Máximo Gorki
1934
Observação: Extratos do discurso
pronunciado no I Congresso dos Escritores Soviéticos (1934). O título é da
Revista Princípios. O texto teve o mérito de sistematizar em suas linhas mais
gerais os princípios do realismo socialista como estilo literário e artístico e
método crítico. Gorki contrapõe "o realismo socialista como atividade e
como criação" à crítica burguesa e pequeno-burguesa, contemplativa,
passiva e impotente. Chama a atenção dos escritores e artistas soviéticos para
o fato de que "o trabalho das massas organiza a cultura", sendo em
última instância fonte de conhecimento e saber.
A contundência da crítica de Gorki
inspira atuais gerações de revolucionários na luta ideológica que têm de travar
pela emergência de um movimento artístico e literário conseqüentemente
transformador, alimentado pelas massas e colocado a serviço de sua educação,
oposto ao decadentismo da estética "modernista" em voga, egocêntrica
e apologista do espontaneísmo. De 1907 a 1917 foi uma época de absoluta abertura
no campo do pensamento, da "liberdade de ação" entre os literatos
russos. Liberdade expressa na propagação de idéias conservadoras da burguesia
ocidental, postas em circulação depois da Revolução Francesa, nos fins do
século XVIII e que voltaram a surgir em 1848 e 1871. A partir desta data, dizem
os burgueses, a filosofia de Bergson(1) significou um enorme progresso na
história do pensamento humano: "Bergson ampliou e aprofundou a teoria de
Berkeley(2); as filosofias de Kant(3), Leibnitz(4), Descartes(5) e Hegel(6) são
sistemas mortos e por cima de todos eles brilha, como um sol de eterna beleza,
a obra de Platão"(7), precisamente o fundador do mais pernicioso dos erros
do pensamento empírico.
Seguindo o exemplo de Schopenhauer(8),
mas sob influência evidente de Baudelaire(9) e os Malditos(10), Sologub(11)
pintou "a cósmica insensatez do indivíduo". Embora em versos
lamurientos, suspira por essa insensatez cósmica, mas não deixa de defender sua
posição, seu bem-estar de pequeno-burguês, ameaçando os alemães em 1914 de
"destruir Berlim enquanto a neve tomba sobre as planuras. Lutava-se,
então, pelo "herói político" e pelo "anarquismo místico". O
sutil Basílio Rozanov(12) propagava o erotismo; Leônid Andreiev(13) escrevia
alguns contos que eram autênticos pesadelos; Artzibaschev(14) tinha escolhido
para personagem central de sua obra "o chibo vestido de calças, vertical e
voluptuoso". Em seu conjunto, a época de 1907-1917 merece bem a designação
de década vergonhosa. Nossa intelectualidade, por tradição democrática, era
menos honesta do que a do Ocidente: a decomposição moral e o empobrecimento
cerebral desta eram mais acelerados. Trata-se de uma característica que, comum
à pequena burguesia de todos os países, é inevitável no intelectual que não
possua energia suficiente para se incorporar à massa proletária, a única
chamada a transformar o mundo em proveito dos trabalhadores.
Deve-se acrescentar que a literatura
russa passa quase em silêncio os latifundiários, industriais e financistas da
pré-revolução, personagens que, em seu ambiente, provocariam maior colorido e
seriam mesmo mais originais do que os da literatura do Ocidente. Tipos
históricos como os da célebre Saltichika, do general Izmailov e de muitos
outros do gênero ficaram, assim, fora da órbita da literatura na Rússia
czarista. Nem as caricaturas nem as tarefas de Gógol(15) em Almas Mortas são já
tão características do que se refere à Rússia feudal latifundiária. Decerto, os
Karabotchka, os Sovakevitch e os Nozdreiev(16) influenciaram de algum modo a
política da autocracia através da passividade de suas existências; mas não se
pode afirmar que isso seja o aspecto mais característico, dado que houve – fora
da literatura e dos autores que "adoraram o mujique"(17) — alguns
tipos monstruosos que bem mereciam o qualificativo de estetas.
