Essa forma social de produção existiu,
durante muitos milênios, na vida de todos os povos, sendo a mais primitiva
etapa de evolução da sociedade. Foi nesse período mesmo — de comunismo
primitivo — que começou o desenvolvimento da sociedade. Os homens viviam em
estado selvagem. Alimentavam- se de vegetais, que encontravam ao acaso:
legumes, frutas silvestres, raízes. A descoberta do fogo foi de muita
importância, pois permitiu ampliar as fontes de alimentação.
Os primeiros instrumentos usados pelos
homens foram o machado e pedras toscas sem polimento. A invenção da lança com
ponta de pedra e, logo depois, a do arco e das flechas, permitiu-lhes procurar
novo alimento: a carne dos animais. Paralelamente à procura de alimentos
vegetais e à pesca, tornou-se a caça um novo meio de subsistência.
Posteriormente, deu-se um passo considerável para a frente, pela introdução de
instrumentos de pedra lascada, que permitiram trabalhar a madeira para
construir habitações.
Por mais importante que tenha sido,
através de milênios, o processo de desenvolvimento, que elevou a humanidade
desde a existência semianimal até o nível dos homens capazes tecnicamente de
construir habitações e fabricar instrumentos de pedra, os homens eram, no
entanto, ainda extremamente débeis na luta contra as forças da natureza, o que
se exprimia, sobretudo, no seu nomadismo por força da precariedade das fontes
de alimentação. Estavam sujeitos ao azar e não havia nenhuma segurança de
encontrar sempre caça e produtos vegetais. Não era possível ainda pensar em
armazenar reservas. Os alimentos eram procurados diariamente e nenhuma provisão
era feita para os dias futuros.
Em tais condições, a população não se
aglomerava, mas se dispersava, pois o alimento que se poderia adquirir num dado
território seria insuficiente para sustentar uma população relativamente mais
densa.
Mais tarde, os homens viveram em tribos,
que se compunham de clãs. Estes compreendiam centenas de pessoas e englobavam
grandes famílias aparentadas entre si. Não havia propriedade privada dos meios
de produção. A vida econômica do clã era dirigida por todos em comum,
coletivamente. Tanto a caça como a pesca, como a preparação e o consumo dos
alimentos, tudo se fazia em comum. Em seu livro: A Origem da Família, da
Propriedade Privada e do Estado. Engels relata o exemplo dos povos das ilhas do
Pacífico, entre os quais 700 pessoas e algumas vezes tribos inteiras se
abrigavam sob o mesmo teto, numa economia comum.
O regime comunista primitivo foi
necessário para a sociedade humana naquela época de desenvolvimento. Numa vida
isolada, dispersiva, teriam sido impossíveis a invenção e o aperfeiçoamento das
armas e dos instrumentos primitivos. Graças somente à vida coletiva, os homens
primitivos, puderam alcançar seus primeiros êxitos na luta contra a natureza. A
união, no “clã comunista”, constituiu, nessa época, sua principal força.Na sociedade comunista primitiva, não
existia nem poderia existir a exploração do homem pelo homem. O trabalho era
dividido entre homens e mulheres. No clã conviviam membros mais fortes e
membros mais fracos, mas não existia a exploração de uns pelos outros.
Só é possível haver exploração, quando
um homem pode produzir meios de existência não só para si mesmo, mas também
para outros. Unicamente sob tais condições um indivíduo viverá às custas do
trabalho de outro. Entre os homens da sociedade primitiva, obrigados a
conseguir alimentos para o consumo pessoal de cada dia e incapazes de produzir
mais do que o estritamente necessário, não podia haver lugar para a exploração.
Durante a guerra, os prisioneiros, ou eram mortos (às vezes comidos), ou,
então, admitidos como membros do clã.
