12/04/2019
De onze delegados, representando os
Grupos Comunistas espalhados pelo Brasil, nove compareceram ao Congresso
fundacional da Seção Brasileira da Internacional Comunista (SBIC) e cantaram,
bem baixinho, para encerrar o encontro, em Niterói, A Internacional.
A fundação da Seção Brasileira da
Internacional Comunista (SBIC), mais tarde Partido Comunista do Brasil (PCB),
em 25 de março de 1922, foi uma necessidade histórica e a vontade coletiva de
setores mais avançados politicamente na atrasada sociedade agrária brasileira.
Apesar de a maioria dos fundadores do PCB terem origem no anarcossindicalismo
e, segundo o historiador Michel Zaidan Filho [1], ligações íntimas com a
maçonaria, o Partido Comunista do Brasil foi o primeiro partido a se organizar
nacionalmente, numa época onde os partidos políticos eram regionalizados e
tinham os seus caciques.
Sempre que se completa aniversário, o
97º neste ano de 2019, várias organizações autodenominadas comunistas
reivindicam esta data como sendo suas, particulares, privadas. Outra dúvida na
cabeça da maioria dos militantes, em várias destas organizações, é sobre o nome
e a sigla do Partido, sobre qual é o verdadeiro PCB de 1922. É sempre bom
destacar que, quando foram organizados os vários Grupos Comunistas no Brasil
(Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Porto Alegre, Santos, Niterói, etc), a
partir de 1921, o objetivo era fundar um Partido Comunista de fato e receber o
reconhecimento da Internacional Comunista (fundada em 1919 e oficialmente
organizada como Partido Comunista internacional) [2] . Sendo assim, cada
partido comunista, organizado em cada país, era uma seção deste partido
comunista internacional (Internacional Comunista ou Terceira Internacional),
daí, nascendo a Seção Brasileira da Internacional Comunista ou Partido
Comunista do Brasil, e não “Partido Comunista Brasileiro” (já que se entendia
por “brasileiro” ser uma denominação nacional e não uma seção da IC, do
Brasil). Deste modo, até a dissolução da Internacional Comunista em 1943, o
Partido Comunista do Brasil era oficialmente uma Seção da organização mundial
dos comunistas: a Internacional Comunista.
Outra questão polêmica é sobre a sigla
PCB. Nos primeiros documentos oficiais existem registros apenas da sigla SBIC,
mas, com o passar do tempo, logo adota-se a sigla PC-SBIC ou simplesmente PCB
(adotada de vez a partir do fim da IC). Que fique claro: a sigla original e
oficial do Partido Comunista do Brasil, nascido em 1922, é PCB.
Com o decorrer da História do Partido e
suas várias cisões e reorganizações, muitas foram as tentativas de mudanças de
nome do destacamento dos comunistas. As primeiras cisões, no início da década
de 1930, deram origem a organizações trotskistas que se autodenominavam
internacionalistas ou leninistas, mas sem reivindicar o nome e a sigla do PCB.
Outra tentativa, durante a crise que abateu o Partido no final dos anos de 1930
e início dos anos de 1940, quando militantes influenciados pelo browderismo [3]
tentaram liquidá-lo e fundar uma organização nacional, apêndice da burguesia.
Mas, prevaleceu nesta luta interna a vitória dos Marxista-Leninistas que
continuaram o Partido Comunista do Brasil (PCB) e o reorganizaram em sua
Conferência Nacional de 1943, conhecida como Conferência da Mantiqueira.
No entanto, após o XX Congresso do
Partido Comunista da União Soviética e as calúnias proferidas pelo traidor
Kruschióv contra Stálin, em 1956, os liquidacionistas tentaram mais uma vez
modificar o nome e o sentido objetivo de o PCB existir. Os ataques contra o
Partido da Classe Operária partiram de elementos nocivos, na verdade
nacionalistas burgueses que de Marxista-Leninistas não tinham nada e, mais uma
vez, foram derrotados em seus intentos de destruírem a organização fundada em
1922. Infelizmente, desta luta, sequelas ficaram e em 1961, após uma Conferência
restrita à maioria do Comitê Central que defendia o revisionismo soviético, a
direção decidiu fundar uma nova organização: o chamado “Partido Comunista
Brasileiro”, utilizando a sigla original de 1922, PCB. O novo Programa e os
novos Estatutos deste partido retiraram qualquer menção ao Marxismo-Leninismo e
princípios como a ditadura do proletariado, o internacionalismo proletário e a
luta de classes. Era criado neste momento, de fato, um partido
social-democrata.
