Caros camaradas, Não gosto de começar com o cliché: “nestes tempos difíceis por que estamos a
passar...”. Nunca houve um tempo fácil para o movimento da classe operária. Não é
surpreendente que, hoje, as classes capitalistas ataquem o movimento operário e se
esforcem por abolir todas as aquisições que as classes trabalhadoras alcançaram ao
longo de séculos – eles têm-no feito sempre que o capitalismo passou por sucessivas
crises económicas e políticas. Também não é surpreendente que as contradições entre
as potências imperialistas se aprofundem e cresçam a ameaça de guerra e o fascismo.
É verdade que estas ameaças trazem dificuldades adicionais para o movimento
comunista.
Restrições, proibições, prisões, perseguições, assassinatos... Temos
incontáveis exemplos de tais agressões por parte da burguesia na história do
movimento comunista. Aqui mesmo, no nosso país, os comunistas foram forçados à
luta clandestina, durante décadas. Hoje não é excepção. Só há uma conclusão dos
injustos desenvolvimentos, contra os quais protestamos, no Cazaquistão, na Ucrânia,
na Hungria, nos países Bálticos e noutros: não podemos falar de uma verdadeira
liberdade ou democracia sob o capitalismo!
Camaradas
Não há razões para dizer que certos períodos contêm condições “mais suaves” para
os comunistas. E refiro-me aos períodos em que o capitalismo consegue uma relativa
estabilidade e, seja por que motivo for, alarga o âmbito da democracia burguesa.
Claro, isto só pode ser afirmado se ainda estivermos comprometidos com a nossa
única razão de existir: a criação de uma sociedade sem classes, livre da exploração.
Um capitalismo estabilizado não quer e não pode resolver a exploração, o
desemprego, as desigualdades, a pobreza e as possibilidades de crises. A estabilidade
do capitalismo arma a classe dominante com oportunidades adicionais para enganar
as massas trabalhadoras. A este respeito e de certa maneira, as dificuldades para os
comunistas aumentar.
Caros camaradas
Temos de nos livrar do capitalismo. A humanidade não pode suportar mais esta
barbárie. Atrevo-me a dizer isto num país onde estamos confrontados com um dos
piores resultados eleitorais que um partido comunista pode alcançar, precisamente
há quatro meses.
Atrevo-me a dizê-lo, não porque somos sonhadores, utópicos, aventureiros ou tolos,
mas porque somos comunistas!
É claro que a luta pelo socialismo exige paciência e persistência. Não faríamos uma
revolução, mas criaríamos caricaturas, com um voluntarismo que não tivesse em
conta as condições objetivas, nem o conseguiríamos sem sacrifícios. A caricatura é
uma arte impressiva, criativa e alegre; ainda que aqueles que a si próprios se
transformam em caricaturas na política não alegrem ninguém, a não ser o nosso
inimigo.
E isto não é tudo! O que também anima o nosso inimigo, a classe capitalista, é o
objetivo de o socialismo se afundar no esquecimento.
Camaradas
A história do movimento comunista está cheia de grandes vitórias e conquistas. Indo
mais longe, posso dizer que se os comunistas fossem retirados da história dos últimos
160 anos, o mundo não só se teria transformado num inferno, mas ter-se-ia tornado
estéril, em todos os sentidos da palavra. Os comunistas deixaram as suas marcas, nas
suas épocas, nos domínios da ciência, da arte e da cultura.
Então, por que somos hoje menos influentes?
Devemos, corajosamente, fazer esta pergunta. Devemos fazê-la, a fim de que nosso
inimigo não possa animar-se mais.
Somos menos influentes hoje, por que a ideia e a esperança de que outro mundo é
possível têm estado em declínio. É um golpe mortal para o movimento comunista se
deixarmos que o objetivo da revolução socialista perca a sua atualidade.
Embora seja
verdade que os comunistas tomam partido pela paz e pela liberdade, a sua
legitimação histórica não deriva de outra coisa a não ser do seu objetivo de uma
sociedade sem classes.
O objetivo da revolução socialista, colocado na linha da frente, em 1919, quando a
Comintern foi criada, não foi assumido porque os partidos membros eram poderosos.
Todos nós sabemos que muitos dos partidos que então tomaram o nome de “comunistas” não eram mais fortes do que os partidos a que hoje chamamos
“pequenos”.
O avanço da Revolução de Outubro realçou os traços intermitentes e com
altos e baixos da luta pelo socialismo. Os revolucionários russos obtiveram uma
vitória, em que ninguém acreditaria um par de anos antes de 1917. Hoje, o socialismo
não está de modo algum mais longínquo do que em 1914.
Sabemos disso pela nossa experiência neste país.
