Opera Mundi - Número de mortos pode passar de 400; sindicatos acusam governo de ter sido negligente com segurança dos trabalhadores.
A explosão em uma mina na Turquia, que já deixou mais de 282 vítimas fatais, provocou a solidariedade em todo o país. Nesta quinta-feira (15/05), milhares de pessoas saíram às ruas em homenagem aos mortos e para protestar contra o governo, na maior mobilização desde as manifestações de junho do ano passado. O número de mortos pode passar de 400 já que dos 787 trabalhadores somente 363 foram resgatados.
Oficialmente ainda há 120 mineiros presos no subsolo. As autoridades descartam a possibilidade de que algum deles possa ser resgatado com vida.
A greve geral de hoje foi convocada por sindicatos que acusam o governo de ter sido “negligente” com relação às condições de trabalho para os mineradores e de ter privatizado o setor de mineração sem resguardar a questão da segurança, além de ter ignorado os avisos sobre possíveis perigos. Para os sindicalistas, a privatização tornou as condições de trabalho do setor mais perigosas.
Em todo o país, milhares de pessoas paralisaram suas atividades e marcharam vestidas de preto como forma de demonstrar luto e homenagear os mortos. Na província de Esmirina, perto da região do acidente, cerca de 20 mil pessoas se manifestaram. “Centenas de nossos irmãos trabalhadores em Soma morreram obrigados a trabalhar em processos de produção brutais, a fim de obter o máximo de lucro para a empresa”, disseram os sindicatos no comunicado de convocatória do protesto.
Repressão
As manifestações ocorrem simultaneamente em diversas cidades do país. Na capital Ancara, a polícia utilizou gás lacrimogêneo e jatos de água para dispersar cerca de 800 jovens reunidos na Universidade Técnica do Oriente Médio e que queriam caminhar até o Ministério de Energia.
A polícia também interveio em Istambul, maior cidade turca, para bloquear o parque Gezi, onde fica a Praça Taksim, cenário dos massivos protestos contra o governo no ano passado. "Não é acidente, é assassinato", cantavam os manifestantes, em referência à redução das medidas de segurança em Soma, o que segundo eles, teria provocado o acidente.
Vários sindicalistas foram hospitalizados após ação da polícia, entre eles o presidente do sindicato DISK, Kani Beko, que foi levado sem consciência para um hospital próximo.
Omissão
As declarações proferidas pelo primeiro-ministro conservador Recep Tayyip Erdogan durante coletiva de imprensa ontem contribuiu para aumentar a indignação dos cidadãos. Na ocasião, ele afirmou que este “tipo de acidente ocorre a todo o momento” e enumerou uma série de acidentes na história da mineração no século 19 para justificar suas palavras.
Nas redes sociais do país tornou-se viral a imagem de um parente dos mineradores mortos caído no chão após ser controlado por dois membros da equipe de segurança de Erdogan, enquanto um assessor do primeiro-ministro, Yousef Yerkel, o chutava.
Hoje, Yerkel confirmou à imprensa que de fato se tratava dele na imagem, e prometeu explicar o incidente "em breve".
A Agência de Gestão de Desastres e Emergências da Turquia, sem saber como agir, recusou as ofertas de ajuda humanitária feitas por vários países.
Apesar da década de crescimento econômico, a Turquia sofre com os piores índices de segurança do trabalho do mundo, com uma média de três trabalhadores mortos por dia. Em média, 800 mineradores morrem no país a cada ano, o que equivale a um em cada mil empregados, como apontou estudo universitário recente.
Imagem mostra o conselheiro do primeiro-ministro Yusuf Yerkel (à esquerda) enquanto chuta o familiar de um dos mineradores mortos que estava sendo contido por policiais
http://www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/409-repressom-e-direitos-humanos/48476-milhares-participam-de-greve-geral-e-protestos-na-turquia-ap%C3%B3s-desastre-em-mina.html
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