terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Juventude da Europa, ergue-te! Juntem-se a nós na luta pelas nossas necessidades ao nível da educação, do trabalho e vida

Anúncio de 21 Organizações Juvenis Comunistas que participaram no 14º Encontro Europeu das Organizações Juvenis Comunistas, de 23 a 24 de Setembro de 2018


Jovens

Nós, as 21 organizações juvenis comunistas, que participámos no 14º Encontro Europeu de organizações de Juventudes Comunistas que teve lugar em Atenas, nos dias 23 e 24 de Setembro de 2018, dirigimos um apelo à luta pelas necessidades contemporâneas de educação, do trabalho e da vida.

Durante o Encontro, nós, as organizações juvenis comunistas, chamamos à atenção para os enormes problemas que os jovens enfrentam e informamo-nos à cerca dos desenvolvimentos mais significativos ocorridos em cada um dos nossos países. Discutimos as lutas da juventude, tirámos conclusões essenciais e trocamos opiniões sobre estas. Reconhecemos que nos últimos anos e nas condições atuais, as organizações juvenis comunistas da Europa tem feito esforços notáveis para defender os direitos da juventude e travaram lutas importantes contra o sistema capitalista. Ao mesmo tempo, temos contribuído para reforçar e fortalecer os partidos comunistas e operários nos nossos países, e temos acumulado uma experiência rica que nos pode ajudar de modo a que as nossas futuras lutas sejam mais eficazes.

O 14º Encontro Europeu das Organizações Juvenis Comunistas foi convocado pela Juventude Comunista da Grécia (KNE) no contexto do 50º aniversário da sua fundação, juntamente com o 100º aniversário da fundação do Partido Comunista da Grécia (KKE). Agradecemos à KNE por receber o Encontro que, desde 2001, foi realizado em Madrid, Lisboa, Atenas, Istambul, Praga, Barcelona, Bruxelas, Frankfurt e Roma. O Encontro deste ano contou com a maior participação de organizações juvenis comunistas, sendo que participaram mais organizações do que nunca.

O capitalismo, a NATO-UE e os governos burgueses destroem as nossas vidas e o nosso futuro!

Hoje em dia, os jovens da classe operária e dos estratos populares enfrentam as consequências brutais das políticas anti-povos impostas em toda a Europa. Tal resultou na atual e futura deterioração de direitos e das condições de vida. Iremos viver em piores condições do que aquelas que nossos pais enfrentaram. Ao nosso redor, podemos ver uma enorme produção de mercadorias e riqueza, avanços tecnológicos e desenvolvimentos na ciência e investigação. Ao mesmo tempo, vemos que nada disto é destinado à satisfação de nossas necessidades, mas, antes pelo contrário, está destinado a aumentar a riqueza dos monopólios. O fosso entre ricos (a mnoria) e os pobres (a grande maioria) está a crescer rapidamente.

- Sentimos na pele a exploração capitalista, o emprego a tempo parcial, a chamada "flexi-segurança", os baixos salários, o elevado desemprego, o trabalho não pago - geralmente sob a forma de estágios, enquanto os jovens emigram dos nossos países em busca de um melhor futuro.

- Formamo-nos, estudamos, trabalhamos e vivemos, dentro de um marco de reestruturação reacionária da educação, saúde e segurança social. Ao mesmo tempo, o acesso à educação e segurança social está a tornar-se um privilégio de poucos.

- Os obstáculos que enfrentamos para satisfazer as nossas necessidades básicas como o acesso gratuito ao desporto, à cultura e à recreação, à habitação acessível, o acesso a um ambiente não poluído e de alta qualidade, o direito a férias, aumentam.

