sexta-feira, 29 de agosto de 2014

GREVE DOS ENFERMEIROS




A greve dos enfermeiros contra as condições extenuantes de trabalho a que são sujeitos em praticamente todas as instituições do SNS, devido a falta gritante não só do pessoal de enfermagem, que leva a sobrecarga de horários, como falta de outros profissionais de saúde, falta de material e condições de trabalho, começou no início do mês de Agosto, período do ano em que os problemas se agravam pela insuficiência de recursos como pelo aumento da afluência dos utentes. Não foi por acaso que a greve teve início no Algarve, obteve a adesão de médicos e de praticamente de todos os profissionais da área e com níveis elevados de participação. O mal-estar é geral

Facilmente a greve se tem estendido a outras regiões do país, Barreiro, Montijo, Lisboa, Santarém e agora Viana do Castelo e outras unidades de saúde do Alto Minho, como que uma onda que se dirige de sul para norte (mas que parece se ter “esquecido de passar por Coimbra e região Centro em geral, onde se concentram alguns milhares de enfermeiros), porque as causas de mal-estar são as mesmas: sobrecarga de trabalho, salário reduzido e congelamento da carreira (ao que parece das próprias negociações, adiadas para 17 de Setembro). 

A greve parece incomodar quer o governo quer os seus órgãos de informação/propaganda: o primeiro, pela voz do privatizador-mor do SNS, acusou os enfermeiros de acumularem vários empregos, daí a exaustão (física e psicológica) de que se queixam; os últimos (principalmente as televisões), quase que se sentiram na obrigação de fazer a abertura dos noticiários com a greve dos enfermeiros, não deixando, contudo, de lançar alguma provocação. 

Na azáfama privatizadora do governo, EGF, STCP, Linha de Cascais, TAP, resto dos CTT, para breve as Águas de Portugal e, se houver apoio explícito do PS, a Segurança Social ou parte dela, o resto do SNS que garanta lucros líquidos, e por aí fora, a greve dos enfermeiros nesta altura não deixa de ser oportuna e deve merecer o apoio e solidariedade de todos os cidadãos portugueses. São os cidadãos utentes que também estão em causa, a qualidades dos cuidados de saúde prestados no SNS, e a boa utilização dos dinheiros provenientes dos seus impostos. 

Fazemos votos que a greve seja geral, alastrando por todo o SNS, mobilize outros sectores de trabalhadores da área da saúde e outras afins, faça abanar ainda mais o governo PSD/CDS, contribuindo para a sua rápida demissão.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Declaração da Secretaria da "iniciativa" sobre as intervenções imperialistas em curso e rivalidades


 8/25/14 11:39


A Iniciativa Europeia Comunista manifesta a sua profunda preocupação com a guerra que eclodiu em uma vasta área geográfica, da Ucrânia e Sudeste do Mediterrâneo para o Oriente Médio e África, com milhares de mortos e feridos, deslocados e refugiados. Estes desenvolvimentos revelam as rivalidades imperialistas ferozes entre os grupos monopolistas, a fim de impor seus interesses pela força das armas.


Essa rivalidade se concentra no que fontes e rotas de transporte de energia será controlado por quais grupos empresariais, que potências imperialistas em condições de crise capitalista. A UE, esta união dos monopólios, desempenha um papel de liderança na agressão imperialista por meio de sanções e restrições comerciais que causam retaliação, em última análise, fazendo com que as pessoas a pagar um preço muito alto.

A fim de garantir a pilhagem imperialista, os EUA, a UE ea NATO procedeu à intervenção imperialista na Ucrânia, apoiando o governo apoiado por forças fascistas em seu antagonismo em relação à Rússia. O ataque assassino em curso por Israel contra o povo palestino é apoiado por os EUA ea UE e provocativamente iguala o agressor com a vítima, tenta silenciar e ignorar a ocupação israelense dos territórios palestinos e para criminalizar o direito legítimo do povo palestino à resistir.

Os imperialistas também usaram bem conhecidos, pretextos inaceitáveis ​​em relação "a assistência humanitária ea proteção da população", a fim de intervir mais uma vez no Iraque, com atentados, bem como em países africanos como Mali, Líbia, República Centro Africano, o Sudão eo Chade, com as forças expedicionárias em nome de lidar com os islâmicos que foram suportadas anteriormente e armados pelos EUA, a UE e seus aliados.

A Iniciativa Europeia Comunista destaca o perigo de mudanças em fronteiras e da desintegração de estados, de um confronto militar generalizado que trará novas dificuldades para o povo. Apesar de viverem em países ricos em recursos naturais que as pessoas estão condenadas a viver na pobreza, o desemprego ea guerra. A causa para isso é nada mais do que o domínio dos monopólios, o próprio sistema capitalista.

A Iniciativa Europeia Comunista apela aos povos da Europa para fortalecer sua luta contra todos os planos imperialistas; para expressar, na prática, a sua solidariedade com o povo palestino, com cada povo que resiste ao imperialismo; com sua luta contra a UE e do grande capital para fazer valer o seu direito à posse da riqueza que produzem.


A Secretaria da iniciativa
2014/08/22

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

É ISTO QUE O BANDITISMO CRUEL DO CAPITALISMO TEM PARA NOS OFERECER!!!!!!!!



PLANETA TERRA TEM 2,2 MIL MILHÕES DE POBRES

ONU-Cerca de 2,2 mil milhões de pessoas são pobres ou estão no limiar da pobreza, segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas, divulgado recentemente.

