sexta-feira, 22 de março de 2024

A UE põe o capacete de guerra e leva-nos para o abismo

Mas o que é a economia de guerra? A economia de guerra significa que a prioridade absoluta de toda a sociedade é a afetação de recursos à indústria militar, tudo isto quando já em 2023 as despesas militares aumentaram num valor sem precedentes de 25%, atingindo 28 mil milhões de euros, o que representa mais de um terço das despesas públicas com a saúde. Isto significa que as despesas sociais com pensões, desemprego, saúde, educação, serviços sociais, etc., serão ainda mais reduzidas, para serem utilizadas na compra de armamento e material militar. [3] Significa que o complexo industrial militar, os fabricantes de armas e de todo o tipo de tecnologia militar, incluindo a indústria farmacêutica, todos eles empresas privadas, na sua maioria propriedade das grandes multinacionais anglo-saxónicas do sector, multiplicarão os seus já fabulosos lucros. Ao mesmo tempo, os poderosos lobbies da indústria do armamento, que controlam os pontos-chave do poder, terão uma influência decisiva para manter bem alimentada a guerra, a sua galinha dos ovos de ouro, enquanto nos conduzem ao precipício. 


Ángeles Maestro [*]

Os ventos da guerra estão a abanar a Europa cada vez com mais força.

Depois da mais do que previsível derrota da NATO na Ucrânia às mãos da Rússia, reproduzem-se as declarações do secretário-geral da Aliança, Jens Stoltemberg, e de cada um dos governos vassalos da UE. Como papagaios, repetem que a derrota da Rússia é indispensável para a segurança e a estabilidade da Europa, que a guerra com a Rússia é inevitável e que é necessário preparar-se para ela a curto prazo. A propaganda de guerra mais ruidosa está a ser martelada pelos grandes meios de comunicação social, propriedade das grandes empresas, segundo a qual a Rússia, liderada pelo malvado Putin, vai invadir a Europa.

A realidade é que o imperialismo sionista anglo-saxónico (uma estrutura de poder político, económico, militar, mediático e cultural que representa os interesses da oligarquia constituída pelos grandes fundos de investimento, bancos e multinacionais), com a cumplicidade dos governos da UE, prepara-se para realizar, em solo europeu, o seu objetivo estratégico de mais de um século:   desmembrar e dominar a Rússia, para depois conquistar a China. Chegou o momento, e o tempo urge, em que a crise capitalista atinge mais duramente os EUA e a UE, que vêem os seus interesses, baseados na política da canhoneira, serem confrontados com outro tipo de aliança liderada por um país com enormes recursos e tecnologia avançada de armamento, a Rússia, e por outro que combina recursos e um poderoso desenvolvimento industrial e comercial, a China.

A preparação do planeado ataque da NATO à Rússia, o verdadeiro leitmotiv da criação da Aliança há 75 anos, foi elaborada pelos Estados Unidos desde o colapso da URSS através de três processos:

  • a incorporação na Aliança dos países da órbita da URSS, iniciada por decisão do Presidente Clinton, em violação dos acordos oficiais com a Rússia [1]
  • o golpe de Estado de Maidan, a violação dos Acordos de Minsk, a provocação de Moscovo para entrar na guerra na Ucrânia e o bloqueio das conversações de paz na Turquia em abril de 2022.
  • E, acima de tudo, o cancelamento das históricas e profundas relações económicas e comerciais dos países da UE, especialmente da Alemanha, com a Rússia.

Esta última questão é a grande vitória que o imperialismo anglo-saxónico, representante da oligarquia ocidental, pode obter. A destruição das empresas provocada deliberadamente pela pandemia de Covid, através de um encerramento epidemiologicamente injustificável da economia, foi continuada por decisões políticas obviamente intencionais, tais como

  • o aumento das taxas de juro para combater uma inflação em grande medida criada artificialmente
  • o aumento brutal dos preços da energia, consequência direta da sabotagem dos gasodutos de abastecimento de gás russo barato e de qualidade, perpetrada pelo próprio imperialismo anglo-saxónico e que a UE se recusou a investigar.
  • as políticas «verdes» da UE, que subsidiam as grandes multinacionais com os Fundos de Nova Geração para a transição energética e multam aqueles que não conseguem incorporar a tecnologia controlada por essas mesmas corporações.