- Intensifica-se a propaganda do sistema capitalista que é promovida através dos sistemas educacionais, das atividades culturais, dos órgãos de comunicação social dominantes e da internet. Também somos alvo de campanhas financiadas por interesses financeiros capitalistas, que nos querem doutrinar com os princípios e ideais decadentes do sistema capitalista; de forma que acreditemos que a exploração é natural; para que paremos de lutar pelos nossos direitos, pelos nossos sonhos e interesses. Para que desistamos da luta contra o poder dos monopólios; para que aprendamos apenas a "história" que a classe burguesa e seu Estado querem nos ensinar, enquanto, simultaneamente, ocultam ou distorcem a história escrita com o sangue dos trabalhadores, dos povos e da juventude.

Os factos acima são apenas algumas das consequências que as políticas antipopulares implementadas em toda a Europa trouxeram para as nossas vidas, tanto no contexto da crise económica do capitalismo como, nos dias de hoje, em condições de recuperação e crescimento instáveis, lentos e anémicos. Estas são as consequências das políticas antipopulares que têm a marca do capitalismo, e de organizações imperialistas, como a NATO e a UE, os partidos políticos burgueses e as suas organizações de juventude. Estas políticas têm o apoio tanto dos partidos liberais e social-democratas típicos que desempenham um papel de liderança nos governos burgueses, como também das chamadas forças eurocépticas (algumas das quais são abertamente de extrema-direita). Mas estas políticas também têm o apoio de forças supostamente de "esquerda", do chamado Partido da Esquerda Europeia, que ainda tentam convencer a juventude e os povos das falsas ideias de uma "humanização do capitalismo". Em geral, os desenvolvimentos económicos internos e os de cada sector do capital, mas também a competição entre as classes burguesas, está a ter uma influência importante no sistema político, porque a classe dominante está a tentar organizar o Estado de acordo com as novas condições de vão surgindo cada vez.

Hoje em dia, há uma série de desenvolvimentos que provam que estamos enfrentando ameaças maiores do que alguma vez enfrentámos nas nossas vidas.

- Uma competição acirrada é travada, usando meios económicos e militares, lutando pelo controle dos recursos que produzem riqueza e pelas rotas de transporte de energia e mercadorias. A maioria dos antigos Estados capitalistas poderosos, incluindo os EUA, que continuam a ser a potência líder, continuam a perder terreno no mercado capitalista global, principalmente para a China. Os planos e as tentativas de concorrência de Estados e monopólios capitalistas que tentam melhorar sua própria "posição geoestratégica" para a sua própria classe burguesa chegaram a uma encruzilhada. Foi exatamente esta competição que causou a intensificação da intervenção imperialista e os conflitos e confrontos de guerra locais e regionais, como vemos no caso do Médio Oriente. Essa situação criou novos perigos como uma guerra imperialista generalizada, provando assim que a guerra é a continuação da política, por outros meios: os militares.

- A NATO é a organização que há quase sete décadas se constitui como o braço armado do imperialismo euro-atlântico, moldada pelo papel de liderança dos EUA. A NATO, que já arrastou o sangue de dezenas de povos resultando em milhões de vítimas (falecidas, feridas, emigradas), está a orquestrar novas intervenções e guerras imperialistas, conforme descrito nas resoluções da sua recente Cimeira. As despesas para a NATO aumentaram significativamente e os esforços de expansão desta organização nos Balcãs Ocidentais e outras regiões do planeta intensificaram-se. A NATO também está a promover planos, juntamente com a UE, que procuram até mudar as fronteiras da Europa e do Mediterrâneo Oriental. A NATO e a UE estão a levar a cabo missões militares em todo o mundo e estão envolvidas em guerras e intervenções que elas próprias causam e que resultaram no derramamento de sangue de muitos povos.