Caros camaradas
Se perguntasse o que vos vem à mente como políticos revolucionários quando ouvem
o nome Turquia... É um país bonito e alegre, com as suas riquezas históricas e
naturais. É a terra natal do grande poeta Nazim Hikmet e de dedicados
revolucionários. No entanto, isso não é tudo. Iriam certamente pensar em golpes
militares, fascistas, e em militarismo e fanáticos religiosos. Hoje, muitos dizem-nos
que não faz sentido falar de socialismo num tal país. Dizem-nos que as nossas
prioridades devem mudar, quando as liberdades são postergadas em tão grande
extensão.
No entanto, sabemos que os ataques militares aconteceram no nosso país,
precisamente por esta razão: a de garantir a ordem capitalista como um todo. Quando
os generais pró-NATO realizaram o golpe de Estado de 1980, um dos capitalistas
proeminentes da Turquia declarou: “agora é a nossa vez de rir”.
O mesmo vale para o fanatismo religioso. Sim, a religião em si é muito mais antiga do
que o capitalismo, mas invadiu a esfera política da Turquia através dos dólares dos
EUA e dos marcos da Alemanha.
O racional era impedir o renascimento social da
Turquia. A este respeito, é um grande erro entender o movimento islâmico apenas
como um fenómeno anacrónico. Só pode chegar-se a uma correta indução se se usar o
termo “anacrónico” também para o capitalismo. Temos de compreender que, hoje, os
mais proeminentes monopólios do mundo estão a travar uma guerra contra a
modernidade.
Caros representantes de partidos irmãos. A luta do nosso partido é baseada em três elementos indissociáveis e fundamentais.
O primeiro, é o facto do imperialismo. O que deveremos entender por isso?
Em
primeiro lugar, não devemos olhar para o imperialismo como uma questão de
negócios estrangeiros para a Turquia. Nem o imperialismo significa simplesmente
um problema de dependência para o país. Não temos dúvida de que a Turquia é frágil
e aberta à influência e às intervenções dos poderosos centros imperialistas,
nomeadamente dos EUA e da Alemanha, em termos económicos, políticos, militares
e culturais. Nós lutamos contra isso e defendemos uma Turquia independente e
soberana.
Fazemo-lo, não por razões táticas, mas porque somos comunistas e
patriotas. Em conexão com isto, lutamos pela aniquilação das instituições
imperialistas, como a NATO e a UE, que afetam não apenas a Turquia mas todos os
oprimidos do mundo.
Mas como se pode distinguir esta luta da desenvolvida contra os monopólios
nacionais e estrangeiros e contra a efetiva ordem fundamental desses monopólios, o
capitalismo? Como podemos continuar a lutar contra o imperialismo, se não
lutarmos também contra as reivindicações regionais da burguesia da Turquia e os
seus esforços e intenções para se tornar, a si própria, um poder imperialista?
Um país
capitalista mas independente, um país capitalista mas soberano, um país capitalista
mas dignificado é um sonho vão.
Há mais do que exemplos suficientes na história do movimento comunista, que
mostram com o que nos iríamos confrontar quando abandonássemos a perspetiva de
classe e o objetivo do socialismo pela luta anti-imperialista.
A história ensina-nos
que, após abandonarmos o objetivo do socialismo, vem o abandono da luta contra a
NATO e, finalmente, o objetivo de quebrar os laços com ele!
Nós definimos assim o patriotismo: o patriotismo é a vontade de libertar um país dos
exploradores! Não a loucura de mostrar empatia com a burguesia desse país.
É a mesma razão e a mesma necessidade por que os comunistas não podem e não
devem preferir um poder imperialista em detrimento de outro. O mais poderoso
inimigo hoje pode ser os EUA ou outro centro imperialista. Além disso, o choque de
interesses entre os imperialistas pode dar algumas oportunidades ao movimento
comunista. Mas tudo isso pode atingir um significado histórico, apenas e só, se
assumirmos uma posição firme na nossa independência de classe e não orientarmos a
classe operária para fazer a paz com esta ou aquela fação da classe capitalista.
O segundo elemento da nossa luta é o esclarecimento. Temos aqui muitos camaradas
de países islâmicos. A mesma experiência, que todos nós compartilhamos, mostra
que os comunistas nunca conseguirão ganhar força real se não tiveram uma posição
laica. Sem dúvida que, por esclarecimento, vou além dos limites do sentido burguês
do termo. O legado histórico das revoluções burguesas, desde 1789, passou com um
conteúdo alterado para a classe operária, que, hoje, agita a bandeira do progresso por
sua conta e risco.
Precisamos de desenvolver uma luta sem hesitações contra as forças
reacionárias e contra a introdução da religião na sociedade e nas políticas, não só nos
países islâmicos, mas em todo o mundo. Não nos podemos esquecer de que, hoje, o
terror religioso é o produto da introdução da religião na esfera política, quer isso
tenha sido efetuado de forma moderada ou radical.
