quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Uma das Questões Fundamentais da Revolução: De V. I. Lénine 27 (14) de Setembro de 1917



A questão mais importante de qualquer revolução é sem dúvida a questão do poder de Estado. Nas mãos de que classe está o poder, isto é que decide tudo. E se o jornal do principal partido governamental na Rússia, o Delo Naroda, se queixava há pouco (n.° 147) de que devido às discussões acerca do poder se esquece tanto a questão da Assembleia Constituinte como a questão do pão, deveria ter-se respondido aos socialistas-revolucionários queixai-vos de vós próprios. Porque são precisamente as vacilações, a indecisão do vosso partido, que mais se devem culpar tanto pelo prolongamento do «jogo do eixo ministerial» como pelo adiamento infindável da Assembleia Constituinte e pelo facto de os capitalistas minarem as medidas adoptadas e planeadas para o monopólio dos cereais e o abastecimento de cereais ao país.

Não é possível eludir nem afastar a questão do poder, pois esta é precisamente a questão fundamental que determina tudo no desenvolvimento da revolução, na sua política interna e externa. Que a nossa revolução tenha «perdido em vão» meio ano em vacilações em relação à organização do poder, isto é um facto indiscutível, é um facto determinado pela política vacilante dos socialistas-revolucionários e dos mencheviques. E a política destes partidos foi determinada, em última instância, pela posição de classe da pequena burguesia, pela sua instabilidade económica na luta entre o capital e o trabalho.

Toda a questão está agora em saber se a democracia pequeno-burguesa aprendeu ou não alguma coisa neste grande meio ano, excepcionalmente rico de conteúdo. Se não, então a revolução está perdida e só uma insurreição vitoriosa do proletariado poderá salvá-la. Se sim, então é necessário começar a criar imediatamente um poder estável, não vacilante. Durante uma revolução popular, que desperta as massas, a maioria dos operários e camponeses, para a vida, só pode ser estável um poder que se apoie de modo evidente e incondicional na maioria da população. Até este momento, o poder de Estado na Rússia permanece de facto nas mãos da burguesia, que só é obrigada a fazer concessões parciais (para começar a retirá-las no dia seguinte, a distribuir promessas (para não as cumprir), a procurar todas as maneiras de encobrir o seu domínio (para enganar o povo com a aparência duma «coligação honesta»), etc, etc. Em palavras, um governo revolucionario, democrático, popular, de facto, burguês, contra-revolucionário, antidemocrático e antipopular, tal é a contradição que existiu até agora e foi a fonte da completa instabilidade e das vacilações do poder, de todo esse «jogo do eixo ministerial» em que os senhores socialistas-revolucionários e mencheviques se ocuparam com um zelo tão lamentável (para o povo).

Ou a dispersão dos Sovietes e a sua morte inglória, ou todo o poder aos Sovietes - isto disse-o eu perante o Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia em princípios de Junho de 1917, e a história de Julho e de Agosto confirmou a justeza destas palavras de modo completamente convincente. O poder dos Sovietes é o único que pode ser estável e apoiar-se abertamente na maioria do povo, por mais que mintam os lacaios da burguesia Potréssov, Plekhánov e outros, que chamam «alargamento da base» do poder à sua passagem de facto para uma minoria insignificante do povo, para a burguesia, para os exploradores.

Só o poder soviético poderia ser estável, só ele não poderia ser derrubado mesmo nos momentos mais tempestuosos da revolução mais tempestuosa, só tal poder poderia assegurar um desenvolvimento contínuo e amplo da revolução, uma luta pacífica dos partidos dentro dos Sovietes. Enquanto esse poder não tiver sido criado, são inevitáveis a indecisão, a instabilidade, as vacilações, as intermináveis «crises do poder», a comédia sem saída do jogo do eixo ministerial, as explosões tanto à direita como à esquerda.

Mas a palavra de ordem «o poder aos Sovietes» é muito frequentemente, se não na maior parte dos casos, entendida duma maneira completamente errada, no sentido de «um ministério dos partidos da maioria nos Sovietes», e é sobre essa opinião profundamente errada que quereríamos deter-nos com mais pormenor.