Dos 7,2 mil milhões de pessoas que compõem a população mundial, 1,2 mil milhões vivem com menos de 1,25 dólares por dia (92 cêntimos de euro) e 1,5 mil milhões sofrem de carências de nível de vida, educação e saúde. Outras 800 mil pessoas estão no limiar de se juntarem a este grupo.


 O relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, indica que a maioria da população mundial não beneficia de protecções como pensões ou subsídios de desemprego e que estas garantias estão ao alcance de países em qualquer fase de desenvolvimento.

 "Garantir benefícios de segurança social básicos aos pobres custaria menos do que 2% do PIB mundial", garante Khalid Malik, director do gabinete que produziu o relatório, citado pela agência Lusa. 



sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Médicos e cientistas do Reino Unido e de Itália denunciam a agressão militar israelita em Gaza


Crianças assassinadas em Gaza devido aos bombardeamentos indiscriminados das forças sionistas


“Somos médicos e cientistas, que passamos a nossa vida a desenvolver meios para cuidar e proteger a saúde e as vidas. Também somos pessoas informadas; ensinamos a ética das nossas profissões, conjuntamente com o conhecimento e a prática. Todos trabalhámos em Gaza e conhecemos há anos a sua situação.

Crianças assassinadas em Gaza devido aos bombardeamentos indiscriminados das forças sionistas


“Somos médicos e cientistas, que passamos a nossa vida a desenvolver meios para cuidar e proteger a saúde e as vidas. Também somos pessoas informadas; ensinamos a ética das nossas profissões, conjuntamente com o conhecimento e a prática. Todos trabalhámos em Gaza e conhecemos há anos a sua situação. 

Baseando-nos na nossa ética e prática, denunciamos o que testemunhamos na agressão a Gaza por Israel. Pedimos aos nossos colegas, velhos e jovens profissionais, que denunciem esta agressão israelita.

 Desafiamos a perversidade de uma propaganda que justifica a criação de uma urgência para mascarar um massacre, uma suposta “agressão defensiva”. Na realidade, trata-se de um ataque implacável de duração, extensão e intensidade ilimitadas. Queremos referir os factos tais como os vemos e as suas implicações nas vidas das pessoas. 

Estamos chocados pelo ataque militar a civis em Gaza sob o pretexto de castigar os terroristas. Este é o terceiro ataque militar em grande escala a Gaza desde 2008. De cada vez, o número de mortes confirmadas refere-se principalmente a pessoas inocentes de Gaza, em particular mulheres e crianças, sob o pretexto inaceitável de Israel erradicar os partidos políticos e a resistência à ocupação e ao cerco que impõe. 

Esta ação também aterroriza aqueles que não são diretamente atingidos e fere a alma, a mente e a resiliência da geração jovem. A nossa condenação e aversão são agravadas ainda mais pela negação e proibição de Gaza receber ajuda externa e suprimentos para aliviar as terríveis circunstâncias. 

O bloqueio a Gaza está mais apertado desde o ano passado e tem um custo mais gravoso para a sua população. Em Gaza, as pessoas sofrem de fome, sede, poluição, escassez de medicamentos, eletricidade e de todos os meios para obter um rendimento, não só por serem alvejadas e bombardeadas. Crise de energia, escassez de gasolina, escassez de água e comida, vazão de esgoto e sempre a diminuição dos recursos são catástrofes provocadas directa e indirectamente pelo cerco. 

O povo da faixa de Gaza está a resistir a esta agressão, porque quer uma vida melhor e normal e, mesmo quando chora de tristeza, dor e terror, rejeita uma trégua temporária que não oferece uma oportunidade real de um futuro melhor. Uma voz no meio dos ataques em Gaza é de Um Al Ramlawi que fala por todos em Gaza: "Eles estão a matar-nos a todos, de toda a maneira — ou uma morte lenta pelo cerco, ou uma rápida pelos ataques militares. Nós não temos nada a perder — devemos lutar pelos nossos direitos, ou morrer ao tentar.” 

Gaza tem sido cercada por mar e terra desde 2006. Qualquer indivíduo de Gaza, incluindo pescadores, que se aventure além de 3 milhas marítimas da costa de Gaza, arrisca-se a ser baleado pela marinha israelita. Ninguém de Gaza pode sair pelos dois únicos check-points, Erez ou Rafah, sem permissão especial dos israelitas e dos egípcios, o que é difícil de obter para muitos, se não impossível. As pessoas de Gaza não podem ir para o estrangeiro para estudar, trabalhar, visitar famílias ou fazer negócios. 

Feridos e doentes não podem sair facilmente para obter tratamento especializado fora de Gaza. Foram restringidas as entradas de alimentos e medicamentos em Gaza e muitos produtos essenciais para a sobrevivência foram proibidos. 

Antes do presente ataque, os produtos médicos armazenados em Gaza já estavam no nível mais baixo de todos os tempos devido ao cerco. Esgotaram-se agora. Da mesma maneira, Gaza é incapaz de exportar os seus produtos. A agricultura tem sido severamente prejudicada pela imposição de uma zona-tampão, e não podem ser exportados produtos agrícolas devido ao bloqueio. 80% da população de Gaza é dependente das rações de comida da ONU. 

Muitos dos edifícios e da infraestrutura de Gaza foram destruídos durante a operação Chumbo Derretido, em 2008-09, e os materiais de construção foram bloqueados, de modo que escolas, casas e instituições não podem ser correctamente reconstruídas. 

