sábado, 29 de junho de 2019

O governo sírio e seus aliados não tomam como alvo hospitais e escolas, porque esses hospitais e essas escolas são os nossos hospitais e as nossas escolas.

Intervenção do delegado permanente da Síria nas Nações Unidas, Dr. Bashar al-Jaafari.

Obrigado, senhor presidente

A realização desta reunião do Conselho de Segurança acontece em boa hora, pois dá-nos a oportunidade, assim como a outros Estados, de vos traçar o quadro dos ataques lançados por grupos terroristas armados, reunidos em Idleb, nas cidades e aldeias vizinhas, nomeadamente o Rif d’Alepo, os Rifs do norte de Hama e de Latakia.

Falando de ataques, assinalo-vos que o mais recente é o massacre cometido há dois dias a sul de Aleppo, na aldeia de Doueihi; um crime que deixou 12 mortos e mais de 16 feridos em plena celebração de um casamento. 

Um ataque que transformou a vida pacata dos habitantes num terror difícil de descrever, no seguimento da deflagração de projécteis lançados pelos terroristas da “Frente al-Nusra”, apoiados pelo regime turco de Erdogan. 

Os corpos dos mártires e dos feridos, a maioria mulheres e crianças, estavam espalhados pelas vielas da aldeia, enquanto as casas dos habitantes e das propriedades públicas e privadas, incluindo o Centro de Saúde e a mesquita, foram amplamente destruídas.

Este crime bárbaro insere-se em toda uma série de crimes cometidos por esses grupos terroristas dirigidos por “Hay’at tahrir al-Sham”, aliás “Frente-al-Nusra”, organização terrorista inscrita na lista do Conselho de Segurança da ONU. e entidades terroristas enquanto sucursais da Al Qaeda na Síria. Crimes que requerem uma condenação clara e directa por parte deste Conselho.

Senhor Presidente

Vou mencionar, muito brevemente, alguns desses crimes, todos eles envolvendo a morte de dezenas de civis inocentes e o ferimento de centenas de outros, muitos dos quais mulheres e crianças. Por outras palavras, mencionarei apenas as vítimas civis, sem mencionar as vítimas militares:

• A cidade de Squelbié e as aldeias de Aïn al-Kouroum e Balhassine alvejadas em 25 de Maio por dezenas de projécteis
• As cidades de Salhab e Squelbie alvejadas em 26 de Maio por mais de 30 projécteis.
• A cidade de Qamhani atingida em 29 e 31 de Maio por numerosos rockets.
• As aldeias de Qal’at al-Madif, Karakate e Chatha ao norte e noroeste de Hama alvejadas com dezenas de rockets e mísseis.
• Numerosas regiões do Governato de Aleppo repetidamente alvejadas com dezenas de rockets e mísseis.
• A cidade de Jablé alvejada com numerosos mísseis
• O repetido alvejamento da cidade de Mhardeh com dezenas de mísseis, tendo o último ocorrido no alvorecer do dia de hoje

Isso, sem mencionar o contínuo alvejamento das posições do Exército Árabe Sírio e das Forças russas aliadas, nomeadamente o Aeroporto Hmeimim, com mísseis e drones armadilhados.

E uma vez que alguns gostam de nos colocar questões, seria bom que colocassem a si próprios e a nós as seguintes questões:

• Quem fornece todas essas armas aos terroristas?
• De onde vêm essas armas? Em para-quedas, vindas de outro planeta? Ou de Estados-Membros dentro ou fora deste Conselho?
• De onde vêm essas quantidades consideráveis de armas e também de terroristas? Não fomos nós invadidos por 100 mil terroristas estrangeiros só a partir da nossa fronteira com a Turquia? Quantas vezes o repetimos perante este Conselho e em outros lugares, enquanto uma das suas subcomissões confirmava a veracidade das nossas declarações quanto ao facto de que 101 Estados Membros desta Organização [das Nações Unidas] exportavam terrorismo em estado puro para a Síria?

Sr. Presidente

As declarações ouvidas hoje neste local indicam uma consciência partilhada por todos quanto à necessidade de lidar com um problema colocado por Idleb. Pelo menos é isso que entendemos das exposições dos nossos colegas: Idleb coloca um problema!

Idleb, a síria, obviamente. Não estou falando de Idleb na Flórida, na Grã-Bretanha ou em França … Todavia, no mês passado, 17 de Maio, tinha-vos demonstrado de forma muito detalhada que a causa deste problema é a persistência do regime turco e seus associados em fornecer todo o tipo de apoio aos grupos terroristas e a subtrair-se às obrigações decorrentes do acordo de redução da escalada militar e dos compromissos assumidos em Astana e Sotchi. O que permitiu à organização terrorista Hay’at tanrir al-Cham - que conta nas suas fileiras dezenas de milhares de terroristas estrangeiros, dos quais mais de 15.000 europeus - controlar a quase totalidade da cidade de Idleb e certas regiões vizinhas do noroeste da Síria, criar um foco de terrorismo desafiando o Estado sírio, tomar centenas de milhares de civis como escudos humanos.

