quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O Terrorismo Econômico e o Movimento Operário

O Terrorismo Econômico e o Movimento Operário


J. V. Stálin
30 de Março de 1908

A luta dos operários não teve sempre e por toda a parte a mesma forma.

Houve tempo em que os operários, lutando contra os patrões, quebravam as máquinas, incendiavam as oficinas. A máquina: eis a origem da miséria! A oficina: eis o lugar da opressão! Quebremo-las, pois, incendiemo-las! — diziam então os operários.

Era a época dos conflitos espontâneos, anárquicos, da revolta cega.

Conhecemos também outros casos em que os operários, perdida a confiança na eficácia dos incêndios e das destruições, passaram a “formas de luta mais violentas”, ao assassínio dos diretores, administradores, dirigentes, etc. Não se podem destruir todas as máquinas e oficinas, diziam então os operários, e além do mais isso não é vantajoso para nós, mas se pode sempre cortar as unhas dos administradores, incutindo-lhes terror: batamo-los, pois, assustemo-los!

Era a época dos conflitos terroristas individuais, nascidos da luta econômica.

O movimento operário condenou francamente ambas as formas de luta, relegando-as ao passado.

E é compreensível. Não há dúvida de que, na realidade, a oficina é o lugar onde se exploram os operários, e a máquina dá mão forte à burguesia para ampliar essa exploração, mas isso ainda não significa que a máquina e a oficina sejam de per si a origem da miséria. Pelo contrário, justamente a oficina e justamente a máquina dão ao proletariado a possibilidade de romper as cadeias da escravidão, de destruir a miséria, de dar cabo de qualquer opressão; é necessário somente que se transformem, de propriedade privada de capitalistas isolados, em propriedade social do povo.

Por outro lado, que seria da vida, se nos metêssemos realmente a destruir e incendiar as máquinas, as oficinas, as ferrovias? A vida tornar-se-ia um deserto pavoroso, e os operários seriam os primeiros a privarem-se de um pedaço de pão!...

É claro que não devemos destruir as máquinas e as oficinas, mas apoderar-nos delas, quando for possível, se verdadeiramente aspirarmos à supressão da miséria.

Eis por que o movimento operário não aprova os conflitos anárquicos, a revolta cega.

Não há dúvida de que também o terrorismo econômico tem uma certa “justificação” evidente, desde que seja aplicado para incutir medo na burguesia. Mas de que vale esses medo, se é passageiro, fugaz? E que ele só possa ser passageiro torna-se claro também pelo único facto de que é impossível praticar o terrorismo econômico sempre e onde quer que seja. Isso em primeiro lugar. Em segundo lugar, que nos pode proporcionar o medo passageiro da burguesia e a concessão que dele deriva, se não tivermos às nossas costas uma forte organização de massa dos operários, sempre pronta a lutar pelas reivindicações operárias e em condições de não permitir que lhe tirem a concessão conquistada? De resto, os factos mostram com evidência que o terrorismo econômico torna inútil tal organização, tira aos operários a vontade de unir-se, de agir de maneira autônoma, desde que dispõem de heróis terroristas, os quais podem agir por eles. Não devemos nós desenvolver nos operários o espírito de iniciativa? Não devemos desenvolver neles o desejo de ser unidos? Naturalmente que sim! Mas poderemos talvez praticar o terrorismo econômico, se este mata nos operários uma e outra coisa?

Não, companheiros! Não compete a nós meter medo na burguesia atacando os indivíduos imprevistamente: deixemos que certos bandidos se ocupem desses “assuntos”. Devemos agir abertamente contra a burguesia, devemos mantê-la sempre, até à vitória definitiva, sob o pesadelo do medo! E para fazê-lo, não é necessário o terrorismo econômico, mas uma forte organização de massa, capaz de guiar os operários na luta.

Eis por que o movimento operário repele o terrorismo econômico.

Depois de tudo quanto se disse, a última resolução dos grevistas da Mirzóiev, dirigida contra os incêndios e os assassinatos “econômicos”, adquire um interesse especial. Nessa resolução, a comissão unificada dos 1.500 operários da Mirzóiev, pondo em relevo certos factos, como o incêndio da seção de caldeiras (em Balakhani) e o assassínio do diretor, devidos a razões econômicas (Surakhani), declara que “protesta contra métodos de luta tais como o assassinato e o incêndio” 

Os operários da Mirzóiev rompem assim definitivamente com as antigas tendências terroristas, com a revolta cega.

Põem-se eles assim decididamente no caminho de um verdadeiro movimento operário.

Aplaudimos os companheiros da Mirzóiev e convidamos todos os operários a se porem de maneira igualmente decidida no caminho do movimento proletário de massa.


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