As fábricas destruídas pelos bombardeamentos raramente foram reconstruídas, acrescentando o desemprego à miséria.

Apesar das condições difíceis, o povo de Gaza e os seus líderes políticos actuaram recentemente para resolver os seus conflitos "sem braços nem danos" através do processo de reconciliação entre as facções, os seus líderes renunciando a títulos e posições, para que um governo de unidade pudesse ser formado, abolindo a política factional que existe desde 2007. Esta reconciliação, embora aceite por muitos na comunidade internacional, foi rejeitada por Israel. O actual ataque israelita cortou esta oportunidade de unidade política entre Gaza e a Cisjordânia e separou uma parte da sociedade palestiniana, destruindo a vida do povo de Gaza. Sob o pretexto de eliminar o terrorismo, Israel está a tentar destruir a crescente unidade palestiniana. Entre outras mentiras, é afirmado que os civis em Gaza são reféns do Hamas, quando a verdade é que a faixa de Gaza está cercada pelos israelitas e egípcios. 

Gaza tem sido bombardeada continuamente durante os últimos 14 dias, seguindo-se agora a invasão terrestre por tanques e milhares de tropas israelitas. Mais de 60.000 civis do norte de Gaza foram intimados a deixar as suas casas. Estas pessoas deslocadas internas não têm para onde ir uma vez que o centro e o sul de Gaza estão também sujeitos ao bombardeamento de artilharia pesada. Toda Gaza está a ser atacada. Os únicos abrigos em Gaza são as escolas da Agência da ONU para os refugiados (UNRWA), abrigos incertos já alvejados durante a operação Chumbo Derretido, onde muitas pessoas morreram. 

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza e o escritório da ONU para a coordenação de assuntos humanitários (OCHA), até 21 de julho 149 dos 558 mortos em Gaza e 1.100 dos 3.504 feridos eram crianças. Os que estão enterrados sob os escombros ainda não estão contados. Enquanto escrevemos, a BBC noticia o bombardeamento de um outro hospital, que atingiu a unidade de cuidados intensivos e salas de cirurgia, com mortes de pacientes e funcionários. Há agora receios relativamente ao principal hospital Al Shifa. Além disso, a maioria das pessoas estão psicologicamente traumatizadas em Gaza. Qualquer pessoa com mais de 6 anos já viveu o seu terceiro ataque militar por parte de Israel. 

O massacre em Gaza não poupa ninguém e atinge deficientes e doentes em hospitais, crianças brincando na praia ou em cima do telhado, com uma grande maioria de não-combatentes. Hospitais, clínicas, ambulâncias, mesquitas, escolas e edifícios de imprensa têm sido todos atacados, com milhares de casas particulares bombardeadas, o fogo claramente direcionando para alvejar famílias inteiras e matá-las dentro das suas casas, privando as famílias de suas casas ao mandá-las sair uns minutos antes da destruição. Uma área inteira foi destruída em 20 de julho, deixando milhares de pessoas deslocadas sem tecto, ao lado de centenas de feridos e matando pelo menos 70 — isto é muito além do propósito de encontrar túneis. Nenhum destes são objetivos militares. Estes ataques visam aterrorizar, ferir a alma e o corpo das pessoas e tornar-lhes a vida impossível no futuro, assim como também demolindo as suas casas e proibindo os meios para reconstruir. 

É usado armamento conhecido por causar danos a longo prazo na saúde de toda a população; em particular armamento de não fragmentação e bombas de ponta-dura. Vemos armamento de precisão a ser usado indiscriminadamente em crianças e vemos constantemente que as chamadas armas inteligentes falham a precisão, a menos que elas sejam deliberadamente usadas para destruir vidas inocentes.

Denunciamos o mito propagado por Israel de que a agressão é feita com a preocupação de poupar as vidas de civis e o bem-estar das crianças. 

O comportamento de Israel insultou a nossa humanidade, a nossa inteligência e dignidade, bem como a nossa ética profissional e os nossos esforços. Até mesmo aqueles de nós que querem ir e ajudar são incapazes de chegar a Gaza devido ao bloqueio. 

Esta "agressão defensiva" de duração, extensão e intensidade ilimitadas tem de ser travada.

Além disso, se o uso de gás for confirmado, isto é inequivocamente um crime de guerra, pelo qual, antes de mais nada, sanções graves terão de ser tomadas imediatamente sobre Israel, assim como a ruptura de qualquer comércio e acordos de colaboração com a Europa. 

No momento em que escrevemos, são relatados outros massacres e ameaças sobre o pessoal médico nos serviços de urgência e o impedimento da entrada de comboios de ajuda humanitária internacional. Enquanto cientistas e médicos, não podemos ficar em silêncio enquanto este crime contra a humanidade continua. Instamos os leitores a também não ficarem em silêncio. Gaza presa no cerco está a ser morta por uma das maiores e mais sofisticadas máquinas militares modernas. A terra está envenenada por detritos de armas, com consequências para as gerações futuras. Se aqueles de nós capazes de se exprimir não o fazem e não tomam uma atitude contra este crime de guerra, também somos cúmplices da destruição das vidas e das casas de 1,8 milhão de pessoas em Gaza. Registamos com consternação que apenas 5% dos nossos colegas académicos israelitas assinaram um apelo ao seu governo para parar a operação militar contra Gaza. 

Somos tentados a concluir que, à excepção desses 5%, o resto dos académicos israelitas é cúmplice do massacre e da destruição de Gaza. Vemos também a cumplicidade dos nossos países na Europa e América do Norte neste massacre e a impotência mais uma vez das instituições e organizações internacionais para parar este massacre.” 