Civis contra os quais cometem os mais hediondos crimes, espalhando morte e destruição; apropriando-se de instalações civis, incluindo hospitais e escolas convertidas em casernas militares, centros de detenção e tortura; assassinando todos aqueles que rejeitam a ideologia takfirista extremista e as suas disposições obscurantistas.

A esse propósito, quando certos colegas – entre os quais figuram, o que muito lamentamos, o Sr. Lowcock e a Sra. DiCarlo [respectivamente, Secretário-Geral adjunto para assuntos humanitários, Gabinete de coordenação dos assuntos humanitários (OCHA) e Coordenador dos socorros de emergência; Secretária-Geral adjunta para os assuntos políticos tendo sucedido a Jeffrey Feltman] cujas fontes não sei quais são, vos dizem que 27 instalações médicas ou, mais precisamente, 27 hospitais foram alvejados em Idleb, eu digo-vos que:

• A capital, Damasco, onde vivem 8 milhões de pessoas, tem apenas 8 hospitais públicos dentro dos seus muros e 9 hospitais na periferia, ou seja um total de 8 + 9 = 17 hospitais, não mais. Se somarmos os 10 hospitais privados, nem chegamos a 30 hospitais para uma capital onde residem 8 milhões de habitantes.
• Enquanto Alepo conta com 11 hospitais públicos mais 10 hospitais privados. Donde 21 hospitais na segunda cidade do país onde residem 5 milhões de pessoas.
• Quanto ao Idleb, a cidade conta 4 hospitais públicos e 4 hospitais privados, donde 8 hospitais no máximo.

De onde vem então esse número de 27 hospitais alvejados em Idleb? Que eles tenham a gentileza de nos indicar as suas fontes. Quanto a mim, digo-vos publicamente que essas declarações são desinformação e mentiras. A fonte, seja ela qual for, na origem dessas informações trabalha para vos enganar. Não há 27 hospitais em Idleb!
Agora, para responder à minha colega a embaixadora britânica: se a organização dos “Capacetes Brancos” ocupa um compartimento na cave de um qualquer edifício e o usa como plataforma de lançamento dos seus projécteis, é outra coisa. Não é um hospital. É o que se chama “instalação médica improvisada”. E é, mais exatamente, uma palhaçada e uma encenação sobre algo a que se chamou hospital, mas que se verifica ser apenas uma sala numa cave, destinada a atingir os civis e os soldados do Exército árabe sírio.

Além disso, e uma vez que hoje os sentimentos “humanitários” florescem em toda a parte, falar-vos-ei de um outro escândalo. Sabeis vós, Senhoras e Senhores, que após 8 anos de sanções - ditas “medidas coercivas unilaterais” por que ilegítimas e não decididas por vós - os Estados Unidos e a União Europeia persistem em proibir a exportação de equipamentos médicos para ressonância magnética e tomografia axial computorizada, e até mesmo fio cirúrgico para a Síria? Qual é então essa empatia humanitária que proíbe a exportação desses materiais e equipamentos para os nossos médicos e cirurgiões que tanto necessitam dela? Para não falar de crime, é uma vergonha e é o mínimo que podemos dizer sobre isso. Mas a OCHA evidentemente que não vê nada, e a Sra. DiCarlo e os papagaios do humanitário também não!

O governo sírio e seus aliados não tomam como alvo hospitais e escolas, porque esses hospitais e essas escolas são os nossos hospitais e as nossas escolas.

Sr. Presidente

A aplicação dos princípios do direito internacional, das disposições da Carta e das resoluções deste Conselho relativamente ao terrorismo necessitam, neste caso específico, de apoiar os esforços do Estado sírio e dos seus aliados na sua luta contra o terrorismo. bem como a criação de uma parceria para esse efeito, uma vez que são a parte interessada na erradicação do terrorismo e na melhoria da situação humanitária na Síria, em vez de exigirem a realização destas sessões espectaculares, de divulgarem informações enganosas e de fabricarem acusações contra a Síria e seus aliados a fim de socorrer os grupos terroristas, de fazerem obstrução aos procedimentos legítimos do Estado sírio com o objectivo de proteger os seus cidadãos desembaraçando-os da sujeição às organizações. terroristas que fazem deles os seus escudos humanos.

Portanto, é necessário abandonar totalmente todas as tentativas de minar a soberania, a unidade e a integridade territorial da Síria, parar todas as tentativas de exploração da crise a fim de servir as agendas destrutivas de certos Estados e seus cúmplices, renunciar às políticas selectivas sistemática e incontestavelmente partidárias.