O resultado foi a desindustrialização da UE, sobretudo da Alemanha, também acelerada pela deslocalização de grandes empresas europeias para os EUA em busca de custos financeiros e energéticos mais baixos e incentivada pelos subsídios concedidos por Washington às empresas que aí se instalam através da Lei de Redução da Inflação (IRA) [2]. Isso foi acompanhado pela destruição maciça de pequenas e médias empresas com a correspondente centralização e concentração de capital, dirigida e planeada pela UE e executada servilmente pelos governos, ao mesmo tempo que transferaim fundos públicos, os Next Generation, às grandes multinacionais.

São exatamente estas as políticas contra as quais os agricultores, pecuaristas e pescadores protestam legitimamente e que são as mesmas que, com a cumplicidade ativa dos governos e dos grandes sindicatos, destruíram a maior parte da indústria pesada, da exploração mineira, dos estaleiros navais, da agricultura e da pecuária durante a «reconversão» dos anos 1980 e 1990. O grande sarcasmo utilizado como justificação na altura era que tudo isto, juntamente com a adesão da Espanha à NATO, era a portagem necessária para entrar na «Europa», o paraíso dos direitos sociais e laborais. Depois de termos visto em que consiste realmente este Éden, o mantra agora utilizado para justificar as políticas destinadas a engordar os lucros das grandes empresas enquanto destroem as condições de vida da grande maioria dos seres humanos é «a proteção da natureza» que essas mesmas multinacionais destroem.

A economia de guerra: cortes sociais, grande capital e corrupção

Sobre esta Europa em fase acelerada de auto-destruição e mais uma vez vendida pelos seus governos aos interesses de potências estrangeiras (já prestou vassalagem a Hitler e agora ao imperialismo anglo-saxónico), paira de novo a ameaça de uma guerra mundial. Sem qualquer justificação crível – ninguém no seu perfeito juízo pode acreditar que a Rússia atacaria um país da NATO – os dirigentes europeus, competindo entre si em servilismo e estupidez, apelam aos povos a que se «preparem para a guerra».

Enquanto a pobreza alastra nos bairros populares, os despejos continuam a ser executados pelos mesmos bancos que foram resgatados com dezenas de milhares de milhões de dinheiros públicos e os suicídios mostram a face mais terrível do sofrimento humano, os governos da UE, entre os quais se destaca o do PSOE-Sumar, declaram a economia de guerra.

Mas o que é a economia de guerra? A economia de guerra significa que a prioridade absoluta de toda a sociedade é a afetação de recursos à indústria militar, tudo isto quando já em 2023 as despesas militares aumentaram num valor sem precedentes de 25%, atingindo 28 mil milhões de euros, o que representa mais de um terço das despesas públicas com a saúde. Isto significa que as despesas sociais com pensões, desemprego, saúde, educação, serviços sociais, etc., serão ainda mais reduzidas, para serem utilizadas na compra de armamento e material militar. [3] Significa que o complexo industrial militar, os fabricantes de armas e de todo o tipo de tecnologia militar, incluindo a indústria farmacêutica, todos eles empresas privadas, na sua maioria propriedade das grandes multinacionais anglo-saxónicas do sector, multiplicarão os seus já fabulosos lucros. Ao mesmo tempo, os poderosos lobbies da indústria do armamento, que controlam os pontos-chave do poder, terão uma influência decisiva para manter bem alimentada a guerra, a sua galinha dos ovos de ouro, enquanto nos conduzem ao precipício.

Uma confrontação aberta e direta da NATO com a Rússia, que esta provavelmente não seria capaz de suportar sozinha, significaria que, perante uma ameaça direta à sua existência – como o Kremlin já anunciou –, utilizaria as suas armas nucleares. Estas armas nucleares tácticas chegariam aos países europeus, que por sua vez responderiam, levando à utilização de armas nucleares estratégicas capazes de matar centenas de milhões de pessoas. É este o jogo sinistro que estes governos lacaios, os aprendizes de feiticeiro com capacetes de guerra, pretendem fazer connosco.

