Por:Urbano de Campos
Jornal Mudar de Vida
Terça-feira, 13 Agosto, 2019
Terça-feira, 13 Agosto, 2019
Todas as forças do poder se conjugam
contra os motoristas em greve: a fúria dos patrões de todos os sectores,
exigindo sempre mais do seu Governo, inclusive a requisição civil “preventiva”;
as palmas da direita, louvando a “justeza” das medidas de António Costa,
reconhecendo que ela própria não faria melhor; o servilismo da comunicação
social, numa campanha sem vergonha para denegrir os trabalhadores e dar boa
imagem da Antram; a sanha dos comentadores “especializados”, em campanha pela
revisão da lei da greve; enfim, os ataques pessoais ao porta-voz dos
camionistas, na tentativa de anular através da intriga a justeza da luta.
Tudo isto convergindo com o arreganho do
Governo, empenhado em mostrar aos patrões e aos eleitores temerosos que sabe
“pôr ordem” no país.
A greve, logo desde o pré-aviso,
conseguiu arrumar do mesmo lado o patronato, o Governo e a direita — o que, só
por si, é uma lição política. A greve tornou-se, muito justamente, o assunto
político da ordem do dia, colocando na sombra a habitual vidinha partidária e
as disputas eleitorais apontadas para Outubro que vem. A política do país foi,
por estes dias, deslocada para o terreno do confronto de classes — que é o seu
foco, mesmo quando não surge como tal.
Deve-se isto, antes de mais, à clareza
da denúncia feita pelos motoristas das suas condições de trabalho e salariais,
à firmeza posta na luta e à inegável justeza do que reivindicam. Ninguém ousa,
de facto, dizer que eles não têm razão.
Deve-se ainda à razão que têm quando
apontam que os patrões estão a negar o que fora negociado em Abril e a
protelar, como é seu costume, a assinatura do acordo de trabalho.
O mesmo, aliás, é confirmado pela
Fectrans (que não participa na greve) a respeito do Contrato Colectivo de
Trabalho negociado no final do ano passado e que a Antram agora renega. Só que
a Fectrans resolveu recorrer à mediação do Governo, dos tribunais e da
Autoridade para as Condições de Trabalho, que por regra nada resolvem…
Uma coisa parece certa: sem a protecção
do Governo, a Antram não teria vencido o braço de ferro com os motoristas. É
bom que os trabalhadores, todos eles, tenham isto em mente quando em Outubro
forem chamados a eleições.
Torna-se portanto legítimo perguntar se
o patronato cederia ou não em poucos dias, ou mesmo antes do início da greve,
caso tivessem mais sindicatos de motoristas apoiado a luta. E se o Governo
teria o à-vontade de fazer o que agora faz, e a comunicação social dizer o que
diz, etc. se deparassem com uma vasta frente de luta, e não apenas com dois
sindicatos, firmes mas isolados.
E é de perguntar também se António Costa
teria os ganhos políticos que lhe auguram pela “autoridade” exibida, caso uma
luta vitoriosa demonstrasse que os trabalhadores têm outra via de fazer valer a
sua política que não seja abrigar-se debaixo da asa do PS ou confiar na
boa-vontade das “instituições”.
O BE e o PCP, que não se cansam de
explicar — sobretudo nos últimos meses e com vista às eleições de Outubro — que
o PS se bandeia facilmente com a direita, têm agora diante de si a prova disso
mesmo. Mas, em vez de o denunciarem, mostrando com factos a colagem do PS aos
interesses do capital, limitam-se a criticar os “exageros” do Governo na
definição dos serviços mínimos ou o recurso à requisição civil… É uma outra
forma de descalçar a luta dos motoristas — e dar trunfos políticos à direita.
"jornalmudardevida.net"
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