também agravam significativamente essa situação. Por um lado, elas ajudam efetivamente o capitalismo a resolver problemas internos da sociedade, mas, por outro, contribuem ativamente para o crescimento cada vez mais rápido e em larga escala dos capitais e produtos internos já existentes em "excesso". Devido a tudo isso, os monopólios modernos hoje possuem capitais tão enormes que não apenas as fronteiras de seus próprios países os restringem, mas até mesmo as escalas globais se tornam estreitas. É importante esclarecer que essa limitação é condicional e é característica exclusivamente da produção capitalista, que visa obter o lucro máximo para o capitalista, e não atender às necessidades da sociedade. Portanto, tanto a capacidade da produção capitalista quanto, principalmente, a capacidade do mercado capitalista são determinadas não pela demanda em geral, baseada nas necessidades das pessoas, mas apenas por sua demanda solvente. Isso naturalmente limita significativamente as possibilidades de crescimento da produção capitalista, estreita o mercado capitalista e reduz a eficiência da circulação do capital, tanto dentro do país quanto no mundo. Um exemplo marcante contemporâneo disso pode ser a expansão do mercado capitalista devido ao desaparecimento do mercado socialista após a derrota do socialismo na URSS, que, apesar da incorporação de enormes massas de consumidores – porém com baixo poder aquisitivo –, apenas revitalizou o capitalismo mundial por um período muito curto. Isso demonstrou não apenas (ou nem tanto) as enormes capacidades produtivas do capitalismo moderno, capaz de saturar instantaneamente qualquer mercado, mas principalmente as limitações e a distorção desumana do mercado capitalista, que exclui do acesso uma enorme massa de consumidores de baixa renda.
Tendências do desenvolvimento do capitalismo moderno.
Ao revelar a essência do imperialismo, Lênin definiu cinco de suas principais características. Dessas, a 1ª e a 2ª manifestam-se em todos os traços e particularidades do imperialismo, pois sua especificidade reside no fato de que estão diretamente voltadas para suas formas internas estatalmente isoladas. Por sua vez, a 3ª, a 4ª e a 5ª expressam a criação de uma rede internacional de dependências e conexões. Ou seja, tanto a exportação de capital, quanto a divisão econômica do mundo por monopólios internacionais, a divisão territorial do mundo por potências imperialistas e a luta constante entre elas por sua redistribuição – tudo isso são manifestações do que está na base da natureza do imperialismo, ou seja, o domínio dos monopólios. No entanto, não se pode afirmar que qualquer manifestação, diferentemente da natureza essencial, possa permanecer imutável para sempre. Com o desenvolvimento do capitalismo e da sociedade humana em geral, as formas de manifestação do imperialismo naturalmente se modificam. Igualmente natural é o surgimento de novas manifestações. O colapso do sistema colonial é a prova mais clara disso. Embora menos radicais, todas as características do imperialismo também passaram por mudanças. Vamos nos concentrar nas mais relevantes para o nosso tempo – a exportação moderna de capital e as redistribuições econômicas globais –, além de examinar as novas formas de manifestação do imperialismo que se desenvolveram nos últimos anos.
Exportação de capital.