«Um ministério dos partidos da maioria nos Sovietes» significa uma mudança de pessoas na composição do ministério, mantendo inviolável todo o velho aparelho do poder governamental, aparelho burocrático até à medula, não democrático até à medula, incapaz de levar a cabo reformas sérias, mesmo aquelas que figuram nos programas dos socialistas-revolucionários e dos mencheviques.

«O poder aos Sovietes» significa uma transformação radical de todo o velho aparelho de Estado, deste aparelho burocrático que entrava tudo quanto é democrático, a eliminação deste aparelho e a sua substituição pelo aparelho novo, popular, isto é, verdadeiramente democrático, dos Sovietes, isto é, da maioria organizada e armada do povo, dos operários, dos soldados, dos camponeses, a concessão da iniciativa e da autonomia à maioria do povo não só na eleição dos deputados mas também na administração do Estado, na realização de reformas e transformações.

Para tornar mais clara e patente esta diferença recordemos uma valiosa confissão que foi feita há algum tempo por um jornal de um partido governamental, do partido dos socialistas-revolucionários, o Delo Naroda. Mesmo naqueles ministérios, escrevia este jornal, que foram entregues a ministros socialistas (isto era escrito durante a famigerada coligação com os democratas-constitucionalistas, quando os mencheviques e os socialistas-revolucionários eram ministros), mesmo nestes ministérios todo o aparelho administrativo continuou a ser o velho, e ele entrava todo o trabalho.

Isso é compreensível. Toda a história dos países parlamentares burgueses e em considerável medida, a dos países burgueses constitucionais, mostra que uma mudança de ministros significa muito pouco, pois todo o trabalho administrativo real está nas mãos de um exército gigantesco de funcionários. E este exército está impregnado até à medula de um espírito antidemocrático está ligado por milhares e milhões de fios aos latifundiários e à burguesia, dependendo deles de todas as formas. Este exército está rodeado por uma atmosfera de relações burguesas, respira apenas nela, está congelado, petrificado, anquilosado, não tem forças para se libertar dessa atmosfera, não pode pensar, sentir, agir de outro modo que não seja à maneira antiga. Este exército está ligado por relações de respeito aos superiores, por determinados privilégios do serviço «do Estado», e as categorias superiores deste exército estão completamente submetidas, por meio das acções e dos bancos, ao capital financeiro, do qual são em certa medida agentes, veículos dos seus interesses e influência.

Tentar levar a cabo, por meio deste aparelho de Estado, transformações tais como a abolição da propriedade latifundária da terra sem indemnização ou o monopólio dos cereais, etc, é a maior das ilusões, o maior engano de si próprio e o engano do povo. Esse aparelho pode servir à burguesia republicana, criando uma república na forma de «uma monarquia sem monarca», como a III República em França, mas tal aparelho de Estado é absolutamente incapaz de levar a cabo reformas, não que destruam, mas mesmo que cerceiem ou limitem seriamente os direitos do capital, os direitos da «sagrada propriedade privada». Daí resulta sempre que em todos os ministérios de «coligação» possíveis em que participam «socialistas», estes socialistas, mesmo que certas personalidades dentre eles sejam de uma absoluta probidade, se revelem de facto um ornamento inútil ou um biombo do governo burguês, um pára-raios da indignação popular provocada por este governo, um instrumento do engano das massas por este governo. Assim foi com Louis Blanc em 1848, assim foi desde então dezenas de vezes na Inglaterra e na França com a participação dos socialistas no ministério, assim foi com os Tchernov e os Tseretéli em 1917, assim foi e assim será enquanto durar a ordem burguesa e subsistir intacto o velho aparelho de Estado burguês, burocrático.

Os Sovietes de deputados operários, soldados e camponeses são particularmente valiosos porque representam um tipo de aparelho de Estado novo, infinitamente mais elevado, incomparavelmente mais democrático. Os socialistas-revolucionários e os mencheviques fizeram todo o possível e todo o impossível para transformar os Sovietes (especialmente o de Petrogrado e o de toda a Rússia, isto é, o CEC) em puros centros de conversa, que se ocupassem, a pretexto de «controlo», em adoptar resoluções e votos impotentes que o governo, com o mais cortês e amável dos sorrisos, metia na gaveta. Mas bastou a «brisa fresca» da Kornilovada, que prometia uma bela tempestade, para que tudo o que era bafiento no Soviete se afastasse temporariamente e para que a iniciativa das massas revolucionárias começasse a manifestar-se como qualquer coisa de grandioso, de poderoso, de invencível.