Os traços que fazem distinguir nossa
burguesia da do Ocidente são muito marcados e explicam-se pelo fato de a nossa,
historicamente mais jovem, ter sido em sua maior parte de origem camponesa;
enriquecia-se com maior prontidão do que a avançadíssima do Ocidente. Nosso
industrial, que não conhecia a intensa rivalidade comercial dos ocidentais,
conservou quase até o século XX os seus modos de "gracioso", quando
não de "insolente", essa característica que lhe vinha, sem dúvida,
repito, da facilidade com que ganhava alguns milhões.
Pode parecer que tudo o que aqui se diz
acerca da esterilidade literária por parte da burguesia se revele demasiado
sombrio; pode-se mesmo pensar que faço bastantes censuras e exagero
tendenciosamente, mas os fatos são exatos e é assim que os vejo. Compreendo que
seria estúpido, mesmo criminoso, não ter em conta a força do inimigo. Neste
caso, todos sabemos a pujança da sua técnica guerreira que mais tarde ou mais
cedo deverá ser dirigida contra nós, mas que de forma inelutável provocará a
Revolução mundial e destruirá o capitalismo. Os próprios governos do Ocidente
se estão a encarregar de proclamar que a guerra arrastará desta vez toda a
reserva dos países em conflito. È de supor que a pequena-burguesia da Europa –
que parece não ter esquecido os horrores de 1914-1918 e ao ver que uma nova
carnificina se aproxima – acabe por verificar que seriam eles os únicos a se
beneficiar com a próxima catástrofe, que seriam eles os criminosos que,
periodicamente e a favor de seus interesses pessoais, ceifariam milhões de
vidas de trabalhadores. E só nesta altura é que a pequena-burguesia ajudará o
proletariado a derrubar o capitalismo. É fácil supor isso, mas também é certo
que não se deve realizar tão depressa, pois o demagogo que conduz agora essa
pequena-burguesia, o social-democrata, ainda está vivo. O que interessa, sim, é
fazer com que evolua a consciência proletária: mas vale mais confiar
simplesmente em nossas próprias forças. O ascendente dessa consciência revolucionária,
o amor pela pátria por ela mesmo criada, a defesa da pátria – eis aí os
problemas mais essenciais da nossa literatura.
O Herói Central na nossa Literatura deve ser o Homem que Trabalha
Na Antiguidade, a criação oral foi o
único meio artístico de que os trabalhadores se serviram para organizar suas
próprias experiências; foi a personificação da idéia nas imagens e a
inspiradora da energia na coletividade. Deve admitir-se que na URSS esse meio
artístico teve como objetivo fundamental acelerar de uma forma conjunta o
impulso cultural de todas as unidades que a constituem, de maneira a que todos
e cada um dos seus membros se apercebessem do triunfo e das conquistas feitas,
aspirando a transformá-la em parte, em dirigir as forças da natureza.
Todos conhecemos mais ou menos o
processo econômico e, por conseguinte, a divisão do domínio político, porque
isso equivale à usurpação do direito dos trabalhadores de serem livres. Quando
o conhecimento do mundo era exclusivo dos sacerdotes, estes, para organizar
esse direito, recorriam a uma explicação metafísica dos fenômenos ou às forças
da natureza para lutar com os braços do homem. Tal forma de excluir da natureza
alguns milhões de trabalhadores constituiu um autêntico crime. Contribuiu para
conservar as massas na mais profunda ignorância e numa terrível cegueira
intelectual povoada de superstições, preconceitos e receios. O partido
leninista e o poder operário-camponês da URSS – ao destruir o capitalismo em
tudo o que antes formava o território czarista, ao encomendar as direções
políticas às massas – traçou como meta a alcançar a sua salvação de um jugo
que, de um modo notório, mostrou seus vícios e sua impotência. Nos limites
deste propósito devemos nós, escritores da URSS, contemplar, apreciar e organizar
a realidade. Ter em conta este preceito: o trabalho das massas organiza a
cultura, é o criador de todas as idéias, mesmo aquelas que durante séculos
contribuíram para menosprezar a significação decisiva do trabalhador; é a fonte
de conhecimento, mesmo das idéias de Marx, Lênin, Stalin que, no nosso tempo,
edificam a consciência revolucionária, baseando-se no direito do proletariado
de todos os países. Na URSS, essa ação de massas é a base da criação científica
e artística. Devemos ainda ter em conta para o triunfo da nossa causa, que o
trabalho socialmente organizado entre trabalhadores e camponeses, no prazo de
dez anos, ofereceu vantagens muito consideráveis: preparou-se para a defesa e
poderá agora repelir qualquer agressão do indivíduo. A apreciação verídica
deste fato demonstrar-nos-á a força dos ensinamentos que unem o proletariado do
mundo inteiro.
