sexta-feira, 2 de março de 2018

Bangladesh: crianças “cobertas de pó, lavadas em suor”

Como os antigos escravos que pela sua luta ajudaram a destruir o sistema esclavagista,  também a nova escravatura assalariada, a classe proletária, destruirá com a sua luta o bàrbaro sistema económico capitalista.


Bangladesh: crianças “cobertas de pó, lavadas em suor”

Existem, no Bangladesh, centenas de fábricas de produção de óxido de ferro semelhantes à que Probal Rashid fotografou. Dentro e em redor destas oficinas, "o ambiente encontra-se carregado de pó de óxido de ferro, de pó de carbono e de outros materiais tóxicos", explica o fotógrafo. Os trabalhadores, que têm todos entre 15 e 19 anos, "passam a maior parte do dia imersos neste ambiente poluído, inalando gases e partículas nocivas". Adoecem com regularidade.


As crianças e jovens trabalham 12 a 14 horas por dia, seis dias por semana, e ganham entre mil e três mil taka por mês, o que corresponde a valores entre os 10 e os 30 euros mensais. O pagamento varia conforme a idade. "Os mais novos recebem menos", explica o fotógrafo. Não têm contratos de trabalho formais e "trabalham em condições extremas, sem acesso a qualquer equipamento de segurança": sem luvas, viseiras, vestuário adequado, máscaras ou calçado apropriado. "São forçados a viver no local onde trabalham, uma vez que o alojamento é providenciado pelo dono da fábrica." A maioria dos operários provém do norte do país, área que o fotógrafo descreve como "extremamente pobre" e "onde o desemprego é dramático". Como acabam estas crianças e jovens em fábricas como esta? Murad, um dos trabalhadores, partilhou com Probal Rashid a sua história. Estava no oitavo ano de escolaridade quando o seu pai faleceu e se viu forçado a sustentar as suas irmãs. "Tive de parar de estudar. Hoje, o meu dia começa no meio do pó e termina comigo lavado em suor."
 
A sina de Murat não é um cenário incomum no Bangladesh. "Não há legislação que proteja estes trabalhadores, especificamente, porque a própria fábrica funciona ilegalmente", explicou Probal Rashid ao P3, em entrevista. "É suposto que todas as fábricas sejam licenciadas pelo departamento do Ambiente", o que nem sempre acontece. "Existem algumas organizações não-governamentais no terreno que trabalham sobretudo questões relacionadas com a exploração do trabalho infantil e questões ambientais, mas a sua acção é insuficiente face ao número de casos existentes no país."

Esta fábrica desmobilizou quando este projecto foi publicado pela primeira vez. "Foi também nessa altura que alertei as autoridades."

Probal Rashid, fotografo jornalista


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