segunda-feira, 25 de julho de 2016

O socialismo é a supressão das classes. Sem a ditadura do proletariado elas não desaparecerão.

O socialismo é a supressão das classes. A ditadura do proletariado fez tudo o que podia para essa supressão. Mas é impossível suprimir as classes de repente.

E as classes mantiveram-se
e manter-se-ão durante a época da ditadura do proletariado. A ditadura tornar-se-á inútil quando as classes tiverem desaparecido. Sem a ditadura do proletariado elas não desaparecerão.

As classes mantiveram-se, mas cada uma delas modificou-se na época da ditadura do proletariado; modificaram-se também as suas inter-relações. A luta de classes não desaparece sob a ditadura do proletariado, toma apenas outras formas.

No capitalismo o proletariado era uma classe oprimida, uma classe privada de toda a propriedade sobre os meios de produção, a única classe directa e inteiramente oposta à burguesia e, por conseguinte, a única capaz de ser revolucionária até ao fim. Depois de ter derrubado a burguesia e conquistado o poder político, o proletariado tornou-se a classe dominante: ele detém nas suas mãos o poder de Estado, dispõe dos meios de produção já socializados, dirige os elementos e as classes vacilantes, intermédios, reprime a energia crescente da resistência dos exploradores. Todas estas são tarefas particulares da luta de classes, tarefas que o proletariado não colocava nem podia colocar anteriormente.

A classe dos exploradores, dos latifundiários e dos capitalistas, não desapareceu nem pode desaparecer de repente sob a ditadura do proletariado. Os exploradores foram derrotados, mas não aniquilados. Continuam a ter uma base internacional, o capital internacional, de que eles são uma sucursal. Continuam a ter em parte alguns meios de produção, continuam a ter dinheiro, continuam a ter grande número de relações sociais. A energia da sua resistência cresceu centenas e milhares de vezes, precisamente em consequência da sua derrota. A «arte» de dirigir o Estado, o exército, a economia, dá-lhes uma superioridade muito grande, de modo que a sua importância é incomparavelmente maior do que a sua parte no conjunto da população. A luta de classe dos exploradores derrubados contra a vanguarda vitoriosa dos explorados, isto é, contra o proletariado, tornou-se infinitamente mais encarniçada. E não poderia ser doutro modo se se fala de revolução, se não se substitui este conceito (como fazem todos os heróis da II Internacional) pelas ilusões reformistas.

Por último, o campesinato, como toda a pequena burguesia em geral, ocupa também sob a ditadura do proletariado uma posição média, intermédia: por um lado, representa uma massa bastante considerável (imensa na Rússia atrasada) de trabalhadores, unida pelo interesse comum aos trabalhadores de se libertar dos latifundiários e dos capitalistas; por outro lado, são pequenos patrões, proprietários e comerciantes isolados. Esta situação económica provoca inevitavelmente vacilações entre o proletariado e a burguesia. E nas condições da luta exacerbada entre estes últimos, nas condições de uma ruptura incrivelmente brusca de todas as relações sociais, nas condições do enorme apego precisamente da parte dos camponeses e dos pequenos burgueses em geral àquilo que é velho, rotineiro, imutável, é natural que observemos inevitavelmente entre eles passagens de um campo para outro, vacilações, viragens, incerteza, etc.

A tarefa do proletariado em relação a esta classe — ou a estes elementos sociais — consiste em dirigi-los, em lutar pela influência sobre eles. Levar atrás de si os vacilantes, os instáveis, eis o que deve fazer o proletariado.

Se confrontarmos todas as forças ou classes fundamentais e as suas inter-relações modificadas pela ditadura do proletariado, veremos que ilimitado absurdo teórico, que estupidez é a concepção pequeno-burguesa corrente da transição para o socialismo «através da democracia» em geral, que vemos em todos os representantes da II Internacional. A base deste erro reside no preconceito herdado da burguesia de que a «democracia» tem um conteúdo absoluto, acima das classes. Mas, na realidade, a democracia entra também numa fase absolutamente nova sob a ditadura do proletariado, e a luta de classes eleva-se a um grau superior, submetendo a si todas e quaisquer formas.
As frases gerais sobre a liberdade, a igualdade e a democracia equivalem de facto a uma cega repetição de conceitos que são uma cópia das relações da produção mercantil. Querer resolver por meio dessas frases gerais as tarefas concretas da ditadura do proletariado significa passar em toda a linha para a posição teórica, de princípio, da burguesia. Do ponto de vista do proletariado, a questão coloca-se unicamente assim: liberdade de não ser oprimido por que classe? igualdade de qual classe com qual outra? democracia na base da propriedade privada ou na base da luta pela abolição da propriedade privada? etc.

Engels esclareceu há muito no Anti-Duhring que o conceito de igualdade, sendo uma cópia das relações da produção mercantil, se transforma em preconceito se não se compreender a igualdade no sentido da supressão das classes[N120]. Esta verdade elementar sobre a distinção entre o conceito de igualdade democrático burguês e o socialista é constantemente esquecida. E se não a esquecermos, torna-se evidente que o proletariado, ao derrubar a burguesia, dá com isto o passo mais decisivo para a supressão das classes e que, para o completar, o proletariado deve prosseguir a sua luta de classe utilizando o aparelho do poder de Estado e aplicando diversos métodos de luta, de influência, de acção em relação à burguesia derrubada e em relação à Pequena burguesia vacilante.

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