Devemos confessar que escritores,
operários e kolkhosianos ainda trabalhamos mal e não podemos assimilar por
completo o que através do nosso próprio esforço foi criado. Nossas massas
trabalhadoras não se aperceberam inteiramente de que já não trabalham para
nenhum patrão, mas para si próprias. Essa consciência não atingiu ainda sua
plenitude nem toda sua pujança. Nada chega ao estado de ebulição, claro, antes
de ter atingido determinada temperatura. Mas ninguém como o nosso Partido soube
até hoje fazer subir a temperatura da energia trabalhadora como o fizeram
Vladimir Lênin e seu atual dirigente.
O herói dos nossos livros deve ser o
trabalho personificado no trabalhador, que conta já entre nós com a força da
técnica contemporânea; o homem que, por sua vez, organiza o trabalho tornando-o
mais fácil, mais frutuoso e elevando-o à altura da arte. Devemos entender o
trabalho como criação, conceito esse que, como escritores, poucas vezes temos o
direito de usar. Constitui uma certa tensão extrair da reserva de nosso saber e
de nossas impressões os fatos mais característicos; formam um quadro e são
pormenores que a nossa inteligência envolve com vocábulos precisos e correntes.
É uma qualidade de que a literatura jovem não pode ainda vangloriar-se: nem a
reserva de impressões, nem a soma de conhecimentos são nela muito abundantes,
tal como são ainda incipientes os desejos de incensar e aprofundar essa
literatura.
O tema, tanto na literatura russa como
na literatura estrangeira do século XIX, é o indivíduo em oposição com a
sociedade, o Estado e a Natureza. A causa primordial que obrigava o indivíduo a
tomar essa atitude radicava-se na formação (contrária à idéia de classe) dos
costumes e na abundância de impressões negativas. O indivíduo sentia que essas
impressões o oprimiam, o inibiam; mas de maneira bastante vaga compreendeu
mesmo assim a responsabilidade que significava ser vulgar, que era um defeito
básico da sociedade burguesa. Johnatan Swift(18) é único em toda a Europa, mas
a burguesia retratada através desse autor apareceu apenas na Inglaterra. Em
geral, pode-se dizer que o rebelde desta índole, ao criticar a vida da
sociedade em que viveu, poucas vezes se mostrou consciente da sua própria
culpa. Sua crítica contra a ordem reinante não era motivada pela justa
compreensão de causas sociais ou políticas, mas sugerida pelo desespero sofrido
na jaula do capitalismo, ou melhor, pelo desejo de vingar o seu escasso êxito e
as humilhações suportadas. Pode-se dizer que, quando esse rebelde se colocava
ao lado das massas trabalhadoras fazia isso com a esperança de que a classe
operária, ao destruir a sociedade burguesa, lhe garantisse a liberdade de
pensamento e a liberdade de ação. Repito: o tema essencial da literatura
pré-revolucionária serviu de drama ao homem que considera a vida apertada, que
se sente a mais na sociedade, que procura um lugar cômodo e, não o encontrando,
sofre, morre ou reconcilia-se com a sociedade que lhe é hostil, se acaso não
desce mesmo ao alcoolismo ou ao suicídio.
Na URSS não podem existir pessoas a
mais, desde o momento em que cada cidadão goza de amplas possibilidades para
desenvolver suas capacidades e seu talento. Não se lhe exige mais do que uma
coisa: ser sincero e contribuir heroicamente para realizar uma sociedade sem
classes.
