Assim é destruído o país africano que, como foi documentado pelo Banco Mundial em 2010, mantinha “elevados níveis de crescimento econômico”, com um aumento do PIB de 7,5% por ano, e registrava “elevados indicadores de desenvolvimento humano” incluindo o acesso universal ao ensino primário e secundário e, mais de 40%, ao ensino universitário. Apesar das disparidades, o nível médio de vida na Líbia era mais elevado do que em outros países africanos. Encontravam aí trabalho, cerca de dois milhões de imigrantes, na sua maioria africanos. O Estado líbio, que possuía as maiores reservas de petróleo em África e outras de gás natural, permitia somente margens de lucro limitadas às empresas estrangeiras. Graças às exportações de energia, a balança comercial líbia tinham um ativo de 27 bilhões de dólares por ano.
Não é por acaso que a guerra da OTAN para a destruição do Estado líbio começou nem mesmo dois meses após a cimeira da União Africana que, a 31 de janeiro de 2011, deu luz verde para a criação do Fundo Monetário Africano até ao final do ano. Provam-no os e-mails da Secretária de Estado da Administração Obama, Hillary Clinton, posteriormente trazidos à luz pelo WikiLeaks: os Estados Unidos e a França queriam eliminar Gaddafi antes de ele utilizar as reservas de ouro da Líbia para criar uma moeda pan-africana alternativa ao dólar e ao franco CFA (moeda imposta pela França às suas 14 antigas colônias). Isto está provado pelo fato de que, antes dos bombardeiros entrarem em ação em 2011, os bancos anteciparam-se: congelaram os 150 bilhões de dólares investidos no estrangeiro pelo Estado líbio, dos quais a maioria desapareceu. Goldman Sachs, o mais poderoso banco de investimento dos EUA, do qual Mario Draghi foi vice presidente, destaca-se nesse grande assalto.
Atualmente, na Líbia, as receitas de exportação de energia estão a ser acumuladas por grupos de poder e por multinacionais, em uma situação caótica de confrontos armados. O nível de vida da maioria da população desceu. Os imigrantes africanos, acusados de serem “mercenários de Kaddafi”, foram mesmo encarcerados em jaulas de jardim zoológico, torturados e assassinados.
A Líbia tornou-se a principal rota de trânsito, nas mãos dos traficantes de seres humanos, de um caótico fluxo migratório em direção à Europa que causou muito mais vítimas do que a guerra de 2011. Em Tawergha, as milícias islâmicas da Misurata apoiadas pela OTAN (os que assassinaram Kadhafi em outubro de 2011) efetuaram uma verdadeira limpeza étnica, obrigando quase 50 mil cidadãos líbios a fugir sem poderem regressar. De tudo isto também é responsável o Parlamento italiano. A 18 de Março de 2011, comprometia o governo a “tomar qualquer iniciativa (ou seja, a entrada em guerra da Itália contra a Líbia) para assegurar a proteção da população da região”.
por Manlio Dinucci, no Il Manifesto
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