O regime comunista primitivo era
condicionado pelo nível de desenvolvimento das forças produtivas da sociedade
de então. Seria um erro imaginar-se que os homens primitivos criaram esse
regime conscientemente, pois ele se formou e se desenvolveu de maneira natural,
alheia à vontade e à consciência dos homens.
"... na produção social para sua
existência, os homens estabelecem entre si relações determinadas, necessárias e
independentes de suas vontades. Essas relações de produção correspondem a um
grau determinado de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais”(2).
O posterior desenvolvimento das forças
produtivas da sociedade primitiva — o aperfeiçoamento dos instrumentos
existentes e a invenção de outros novos, o aparecimento do pastoreio e da
agricultura, o uso de metais — provocou a mudança das relações de produção até
então vigorantes. O comunismo primitivo decompôs-se lentamente com o
aparecimento de novas necessidades materiais, as quais determinaram a
substituição do comunismo primitivo por uma sociedade dividida em classes e o
nascimento da propriedade privada.
A decomposição do comunismo primitivo:
O fator determinante da decomposição do
regime comunista primitivo foi a domesticação dos animais e a substituição da
caça pela criação, o que aconteceu, em primeiro lugar entre as tribos acampadas
nos territórios mais ricos de pasto (principalmente nas regiões dos grandes
rios da Ásia e das Índias, às margens do Amú-Baria, do Sy-Daria, do Tigre e do
Eufrates). A criação foi para essas tribos fonte permanente de leite, carne,
peles e lã. As tribos pastoris possuíam dessa forma objetos de uso que faltavam
às outras. A introdução da criação do gado assinalou, assim, a primeira divisão
social do trabalho
Antes dessa primeira etapa, a troca,
entre, as diversas tribos, tinha caráter puramente acidental, não desempenhando
nenhum papel na vida das tribos e dos clãs. A divisão do trabalho, entre as
tribos pastoris e as outras, inaugurou a troca regular entre elas.
Outro passo para a frente, no
desenvolvimento das forças produtivas, foi o aparecimento da agricultura
(primeiro a horticultura e logo depois o cultivo dos cereais), que criou fonte
permanente e estável de alimentos vegetais. A invenção do ofício de tecelagem,
nessa época, permitiu que se confeccionassem tecidos e roupas de lã. Os homens
aprenderam, posteriormente, a fundir os metais, o cobre, o zinco e o estanho (a
utilização do ferro foi descoberta mais tarde) e a fabricar instrumentos, armas
e utensílios, da liga que se formava, o bronze.
A primeira divisão da sociedade em
classes:
Como vimos, pelos fatos expostos,
aumentou em grande escala a produtividade do trabalho, crescendo também o
domínio do homem sobre a natureza e sua segurança quanto ao futuro. Estas novas
forças produtivas da sociedade sobrepujaram os quadros limitados do comunismo
primitivo.
"Como consequência do
desenvolvimento de todos os ramos da produção (gado, agricultura, serviços
manuais), a força “trabalho humano” foi se tornando capaz de criar mais
produtos do que os necessários para o sustento de cada produtor. O desejo de
produtividade maior fez com que aumentassem, ao mesmo tempo, a soma de trabalho
quotidiano que correspondia a cada membro do GENS ou clã, a cada comunidade
doméstica ou família isolada. A ambição estimulou a procura de novas “forças de
trabalho" e a guerra as forneceu: os prisioneiros foram transformados em
escravos. Aumentando a produtividade do trabalho, por conseguinte, dando origem
à riqueza; estendendo-se o campo da produção, a primeira grande divisão do
trabalho, por força mesmo das condições históricas determinaria necessariamente
a escravidão, para fazer face a tal produção. Do primeira divisão social do
trabalho nasceu a primeira grande divisão da sociedade em duas classes:
senhores e escravos, exploradores e explorados”
Os escravos eram estranhos ao clã e não
faziam parte dele. O desenvolvimento das forças produtivas e o aparecimento da
escravidão permitiram a introdução também da desigualdade entre os membros do
clã e, em primeiro lugar, entre o homem e a mulher.