Esta invasão da esfera política não é simplesmente uma questão de interesse
geopolítico dos imperialistas. A sacralização como um todo contribui para a
persistência do domínio do capitalismo.
Assim, é inaceitável para os comunistas, que
sempre defenderam a liberdade de crença e de culto, abandonar o princípio de
manter a religião fora da vida política.
Opomo-nos à redução da luta contra o fanatismo religioso apenas a uma luta contra o
ISIS. Também nos opomos às tentativas de nos colocar, com os países imperialistas,
no mesmo terreno de luta contra essa organização sanguinária. Não só recusamos as
tendências para aceitar o menor dos males, como também sabemos quem criou tudo
isto.
Caros camaradas,
O terceiro elemento essencial da nossa luta, o anti-capitalismo, é sem dúvida a
vertente determinante de um partido comunista. No entanto, não podemos tomar
isto como um cliché, muitas vezes repetido, a aguardar o momento certo para entrar
em cena. Também não vemos as lutas pela paz, pelas liberdades e pelo esclarecimento
como passos prévios para ajudar uma futura luta pelo socialismo. Para nós, a
perspetiva da revolução socialista deve ser o princípio fundamental dos partidos
comunistas em todas as situações e em todos os momentos.
Camaradas
Permitam-me que explique tudo isto de forma mais clara, exemplificando com a
situação concreta na Turquia.
Quando o AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento) chegou ao poder, há quase 15
anos, sob a liderança de Erdogan, a maioria da esquerda na Turquia deu o seu apoio
direto ou indireto ao AKP; e justificou-o com a necessidade de democratização,
desmilitarização e desenvolvimento da sociedade civil na Turquia. Alguns partidos da
Esquerda Europeia também se envolveram neste processo. Somos capazes de provar
com documentos que declararam Erdogan como revolucionário, reformista e
progressista. Nós, por outro lado, avaliámos os acontecimentos de um ponto de vista
de classe, e são reavaliados várias vezes.
Aqueles que anteciparam a democracia vinda
da classe capitalista e os que esperaram pela liberdade vinda dos fundamentalistas
islâmicos enganaram o povo da Turquia.
Mais tarde, à medida que o governo do AKP atacava a classe operária, as mulheres e
os jovens, a indignação e as reações acumularam-se na sociedade. A influência dos
comunistas, que tinham levantado a bandeira da luta anti-AKP quase sozinhos,
alargou-se. Como Erdogan polarizava cada vez mais a sociedade, fações significativas
da burguesia também ficaram perturbadas. Nesse momento, em 2013, rebentou uma
grande revolta social, conhecida como os protestos de Gezi. Milhões foram para as
ruas contra o governo. A classe capitalista tentou várias vezes influenciá-la, através de
vários canais, de forma a transformá-la numa revolução colorida. No entanto, a
presença de forças e tendências ideológicas revolucionárias e da participação das
massas não permitiu a passagem de qualquer intervenção liberal, pró-EUA ou pró-
UE. O movimento curdo, por outro lado, absteve-se de participar, acusando o
movimento de uma tentativa de golpe contra o AKP.
Caros camaradas
Se perguntarem como estão as nossas relações com o Movimento Nacionalista Curdo,
a nossa resposta será esta: o povo curdo é oprimido; não podemos virar as costas às
suas reivindicações de igualdade e liberdade. Lutamos por um país onde os curdos, os
turcos e todos os outros povos possam viver juntos em paz e fraternidade. Há muitos
curdos no nosso partido que lutam com este propósito. Dito isto, queridos
camaradas, não podemos aprovar escolhas pragmáticas de um movimento
nacionalista, baseado na colaboração de classes, ou nas suas relações com os centros
imperialistas. Também não podemos esquecer como eles apoiaram o governo do AKP durante anos. O socialismo também é necessário para os curdos, a menos que eles
pensem a libertação como a dominância de Barzani e similares.
Camaradas
O Movimento Nacionalista Curdo salvou Erdogan de cair, em 2013. Os líderes do
movimento expressaram explicitamente e repetidamente que essa não é a sua
reivindicação. E então... o quê?
E então, a burguesia e os principais estados imperialistas, que desconfiavam dos
milhões de pessoas que tomaram as ruas, iniciaram desde então uma intervenção
abrangente, que nós apelidamos de “uma tentativa de restauração”. O objetivo era
uma ampla coligação com um AKP sem Erdogan, um renovado e reformado CHP
(Partido Republicano do Povo) e o HDP (Partido Democrático do Povo), com um
partido curdo integrado no sistema. Hoje, Erdogan resiste contra essa alternativa,
que significará a sua exclusão. A tentativa não teve êxito nas eleições de junho e,
agora, fações poderosas da classe capitalista tentam o mesmo, mais uma vez, nas
próximas eleições.