- A UE, como uma forma avançada de integração capitalista entre Estados, está a liderar a imposição de medidas antipopulares, reforçando o Euro-Exército e a Política Comum de Segurança e Defesa. A UE está a implementar medidas de vigilância e restrição da liberdade das pessoas e utiliza o "estado de emergência" votado pelos partidos burgueses nos parlamentos, enquanto visa o movimento dos povos nos países da UE. A UE imperialista ergue muros e cercas para proibir a entrada de refugiados. A UE apoia organizações criminosas nazis que servem os interesses da classe burguesa e, ao mesmo tempo, persegue e criminaliza os partidos e símbolos comunistas, bem como os jovens comunistas e outros militantes. Como uma aliança de capitalistas, a UE luta contra os direitos dos trabalhadores e "harmoniza" salários e as condições de saúde e segurança ao menor denominador comum. Além disso, a burguesia europeia usa a UE para semear a exploração, o nacionalismo e o racismo de forma a virar os povos da Europa uns contra os outros, dividindo-nos e obscurecendo nosso inimigo comum. Saudamos a maioria da juventude na Grã-Bretanha e de outros países, que apoiam a luta pela saída da UE e lutam contra toda a linha das forças políticas burguesas. Condenamos as potências imperialistas em Bruxelas e Westminster que usam a fronteira irlandesa como moeda de troca. Apoiamos a reunificação da Irlanda pelo povo da Irlanda e pelo direito à sua autodeterminação.

Na nossa luta comum fortalecemos as organizações juvenis comunistas da Europa

Jovens da Europa

Nós encorajamos-vos a se mobilizarem nas suas escolas, universidades, locais de trabalho e bairros. Onde os jovens lutam por uma vida com direitos, as organizações juvenis comunistas estarão presentes. Comprometemo-nos a oferecer as nossas posições em relação às necessidades da luta, de modo a melhorar os seus meios e objetivos. Também vos encorajamos a se juntarem às nossas fileiras na luta pelos direitos da juventude e pelo socialismo.

As nossas organizações estiveram na linha da frente decentenas de greves, mobilizações e manifestações que defenderam as exigências da juventude e dos trabalhadores, especialmente em sectores onde os jovens estão concentrados.

Esforçamo-nos para organizar e politizar essas mobilizações com uma perspetiva de classe. Travámos várias lutas exigindo o direito ao trabalho digno e direitos adequados. Contribuímos para o desenvolvimento de lutas de estudantes e escolas, lutando pela escola que os estudantes merecem hoje e lutando contra os cortes nos Orçamentos de Estado já insuficientes para a educação e contra a mercantilização da educação pelos monopólios. Estivemos na vanguarda das exigências dos estudantes nas universidades e Instituições de Educação Tecnológica, para que estes pudessem ter acesso à educação e completar seus estudos sem restrições. Lutámos e continuamos a lutar por um ensino superior gratuito e público, pela abolição das propinas - em qualquer país que possam existir - e pelo alojamento e alimentação gratuitos para os estudantes. Desenvolvemos iniciativas para a paz e contra a guerra imperialista e apelamos à juventude dos nossos países para uma luta contra a NATO e a UE, lutando para sair destas organizações e para que estas derrubadas, bem como o sistema que ambas protegem. Lutamos para encerrar as bases militares dos EUA, da NATO e da UE que existem em muitos países, inclusive nos nossos próprios países, e contra as armas nucleares e outras armas de destruição em massa.

A ação militante das nossas organizações em cada um de seus países permitiu o desenvolvimento adicional da acção convergente e comum das organizações comunistas de juventude a nível europeu. As nossas organizações promoveram ações dedicadas ao 70º aniversário da vitória antifascista dos povos em 2015, à questão dos refugiados e imigrantes em 2016 e aos 100 anos da Grande Revolução Socialista de Outubro, em 2017, bem como ao Dia Internacional de Solidariedade com o povo palestino em 2018. Estas ações foram promovidas através de páginas web e dos nossos jornais. Alguns de nós organizamos Seminários Ideológicos Internacionais, recebemos e enviamos delegações, assinamos comunicados comuns e declarações de solidariedade. Através de uma melhor e mais profunda cooperação, reforçaremos as organizações juvenis comunistas nos países da Europa, como pré-condição para novos avanços em todos os continentes.

