domingo, 16 de junho de 2024

Reflexão crítica sobre a realidade expressa pelos resultados das eleições de 9 de junho para o Parlamento Europeu


 



Uma primeira frase que poderia resumir o que iremos discutir mais adiante é que, apesar da gravidade da situação política, económica e social que os povos da Europa estão a viver, a gestão da sua realidade - dos seus interesses e necessidades - continua a ser confiada aos seus carrascos.

A incapacidade de um sector maioritário do povo identificar os responsáveis por uma realidade marcada pela guerra - aqui e agora - e por uma crescente desvalorização da força de trabalho, que se traduz num exército inesgotável de trabalhadores pobres, sobretudo mulheres trabalhadoras, jovens e migrantes, para os quais é impossível fazer face às despesas decorrentes da reprodução da sua força de trabalho (habitação, alimentação, transportes, saúde e abastecimentos), permite que o seu domínio criminoso sobre as nossas vidas seja mantido por um amplo consenso social.

Divididas em várias fracções representativas das diferentes expressões do capital, praticamente todas as múltiplas propostas do multicolorido pantone do arco parlamentar, desde a extrema-direita neofascista a qualquer uma das famílias da social-democracia, propõem o mesmo. Todas elas, ao aceitarem o quadro do capitalismo e da UE como o único possível, assumem-se como os gestores que imporão disciplinarmente todas as exigências de ajustamento fiscal, privatizações e economia de guerra, que a agenda dos monopólios e do grande capital na Europa exige.

Esta é a realidade da Ditadura do Capital, desta falsa democracia de um Sistema que, na sua decadência, já não tem nada de positivo para oferecer aos povos.

Uma realidade que pode ser extrapolada para o Reino de Espanha, onde por detrás das várias cortinas de fumo que marcaram a campanha eleitoral (basicamente corrupção e amnistia), existe um acordo absoluto sobre o desenvolvimento efetivo das políticas impostas pela Comissão Europeia para garantir o pagamento da dívida e a manutenção das crescentes despesas militares impostas pela NATO para o desenvolvimento da guerra na Ucrânia.

Não ouvimos nada sobre o fim da moratória fiscal, nem sobre a assinatura do acordo de colaboração militar com o regime fascista de Kiev..., mas muito menos sobre a garantia do pagamento dos 70 mil milhões de euros a devolver dos Fundos de Geração Seguinte, através do Sistema Público de Pensões, ou sobre a mais do que possível mobilização de tropas recrutadas para a frente de guerra, se necessário.

No entanto, a individualização da dominação ideológica, que, de forma cada vez mais aperfeiçoada, se exerce através dos múltiplos meios de propaganda que inundam o nosso quotidiano e anulam a nossa privacidade e quebram os espaços comuns que nos unem enquanto classe, faz com que continue a não haver uma resposta enérgica aos seus planos de desmantelamento de direitos e liberdades.

Independentemente dos votos de uns e de outros e do avanço da direita política e do recuo das opções reformistas, o importante para travar a onda reacionária profundamente anticomunista que gangrena a sociedade e para vencer a decadência política e ideológica do pós-modernismo, é recuperar os espaços de luta e de organização do povo.

Reconstruir as estruturas de intervenção e participação social para colocar a comunidade e a classe acima da individualidade e da meta-realidade do algoritmo que nos domina e brutaliza, é a única coisa que nos permitirá derrotar este período de regressão em que o domínio ideológico do Capital nos colocou.

A prioridade absoluta é promover a organização protagonista do sujeito revolucionário - do povo trabalhador - em cada um dos espaços a partir dos quais é possível enfrentar a contradição capital/trabalho e qualquer uma das múltiplas opressões que se expressam nesta sociedade.

Tudo se pode ganhar lutando de forma organizada e tudo se perde se não se lutar.

Consequentemente, não há confiança no jogo parlamentar e na possibilidade de colocar nesse quadro qualquer alternativa favorável às populações, a não ser que responda a uma dinâmica de pressão e mobilização prévia.

Só na segurança da capacidade do povo para derrotar o inimigo de classe, reside a firmeza do nosso compromisso político de continuar a trabalhar para uma mudança de ciclo que - depois de aprendidas as lições do passado e de sabermos onde acabou a ilusão que enchia as praças - baseie a sua força unicamente na organização do povo.

Só na força telúrica de um Povo organizado, mobilizado na defesa exclusiva dos seus interesses e necessidades, é possível sair deste cenário de pobreza, destruição e morte em que o único consenso social gerado nesta sociedade é o de que as gerações seguintes viverão pior do que as actuais se tudo continuar como está.

O nosso compromisso é estar presente desenvolvendo o papel de vanguarda que nos corresponde, assumindo a responsabilidade de transmitir a ideologia revolucionária aos sectores mais avançados e conscientes do povo, a fim de converter qualquer luta operária e popular num conflito político com o Estado.

Hoje é absolutamente prioritário voltar a colocar o comunismo, o Partido Comunista, o PCPE e o PCPC na Catalunha, no centro do desenvolvimento da luta de classes.

É a partir desse propósito de trabalho político que constrói uma crescente recuperação do protagonismo da militância comunista entre as massas, que vamos fazer a necessária análise autocrítica do nosso trabalho eleitoral. Uma reflexão que, para além dos números, deve lidar com a multiplicidade de factores internos e externos que influenciaram este resultado.

Uma análise que deve também basear-se na consideração do nível de consciência das diferentes classes sociais relativamente ao parlamentarismo e às suas consequências em termos de participação eleitoral. Uma avaliação profunda, que não pode permanecer em impressões superficiais, que procuram justificar a incapacidade de intervir numa reivindicação do abstencionismo atual, em grande parte apolítico e sem consciência, como base possível para uma mudança revolucionária.

Após as eleições, o trabalho de massas, principalmente entre os sectores mais conscientes e avançados do movimento operário, deve ser o elemento central da nossa política de alianças, a fim de construir referências organizacionais a partir das quais se possa enfrentar a guerra imperialista e a ditadura do capital.

 

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