Que aprendam com este exemplo histórico todos os incrédulos. Que se envergonhem aqueles que dizem: «não temos um aparelho para substituir o velho aparelho, que tende inevitavelmente para a defesa da burguesia.» Pois este aparelho existe. São os Sovietes. Não receeis a iniciativa e a autonomia das massas, confiai nas organizações revolucionárias das massas e vereis em todos os domínios da vida estatal a mesma força, grandiosidade e invencibilidade que os operários e camponeses revelaram na sua unificação e no seu ímpeto contra a Kornilovada.

Falta de confiança nas massas, medo da sua iniciativa, medo da sua autonomia, terror perante a sua energia revolucionária, em vez de um apoio total e sem reservas a ela, eis aquilo em que erraram em primeiro lugar os chefes socialistas-revolucionários e mencheviques. Eis onde está uma das raízes mais profundas da sua indecisão, das suas vacilações, das suas tentativas infinitas e infinitamente estéreis de deitar vinho novo nos velhos odres do aparelho de Estado burocrático.

Tomai a história da democratização do exército na revolução russa de 1917, a história do ministério de Tchernov, a história do «reinado» de Paltchínski, a história da demissão de Pechekhónov — e vereis a cada passo a confirmação mais patente do que foi dito atrás. A falta de uma total confiança nas organizações eleitas pelos soldados, a absoluta falta de aplicação do princípio de elegibilidade dos superiores pelos soldados, fez com que os Kornílov, os Kalédine, e os oficiais contra-revolucionários se encontrassem à frente do exército. Isto é um facto. E quem não quiser fechar os olhos não pode deixar de ver que, depois da Kornilovada, o governo de Kérenski deixa tudo como dantes, que ele restaura de facto a Kornivolada. A nomeação de Alexéev, a «paz» com os Klembóvski, Gagárine, Bagration e outros kornilovistas, a brandura do tratamento dos próprios Kornílov e Kalédine — tudo isto mostra com a maior clareza que Kérenski restaura de facto a kornivolada.

Não há meio-termo. A experiência mostrou que não há meio-termo. Ou todo o poder aos Sovietes e a completa democratização do exército, ou a Kornivolada.
E a história do ministério de Tchernov? Acaso não demonstrou ela que qualquer passo minimamente sério para satisfazer verdadeiramente as necessidades dos camponeses, que qualquer passo que testemunhe confiança neles, nas suas organizações de massas próprias e na sua actividade, despertou o maior entusiasmo em todo o campesinato? E Tchernov viu-se obrigado durante quase quatro meses a «regatear» e a «regatear» com os democratas-constitucionalistas e os funcionários, que, com intermináveis adiamentos e intrigas, o obrigaram no fim de contas a demitir-se sem ter feito nada. Durante esses quatro meses e por esses quatro meses, os latifundiários e capitalistas «ganharam o jogo», salvaguardaram a propriedade latifundiária da terra, adiaram a Assembleia Constituinte e começaram mesmo uma série de acções repressivas contra os comités agrários.

Não há meio-termo. A experiência mostrou que não há meio-termo. Ou todo o poder aos Sovietes, tanto no centro como localmente, toda a terra aos camponeses imediatamente, antes da decisão da Assembleia Constituinte, ou os latifundiários e capitalistas entravarão tudo, restabelecerão o poder dos latifundiários, levarão os camponeses até à exasperação e levarão as coisas até uma insurreição camponesa extraordinariamente violenta.
É exactamente a mesma história com a sabotagem pelos capitalistas (com a ajuda de Sadóvski) de um controlo minimamente sério sobre a produção, com a sabotagem pelos comerciantes do monopólio dos cereais e do começo da distribuição democrática regulada do pão e dos víveres por Pechekhónov.

