terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Entrevista de Giorgos Marinos, membro do Bureau Politico do CC do KKE, ao jornal UZ do Partido Comunista Alemão, sobre as eleições do próximo dia 25 e a ingerência imperialista na actual situação económica e politica na Grécia


UZ: Os recentes acontecimentos na Grécia conduziram a eleições gerais em 25 de Janeiro. Como actuará o KKE nesta luta eleitoral? Será capaz de enfrentar com sucesso a polarização prevista em torno do cenário “a favor” ou “contra” a UE?


Giorgos Marinos: A polarização que descreve (em relação à UE) não é a que se previa dado que ambos os partidos que aspiram a formar o próximo governo (a ND e o SYRIZA) estão comprometidos com a UE. De facto, o presidente do SYRIZA, A. Tsipras, declarou explicitamente: “Pertencemos ao Ocidente[…] à UE e à OTAN. Isto é indiscutível.” Assim pretendem criar uma polarização entre, por um lado, o medo fomentado pela ND de que se não prosseguirmos a actual política antipopular , será um desastre e, por outro, a exploração da indignação do povo e as ilusões de gestão que o SYRIZA fomenta, que mesmo com o seu grande resultado eleitoral não  contribuiu para o desenvolvimento das lutas operárias.

O nosso partido tem levado a cabo importantes lutas, e um trabalho de educação das massas, demostrando aos trabalhadores que qualquer que seja a forma de gestão burguesa seguida no âmbito da UE, e da OTAN, o caminho do desenvolvimento capitalista, nunca será em beneficio dos trabalhadores e das outras camadas populares. A solução é fortalecer o KKE em toda a parte, inclusivamente no parlamento, para que se fortaleça a luta do povo e se prepare o caminho para mudanças radicais.

 UZ: Os meios de comunicação na Alemanha dizem, de uma forma alarmista, que a Grécia entrará em colapso se a “esquerda radical”, quer dizer, o SYRIZA, ganhar as eleições. A UE já se envolveu na luta eleitoral. Quais são as suas expectativas em relação à política que se espera que Alexis Tsipras virá a seguir?

Giorgos Marinos: Na Alemanha há alguns que falam de forma alarmista, tal como faz o partido governamental da ND na Grécia; no entanto, outros sectores do capital manifestam-se de modo diferente e apoiam abertamente um possível governo do SYRIZA. 

É verdade que os dois partidos (ND-SYRIZA) têm divergências que expressam as diferenças existentes entre os países da zona euro e os diferentes sectores dos grupos monopolistas, da burguesía, e dos empresários. A opinião dominante na Comissão, na UE, na Alemanha, traduz uma linha política restritiva, a continuação das medidas de austeridade para que o país consiga sair da crise e para que a zona euro no seu conjunto não entre em crise. Por outro lado, existe uma opinião que fala de uma política mais expansiva - disse-o inclusivamente o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi-, quer dizer um relaxamento fiscal para que se gere liquidez e se proporcione dinheiro aos empresários para investimentos. Afirmam que desta maneira a economia “respirará”, como defende o SYRIZA. No entanto, esse dinheiro não é para o povo mas para os diversos sectores da plutocracia, para os monopólios.

Assim, quando o SYRIZA discute com a ND sobre quem dará maior impulso à rentabilidade do capital, à “competitividade” da economía, ao pagamento da dívida, não pode haver expectativas de que um governo do SYRIZA, que se transformou num partido social democrata, implementará uma política favorável ao povo. Demostrou-se na práctica que os “governos de esquerda”, tanto na Grécia como na Europa, foram as “pontes” que levaram a políticas mais “direitistas”.

UZ: Que caminho propõe o KKE que o país siga no que respeita à dívida e à UE?

Giorgos Marinos: O KKE demostrou que o povo não têm a culpa da dívida; a culpa é do capital e dos governos que o apoiam. Em suma, a dívida deve-se à adesão do país à CEE e à UE, que destruiu sectores tradicionais da economia, e em geral ao caminho de desenvolvimento capitalista uma vez que o Estado pediu empréstimos para servir a rentabilidade do capital e agora pede aos trabalhadores que paguem. Nòs apelamos às pessoas para que não reconheçam a dívida.