Antes do imperialismo, as conexões econômicas internacionais ocorriam principalmente por meio da exportação de mercadorias, o que é característico do capitalismo sob o domínio da livre concorrência. Com o desenvolvimento do capitalismo, o aumento de suas capacidades produtivas e a consolidação do domínio dos monopólios, a exportação de capital torna-se característica. Isso ocorre porque os mercados internos para produtos acabados tornam-se insuficientes, e o capital que não encontra aplicação interna passa a ser considerado "excedente". Mais uma vez, destacamos que o capital se torna "excedente" exclusivamente no contexto das relações sociais capitalistas de mercado, onde a produção não visa atender às necessidades da sociedade em determinados produtos, mas apenas satisfazer as demandas dos membros solventes da sociedade. Naturalmente, isso reduz drasticamente a quantidade de produtos necessários, diminui significativamente o mercado para esses produtos, limita a produção e, consequentemente, reduz o lucro do capitalista. É importante enfatizar queo próprio fato do surgimento de capital "excedente" demonstra claramente a essência distorcida das relações capitalistas, pois ele surge, na realidade, da pobreza e da insatisfação das necessidades do próprio povo e é direcionado não para elevar o padrão de vida da população, mas para aumentar ainda mais os lucros de seus proprietários por meio da exportação para outros países. Seguindo estritamente a lei econômica fundamental do capitalismo (LEFC), que afirma queO principal objetivo e o impulso decisivo do capitalismo para qualquer atividade é a busca pela maximização do lucro capitalista, o "excesso" de capital busca aplicação onde tal lucro é gerado. É na perseguição do lucro, e nada mais, que o capital "excedente" sempre será exportado (hoje, os economistas burgueses o mascaram sob a falsa respeitabilidade do termo investimento) para países onde sua aplicação renderá o maior lucro. A limitação do mercado interno, a feroz competição entre capitalistas dentro do país constantemente empurram os capitalistas a buscar e encontrar mercados externos que garantam lucros adicionais. A exportação ocorre tanto para países subdesenvolvidos quanto para desenvolvidos e é investida em áreas onde há escassez de capitais internos próprios. Isso é diretamente facilitado pela desigualdade do desenvolvimento capitalista, definida no marxismo como uma das leis fundamentais da produção capitalista, tanto de países inteiros quanto de indústrias específicas dentro desses países.
Nos dias de hoje, sob a pressão da luta dos povos pela independência, os monopólios são forçados a dar à exportação de capital a aparência de uma forma supostamente nova e democrática de relações econômicas. Nessas condições, além das formas tradicionais de exportação – capital empresarial, capital de empréstimo –, eles começaram a realizar amplas compras de ações, títulos e outros valores mobiliários emitidos por países importadores de capital, atrair capital local para a criação de empresas, organizar empresas mistas, abrir filiais próprias sob nomes e marcas nacionais dos países importadores. Isso cria a aparência externa de que o capital exportado supostamente serve a "nobres" propósitos de elevar a economia nacional de países subdesenvolvidos, promovendo o bem-estar social de suas populações. Mas, por mais que a verdade seja ocultada, a essência da exportação de capital foi, é e será a obtenção de lucros adicionais por meio da exploração de trabalhadores estrangeiros, a apropriação do produto excedente criado por seu trabalho, a subjugação e o saque de outros povos. A vida real confirma inequivocamente que nenhum investimento de "benfeitores" estrangeiros tirou qualquer povo de becos econômicos sem saída. Além disso, a exportação de longo prazo de capital de empréstimo gera diretamente relações de endividamento opressor e uma extração praticamente infinita de renda na forma de juros.
Paralelamente à exportação de capital, ainda hoje ocorre a tradicional exportação de mercadorias. E, nesse caso, os monopólios seguem firmemente o curso de extrair o máximo de lucro, utilizando ativamente suas vantagens monopolistas. Assim, não apenas – e nem principalmente – devido ao menor custo de seus produtos, baseado na maior produtividade do trabalho, mas devido ao aumento monopolista dos preços de seus próprios produtos, combinado com a redução dos preços de produtos, matérias-primas, alimentos e mão de obra dos países subdesenvolvidos, ocorre um descarado espólio desses países tanto na exportação quanto na importação. O que permite tirar mais uma conclusão desanimadora, mas vital para os países fracos –os monopólios imperialistas têm interesse direto em enfraquecer, minar ou eliminar completamente a base econômica nacional de outros países, pois, na ausência de produção própria, os mercados desses países são entregues inteiramente a escravizadores estrangeiros. Como isso é feito na prática pode ser visto tanto na Ucrânia moderna quanto na Rússia moderna. Hoje em dia,os monopólios mundiais não apenas utilizam mercados alheios para vender seus produtos, mas, com seu poder econômico, político e militar, ativamente os preparam para si, os adaptam a seus interesses, conduzindo uma aberta expansão econômica externa.
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