segunda-feira, 11 de julho de 2016

Hospitais públicos pagaram 100 milhões aos privados para fazerem cirurgias



Nos últimos três anos, os hospitais públicos pagaram cerca de 100 milhões de euros em cirurgias e consultas feitas no privado para reduzir as listas de utentes à espera de procedimentos cirúrgicos, que poderiam ter sido feitos no sector público, caso o governo anterior não tivesse cedido aos fortíssimos lóbis da saúde privada, médicos e grupos económicos, sendo a saúde considerada já o cluster mais lucrativo do século XXI (a seguir ao tráfico e ao petróleo, claro!).

À semelhança do que acontece com o ensino, mas com certeza para pior, o Estado, através dos governos que o gerem, tem desinvestido nos serviços públicos de Saúde, congelamento das carreiras, não admissão de novos profissionais, reformas antecipadas até há algum tempo atrás, aumento do horário de trabalho (de 35 para 40 horas), corte no valor do preço hora e das horas complementares e extraordinárias, encerramento de serviços, para entregar aos tubarões da medicina privada muitos milhões para a realização de actos médicos e prestação de cuidados de saúde e exames complementares de diagnóstico que ele próprio tem competência e capacidade para realizar.

O boicote à realização de cirurgias e consultas por parte de alguns médicos, bem como a realização de exames complementares de diagnóstico, tem sido uma estratégia delineada e colocada em prática desde há muito, desde do tempo dos governos de Cavaco Silva/PSD, com a conivência activa das administrações hospitalares e que, nos últimos tempos, teve um desenvolvimento extraordinário com a abertura de clínicas privadas mesmo ao lado das instituições de saúde do estado, adoptando inclusivamente nomes muito semelhantes à daquelas, como aconteceu em Coimbra.

E também não será por acaso que se encontra em Coimbra a instituição pública que mais dinheiro tem dado a ganhar às clínicas privadas a fim de realizar aquilo que ela não pode ou não quer (vamos lá saber as razões exactas?). Foram mais de 2.500 cirurgias realizadas fora, com um custo total de 4,6 milhões de euros, e com mais de 14 mil inscritos. Coimbra lidera também as listas de espera, mais do que o Centro Hospitalar Lisboa Central que vem a seguir! Tem sido o fartar vilanagem!

Este problema facilmente seria resolvido desde que houvesse vontade política, coisa que este governo ainda não manifestou, bastava: separar o público do privado, quem trabalha no público não trabalha no privado (há médicos e até alguns enfermeiros que parecem ter o dom da ubiquidade!); rentabilizar os blocos operatórios, que estão na maior parte do tempo às moscas; responsabilizar pessoalmente os administradores hospitalares, parece que isso já existe mas só no papel; e... contratar mais profissionais de saúde, os necessários, seria até uma boa forma de combater o desemprego, e de forma indirecta subir os salários, e igualar por cima os contratos no privado, colocando-os a par dos da função pública; neste particular, os enfermeiros até agradeciam e um bom ponto de reflexão para os nossos "queridos" dirigentes sindicais!

DN: «Só em 2015, foram emitidos mais de 111 mil vales para operações no setor privado ou social, com um custo de 36 milhões de euros
Entre 2013 e 2015 os hospitais públicos gastaram cerca de cem milhões de euros em operações feitas fora do Serviço Nacional de Saúde (SNS), no setor privado ou social, através de vales-cirurgia, emitidos ao final de seis meses de o doente estar à espera. Só em 2015 foram emitidos mais de 111 mil vales que levaram à realização de 20 282 operações, com um custo de 36 milhões de euros. O ano terminou com perto de 194 mil utentes na lista de inscritos para cirurgia - mais dez mil do que 2014 - e 5972 doentes pendentes.

Os dados provisórios do Ministério da Saúde foram enviados ao Bloco de Esquerda numa resposta sobre o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC) nos últimos três anos e a que o DN teve acesso. Uns hospitais descem, outros sobem, mas no total a fatura e o número de operações feitas fora do SNS aumentou . "Acreditamos que se pode estabelecer uma relação com a saída dos profissionais mais diferenciados e a redução de serviços. Podem estar a deixar o SNS com menos capacidade e a enviar mais doentes para o privado. Não compreendemos que aconteça, porque o SNS tem capacidade instalada e é preciso aproveitá-la. É incompreensível que hospitais de fim de linha enviem imensos doentes para o privado", diz Moisés Ferreira, deputado do BE.

O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) é o que tem a fatura mais elevada e 2560 cirurgias realizadas fora. No final do ano tinham 14 mil inscritos na lista e 237 doentes pendentes. "Apenas 25% dos doentes aceitaram ser operados fora do CHUC. O valor faturado foi de 4,6 milhões de euros. O CHUC é dos hospitais com maior produção cirúrgica. Em 2015 foram feitas 65 735 cirurgias. Temos vindo a "aumentar a capacidade interna e a reduzir a emissão de vales-ci rurgia", refere. Quanto aos doentes pendentes, "são propostas cirúrgicas que estão em fase de avaliação clínica e/ou a aguardar exames e esclarecimentos adicionais", número que não consideram elevado dada a procura. (...)»


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