Tudo isto está inserido num enorme conglomerado de corrupção política, que serve tanto para aumentar os negócios como para estabelecer mecanismos de controlo social que se assemelham cada vez mais ao fascismo.

Por exemplo:

  • A coerção para vacinar com medicamentos experimentais foi precedida, na UE, pela compra de milhares de milhões de doses à Pfizer e a outras multinacionais, decidida, através de contratos ainda hoje secretos, pela presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen. Esta mulher, formalmente acusada de corrupção pela compra de vacinas, é casada com um alto funcionário da Pfizer e o seu filho foi também diretor da empresa McKinsey que concebeu a propaganda mundial para impor a vacinação.
  • A própria Von der Leyen, antes de se tornar presidente da Comissão Europeia, foi ministra da Defesa da Alemanha e ainda está a ser investigada por corrupção. Após as eleições europeias, pretende manter-se no cargo por mais cinco anos para, entre outras coisas, reforçar a indústria militar, nomear um Comissário Europeu da Defesa e para que a UE utilize fundos russos depositados em bancos europeus e bloqueados por sanções para efetuar compras militares conjuntas, uma vez que «precisamos de gastar mais e gastar melhor». As repetidas acusações de corrupção de que é alvo não parecem constituir qualquer obstáculo.
  • A nível local, o governo do PSOE – Podemos, agora com Sumar no Ministério da Saúde e os governos das Comunidades Autónomas apoiados pela esquerda institucional e extra-parlamentar, impuseram as máscaras obrigatórias, sem um relatório técnico que sustente a sua utilidade, enquanto uma rede mafiosa que inclui vários ministérios e governos autónomos, lucrou com a sua venda, com a correspondente cadeia de subornos.
  • A externalização da censura e o reforço do controlo social

Como a história nos ensina, o recurso do capitalismo à destruição e à guerra para governar as suas crises gera situações de desestabilização social que podem pôr em causa os poderes estabelecidos.

Nestas situações, que implicam objetivamente uma agudização da luta de classes, a preparação para a guerra implica um reforço excecional dos mecanismos de controlo social. É o que prevêem o Tratado Pandémico e as Emendas ao Regulamento Sanitário Internacional da OMS, que visam, no essencial, estabelecer o seu diretor como autoridade sanitária mundial com poderes para impor as medidas implementadas durante a pandemia como regras vinculativas à escala global, caso venham a ser aprovados em maio deste ano.

Para além da Lei dos Serviços Digitais, está a ser preparada uma nova reviravolta para reforçar a censura e a manipulação da informação, em vésperas das eleições europeias de 9 de junho. No «paraíso das liberdades», para além da ditadura do dinheiro – só a burguesia tem grandes meios de comunicação – há muito que se passou à restrição de direitos fundamentais como o direito à informação e à liberdade de expressão, utilizando mecanismos de censura coordenados entre os grandes meios de comunicação – já implementados durante a pandemia – e reforçados com a guerra na Ucrânia. Para se ter uma ideia da subjugação das forças políticas, basta referir que a decisão de censurar o Russia Today e o Sputnik na UE, ou a criação em 2022 pelo governo PSOE – Podemos de um Fórum contra a Desinformação liderado pelo General Ballesteros, não provocaram qualquer reação política.

Este ano, 2024, realizar-se-ão três eleições diante das quais, embora possa parecer que a oligarquia tem tudo sob controlo, fala-se em adotar medidas excepcionais.

Na Grã-Bretanha, numa data ainda por fixar, haverá eleições gerais e nos EUA, eleições presidenciais em novembro. A probabilidade crescente de vitória de D. Trump, a rutura de alianças e objectivos que isso poderia provocar, nomeadamente em relação à Rússia, alimenta os rumores de que as eleições poderiam ser suspensas, um acontecimento sem precedentes na história dos Estados Unidos, sob o pretexto de «interferência russa».