A carta aberta foi publicada na The Lancet e reproduzida em SOLIDARIEDADE COM A PALESTINA

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Burgueses e proletários! Do Manifesto Comunista : De K.Marx e F. Engels



Para estudar e comparar as diferenças ideológicas que separa os fundadores da teoria cientifica do comunismo, daqueles que em seu nome se reivindicam dessas ideias.
"A história de toda a sociedade até aqui  é a  história de lutas de classes.

[Homem] livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo,  burgueses de corporação e oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta, uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou pelo declínio comum das classes em luta.

 Por burguesia entende-se a classe dos Capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social e empregadores de trabalho assalariado. Por proletariado, a classe dos trabalhadores assalariados modernos, os quais, não tendo meios próprios de produção, estão reduzidos a vender a sua força de trabalho  para poderem viver.

 Isto é, toda a história escrita . Em 1847, a pré-história da sociedade, a organização social existente antes da história registada, era praticamente desconhecida. Desde então, Haxthausen descobriu a propriedade comum da terra na Rússia, Maurer provou que ela é o fundamento social de que partiram todas as raças Teutónicas da história, e a pouco e pouco verificou-se que as comunidades aldeãs são ou foram a forma primitiva de sociedade em toda a parte, da Índia à Irlanda. A organização interna desta primitiva sociedade Comunista foi posta a nu, na sua forma típica, pela descoberta culminante feita por Morgan da verdadeira natureza da gens e da sua relação com a tribo. Com a dissolução destas comunidades primevas a sociedade começa a diferenciar-se em classes separadas e finalmente antagónicas. Tentei reconstituir este processo de dissolução em Der Ursprung der Familie, des Privateigenthums und des Staats, zweite Auflage , Stuttgart 1886 . (A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado)
Nas anteriores épocas da história encontramos quase por toda a parte uma articulação completa da sociedade em diversos estados [ou ordens sociais], uma múltipla gradação das posições sociais. Na Roma antiga temos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média: senhores feudais, vassalos, burgueses de corporação, oficiais, servos, e ainda por cima, quase em cada uma destas classes, de novo gradações particulares.

A moderna sociedade burguesa, saída do declínio da sociedade feudal, não aboliu as oposições de classes. Apenas pôs novas classes, novas condições de opressão, novas configurações de luta, no lugar das antigas.

A nossa época, a época da burguesia, distingue-se, contudo, por ter simplificado as oposições de classes. A sociedade toda cinde-se, cada vez mais, em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes que directamente se enfrentam: burguesia e proletariado.

Dos servos da Idade Média saíram os Pfahlbürger  das primeiras cidades; desta Pfahlbürgerschaft desenvolveram-se os primeiros elementos da burguesia [ Bourgeoisie ].

O descobrimento da América, a circum-navegação de África, criaram um novo terreno para a burguesia ascendente. O mercado das Índias orientais e da China, a colonização da América, o intercâmbio com as colónias, a multiplicação dos meios de troca e das mercadorias em geral deram ao comércio, à navegação, à indústria, um surto nunca até então conhecido, e, com ele, um rápido desenvolvimento ao elemento revolucionário na sociedade feudal em desmoronamento.

O modo de funcionamento até aí feudal ou corporativo da indústria já não chegava para a procura que crescia com novos mercados. Substituiu-a a manufactura. Os mestres de corporação foram desalojados pelo estado médio industrial; a divisão do trabalho entre as diversas corporações  desapareceu ante a divisão do trabalho na própria oficina singular.

Mas os mercados continuavam a crescer, a procura continuava a subir. Também a manufactura já não chegava mais. Então o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. Para o lugar da manufactura entrou a grande indústria moderna; para o lugar do estado médio industrial entraram os milionários industriais, os chefes de exércitos industriais inteiros, os burgueses modernos.

A grande indústria estabeleceu o mercado mundial que o descobrimento da América preparara. O mercado mundial deu ao comércio, à navegação, às comunicações por terra, um desenvolvimento imensurável. Este, por sua vez, reagiu sobre a extensão da indústria, e na mesma medida em que a indústria, o comércio, a navegação, os caminhos-de-ferro se estenderam, desenvolveu-se a burguesia, multiplicou os seus capitais, empurrou todas as classes transmitidas da Idade Média para segundo plano.

Vemos, pois, como a burguesia moderna é ela própria o produto de um longo curso de desenvolvimento, de uma série de revolucionamentos no modo de produção e de intercâmbio.

Cada um destes estádios de desenvolvimento da burguesia foi acompanhado de um correspondente progresso político . Estado [ou ordem social] oprimido sob a dominação dos senhores feudais, associação armada e auto-administrada na comuna, aqui cidade-república independente, além terceiro-estado na monarquia sujeito a impostos, depois ao tempo da manufactura contrapeso contra a nobreza na monarquia de estados [ou ordens sociais] ou na absoluta, base principal das grandes monarquias em geral — ela conquistou por fim, desde o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, a dominação política exclusiva no moderno Estado representativo. O moderno poder de Estado é apenas uma comissão que administra os negócios comunitários de toda a classe burguesa.