Nasce um Novo Homem no País dos Sovietes
Na URSS, toda a população participa no
trabalho, na nova cultura, através do poder operário-camponês. Resulta daí que
a responsabilidade por erros e negligências, expressões características da
pequena-burguesia, recai sobre todos e cada um de nós. De fato, deve criar-se
uma espécie de autocrítica que ajuda criar a moral socialista, barômetro de
iniciativa em nossas mútuas relações. Porém, todos encaramos mal a própria
realidade.
Mas a paisagem do país alterou-se. A cor
local e a sua miséria desapareceram. Dantes eram a franja de luzerna ao lado da
escura parcela mal semeada; o dourado plaino de centeio ou o verde do candial;
os sulcos invadidos pela cinza. Em resumo, a tristeza multicolor da
desagregação e da ruína, enquanto agora enormes extensões de terra se cobrem
com o mesmo e invariável aspecto. Por cima de cidades e aldeias não mais a
igreja se sobressai, mas os edifícios das instituições sociais. Por sua
profusão de janelas, brilham as fábricas gigantescas e, cada vez mais
distantes, brilham ainda as pequenas igrejas como sinais daquilo em que o povo
exprimiu o seu gênio. Este contraste, esta nova paisagem que veio mudar a face
da nossa terra, faz muita falta no panorama da literatura.
Vivemos, pois, em plena fase de
destruição dos velhos costumes. Desperta no homem a dignidade, ele ganha
consciência de si mesmo e sente-se como a força que transforma o universo. Pelo
que diz respeito ao nosso ambiente, devemos reparar que o novo tipo de homem
surge particularmente e com grande força da infância, elemento esse de que
quase não se ocupa a nossa literatura. Dir-se-ia que os escritores consideram
indigno ocupar-se das crianças ou escrever mesmo para elas.
Estou certo de que não me engano ao
fazer notar que os pais da URSS começam a mostrar-se muito carinhosos para os
seus filhos. È uma coisa natural dado que pela primeira vez na vida da
Humanidade as crianças se convertem em herdeiros, não do dinheiro ou dos bens
de seus pais, mas antes de valores reais: de um Estado Socialista legado por
seus pais e mães. Nunca existiu uma infância que possuísse a consciência da
nossa, que quase sempre costuma arvorar-se em juiz do passado.
Vemos, pois, que a realidade não
adultera; todos os dias nos abastece de material para generalizações
artísticas. E, contudo, nem o drama nem a novela nos oferecem a imagem da
mulher soviética em toda a sua plenitude, da mulher que atua livremente em
todos os domínios do construtivismo e da vida social. E, além disso, esta
transformação parece ter desorientado os dramaturgos dado que criam sempre
poucos papéis femininos. É uma desorientação que contrasta com a realidade,
onde a mulher soviética tem demonstrado seus múltiplos dotes para o trabalho.
Semelhante atitude acaba por ser uma
espécie de resíduo formal. Como se o homem tivesse esquecido de que durante
séculos a mulher foi educada apenas para o prazer carnal, como um animal
domesticado, quando muito para desempenhar o papel de dona-de-casa. Ora, essa
pequena dívida, de tal modo infame, que a história deve a mais de metade dos
habitantes da Terra, o homem soviético teria de saldá-la em primeiro lugar para
que servisse de exemplo aos homens de outros países.
Outro tema que nossa literatura pode
realizar: descrever o trabalho e a psique feminina de tal maneira que acabe por
mudar pouco a pouco, como de fato acontece, os próprios vínculos. Destruir esse
caráter pequeno-burguês, aparentemente tomado por orgulho.
Expulsemos o Pequeno-Burguês da nossa Literatura
Deve confessar-se que a nossa crítica
concede demasiada preferência ao redator analfabeto, um sujeito que em vez de
ensinar alguma coisa serve apenas para ofender os autores. Não se apercebe de
que ao atuar assim estão tentando introduzir em vida atual conceitos
pertencentes à literatura populista. Por último, coisa muito importante, não se
interessam pelo desenvolvimento das literaturas regionais; costumam descuidar
as declarações de escritores a propósito de seus próprios estilos.
A autocrítica é necessária, camaradas,
não devemos esquecer que trabalhamos na presença de um proletariado que, cada
vez mais culto, aumenta sem cessar nas suas exigências quanto a nossa conduta
social.