Quase todas as facções da esquerda turca estão por trás deste projeto. A sua
justificação é a seguinte: “Erdogan deve ir primeiro, para que possamos dar um
suspiro de alívio”.
Caros camaradas
Não deve surpreender-vos que o nosso partido, nas passadas eleições, só tenha
recebido votos dos seus militantes. Não fomos negativamente afectados pelos
resultados, pois estamos conscientes do terror intelectual existente. Hoje, não há uma
organização de esquerda que mencione a classe operária ou a contradição entre o
trabalho e o capital!
O HDP, que se transformou num partido social-democrata,
continua a receber o apoio de certos monopólios dos média. Alguns políticos do HDP,
que se auto-assumem como “marxistas”, visitam organizações de capitalistas,
posando alegremente nas mesmas fotos e molduras.
Na verdade, a classe capitalista bem precisa da esquerda.
O sistema na Turquia está
com pressa de criar a sua própria esquerda persuasiva, pois, caso contrário, ficará
num grande risco. Sem o SYRIZA, o sistema na Grécia também estaria sob ameaça. O
mesmo vale para os outros países – o Podemos, em Espanha; os últimos
desenvolvimentos no Partido Trabalhista, na Grã-Bretanha... Pode tudo isto estar
desligado da necessidade de gestão da crise e da sustentação do capitalismo?
Hoje, semelhantes desenvolvimentos têm lugar na Turquia. Aqueles que, até aqui,
mantiveram Erdogan a salvo do povo, pressionam-nos agora para participarmos na
coligação contra Erdogan. Mas por que atribuem eles tanta importância a um partido
que teve menos de 1% dos votos?
Porque têm medo! Não estou a exagerar. Têm medo da nossa boa organização, da
nossa sagacidade política, da nossa influência, dos nossos quadros e dos nossos
militantes, que agitaram a bandeira vermelha da classe operária na Praça Taksim, em
7
maio, quando ela foi ocupada por dezenas de milhares de polícias.
No dia após as
eleições, em que tivemos uma taxa ridiculamente insignificante de votos, 780 mil
pessoas visitaram a publicação em linha do nosso partido.
Por que é isto assim? Como pode um fracasso eleitoral não causar angústia?
Por que estamos seguros de nós mesmos! O nosso partido auto-protegeu-se e ganhou
boa reputação por, muitas vezes, correr o risco de ficar sozinho. Nós sempre
assumimos posições, que seriam mais tarde compreendidas, sobre a UE, a NATO e o
governo do AKP.
Quando o processo chamado de Primavera Árabe abalou o Médio
Oriente, nós denunciámos imediatamente que estavam a sequestrar a raiva das
pobres massas árabes. Os sequestradores eram os monopólios internacionais.
Aqueles que disseram “em primeiro lugar, deixemos a democracia desenvolver-se” e
aqueles que apoiaram partidos islâmicos, adiantando a justificação de que “é tudo o
que uma revolução pode ser nos países árabes”, ficaram decepcionados. Mursi, Sisi,
Erdogan, ou Tsipras... Estes são os representantes de diferentes fações da burguesia e
frustrarão sempre quem confiar neles, em nome da democracia, da liberdade ou do
progresso.
Sim, queridos camaradas, o nosso partido, que no ano passado se deixou levar numa
crise pelo vento liberal e reformista, avança no seu próprio caminho. A minha
intenção não é fanfarronar. Aqui, somos todos membros da mesma família.
Pretendemos mostrar aos nossos camaradas que não precisam de se preocupar sobre
como os comunistas podem ter sucesso neste difícil país.
Caros camaradas
É possível que possamos ter de novo uma votação insignificante nas próximas
eleições. Claro que tiramos sempre algumas lições de tais resultados. Mas nunca
baseamos os nossos planos no aumento dos nossos votos. Organizamos, fortalecendo
a nossa unidade nas fábricas e nos locais de trabalho.
Como um partido da classe
operária, lutamos numa dura batalha ideológica com aqueles que tentam sitiar-nos.
Não temos dúvidas de que, no final, teremos sucesso na nossa luta, neste país
problemático e surpreendente.
Também não temos nenhuma dúvida de que, de igual
modo, triunfarão nas vossas lutas. Juntos, livrar-nos-emos desta bárbara ordem
chamada capitalismo. De tudo o que precisamos é do marxismo-leninismo; não como
um slogan desgastado, mas como um guia vivo que ilumina o nosso caminho.
Mais uma vez, bem-vindos camaradas...
Sem comentários:
Enviar um comentário
Por favor nâo use mensagens ofensivas.