A burguesia desempenhou na história um papel altamente revolucionário.
A burguesia, lá onde chegou à dominação, destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Rasgou sem misericórdia todos os variegados laços feudais que prendiam o homem aos seus superiores naturais e não deixou outro laço entre homem e homem que não o do interesse nu, o do insensível «pagamento a pronto». Afogou o frémito sagrado da exaltação pia, do entusiasmo cavalheiresco, da melancolia pequeno-burguesa, na água gelada do cálculo egoísta. Resolveu a dignidade pessoal no valor de troca, e no lugar das inúmeras liberdades bem adquiridas e certificadas pôs a liberdade única , sem escrúpulos, de comércio. Numa palavra, no lugar da exploração encoberta com ilusões políticas e religiosas, pôs a exploração seca, directa, despudorada, aberta.

A burguesia despiu da sua aparência sagrada todas as actividades até aqui veneráveis e consideradas com pia reverência. Transformou o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência em trabalhadores assalariados pagos por ela.

A burguesia arrancou à relação familiar o seu comovente véu sentimental e reduziu-a a uma pura relação de dinheiro.
A burguesia pôs a descoberto como a brutal exteriorização de força, que a reacção tanto admira na Idade Média, tinha na mais indolente mandriice o seu complemento adequado. Foi ela quem primeiro demonstrou o que a actividade dos homens pode conseguir. Realizou maravilhas completamente diferentes das pirâmides egípcias, dos aquedutos romanos e das catedrais góticas, levou a cabo expedições completamente diferentes das antigas migrações de povos e das cruzadas.

A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, portanto as relações sociais todas. A conservação inalterada do antigo modo de produção era, pelo contrário, a condição primeira de existência de todas as anteriores classes industriais. O permanente revolucionamento da produção, o ininterrupto abalo de todas as condições sociais, a incerteza e o movimento eternos distinguem a época da burguesia de todas as outras. Todas as relações fixas e enferrujadas, com o seu cortejo de vetustas representações e intuições, são dissolvidas, todas as recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo o que era dos estados [ou ordens sociais] e estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é dessagrado, e os homens são por fim obrigados a encarar com olhos prosaicos a sua posição na vida, as suas ligações recíprocas.

A necessidade de um escoamento sempre mais extenso para os seus produtos persegue a burguesia por todo o globo terrestre. Tem de se implantar em toda a parte, instalar-se em toda a parte, estabelecer contactos em toda a parte.
A burguesia, pela sua  exploração do mercado mundial, configurou de um modo cosmopolita a produção e o consumo de todos os países. Para grande pesar dos reaccionários, tirou à indústria o solo nacional onde firmava os pés. As antiquíssimas indústrias nacionais foram aniquiladas, e são ainda diariamente aniquiladas. São desalojadas por novas indústrias cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, por indústrias que já não laboram matérias-primas nativas, mas matérias-primas oriundas das zonas mais afastadas, e cujos fabricos são consumidos não só no próprio país como simultaneamente em todas as partes do mundo. Para o lugar das velhas necessidades, satisfeitas por artigos do país, entram [necessidades] novas que exigem para a sua satisfação os produtos dos países e dos climas mais longínquos. Para o lugar da velha auto-suficiência e do velho isolamento locais e nacionais, entram um intercâmbio omnilateral, uma dependência das nações umas das outras. E tal como na produção material, assim também na produção espiritual. Os artigos espirituais das nações singulares tornam-se bem comum. A unilateralidade e estreiteza nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis, e das muitas literaturas nacionais e locais forma-se uma literatura mundial.

A burguesia, pelo rápido melhoramento de todos os instrumentos de produção, pelas comunicações infinitamente facilitadas, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização. Os preços baratos das suas mercadorias são a artilharia pesada com que deita por terra todas as muralhas da China, com que força à capitulação o mais obstinado ódio dos bárbaros ao estrangeiro. Compele todas as nações a apropriarem o modo de produção da burguesia, se não quiserem arruinar-se; compele-as a introduzirem no seu seio a chamada civilização, i. é, a tornarem-se burguesas. Numa palavra, ela cria para si um mundo à sua própria imagem.

A burguesia submeteu o campo à dominação da cidade. Criou cidades enormes, aumentou num grau elevado o número da população urbana face à rural, e deste modo arrancou uma parte significativa da população à idiotia da vida rural. Assim como tornou dependente o campo da cidade, [tornou dependentes] os países bárbaros e semibárbaros dos civilizados, os povos agrícolas dos povos burgueses, o Oriente do Ocidente.

A burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Aglomerou a população, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos. A consequência necessária disto foi a centralização política. Províncias independentes, quase somente aliadas, com interesses, leis, governos e direitos alfandegários diversos, foram comprimidas numa nação, num governo, numa lei, num interesse nacional de classe, numa linha aduaneira.

A burguesia, na sua dominação de classe de um escasso século, criou forças de produção mais massivas e mais colossais do que todas as gerações passadas juntas. Subjugação das forças da Natureza, maquinaria, aplicação da química à indústria e à lavoura, navegação a vapor, caminhos-de-ferro, telégrafos eléctricos, arroteamento de continentes inteiros, navegabilidade dos rios, populações inteiras feitas saltar do chão — que século anterior teve ao menos um pressentimento de que estas forças de produção estavam adormecidas no seio do trabalho social?

Vimos assim  que: os meios de produção e de intercâmbio sobre cuja base se formou a burguesia foram gerados na sociedade feudal. Num certo estádio do desenvolvimento destes meios de produção e de intercâmbio, as relações em que a sociedade feudal produzia e trocava, a organização feudal da agricultura e da manufactura — numa palavra, as relações de propriedade feudais — deixaram de corresponder às forças produtivas já desenvolvidas. Tolhiam a produção, em vez de a fomentarem. Transformaram-se em outros tantos grilhões. Tinham de ser rompidas e foram rompidas.

