segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Parte 2-Não é uma relíquia marxista mas um guia para a ação

              Uma palavra sobre a revolução

Se hoje muitos nem sequer querem ouvir falar de revolução, isso deve-se com frequência ao facto de os partidos, durante muito tempo, apenas em palavras se declararem revolucionários, sem qualquer correspondência com a prática. Isto levou a que os actuais comunistas, desejando colocar em conformidade o discurso com os actos, considerem que não se pode falar de revolução neste momento. No entanto, há outro modo de alcançar a unidade do discurso com a prática.

Na época em que Lénine escreve havia duas tendências, a oportunista a anarquista, que não compreendiam «a nossa primeira e mais urgente tarefa prática: criar uma organização de revolucionários capaz de dar à luta política energia, firmeza e continuidade». Interroguemo-nos: por que razão é tão raro hoje um comunista afirmar que a construção de um partido revolucionário é a questão mais candente e a tarefa mais urgente? Conclui-se que também hoje há muitos membros de partidos comunistas que, intitulando-se comunistas, não partilham a ideia de que um comunista «deve, acima de tudo, pensar numa organização de revolucionários capazes de dirigir toda a luta emancipadora do proletariado».

Para aqueles que, acima de tudo, pensam e agem neste sentido, o livro Que Fazer? traça um amplo plano de trabalho revolucionário, um plano para a construção de uma organização de partido de combate para realizar esse trabalho.

Admito que este plano foi elaborado numa época histórica totalmente diferente. Sim, é verdade. Mas este plano contém a lógica interna da criação de um partido revolucionário sem a qual é impossível formar um tal partido em qualquer época. Vejamos em que consiste esta lógica.

Uma tal organização deve, acima de tudo, assentar numa firme base teórica:«Sem teoria revolucionária não pode haver também movimento revolucionário». Por isso, hoje, é particularmente oportuno colocar e resolver de modo leninista a questão do trabalho teórico do partido, porquanto sem tal  trabalho o movimento arrisca-se a ser comunista apenas em palavras, o que significa que não pode ter êxito. Assim, Lénine insiste em primeiro lugar na exigência firme de «”uma atenção vigilante ao aspecto teórico do movimento revolucionário do proletariado”».

Citando Engels, Lénine insiste em três formas de luta de classe: a par da luta política e económica, sublinha a importância da luta teórica da qual depende o êxito das duas primeiras. De acordo com a recomendação de Engels, o movimento operário deve travar a luta de forma harmoniosa nas suas três direcções concatenadas e ligadas entre si: teórica, política e económico-prática (resistência
aos capitalistas). Neste assalto, digamos, concêntrico reside a força e a invencibilidade da classe operária.

Todavia, não é na sua continuidade, no seu encadeamento ou sequência: uma antes da outra ou uma depois da outra, que consiste esta concentricidade e concatenação das três formas da luta de classe. Na realidade é sua efectiva ligação interna que constitui a lógica da construção da organização revolucionária, tanto no plano programático como táctico, e garante a unidade da teoria revolucionária coma prática.

Note-se que ao acentuarmos a necessidade e importância do trabalho teórico isso não significa que este trabalho deva ser colocado em primeiro lugar face ao trabalho prático, não significa também que o trabalho prático deva ser adiado até que o trabalho teórico esteja terminado. Uma tal divisão – primeiro um, depois o outro –é um traço característico do socialismo utópico ou daqueles socialistas que não têm uma noção clara do método na ciência social, não dominam o materialismo, «o único método científico que exige que todo o programa seja a formulação exacta do processo real». Tais socialistas consideram que a sua tarefa é criar «modelos» de sociedade (diferente da existente) e procurar vias para a sua introdução. Para eles, naturalmente, «o trabalho prático apenas se torna possível depois de os filósofos geniais terem descoberto e indicado essas “outras vias”; e, inversamente,quando essas vias forem descobertas e indicadas, o trabalho teórico termina e começa o trabalho dos “patriotas” – aqueles que devem orientar a “pátria” pelo novo caminho descoberto. 

A questão coloca-se de uma maneira completamente diferente quando a tarefa dos socialistas consiste em serem os dirigentes ideológicos do proletariado na sua luta real contra inimigos reais, autênticos, que se encontram na via real de um determinado desenvolvimento socioeconómico.

Neste caso, o trabalho teórico e prático fundem-se num único trabalho, que foi tão justamente caracterizado por Liebknecht, veterano da social-democracia alemã, com as palavras:
Studieren, Propagandieren, Organisieren ( Estudar, Propagandear, Organizar)

Não se pode ser um dirigente ideológico sem se fazer o atrás referido trabalho teórico, tal como não se o pode ser sem orientar este trabalho segundo as necessidades da causa, sem propagandear os resultados desta teoria entre os operários e sem os ajudar à sua organização.»

Com esta concepção da tarefa, considera Lénine, os ideólogos do proletariado evitam cair no dogmatismo e no sectarismo. «Não pode haver dogmatismo lá onde o critério supremo e único da doutrina é definido como a sua correspondência com o processo real de desenvolvimento socioeconómico; não pode haver sectarismo quando a tarefa consiste em auxiliar a organização do proletariado e, consequentemente, o papel da “intelligentsia” consiste em tornar inútil a presença
de dirigentes intelectuais especiais.»

Hoje é frequente intitularem-se de comunistas aqueles que reconhecem a teoria marxista, com excepção do seu carácter revolucionário e da teoria da luta de classes. Lénine salienta ninguém pode negar que «a teoria da luta de classes é o centro de gravidade de todo o sistema de concepções de Marx», e que «perder de vista a luta de classes é revelador de uma grosseira incompreensão do
marxismo». Não se pode reconhecer a teoria de Marx excluindo este ponto, uma vez que isso implicaria «refazer a teoria e elaborar a concepção de um outro capitalismo, no qual não houvesse relações antagónicas e luta de classes». Por isso, os comunistas partem da seguinte conclusão desta teoria: «Só há uma saída [da sociedade burguesa] que decorre necessariamente da própria essência do
regime burguês, a saber: a luta de classe do proletariado contra a burguesia», travada à escala nacional até à tomada do poder e à instauração da ditadura do proletariado. Assim, a acção política dos comunistas consiste em contribuir para o desenvolvimento e organização do movimento operário, para a transformação das guerras económicas isoladas em luta de classe consciente, dirigida contra o regime burguês com o objectivo de expropriar os expropriadores e suprimir as normas sociais que assentam na opressão dos trabalhadores. Não se trata de agir no lugar dos operários, em prol deles ou em seu nome mas, sublinhamos mais uma vez, de contribuir para o desenvolvimento e organização da luta consciente dos próprios operários.

Quem não compreende e não reconhece estas teses leninistas ou não é comunista ou terá que elaborar uma nova teoria que substitua o marxismo e demonstre as suas infundadas conclusões

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