"Ganhar para comer foi sempre a
ocupação do homem. Os meios de produção, necessários para isso, eram produzidos
por ele e eram propriedade sua. Os rebanhos constituíam os novos meios de
subsistência. Sua domesticação e seu trato foram obra do homem. Por esse
motivo, o gado lhe pertencia, assim (como as mercadorias e os escravos, que recebia
em troca do gado. Todo o lucro, portanto, que, então, fornecia a produção,
pertencia ao homem. A mulher também desfrutava das utilidades, mas não tinha
nenhuma participação na sua propriedade"
Mais tarde, surgiu a desigualdade entre
os chefes das diversas famílias. O desenvolvimento da troca, consequência da
crescente subdivisão do trabalho, contribuiu para essa situação. O emprego do
ferro aumentou a variedade dos instrumentos e utensílios. A agricultura
estendeu-se, igualmente, graças à introdução do arado com grades de metal.
Outras culturas vieram juntar-se a dos cereais, que então já existia.
"Como um mesmo indivíduo não podia
mais realizar sozinho um trabalho tão variado, efetuou-se a segunda grande
divisão do trabalho”. O trabalho manual (artesanato) separou-se da
agricultura.
"A diferença entre ricos e pobres
surge paralelamente à diferença criada entre homens livres e escravos. Da
segunda divisão do trabalho resulta uma nova cisão da sociedade em classes. A
desproporção entre os bens dos chefes de famílias individuais destrói os
antigos agrupamentos comunistas em todos os lugares onde se haviam mantido até
então, e, com eles, desaparece o trabalho em comum, da terra, por conta das
coletividades. O solo próprio para o cultivo é distribuído entre as famílias
particulares, a princípio provisoriamente e mais tarde para todo o sempre”
.
Realiza-se, assim, a transição da
propriedade coletiva para a propriedade privada.
A densidade crescente da população,
devida à produtividade do trabalho acrescida ao fortalecimento dos laços entre
as diferentes tribos, conduziu, pouco a pouco, à fusão dos numerosos clãs e das
tribos, dando origem aos povos. Por outro lado, a desagregação da comunidade
primitiva, a crescente desigualdade entre os seus membros e, sobretudo, a
aplicação generalizada do trabalho do escravo levaram à formação do Estado,
organismo de manutenção e opressão da classe explorada pela classe exploradora.
Sob a pressão das forças produtivas que
havia engendrado, o regime comunista primitivo decompôs-se e foi substituído
por uma nova sociedade, dividida em classes:
Os adversários do comunismo afirmam que
o comunismo primitivo jamais existiu e a propriedade privada e a divisão da
sociedade em classes existem desde o princípio da vida social. Esforçam-se por
demonstrar que a propriedade privada é inseparável da própria natureza do homem
e não pode existir outra espécie de propriedade; e que a sociedade esteve
sempre dividida em classes e uma sociedade sem classes é inconcebível.
A burguesia e seus agentes, na sua luta
contra o comunismo moderno, estão interessados em negar o comunismo primitivo.
Já em 1845, Marx e Engels demonstraram
(em Ideologia Alemã) que o comunismo primitivo foi a primeira forma de
sociedade. Trinta e dois anos depois, em 1877, independentemente das
investigações efetuadas por Marx e Engels, o sábio norte-americano Morgan chegou
à mesma conclusão, depois de estudar detidamente as tribos selvagens e
semisselvagens da América e das Ilhas do Pacífico. Vestígios de comunismo
primitivo subsistem ainda em nossos dias, entre certos povos, sob a forma de
comunismo agrário: as comunidades rurais possuem terras em comum e distribuem
os lotes em caráter perpetuo, entre seus membros. A existência do comunismo
primitivo como fase inicial do desenvolvimento de todos os povos, não pode ser
posta em dúvida.
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