Para o seu lugar entrou a livre concorrência, com a constituição social e política a ela adequada, com a dominação económica e política da classe burguesa.
Um movimento semelhante processa-se diante dos nossos olhos. As relações burguesas de produção e de intercâmbio, as relações de propriedade burguesas, a sociedade burguesa moderna que desencadeou meios tão poderosos de produção e de intercâmbio, assemelha-se ao feiticeiro que já não consegue dominar as forças subterrâneas que invocara. De há decénios para cá, a história da indústria e do comércio é apenas a história da revolta das modernas forças produtivas contra as modernas relações de produção, contra as relações de propriedade que são as condições de vida da burguesia e da sua dominação. Basta mencionar as crises comerciais que, na sua recorrência periódica, põem em questão, cada vez mais ameaçadoramente, a existência de toda a sociedade burguesa. Nas crises comerciais é regularmente aniquilada uma grande parte não só dos produtos fabricados como * das forças produtivas já criadas. Nas crises irrompe uma epidemia social que teria parecido um contra-senso a todas as épocas anteriores — a epidemia da sobreprodução. A sociedade vê-se de repente retransportada a um estado de momentânea barbárie; parece-lhe que uma fome, uma guerra de aniquilação ** universal lhe cortaram todos os meios de subsistência; a indústria, o comércio, parecem aniquilados. E porquê? Porque ela possui demasiada civilização, demasiados meios de vida, demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas que estão à sua disposição já não servem para promoção *** das relações de propriedade burguesas; pelo contrário, tornaram-se demasiado poderosas para estas relações, e são por elas tolhidas; e logo que triunfam deste tolhimento lançam na desordem toda a sociedade burguesa, põem em perigo a existência da propriedade burguesa. As relações burguesas tornaram-se demasiado estreitas para conterem a riqueza por elas gerada. — E como triunfa a burguesia das crises? Por um lado, pela aniquilação forçada de uma massa de forças produtivas; por outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais profunda de **** antigos mercados. De que modo, então? Preparando crises mais omnilaterais e mais poderosas, e diminuindo os meios de prevenir as crises.
* Na edição de 1848 acrescenta-se: mesmo. ( N. da Ed. )
** Na edição de 1848 acrescenta-se: guerra de devastação. ( N. da Ed. )
*** Na edição de 1848 acrescenta-se: da civilização burguesa e. ( N. da Ed. )
**** Nas edições de 1848 e 1872: dos. ( N. da Ed. )

As armas com que a burguesia deitou por terra o feudalismo viram-se agora contra a própria burguesia.

Mas a burguesia não forjou apenas as armas que lhe trazem a morte; também gerou os homens que manejarão essas armas — os operários modernos, os proletários .
Na mesma medida em que a burguesia, i. é, o capital se desenvolve, nessa mesma medida desenvolve-se o proletariado, a classe dos operários modernos, os quais só vivem enquanto encontram trabalho e só encontram trabalho enquanto o seu trabalho aumenta o capital. Estes operários, que têm de se vender à peça, são uma mercadoria como qualquer outro artigo de comércio, e estão, por isso, igualmente expostos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as oscilações do mercado.

O trabalho dos proletários perdeu, com a extensão da maquinaria e a divisão do trabalho, todo o carácter autónomo e, portanto, todos os atractivos para os operários * . Ele torna-se um mero acessório da máquina ao qual se exige apenas o manejo mais simples, mais monótono, mais fácil de aprender. Os custos que o operário ocasiona reduzem-se por isso quase só aos meios de vida de que carece para o seu sustento e para a reprodução da sua raça. O preço de uma mercadoria, portanto também do trabalho  é, porém, igual aos seus custos de produção. Na mesma medida em que cresce a repugnância [causada] pelo trabalho decresce portanto o salário. Mais ainda: na mesma medida em que aumentam a maquinaria e a divisão do trabalho, na mesma medida sobe também a massa ** do trabalho, seja pelo créscimo das horas de trabalho seja pelo acréscimo do trabalho exigido num tempo dado, pelo funcionamento acelerado das máquinas, etc.
* Na edição de 1848: o operário. ( N. da Ed. )
** Na edição de 1888: carga. ( N. da Ed. )

A indústria moderna transformou a pequena oficina do mestre patriarcal na grande fábrica do capitalista industrial. Massas de operários, comprimidos na fábrica, são organizadas como soldados. São colocadas, como soldados rasos da indústria, sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais subalternos e oficiais. Não são apenas servos da classe burguesa, do Estado burguês; dia a dia, hora a hora, são feitos servos da máquina, do vigilante, e sobretudo dos próprios burgueses fabricantes singulares. Este despotismo é tanto mais mesquinho, mais odioso, mais exasperante, quanto mais abertamente proclama ser o provento o seu ** objectivo.
** Na edição de 1888: carga. ( N. da Ed. )

Quanto menos habilidade e exteriorização de força o trabalho manual exige, i. é, quanto mais a indústria moderna se desenvolve, tanto mais o trabalho dos homens é desalojado pelo das mulheres * . Diferenças de sexo e de idade já não têm qualquer validade social para a classe operária. Há apenas instrumentos de trabalho que, segundo a idade e o sexo, têm custos diversos.
* Na edição de 1848 acrescenta-se: e crianças. ( N. da Ed. )

Se a exploração do operário pelo fabricante termina na medida em que recebe o seu salário pago de contado, logo lhe caem em cima as outras partes da burguesia: o senhorio, o merceeiro, o penhorista, etc.