Além disso, repare que tanto o plano da ND para o “alargamento” do pagamento da dívida, que é aceite también por quadros do SYRIZA, como o objetivo oficial do SYRIZA e do FMI do “corte” da dívida, para que volte a ser “sustentável”, não liberta o povo desta carga financeira insuportável, não dá lugar à recuperação dos percas nas receitas que o povo sofreu desde a eclosão da crise capitalista; Nem impedem a continuação das medidas antipopulares.

O que o povo deve fazer é criar condições na sociedade a fim de preparar  o caminho para o cancelamento unilateral da dívida, a retirada da Grécia da UE e da OTAN, o desenvolvimento de uma economia baseada nas necessidades do povo e não na rentabilidade do capital. Esto requer o poder operário e popular. A condição prévia para isso é o reagrupamento do movimento operário e popular, a formação da aliança popular da classe operária com as outras camadas populares, algo que pode ser levado a cabo através do fortalecimento decisivo do KKE.

UZ: O KKE rejeita a participação no Partido da Esquerda Europeia (PEE). Quais são as razões que levaram a essa decisão? Não existem razões que favoreçam esse tipo de cooperação?

Giorgos Marinos: O KKE tem 96 anos de actividade incessante. Desde a sua fundação, o nosso Partido foi e continua a ser um partido internacionalista. Há 16 anos, o KKE tomou a iniciativa de começar os Encontros Internacionais de Partidos Comunistas e Operários, em Atenas. Responde activamente aos convites de outros partidos, toma iniciativas de coordenação de actividades a nivel mundial e regional. Portanto, as nossas diferenças com o PEE não têm que ver com a questão de haver  coordenação da actividade, mas em que direcção deve ser essa coordenação.

Ou seja, o KKE considera que é necessário fortalecer a actividade conjunta contra a guerra, e as intervenções imperialistas, contra o desenvolvimento capitalista, contra as medidas anti operárias e anti populares, contra as organizações imperialistas da UE e da OTAN, contra qualquer organização imperialista. O nosso objetivo deve ser a criação duma estratégia revolucionária contemporânea a nível internacional.

Isto não pode ser feito pelo PEE que foi formado com base nas decisões da própria União Europeia. Todos os chamados “partidos europeus” (o PEE também) aceitam obrigatoriamente nos seus documentos, e apoiam, esta “construcção” imperialista da UE, da qual recebem apoios.

O KKE promove a nível europeu uma nova forma de cooperação e reunião de partidos comunistas e operários com base em principios comuns. Até agora na “Iniciativa para o estudo, o desenvolvimento dos assuntos europeus e a coordenação da acção” participam 29 partidos que não são membros ou  membros plenos do PEE e baseiam-se nos principios do socialismo científico, unidos pela visão de uma sociedade sem exploração do homem pelo homem, sem pobreza, sem injustiça social, sem guerras imperialistas.

Ao mesmo tempo estamos claramente comprometidos com a luta contra a UE, que é uma opção do capital e promove medidas a favor dos monopólios, reforça as suas características como bloco económico, político e militar imperialista, contra os intereses da classe operária, dos sectores populares, aumenta o armamento, intensifica o autoritarismo e a repressão estatal. Acreditamos no direito de cada povo a escolher soberanamente o caminho do seu desenvolvimento , incluindo o direito de retirar-se das várias dependencias da UE e da OTAN, e o direito à opção socialista.

Em nossa opinião, cada partido comunista europeu que queira cumprir com a sua missão histórica, como partido da classe operária, com uma perspectiva socialista, será práticamente obrigado a tomar parte na nossa frente comum contra os monopólios, o capitalismo e as suas organizações, como a UE e a OTAN. De outra forma, deslizará de forma aberta ou encoberta na intenção inútil de “humanizar” a UE e o capitalismo, perderá a sua identidade comunista. Consequentemente, responderá erradamente ao dilema “socialismo ou barbarie”, “reforma o revolução”, colocado pela revolucionária alemã Rosa Luxemburgo nos seus escritos. Ou seja, estará na margem oposta dos interesses operários e populares, onde hoje se encontra, entre outros o PEE.

 UZ: Desejamos sucesso nas eleições e nas lutas que 2015 trará!

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