A comunidade de idéias não coincide com
a índole dos nossos atos e os vínculos do nosso meio, onde o hábito
pequeno-burguês representa um papel muito sério, traduzindo-se em invejas,
cobiças, vulgares calúnias ou mútuas difamações. Temo-nos ocupado demoradamente
sobre estas tendências. Claro, a personificação desse desvio numa só imagem não
foi ainda expressa. Torna-se, pois, necessário descobri-la com vigor, do mesmo
modo que foram descritos alguns tipos universais da raça por Fausto, Hamlet e
outros.
Devo recordar que a pequena-burguesia,
por vezes empurrada pela necessidade, serpenteia pelas costas do proletariado,
espalhando o anarquismo, a egolatria e outras confusões históricas próprias da
sua condição. Em suma, é um pensamento que se nutre apenas do linguajar
cotidiano em vez de se inspirar no trabalho.
A pequena-burguesia propagou sempre a
filosofia individual seguindo a linha de menor resistência, procurou um
equilíbrio mais ou menos estável entre duas forças. A relação entre o
pequeno-burguês e o proletariado distingue-se nisto: um é ainda dono da mais
miserável parcela, enquanto o outro despreza o operário da fábrica que conta
simplesmente com a propriedade dos seus braços. O pequeno-burguês não se
apercebeu de que o proletariado era mais forte até o momento em que o braço
deste último começou a atuar revolucionariamente fora da fábrica.
Nem toda cizânia é nociva, pois existem
variedades que produzem venenos que são curativos. O da pequena-burguesia é
exclusivamente destruidor. Se não se sentisse tão enfraquecida dentro do anel
do capitalismo, nunca teria aspirado nem defendido com tão estéril tenacidade a
sua liberdade de pensamento. Pelo contrário, teria provado o seu direito de
existir. Não teria criado, ao longo do século XIX, tão grande quantidade de
"velhas-guardas", de "nobres arrependidos", de "heróis
de tempos confusos", de pessoas que não são "corvos nem pavões
reais".
Na União Soviética, a pequena-burguesia
viu-se afugentada das suas guaritas. Espalhou-se e penetrou ocasionalmente no
Partido de Lênin; mas apesar de ser expulsa, acaba sempre por reaparecer depois
de cada depuração, exatamente como o gonococo. A direção do Partido deve ser
depurada de qualquer influência pequeno-burguesa. Os membros do Partido que
atuam no setor da literatura deverão ser mestres da ideologia revolucionária não
apenas que organizam as energias do proletariado em todos os países do mundo,
mas que revelam uma força moral e uma verdadeira disciplina. Esta força deverá
bater-se, acima de tudo, por despertar a responsabilidade coletiva. A
literatura soviética, múltipla pelo seus homens de talento e que cresce devido
à influência de novos elementos, deve ser organizada em massa compacta, como
instrumento de cultura socialista.
Mas a União dos Escritores Soviéticos
não reuniu aqui todos os mestres da palavra apenas para fazer deles uma frente,
mas com o objetivo de compreenderem em que consiste a sua força coletiva, a fim
de precisar com toda clareza as diversas orientações que seu gênio criador pode
assumir, aclarar as suas finalidades e constituir com isso uma unidade capaz de
canalizar as energias de todo o país. Não se trata de limitar o gênio criador,
mas pelo contrário de lhe oferecer possibilidades de ampliar o seu
desenvolvimento. Deve-se ter presente que a crítica realista brotou, tal como a
criação do indivíduo ególatra e isolado, por simples incapacidade de luta e
porque não encontravam lugar na vida, porque começavam a notar a insensatez de
vivê-la individualmente. Foram interpretando de idêntica forma como estultos os
fenômenos sociais e ainda o processo histórico em geral.
Sem necessidade de negar a importância
dessa crítica realista e apreciando, pelo contrário, todas e cada uma das
conquistas formais da arte de escrever, devemos compreender que esse realismo
já não nos serve senão para esclarecer certas vivências, para lutar contra
elas, para as desenraizar; mas não para educar o socialista, dado que,
criticando tudo, ele não afirma nada.