Os pequenos estados médios  até aqui, os pequenos industriais, comerciantes e rentiers * , os artesãos e camponeses, todas estas classes caem no proletariado, em parte porque o seu pequeno capital não chega para o empreendimento da grande indústria e sucumbe à concorrência dos capitalistas maiores, em parte porque a sua habilidade é desvalorizada por novos modos de produção. Assim, o proletariado recruta-se de todas as classes da população.
* Em francês no texto: os que possuem ou vivem de rendimentos. ( N. da Ed. )

O proletariado passa por diversos estádios de desenvolvimento. A sua luta contra a burguesia começa com a sua existência.
No começo são os operários singulares que lutam, depois os operários de uma fábrica, depois os operários de um ramo de trabalho numa localidade contra o burguês singular que os explora directamente. Dirigem os seus ataques não só contra as relações de produção burguesas, dirigem-nos contra os próprios instrumentos de produção; aniquilam as mercadorias estrangeiras concorrentes, destroçam as máquinas, deitam fogo às fábricas, procuram recuperar * a posição desaparecida do operário medieval. Neste estádio os operários formam uma massa dispersa por todo o país e dividida pela concorrência. A coesão maciça dos operários não é ainda a consequência da sua própria união, mas a consequência da união da burguesia, a qual, para atingir os seus objectivos políticos próprios, tem de pôr em movimento o proletariado todo, e por enquanto ainda o pode. Neste estádio os proletários combatem, pois, não os seus inimigos, mas os inimigos dos seus inimigos, os restos da monarquia absoluta, os proprietários fundiários, os burgueses não industriais, os pequenos burgueses. Todo o movimento histórico está, assim, concentrado nas mãos da burguesia; cada vitória assim alcançada é uma vitória da burguesia.
* Na edição de 1848 acrescenta-se: para si. ( N. da Ed. )

Mas com o desenvolvimento da indústria o proletariado não apenas se multiplica; é comprimido em massas maiores, a sua força cresce, e ele sente-a mais. Os interesses, as situações de vida no interior do proletariado tornam-se cada vez mais semelhantes, na medida em que a maquinaria vai obliterando cada vez mais as diferenças do trabalho e quase por toda a parte faz descer o salário a um mesmo nível baixo. A concorrência crescente dos burgueses entre si e as crises comerciais que daqui decorrem tornam o salário dos operários cada vez mais oscilante; o melhoramento incessante da maquinaria, que cada vez se desenvolve mais depressa, torna toda a sua posição na vida cada vez mais insegura; as colisões entre o operário singular e o burguês singular tomam cada vez mais o carácter de colisões de duas classes. Os operários começam por formar coalisões * contra os burgueses; juntam-se para a manutenção do seu salário. Fundam eles mesmos associações duradouras para se premunirem para as insurreições ocasionais. Aqui e além a luta irrompe em motins.
* Na edição de 1848 acrescenta-se: (Trade-Unions). ( N. da Ed. )

De tempos a tempos os operários vencem, mas só transitoriamente. O resultado propriamente dito das suas lutas não é o êxito imediato, mas a união dos operários que cada vez mais se amplia. Ela é promovida pelos meios crescentes de comunicação, criados pela grande indústria, que põem os operários das diversas localidades em contacto uns com os outros. Basta, porém, este contacto para centralizar as muitas lutas locais, por toda a parte com o mesmo carácter, numa luta nacional, numa luta de classes. Mas toda a luta de classes é uma luta política. E a união, para a qual os burgueses da Idade Média, com os seus caminhos vicinais, precisavam de séculos, conseguem-na os proletários modernos com os caminhos-de-ferro em poucos anos.

Esta organização dos proletários em classe, e deste modo em partido político, é rompida de novo a cada momento pela concorrência entre os próprios operários. Mas renasce sempre, mais forte, mais sólida, mais poderosa. Força o reconhecimento de interesses isolados dos operários em forma de lei, na medida em que tira proveito das cisões da burguesia entre si. Assim [aconteceu] em Inglaterra com a lei das dez horas.

De um modo geral, as colisões da velha sociedade promovem, de muitas maneiras, o curso de desenvolvimento do proletariado. A burguesia acha-se em luta permanente: de começo contra a aristocracia; mais tarde, contra os sectores da própria burguesia cujos interesses entram em contradição com o progresso da indústria; sempre, contra a burguesia de todos os países estrangeiros. Em todas estas lutas vê-se obrigada a apelar para o proletariado, a recorrer à sua ajuda, e deste modo a arrastá-lo para o movimento político. Ela própria leva, portanto, ao proletariado os seus elementos * de formação próprios, ou seja, armas contra ela própria.
* Na edição de 1888 acrescenta-se: políticos e gerais. ( N. da Ed. )

Além disto, como vimos, sectores inteiros da classe dominante, pelo progresso da indústria, são lançados no proletariado, ou pelo menos vêem-se ameaçadas nas suas condições de vida. Também estes levam ao proletariado uma massa de elementos de formação * .
* Na edição de 1888 acrescenta-se: elementos de esclarecimento e de progresso. ( N. da Ed. )

Por fim, em tempos em que a luta de classes se aproxima da decisão, o processo de dissolução no seio da classe dominante, no seio da velha sociedade toda, assume um carácter tão vivo, tão veemente, que uma pequena parte da classe dominante se desliga desta e se junta à classe revolucionária, à classe que traz nas mãos o futuro. Assim, tal como anteriormente uma parte da nobreza se passou para a burguesia, também agora uma parte da burguesia se passa para o proletariado, e nomeadamente uma parte dos ideólogos burgueses que conseguiram elevar-se a um entendimento teórico do movimento histórico todo.