Agora, na Rússia, não se trata de modo algum de inventar «novas reformas», de traçar «planos» de transformações «universais». Nada de semelhante. Assim apresentam as coisas, apresentam as coisas mentindo notoriamente, os capitalistas, os Potréssov, os Plekhánov, que gritam contra a «introdução do socialismo», contra a «ditadura do proletariado». Na realidade, a situação na Rússia é tal que o peso e os sofrimentos nunca vistos da guerra, o perigo inaudito e ameaçador da ruína e da fome sugeriram por si mesmos a saída, indicaram por si mesmos, e não só indicaram como apresentaram já como absolutamente inadiáveis, reformas e transformações como o monopólio dos cereais, o controlo sobre a produção e distribuição, a limitação da emissão de papel-moeda, a troca justa de cereais por mercadorias, etc.

Medidas deste género, dirigidas precisamente neste sentido, foram reconhecidas por todos como inevitáveis, começaram a ser adoptadas em muitos lugares e dos mais diversos lados. Começaram já, mas são e têm sido entravadas em toda a parte pela resistência dos latifundiários e dos capitalistas, resistência que se exerce tanto através do governo de Kérenski (de facto um governo completamente burguês e bonapartista) como através do aparelho burocrático do velho Estado e através da pressão directa e indirecta do capital financeiro russo e «aliado».

Não há muito, I. Prilejáev escrevia no Delo Naroda (n.° 147), lamentando a demissão de Pechekhónov e a falência dos preços fixos, a falência do monopólio dos cereais:
«Coragem e decisão — eis o que faltou aos nossos governos de todas as composições. . . A democracia revolucionária não deve esperar, deve ela própria revelar iniciativa e intervir planificadamente no caos económico . . . Se há lugar onde são necessários um rumo firme e um poder decidido, é precisamente aqui.»

O que é verdade, é verdade. Palavras de ouro. Só que o autor esquece que a questão de um rumo firme, da coragem e da decisão não é uma questão pessoal, mas uma questão de qual a classe que é capaz de revelar coragem e decisão. A única classe assim é o proletariado. A coragem e a decisão do poder, o seu rumo firme — não é outra coisa senão a ditadura do proletariado e dos camponeses pobres. I.Prilejáev, sem ter ele próprio consciência disso, suspira por esta ditadura.

Pois que significaria de facto tal ditadura? Nada senão que a resistência dos kornilovistas seria esmagada e que a total democratização do exército seria restaurada e completada. Noventa e nove por cento do exército seriam partidários entusiastas de tal ditadura dois dias depois de ter sido estabelecida. Esta ditadura daria a terra aos camponeses e todo o poder aos comités locais de camponeses; como pode alguém em seu perfeito juízo pôr em dúvida que os camponeses apoiariam esta ditadura? Aquilo que Pechekhónov apenas prometeu («a resistência dos capitalistas foi esmagada» — palavras textuais de Pechekhónov no seu célebre discurso no congresso dos Sovietes), esta ditadura aplicá-lo-ia na prática, transformá-lo-ia em realidade, sem eliminar as organizações democráticas de abastecimento, de controlo, etc, que já começaram a formar-se, mas, pelo contrário, apoiando-as, desenvolvendo-as, eliminando todos os obstáculos ao seu trabalho.

Só a ditadura dos proletários e dos camponeses pobres é capaz de esmagar a resistência dos capitalistas, de revelar uma coragem e uma decisão verdadeiramente grandiosas do poder, de assegurar para si um apoio entusiasta, sem reservas, verdadeiramente heróico das massas tanto no exército como no campesinato.

poder aos Sovietes — é a única coisa que poderia tornar o desenvolvimento futuro gradual, pacífico e tranquilo, avançando completamente ao nível da consciência e da decisão da maioria das massas populares, ao nível da sua própria experiência. O poder aos Sovietes significa a entrega total da administração do país e do controlo da sua economia aos operários e aos camponeses, aos quais ninguém se atreveria a resistir e que rapidamente aprenderiam com a experiência, aprenderiam com a sua própria prática a distribuir correctamente a terra, os víveres e os cereais.

