segunda-feira, 18 de abril de 2016

Ñão há outra opção de enfrentar os cortes, as privatizações e a destruição de direitos laborais e sociais que negar o pagamento da Divida e, portanto, sair da UE e do euro.

Extrato da Entrevista de Angeles Maestro

Insurgente INS: Assistimos a um refluxo da mobilização social apesar das condições económicas serem muito duras para os trabalhadores? A que se deve este refluxo?

Angeles Maestro (AM): De facto tem havido uma importante diminuição da mobilização operária e popular. As causas são complexas.

Por um lado está a brutal ofensiva de classe levada a cabo pela burguesia e os seus governos. Todos eles, na UE e no Estado espanhol, independentemente da sua cor politica têm executado politicas que arrasam os direitos laborais. A situação em que a imensa maioria dos trabalhadores é quase de escravidão. Não há protecção sindical. Quem se arrisca  em qualquer tipo de mobilização é despedido.

Quem tem um trabalho relativamente digno tem medo de o perder e a imensa maioria dos trabalhadores precários não tem qualquer possibilidade de luta.

Por outro lado, se as classes dominantes puderem executar essas politicas foi  porque tinham a classe manietada. Por isso as desmobilizações são também o resultado da imensa derrota de classe perpetrada...com a necessária colaboração das cúpulas das CC.OO. e da UGT, que não apenas pactuaram ou aceitaram durante décadas sem a necessária luta as privatizações, as contra-reformas laborais, das pensões ou a dupla escala salarial mas - como é evidente -actuam como instrumentos da burguesia para debilitar ou desnaturalizar a mobilização social.

Um bom exemplo é a invensão da cimeira social (PSOE, IU, CC.OO.,UGT e organizações satélites) definitivamente desacreditada   pelas Marchas da Dignidade. Com isso tentaram iludir as pessoas reivindicando a «Europa Social», os «aspectos sociais» da Constituição espanhola ou o regresso ao «Estado de Bem Estar», apesar da evidência de quem impõe a aniquilação dos direitos laborais e sociais é a UE, através do Pagamento da Divida e da engrenagem do Euro. Em situações de precariedade, como as que vive a imensa maioria da classe operária, não há alternativa senão actuar a partir de fora da empresa. procurando formas de solidariedade que permitam exercer a pressão necessária para ganhar as lutas. O lema «hoje por ti, amanhã por mim» pode originar instrumentos de organização e de actuação eficazes, que permitam voltar à construção da identidade de classe numa situação de proletarização massiva.

O grande desafio que a classe operária tem necessáriamente que enfrentar - e que inclui o sindicalismo alternativo - não é só o de acabar com um sindicalismo pactuador que atraiçou a sua classe. São indispensáveis novas formas de organização e de luta contra um patronato que actua impunemente para impor condições de trabalho cada vez mais próximas da escravatura. 

O bairro como lugar de encontro e organização pode ser o grande laboratório em que criem as estruturas que assegurem a continuidade da organização, a unificação das lutas e a necessária acumulação de forças para enfrentar as duras  batalhas que se avizinham. A construção do poder  popular é condição indispensável para acabar - não com a «casta» mas com o sistema - e construir a única alternativa real ao capitalismo: O socialismo.

INS:No ultimo documento politico de Rede Roja insiste-se que a única opção é a saída da UE e do euro, e o Não ao Pagamento da Divida. Os defensores do regime, e alguns que se vendem a si mesmos como »anti-sistema». dizem, em contrapartida, que isso seria um desastre para a economia, que não é realista.

AM: A resposta a todos eles é que o que não é realista, o que é uma fraude politica é dizer que vão parar todos os cortes, todasas privatizações ou que se vão reverter as reformas laborais sem recusar o pagamento da Divida. O que as pessoas já sabem é que a divida pública, que já é maior do que o PIB e atinge um bilião de euros, foi criada pela transferência massiva de dinheiro público para os bancos e as grandes empresas.

O que se oculta é que, não só a reforma do artigo 135º da Constituição mas também o Tratado de Estabilidade da Eurozona e as leis que o regulamentam como a Lei Orgânica 2/2012 impõem ferreamente a qualquer Governo do Estado espanhol, às CC.AA. e aos Ayuntamientos politicas de redução do déficit e da divida incompatíveis com a manutenção dos serviços e do emprego público. As piruetas programáticas da IU, do PODEMOS, de GANHEMOS e de qualquer opção eleitoral que fale de «auditorias», de «reestruturações da Divida» ou de qualquer outra denominação são fraudes que escondem o medo de dizer claramente a evidência: não há outra opção de enfrentar os cortes, as privatizações e a destruição de direitos laborais e sociais que negar o pagamento da Divida e, portanto, sair da UE e do euro.

INS: Estamos, como quase sempre, perante a disjuntiva conhecida como «reforma ou revolução», mas parece impossível desenvolver a segunda sem um elevado número de revolucionários.

AM: O assunto hoje não é se somos mais, ou menos, revolucionários.É se a análise concreta da situação das classes dominantes no poder é sustentável ou não perante as necessidades vitais e estimulantes das pessoas. E neste quadro, que objectivamente é de uma grande instabilidade do poder estabelecido...o assunto central é como as organizações revolucionárias são capazes de colocar no seio do movimento popular as politicas que ultrapassam os limites das opções eleitorais. Para isso, como coloca a Rede Roja, trata-se de acompanhar o processo de consciencialização das pesoas que inevitavelmente vai comprovar que - se bem que seja necessário acabar eleitoralmente com aqueles que representam o poder politico/sindical surgido da Transição (do fascismo franquista, para a democracia burguesa) - para cumprir os seus objectivos, inclusive os mais elementares de lutar contra os «cortes». é preciso enfrentar toda a estrutura do poder. 

O tema central, pois, não é a quantidade de revolucionários. Como se demonstrou noutros processos históricos, o tema central é em que medida a linha revolucionária - nos momentos de crise aguda do sistema como os tempos actuais - é capaz de analisar rigorosamente as contradições da estrutura do poder e ir interpretando e representando o sentimento das pessoas.

Quando a Rede Roja fala de « linha revolucionária» não se está auto-atribuindo o papel de «vanguarda esclarecida da revolução».

Está a colocar, por um lado, a necessidade ineludível do trabalho no movimento operário e popular - em cada bairro e em cada povoado - com o objectivo de construir a acumulação de forças e a organização capaz de enfrentar a inevitável confrontação de classe que se avizinha. Para isso, como disse, o trabalho no seio das Marchas da Dignidade é a chave para a construção de estruturas unitárias  que possam ser o germe da organização do poder popular.



Por outro apela, e nisso estamos a trabalhar seriamente, à confluência entre as organizações revolucionárias - incluindo as esquerdas independentistas das nacionalidades . para articular formas eficazes de luta contra o inimigo comum: O Regime de Transição, a UE, e a NATO. Tudo isso, assumindo o Direito dos Povos do Estado espanhol à sua autodeterminação, incluindo a sua independência

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