O realismo socialista afirma a
existência como atividade e como criação. O seu objetivo primordial consiste em
fazer evoluir as possibilidades do homem para que triunfe sobre a natureza.
Quer dizer, em favor da sua própria saúde e da sua longevidade. Para viver
feliz na Terra, em cujos limites aspira fazer, à medida que suas necessidades
vão crescendo uma vasta morada para a Humanidade unida numa única família.
Notas de rodapé:
(1) Henri Bergson – filósofo idealista
francês (1859-1941). Foi um dos filósofos mais influentes da burguesia
imperialista. (retornar ao texto)
(2) George Berkeley – filósofo inglês (1
685-1735), bispo, pertencente à corrente do idealismo subjetivo. Em
Materialismo e Empiriocriticismo, Lênin submeteu as concepções de Berkeley a
uma crítica demolidora. (retornar ao texto)
(3) Emanuel Kant (1724-1804) – fundador
do idealismo alemão da segunda metade do século XVIII e começo do século XIX.
Alinhou-se entre os defensores do agnosticismo, declarando ser "a coisa em
si" incognoscível. (retornar ao texto)
(4) Gottfried Wilhelm Leibnitz
(1646-1716) – filósofo e matemático, precursor do idealismo alemão de fins do
século XVIII e começo do século XIX. (retornar ao texto)
(5) René Descartes (1596-1650) – célebre
filósofo e sábio francês. Na luta contra o obscurantismo religioso, ele
substituiu a fé cega pela razão e pela ciência, recorrendo à dúvida como método
de raciocínio. É considerado o pai do racionalismo e autor da teoria idealista
das idéias inatas. (retornar ao texto)
(6) Georg Wilhelm Friedrich Hegel –
grande filósofo alemão (1770-1831). Sua filosofia era idealista, mas ele
desempenhou importante papel na elaboração da teoria dialética do
desenvolvimento. (retornar ao texto)
(7) Platão (427-347 antes de nossa era)
– filósofo idealista da Grécia antiga, inimigo do materialismo e da ciência,
defensor da aristocracia reacionária de Atenas. Referindo-se à existência de
dois partidos em filosofia, Lênin opõe a linha materialista de Demócrito
(460-370 a.n.e.) à linha idealista de Platão. (retornar ao texto)
(8) Arthur Schopenhauer (1788-1860) –
filósofo idealista reacionário alemão. (retornar ao texto)
(9) Charles Baudelaire (1821-1867) –
poeta francês. Autor de Flores do Mal (poemas). (retornar ao texto)
(10) Fedor Kurmitch Sologub (1863-1927)
– poeta, romancista e dramaturgo russo. Foi um dos primeiros simbolistas
russos. Autor de O Círculo de Fogo e Aguilhão da Morte, entre outros. (retornar
ao texto)
(11) Os Malditos – trata-se da maneira
como Paul Verlaine designou os escritores Triston Corbiére, Stephanie Mallarmé
e Arthur Rimbaud que, em suas obras, abordaram os temas da angústia humana, da
morte e da decomposição do corpo. (retornar ao texto)
(12) Basílio Rozanov (1856-1919) –
escritor russo, considerado precursor de D. H. Lawrence. Escreveu entre outros,
A Lenda do Grande Inquisidor e Apocalipse do Nosso Tempo. (retornar ao texto)
(13) Leônid Andreiev (1871-1919) –
escritor russo. Adotou temas sensacionalistas em seus romances e peças
teatrais. Autor de O Pensamento, entre outros. (retornar ao texto)
(14) Mikhail Petrovitch Artzibaschev
(1876-1927) – escritor russo, cuja obra é marcada pelo erotismo e
sensacionalismo. Seu livro de maior sucesso foi Sanin. (retornar ao texto)
(15) Nicolai Gógol (1809-1852) –
escritor russo. Principais obras: Almas Mortas (romance) e O Inspetor Geral
(teatro). (retornar ao texto)
(16) Personagens do romance Almas Mortas
de Nicolai Gógol. (retornar ao texto)
(17) Mujique – camponês russo. (retornar
ao texto)
(18) Johnatan Swift (1667-1745) –
escritor irlandês. Autor de Viagens de Gulliver.
Fonte: Revista Princípios
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