Sobre a nossa revolução :V. I. Lénine 16 e 17 de Janeiro de 1923 :



Folheei nestes dias as notas de Sukhanov sobre a revolução. O que salta sobretudo à vista é o pedantismo de todos os nossos democratas pequeno-burgueses, bem como de todos os heróis da II Internacional. Sem falar já de que são extraordinariamente cobardes e de que mesmo os melhores deles se enchem de reservas quando se trata do menor desvio relativamente ao modelo alemão, sem falar já desta qualidade de todos os democratas pequeno-burgueses, suficientemente manifestada durante toda a revolução, salta à vista a sua servil imitação do passado.

Todos eles se dizem marxistas, mas entendem o marxismo duma maneira extremamente pedante. Não compreenderam de modo nenhum aquilo que é decisivo no marxismo: precisamente a sua dialéctica revolucionária. Não compreenderam em absoluto nem mesmo as indicações directas de Marx, dizendo que nos momentos de revolução é necessária a máxima flexibilidade, e nem sequer notaram, por exemplo, as indicações de Marx na sua correspondência, referente, se bem me recordo, a 1856, na qual expressava a esperança de que a guerra camponesa na Alemanha, capaz de criar uma situação revolucionária, se unisse ao movimento operário — eludem mesmo esta indicação directa, dando voltas em volta dela como o gato em volta do leite quente.

Em toda a sua conduta revelam-se uns reformistas cobardes que temem afastar-se da burguesia e, mais ainda, romper com ela, e ao mesmo tempo ocultam a sua cobardia com a fraseologia e a jactância mais descarada. Mas, mesmo do ponto de vista puramente teórico, salta à vista em todos eles a sua plena incapacidade de compreender a seguinte ideia do marxismo: viram até agora um caminho determinado de desenvolvimento do capitalismo e da democracia burguesa na Europa Ocidental. E eis que eles não são capazes de imaginar que este caminho só pode ser considerado como modelo mutatis mutandis, só com algumas correcções (absolutamente insignificantes, do ponto de vista do curso geral da história universal).

Primeiro — uma revolução ligada à primeira guerra imperialista mundial. Numa tal revolução deviam manifestar-se traços novos ou modificados Precisamente em consequência da guerra, porque nunca houve no mundo tal guerra em tal situação. Vemos que até agora a burguesia dos países mais ricos não pode organizar relações burguesas «normais» depois dessa guerra, enquanto os nossos reformistas, pequenos burgueses que se armam em revolucionários, consideravam e consideram como um limite (além disso insuperável) as relações burguesas normais, compreendendo esta «norma» duma maneira extremamente estereotipada e estreita.

Segundo — é-lhes completamente alheia qualquer ideia de que dentro das leis gerais do desenvolvimento em toda a história mundial não estão de modo nenhum excluídas, mas, pelo contrário, pressupõem-se determinadas etapas de desenvolvimento que apresentam peculiaridades, quer na forma quer na ordem desse desenvolvimento. Nem sequer lhes passa pela cabeça, por exemplo, que a Rússia, situada na fronteira entre os países civilizados e os países que pela primeira vez são arrastados definitivamente por esta guerra para o caminho da civilização, os países de todo o Oriente, os países não europeus, que a Rússia podia e devia, por isso, revelar certas peculiaridades, que naturalmente estão na linha geral do desenvolvimento mundial, mas que distinguem a sua revolução de todas as revoluções anteriores dos países da Europa Ocidental e que introduzem algumas inovações parciais ao deslocar-se para os países orientais.

Por exemplo, não pode ser mais estereotipada a argumentação por eles usada, que aprenderam de memória na época do desenvolvimento da social-democracia da Europa Ocidental, e que consiste no facto de que nós não estamos maduros para o socialismo, de que não existem no nosso país, segundo a expressão de vários «doutos» senhores dentre eles, as premissas económicas objectivas para o socialismo. E não passa pela cabeça de nenhum deles perguntar: não podia um povo que se encontrou numa situação revolucionária como a que se criou durante a primeira guerra imperialista, não podia ele, sob a influência da sua situação sem saída, lançar-se numa luta que lhe abrisse pelo menos algumas possibilidades de conquistar para si condições que não são de todo habituais para o crescimento ulterior da civilização?

«A Rússia não atingiu um nível de desenvolvimento das forças produtivas que torne possível o socialismo. »Todos os heróis da II Internacional, e entre eles, naturalmente, Sukhánov, se comportam como se tivessem descoberto a pólvora. Ruminam esta tese indiscutível de mil maneiras e parece-lhes que é decisiva para apreciar a nossa revolução.