É a partir daí que os revisionistas,
abrigados no PCBrasileiro, confundem grande parte dos militantes de nosso país
com a falsa ideia que este PCBrasileiro, da sigla PCB, era o partido fundado em
março de 1922. Ainda em 1961, os Marxista-Leninistas do original e tradicional
Partido Comunista do Brasil nascido em 25 de março de 1922, resolvem se
articular e buscar meios para reorganizar o Partido Marxista-Leninista no
Brasil, após serem expulsos por se oporem à liquidação encabeçada por Prestes e
seu grupo, apoiadores do revisionismo soviético. Após meses de esforços e,
acusados de fracionismo pela direção do partido revisionista recém-criado,
estes autênticos revolucionários realizam uma Conferência Nacional em fevereiro
de 1962 e decidem pela reorganização do Partido Comunista do Brasil, o Partido
do Proletariado. Como a sigla PCB estava indevidamente registrada e utilizada
pelo PCBrasileiro, foi adotada, nos primeiros anos, a abreviação PC do Brasil.
A sigla PCdoB surgiria apenas na década de 1970. Este grupo, o reorganizado em
1962, continuaria a trajetória do Partido nascido quarenta anos antes em sedes
de sindicatos operários do Rio de Janeiro e num sobrado das tias de um dos seus
fundadores, Astrojildo Pereira, em Niterói.
Mais tarde, as contradições do
revisionismo levariam até mesmo este “Partido Comunista Brasileiro” a ser
dissolvido, em 1992, após uma decisão ainda mais oportunista do grupo ligado ao
então deputado federal Roberto Freire que criou um sabujo chamado “Partido
Popular Socialista”, o PPS.
Acabaria ali o PCBrasileiro nascido das
entranhas revisionistas em 1961. Neste mesmo ano de 1992, porém, um grupo
minoritário de militantes do PCBrasileiro dissolvido por Freire e sua
camarilha, cria outro partido, e só em 1995/96 conseguem no TSE o registro de
um novo PCBrasileiro, com a sigla atual de PCB. Tratou-se, na prática, de uma
tentativa de ressuscitar o arremedo revisionista de 1961 sob as consignas
demagógicas de “reconstrução revolucionária”. Também em 1992, durante seu VII
Congresso, o Partido Comunista do Brasil, PCdoB, que resistira ao
liquidacionismo durante as décadas de 50, 60 e 70, aprofundou um processo de
degeneração que já vinha se desenvolvendo desde fins da década de 1970 e adotou
uma versão de revisionismo ainda muito mais escancarada que aquela praticada
pelo velho PCBrasileiro de 1961 após o XX Congresso do PCUS, rompendo com o
Marxismo-Leninismo.
Apesar de todas as confusões e alaridos,
atualmente, nem o PCdoB, nem o PCBrasileiro (da sigla PCB) e nem o PPS são os
verdadeiros continuadores da trajetória revolucionária iniciada em 1922. A
despeito da existência de diversos agrupamentos que no Brasil que se
reivindicam socialistas ou comunistas, a verdadeira vanguarda proletária, o
Partido Comunista, está liquidada enquanto um todo organizado desde finais da
década de 1970. É tarefa central resgatar a tradição e a História do legítimo
Partido Comunista do Brasil (PCB), fundado naquele 25 de março de 1922,
reconstruí-lo e reorganizá-lo enquanto o Partido Marxista-Leninista,
revolucionário. Esta é a tarefa histórica de milhares de lutadores e lutadoras
que reivindicam o marxismo-leninismo no Brasil.
Escrito por Clóvis Manfrini
Notas
[1] Zaidan Filho, Michel. O PCB e a
Internacional Comunista. Ed. Vértice (São Paulo), 1988.
[2] Este reconhecimento da IC só se deu
em 1924, dois anos após a fundação da SBIC.
[3] Earl Browder, antigo secretário do
Partido Comunista dos Estados Unidos durante os anos de 1930 e inícios dos anos
de 1940, que queria liquidar o Partido e fundar uma organização nacional,
antimarxista e apêndice do Partido Democrata norte-americano.
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