Em vésperas das eleições europeias, as elites dirigentes receiam que, à semelhança do que acontece com os agricultores (em Bruxelas, bateram com os seus tractores contra as vedações durante uma reunião do Conselho de Ministros da UE e Macron foi duramente repreendido numa feira agrícola), as organizações políticas que rejeitam a NATO e o aumento das despesas militares ganhem força com a agitação social. Perante este risco, a Europa, supostamente democrática, está a arrancar outra máscara. Uma empresa americana de Silicon Valley, a Meta, proprietária do Facebook, do Instagram e do Threads, prepara-se para exercer controlo e censura nas eleições para o Parlamento Europeu, aparentemente por sua própria iniciativa, mas obviamente com a aquiescência da Comissão Europeia. Sem a menor modéstia, às claras, a Meta conta como se está a preparar para isso [4].

Eis o que ela diz sobre os seus preparativos:

«À medida que as eleições se aproximam, vamos ativar um Centro de Operações Eleitorais para identificar potenciais ameaças e combatê-las em tempo real» (…) «Assinámos um acordo tecnológico para combater a disseminação de conteúdos de IA enganosos nas eleições». Depois de ter intervido em 200 eleições em todo o mundo, afirmam:   «Desde 2016, investimos mais de 20 mil milhões de dólares em segurança e proteção e quadruplicámos a dimensão da nossa equipa global que trabalha nesta área para cerca de 40 000 pessoas. Isto inclui 15 000 revisores de conteúdos que analisam conteúdos no Facebook, Instagram e Threads em mais de 70 línguas, incluindo as 24 línguas oficiais da UE». Para que não restem dúvidas, explicam como funcionam:   «Não permitimos anúncios que incluam conteúdos desacreditados. Também não permitimos anúncios dirigidos à UE que desencorajem as pessoas a votar nas eleições; que ponham em causa a legitimidade das eleições; que contenham alegações prematuras de vitória eleitoral; e que ponham em causa a legitimidade dos métodos e processos eleitorais, bem como o resultado das eleições. O nosso processo de revisão de anúncios tem vários níveis de análise e detecção, tanto antes como depois de um anúncio ser publicado».

Caso alguém se tenha esquecido, as redes sociais são empresas privadas, não são independentes, não são nossas. O que é relativamente novo, o que mostra como os supostos direitos fundamentais estão a ser espezinhados, é que, como aconteceu com a Covid, depois com a guerra na Ucrânia e agora com as eleições europeias, os governos estão a incorporar um empório norte-americano como o Meta nas tarefas de censura e manipulação de informação nas redes sociais que empresas como, em Espanha, maldita.es e newtral – Ana Pardo – La Sexta já estavam a realizar de forma especializada.

Estes mecanismos, que normalmente são efectuados pelos serviços secretos, são agora subcontratados a empresas privadas estrangeiras. Na verdade, os fenómenos, no seu desenvolvimento, mostram a sua própria essência. A UE exprime cada vez mais a sua natureza de burocracia oligárquica contrária aos interesses populares e que, ao serviço de uma potência estrangeira, está decidida a provocar uma guerra mundial. Os povos, quase às apalpadelas, começam a vislumbrar o abismo para onde a oligarquia burguesa os está a conduzir, esperando que surja uma organização política com a força necessária para representar uma alternativa socialista ao capitalismo imperialista, que em todo o caso deve começar com a saída da UE e da NATO. Esta tarefa só pode ser levada a cabo por uma classe trabalhadora – hoje obscurecida e agrilhoada pelo reformismo NATOista, político e sindical – consciente da sua missão histórica de pôr fim ao sistema capitalista que, nos seus estertores, é mais criminoso do que nunca. A nossa vida depende do seu êxito.

O monge: – E não vos parece que a verdade, se é que existe, também se impõe sem nós?

Galileu: – Não, não, não. Só se afirma a verdade que nós afirmamos; a vitória da razão só pode ser a vitória dos homens racionais.

in Galileu Galilei, Bertolt Brecht.

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