Mas que fazer, se uma situação peculiar levou a Rússia, primeiro à guerra imperialista mundial, na qual intervieram todos os países mais ou menos influentes da Europa Ocidental, e colocou o seu desenvolvimento no limite das revoluções do Oriente, que estão a começar e em parte já começaram, em condições que nos permitiram levar à prática precisamente essa aliança da «guerra camponesa» com o movimento operário sobre as quais escreveu um «marxista» como Marx em 1856 como uma das perspectivas possíveis em relação à Prússia?

Que fazer se uma situação absolutamente sem saída, decuplicando as forças dos operários e camponeses, abria perante nós a possibilidade de passar de maneira diferente de todos os outros países da Europa Ocidental criação das premissas fundamentais da civilização? Alterou-se por isso a linha geral de desenvolvimento da história universal? Alteraram-se por isso as correlações fundamentais das classes fundamentais em cada país que se integra e integrou já no curso geral da história mundial?

Se para criar o socialismo é necessário um determinado nível de cultura (ainda que ninguém possa dizer qual é precisamente esse determinado «nível de cultura», pois ele é diferente em cada um dos Estados da Europa Ocidental), porque é que não podemos começar primeiro pela conquista, por via revolucionária, das premissas para esse determinado nível, e já depois, com base no poder operário e camponês e no regime soviético, pôr-nos em marcha para alcançar os outros povos?
16 de Janeiro de 1923.

II

Para criar o socialismo, dizeis, é necessária civilização. Muito bem. Mas então, porque não havíamos de criar primeiro no nosso país premissas da civilização como a expulsão dos latifundiários e a expulsão dos capitalistas russos e, depois, iniciar um movimento para o socialismo? Em que livros lestes que semelhantes alterações da ordem histórica habitual são inadmissísseis ou impossíveis?

Lembro que Napoleão escreveu: «On s'engage et puis . . . on voit.» Traduzido livremente para russo isto quer dizer: .«Primeiro lançamo-nos no combate sério e depois logo vemos.» E nós, em Outubro de 1917, iniciámos primeiro o combate sério e depois logo vimos os pormenores do desenvolvimento (do ponto de vista da história universal trata-se indubitavelmente de pormenores), tais como a Paz de Brest ou a NEP, etc. E hoje não há dúvida de que, no fundamental, alcançamos a vitória.

Os nossos Sukhanov, sem falar já daqueles sociais-democratas que estão mais à direita, nem sonham sequer que as revoluções em geral não se podem fazer doutra maneira. Os nossos filisteus europeus não sonham sequer que as futuras revoluções nos países do Oriente, com uma população incomparavelmente mais numerosa e que se diferenciam muito mais pela diversidade das condições sociais, apresentarão sem dúvida mais peculiaridades do que a revolução russa.

Nem é preciso dizer que o manual redigido segundo Kautsky foi, na sua época, uma coisa muito útil. Mas já é tempo de renunciar à ideia de que esse manual tinha previsto todas as formas de desenvolvimento ulterior da história mundial. Àqueles que pensam desse modo é tempo já de os declarar simplesmente imbecis.
17   de Janeiro de 1923.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O que é feito da luta dos enfermeiros? Empresa paga 510 euros a enfermeiros mas recebe mais do dobro


"O Centro Hospitalar do Médio Tejo paga 1200 euros mensais por profissional, mas estes só recebem 3,1 euros por hora.


É, até aqui, o salário mais baixo pago a um enfermeiro por uma empresa: 3,1 euros por hora, ainda sem descontos. E há oito enfermeiros no Centro Hospitalar do Médio Tejo a receber estes valores, na maioria dos casos para trabalhar na urgência de Abrantes. A empresa está a receber 1200 euros euros por mês, mas a penas paga 510. Apesar de estarem em curso centenas de contratações no SNS, o recurso às prestações de serviços mantém-se e por valores cada vez mais baixos, que rondam os cinco euros à hora, este valor já é menos 50% do que o valor de tabela.