Políticas que se reflectem no facto de que certos Estados Membros fecham os olhos aos crimes cometidos por grupos terroristas, ao papel dos governos de Estados notoriamente conhecidos pelo seu apoio ao terrorismo, aos crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos pela ilegítima “Coligação Internacional” em Raqqa, Deir ez-Zor, Hajine, Al-Baghouz, etc. - como o evocou o meu querido colega embaixador russo, graças lhe sejam feitas - e sobre a detenção de dezenas de milhares de civis sírios pelas forças de ocupação dos EUA no campo de Al-Roukbane.

E pela centésima vez, lembramos que o campo de Al-Roukbane é uma terra síria ocupada por forças norte-americanas que alimentam uma facção terrorista chamada “Maghawir al-Thawra”, que cobram 100.000 libras sírias por cada civil que deseje deixar o campo, coisa a que os americanos, evidentemente, fecham os olhos.

Sr. Presidente

Acabar com o sofrimento dos sírios em Idlib e outras regiões exige:

Primeiro: Contrariar as principais causas desse sofrimento. Ou seja, as políticas dos governos que apadrinham o terrorismo, as ações de organizações terroristas e milícias assim instrumentalizadas, os crimes incessantes cometidos pela dita “Coligação Internacional”, incluindo os incêndios deliberados das plantações de cevada e trigo. A esse propósito, há dois dias, o regime turco publicou um anúncio em língua árabe, dirigido aos agricultores sírios, para os informar de que o governo turco estava disposto a comprar as suas colheitas em liras turcas. Por outras palavras, o que não terá sido queimado poderá ser vendido à Turquia a um quarto do preço. O que não impede que nos acusem de prejudicar a Turquia. Não, não é esse o caso. O regime turco não respeita absolutamente as regras de boa vizinhança. Se possuísse um pingo de sabedoria política, reflectiria sobre o futuro, já para não falar do direito internacional e dos acordos que organizam as relações entre a Turquia e a Síria. É o que deveria fazer: tomar em conta o futuro, porque estamos presentes nesta região pelo facto da Geografia e da História. O regime de Erdogan não deveria abrir as nossas fronteiras comuns a dezenas de milhares de terroristas estrangeiros e a todos os tipos de armas, incluindo armas químicas vindas de Bengasi, via Istambul, para Khan al-Assal, perto de Aleppo. Um percurso que já vos referi muitas vezes, os produtos químicos tendo sido encaminhados por um terrorista sírio trabalhando para os Serviços de informações turcos: Haytham al-Kassar. Tanta informação na vossa posse, dadas as 800 mensagens detalhadas que nós vos enviámos. Mas alguns recusam ler.

Segundo: Acabar com a presença ilegal de forças dos EUA e da Turquia no território da República Árabe da Síria e, em consequência, com o sofrimento de milhões de civis nas regiões controladas por essas mesmas forças.

Terceiro: Levantar imediata e incondicionalmente as medidas económicas coercivas unilaterais e ilegítimas impostas ao povo sírio; as quais constituem um terrorismo econômico e uma punição colectiva.

Quarto: Deter a politização deliberada e sistemática da situação humanitária bem como a sua exploração para fins totalmente contrários aos princípios da acção humanitária.

Quinto: Apoiar os esforços do Estado sírio com vista à reconstrução do que foi destruído pelo terrorismo - deixo-vos julgar o objectivo visado por estas destruições -; facilitar o retorno dos sírios deslocados com dignidade e segurança e trabalhar para orientar nesse sentido as promessas dos doadores.

Sr. Presidente

Apesar da adopção pelo Conselho de Segurança de mais de 46 resoluções relacionadas com a luta contra o terrorismo, a guerra terrorista imposta ao meu país desde há quase nove anos, das suas consequências e do papel desempenhado pelos governos de certos países para a prolongar, alguns fora e mesmo dentro deste Conselho continuam a explorar o terrorismo até ao ponto de ver nele um parceiro, em lugar de construir uma parceria com a Síria para o erradicar. Aqui também vos deixo ajuizar sobre o objectivo de tais manobras.

Aqui, reitero que o governo sírio não se curvará perante a guerra terrorista que lhe é imposta, não permitirá que as vidas de seus cidadãos continuem a ser assim ameaçadas, continuará a exercer os seus direitos soberanos e constitucionais e a apoiar-se nas disposições da Carta e nos princípios do direito internacional para defender o seu território e os seus cidadãos, lutar contra o terrorismo e pôr termo à presença estrangeira ilegítima sobre o conjunto da República árabe da Síria.

No entanto, o governo do meu país permanece empenhado na concretização de uma solução política que permita aos sírios fazer a sua escolha e decidir do seu futuro, através do diálogo realizado por eles mesmos, sem ingerência estrangeira, de uma forma que garanta a soberania, a independência, a unidade e a integridade territorial da Síria.

Obrigado, senhor presidente.

Dr. Bashar al-Jaafari :Delegado Permanente da Síria junto das Nações Unidas

Fonte: https://www.legrandsoir.info/conseil-de-securite-appels-pressants-pour-contenir-le-conflit-dans-le-nord-ouest-syrien-et-eviter-des-consequences-humanitaires.html




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