De todas as classes que hoje em dia defrontam a burguesia só o proletariado é uma classe realmente revolucionária. As demais classes vão-se arruinando e soçobram com a grande indústria; o proletariado é o produto mais característico desta.
Os estados médios — o pequeno industrial, o pequeno comerciante, o artesão, o camponês —, todos eles combatem a burguesia para assegurar, face ao declínio, a sua existência como estados médios. Não são, pois, revolucionários, mas conservadores. Mais ainda, são reaccionários * , procuram fazer andar para trás a roda da história. Se são revolucionários, são-no apenas à luz da sua iminente passagem para o proletariado, e assim não defendem os seus interesses presentes, mas os futuros, e assim abandonam a sua posição própria para se colocarem na do proletariado. —
* Nas edições de 1848, 1872 e 1883 acrescenta-se: pois. ( N. da Ed. )

O lumpenproletariado, esta putrefacção passiva das camadas mais baixas da velha sociedade, é aqui e além atirado para o movimento por uma revolução proletária, e por toda a sua situação de vida estará mais disposto a deixar-se comprar para maquinações reaccionárias.

As condições de vida da velha sociedade estão aniquiladas já nas condições de vida do proletariado. O proletário está desprovido de propriedade; a sua relação com a mulher e os filhos já nada tem de comum com a relação familiar burguesa; o trabalho industrial moderno, a subjugação moderna ao capital, que é a mesma na Inglaterra e na França, na América e na Alemanha, tirou-lhe todo o carácter nacional. As leis, a moral, a religião são para ele outros tantos preconceitos burgueses, atrás dos quais se escondem outros tantos interesses burgueses.

Todas as classes anteriores que conquistaram a dominação procuraram assegurar a posição na vida já alcançada, submetendo toda a sociedade às condições do seu proveito. Os proletários só podem conquistar as forças produtivas sociais abolindo o seu próprio modo de apropriação até aqui e com ele todo o modo de apropriação até aqui. Os proletários nada têm de seu a assegurar, têm sim de destruir todas as seguranças privadas * e asseguramentos privados.
* Nas edições de 1848, 1872 e 1883: toda a segurança privada até aqui. ( N. da Ed. )

Todos os movimentos até aqui foram movimentos de minorias ou no interesse de minorias. O movimento proletário é o movimento autónomo da maioria imensa no interesse da maioria imensa. O proletariado, a camada mais baixa da sociedade actual, não pode elevar-se, não pode endireitar-se, sem fazer ir pelos ares toda a superstrutura das camadas que formam a sociedade oficial. Pela forma, embora não pelo conteúdo, a luta do proletariado contra a burguesia começa por ser uma luta nacional. O proletariado de cada um dos países tem naturalmente de começar por resolver os problemas com a sua própria burguesia.

Ao traçarmos as fases mais gerais do desenvolvimento do proletariado, seguimos de perto a guerra civil mais ou menos oculta no seio da sociedade existente até ao ponto em que rebenta numa revolução aberta e o proletariado, pelo derrube violento da burguesia, funda a sua dominação.

Toda a sociedade até aqui repousava, como vimos, na oposição de classes opressoras e oprimidas. Mas para se poder oprimir uma classe, têm de lhe ser asseguradas condições em que possa pelo menos ir arrastando a sua existência servil. O servo conseguiu chegar, na servidão, a membro da comuna, tal como o pequeno burguês  a burguês sob o jugo do absolutismo feudal. Pelo contrário, o operário moderno, em vez de se elevar com o progresso da indústria, afunda-se cada vez mais abaixo das condições da sua própria classe. O operário torna-se num indigente  e o pauperismo desenvolve-se ainda mais depressa* do que a população e a riqueza. Torna-se com isto evidente que a burguesia é incapaz de continuar a ser por muito mais tempo a classe dominante da sociedade e a impor à sociedade como lei reguladora as condições de vida da sua classe. Ela é incapaz de dominar porque é incapaz de assegurar ao seu escravo a própria existência no seio da escravidão, porque é obrigada a deixá-lo afundar-se numa situação em que tem de ser ela a alimentá-lo, em vez de ser alimentada por ele. A sociedade não pode mais viver sob ela [ou seja, sob a dominação da burguesia], i. é, a vida desta já não é compatível com a sociedade.
* Nas edições de 1848, 1872 e 1883: rapidamente. ( N. da Ed. )

A condição essencial* para a existência e para a dominação da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos de privados, a formação e multiplicação do capital; a condição do capital é o trabalho assalariado. O trabalho assalariado repousa exclusivamente na concorrência entre os operários. O progresso da indústria, de que a burguesia é portadora, involuntária e sem resistência, coloca no lugar do isolamento dos operários pela concorrência a sua união revolucionária pela associação. Com o desenvolvimento da grande indústria é retirada debaixo dos pés da burguesia a própria base sobre que ela produz e se apropria dos produtos. Ela produz, antes do mais, o seu** próprio coveiro. O seu declínio e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis.
* Nas edições de 1848, 1872 e 1883: mais essencial. ( N. da Ed. )
** Nas edições de 1848 e 1872: os. ( N. da Ed. )