De acordo com o contrato de trabalho entre a empresa Sucesso 24 Horas e estes profissionais, a que o DN teve acesso, os enfermeiros têm de trabalhar 40 horas por semana para receber estas verbas sem descontos e sem subsídio de refeições, um valor recorde pago por estas empresas." Por Diana Mendes



Estes e outros casos são a continuação do agravamento das condições de escravização laboral a que a  grande mobilização que UNIU a classe dos enfermeiros durante dois dias de greve nacional devia ter dado resposta, caso a luta não tivesse mais uma vez  sido interrompida e quase votada ao esquecimento sem qualquer prestação de contas ou indicações de novas formas de luta por parte das direcções sindicais, dado que a situação de super exploração não só se mantem, como diariamente se agrava.

Esperemos que em face das inconsequências de classe por parte das direcções sindicais, que os enfermeiros se organizem e formem comissões de luta em cada hospital e centros de saúde e as coordenem a nivel nacional, no sentido de continuar a luta e a exigir melhores salários, a redução do horário de trabalho bem como o vinculo ao Estado como forma de melhorar continuadamente as suas condições laborais bem como a substituição dos dirigentes sindicais.

domingo, 19 de outubro de 2014

Encontro comunista europeu Outubro 2014 : Comunicado Comum de Partidos Comunistas e Operários da Europa


"Mais uma vez o oportunismo revisionista, social democrata e anticomunista da direção do P"C"P esteve na base da sua não assinatura deste importante documento." "A Chispa!"




Os Partidos Comunistas e Operários da Europa, que se reuniram no Encontro Comunista Europeu de 2014, celebrado em Bruxelas em 2 de outubro, examinaram os desenvolvimentos na Europa dos acontecimentos internacionais e trocaram opiniões e experiências de sua actividade.


Hoje em dia, os trabalhadores e demais sectores populares na Europa enfrentam os impasses da via de desenvolvimento capitalista, como é o desemprego, que atormenta milhões de trabalhadores e em particular os jovens e as mulheres. Estão se generalizando as formas flexíveis , estão sendo abolidos os contratos colectivos de trabalho, os direitos sociais e a segurança social, e o aprofundamento da pobreza.

As contradições inter-imperialistas e a agressividade das uniões imperialistas, sobretudo da UE e da Nato, criam novos focos de guerra que se estendem desde  África ao Médio Oriente e se amplia à Europa como demonstram os acontecimentos na Ucrânia.

Em muitos países da Europa com o apoio da burguesia, vão se reforçando as forças nacionalistas racistas e abertamente fascistas.

Nossa avaliação comum é que nestas condições a classe operária, os sectores populares, os jovens devem fortalecer a luta de massas contra a UE e a NATO, contra o capitalismo que gera as crises económicas e a guerra.

O capitalismo é um sistema de exploração em apodrecimento que não se pode corrigir, que não pode dar soluções aos problemas populares; Há chegado a seus limites históricos, A luta da classe operária, dos povos, será será mais eficaz na medida em que se dirija contra.

Os trabalhadores devem condenar decisivamente as guerras imperialistas, a politica de repressão, o anticomunismo, e a actividade dasorganizações fascistas.

Nossos Partidos dedicam e seguirão dedicando suas forças para fortalecer a luta proletária e popular, para desenvolver a solidariedade operária, insistindo na organização da classe operária, e na construção da aliança social e popular, para que a luta pelo derrubamento da exploração capitalista seja eficaz para que os trabalhadores desfrutem da riqueza que produzem.

O socialismo é actual e necessário.

PC daAlbânia
P L da Austria
Novo PC Britânico
PC da Bulgária
PC da Dinamarca
PCDinamarquês
Polo C.de França
U.R.C de França
PC da Alemanha
PC Unificado da Georgia
PC da Grécia
P.dos Trabalhadores da Hungria
P.dos Trabalhadores da Irlanda
PC da Itália
PS da Letónia
PS da Lituania
PC do Luxemburgo
PC da Noruega
Novo P.C. da Holanda
PC da Polonia
PC da Roménia
PCO da Rússia
PCUS
PCF da Russia
Novo PC da Iugoslávia
PCP deEspanha
PC da Suécia
PC da Turquia
União C. da Ucrânia