terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A Teoria Marxista e o Proletariado

A Teoria Marxista e o Proletariado
Rosa Luxemburgo
14 de Março de 1903

Neste artigo sobre Feuerbach, Engels formulou a essência da filosofia como sua tentativa de responder a eterna questão da relação entre o pensamento e o ser, o problema da consciência humana em um mundo material objetivo. Se nós transferirmos estes conceitos de ser e pensamento do mundo abstrato da natureza e reflexão individual, i.e., das esferas as quais os filósofos de profissão atuam, para a esfera da vida social, então a mesma coisa que Engels disse sobre a filosofia pode, em um certo sentido, ser dita sobre o socialismo. Desde os tempos antigos, o socialismo tem sido a busca, as tentativas de encontrar caminhos e meios para harmonizar o ser com o pensamento, isto quer dizer, para harmonizar as formas históricas de vida com a consciência social.

Marx, junto com seu amigo Engels, estava destinado a descobrir a solução a este problema sobre o qual os homens tem atormentado seus cérebros por séculos. Marx descobriu que a história de todas as sociedades anteriores foi, em última análise, a história das relações de produção e distribuição nestas sociedades, e que o desenvolvimento destas relações sob a lei da propriedade privada se manifesta na esfera das instituições políticas e sociais na forma da luta de classes; e por esta descoberta, Marx revelou a mais importante força motriz na história. Ao mesmo tempo, uma explicação foi descoberta para a necessária desarmonia em todas as sociedades existentes até agora entre a consciência e a existência, entre os desejos da humanidade e a realidade social, entre intenções e resultados.

Assim, graças às idéias de Karl Marx, os homens aprenderam pela primeira vez o segredo de seu próprio progresso social. Para além disso, a descoberta das leis do desenvolvimento capitalista, do mesmo modo, apontaram o caminho pelo qual a sociedade está se movendo – dos estágios espontâneos e inconscientes, durante os quais os homens fizeram história da mesma maneira pela qual as abelhas constróem suas colméias, ao estágio histórico consciente, criativo e genuinamente humano, aquele estágio quando a vontade da sociedade e a realidade social devem, pela primeira vez, estar harmoniosamente correlacionadas uma com a outra, quando as ações do ser social irão, pela primeira vez, produzir precisamente os resultados que ele deseja.

Nas palavras de Engels, este decisivo “salto do reino animal ao domínio da liberdade humana” será alcançado pela sociedade como um todo apenas com a realização da reviravolta socialista; mas isto já está sendo realizado por dentro da armação da ordem existente através das políticas social-democratas. Com o fio de Ariadne dos ensinamentos de Marx em suas mãos, o partido dos trabalhadores é hoje o único partido que, do ponto de vista histórico, está consciente do que está fazendo; e em virtude disso está fazendo precisamente o que deseja. Este é todo o segredo do poder da social-democracia (o Marxismo revolucionário era conhecido por este nome na época de Rosa – Editor).

O mundo burguês há muito tempo está espantado pelo extraordinário, insuperável e constante crescimento da social-democracia. Às vezes, isoladas mentes senis ou ingenuamente infantis são encontradas, as quais, estando cegas pelo extraordinário sucesso moral de nossas políticas, aconselham a burguesia a nos tomar como um “exemplo” e a beber profundamente da sabedoria e idealismo misteriosos da social-democracia. Eles são incapazes de entender que o que é uma fonte de vida e vigor, uma fonte da juventude para o desenvolvimento da classe trabalhadora é, para os partidos burgueses – veneno mortal.

E, de fato, o que é que nos dá força moral, para sofrer corajosa e ridiculamente e nos libertar das repressões mais cruéis, como a atual lei de vinte anos contra os socialistas? É, talvez, a teimosia dos pobres atrás de pequenas melhoras em suas condições materiais? O proletariado moderno não é um comerciante, não é um pequeno-burguês pronto para tornar-se um heroi pelos confortos miseráveis do dia-a-dia. A falta de idealismo, a sóbria limitação dos sindicatos ingleses demonstra o quão pouco incapaz de criar uma grande explosão moral entre o proletariado é o mero cálculo por pequenas vantagens materiais.

É, talvez, o estoicismo asceta de uma seita como aquela entre os primeiros cristãos – um estoicismo que entusiasma a todos e quanto mais brilhante, mais é perseguido? O proletariado moderno, como o herdeiro e filho adotivo da sociedade burguesa, é excessivamente um materialista nato, excessivamente um indivíduo de carne e sangue e instintos saudáveis para atrair sua força e devoção para idéias, de acordo com a moral dos escravos de sofrimentos apenas.

Ou, finalmente, é talvez, a “justiça” da causa pela qual nós estamos lutando que nos torna invencíveis? A causa dos Cartistas e dos seguidores de Weitling, a causa das doutrinas socialistas utópicas não eram menos “justas” do que a nossa. Apesar disso, todas estas doutrinas foram destruídas pelos obstáculos da sociedade moderna.

Se, contrário a todos os esforços de nossos inimigos, o movimento trabalhista moderno marchar em frente de forma triunfante, com sua cabeça erguida bem alto, então deve isso primeiramente a seu tranquilo entendimento da legalidade do desenvolvimento histórico objetivo, seu entendimento de que “a sociedade capitalista com a inevitabilidade de um processo natural cria sua própria negação, a saber, a expropriação dos expropriadores, a reviravolta socialista.” Com isso, a partir de seu entendimento, o movimento trabalhista vê uma confiável garantia de sua vitória final. E desta mesma fonte extrai não só sua habilidade de seguir em frente, mas também sua paciência; não apenas força para ação, mas também a coragem para ficar firme e suportar.

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