O slogan "Proletários de todos os países uni-vos" guia a ação de cada uma de nossas organizações e temos grandes batalhas pela frente:

- Com ações das organizações juvenis comunistas em toda a Europa, defenderemos ainda mais decisivamente a necessidade e oportunidade do socialismo, dos princípios da revolução socialista e das leis científicas da construção socialista.

- Com o trabalho ideológico e político e a continuação da discussão, defenderemos ainda mais decisivamente a contribuição, a história e os valores do movimento comunista internacional, contra o anticomunismo e a difamação do socialismo dos ataques e das distorções das forças burguesas e oportunistas e defenderemos a sua contribuição para as lutas dos povos. Nos 200 anos desde o nascimento de Karl Marx, continuamos o esforço de estudo e divulgação das suas brilhantes obras entre os jovens.

- Com mobilizações em toda a Europa, reforçamos a luta coordenada das OJC e dos jovens contra as guerras  imperialistas. Damos as boas-vindas à elevação da fasquia da luta com as classes e governos burgueses em cada país e com a intensificação da luta contra a NATO e a UE, contra as suas bases militares e contra o fomento do nacionalismo e das ideias e organizações fascistas. As OJC estão na vanguarda da luta da Federação Mundial da Juventude Democrática contra o imperialismo e pela paz dos povos.

- Continuaremos a expressar uma firme solidariedade com a justa luta dos povos. Apoiaremos ainda mais decisivamente todos os povos que lutam e são o alvo dos imperialistas, como os povos de Cuba, Venezuela, Síria, Ucrânia, Chipre, Líbia, Saara Ocidental, Iémene e, claro, a Palestina - especialmente depois da ação provocativa da administração dos EUA para reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.

- Reforçar a luta contra o desemprego, o trabalho precário, por aumentos salariais reais, pela redução da jornada de trabalho e pelo estabelecimento de direitos contemporâneos para os jovens trabalhadores. Lutamos por uma educação pública e gratuita até o nível universitário. Lutamos pela garantia de uma vida melhor para os jovens, onde são garantidos direitos como habitação, saúde, cultura e desporto.

- Antes das eleições europeias de Maio de 2019, teremos uma luta política importante para as organizações que lutam dentro dos limites da UE. Apelamos aos jovens da classe operaria, dos estratos populares pobres, para apoiarem os partidos comunistas e operários que lutam contra a UE, a fim de enfraquecer as forças que apoiam a UE e a sua política, a fim de fortalecer a luta pelos seus direitos nos dias de hoje.

O socialismo é a única perspetiva esperançosa para a juventude

Jovens da Europa levantem-se! Nada acabou ainda!

A exploração, o desemprego, a pobreza, a opressão, as guerras e a emigração forçada não podem e não serão o nosso futuro! Nós temos toda a nossa vida à nossa frente. O futuro está nas nossas mãos. Nós podemos conquistá-lo com nossa luta! Podemos construir um mundo de liberdade real, baseado nos princípios da justiça social e da paz. Um mundo onde todos nós apreciaremos os resultados do nosso trabalho e onde teremos direitos atuais à educação, ao trabalho, à cultura e ao desporto. Este mundo não é o capitalismo historicamente ultrapassado. É o socialismo, um mundo novo.

Aprendemos pela nossa História! Tirámos lições das grandes revoluções e levantamentos, das grandes mobilizações e confrontos da classe operária contra os capitalistas, com avanços e retrocessos, sabemos que a história de todas as sociedades até hoje, desde sua divisão em classes, é a história da luta de classes. A história não tem o seu fim neste sistema agressivo, criminoso e desumano. As grandes revoluções e levantamentos, as grandes mobilizações e confrontos da classe operária contra os capitalistas mostram o caminho para o futuro brilhante do mundo. A juventude pode desempenhar um papel significativo nas lutas sociais e políticas, na medida em que apoia a luta da classe operária e reconhece o papel de vanguarda e força social ascendente da mesma, como classe que luta pela conquista do poder político.

Porque o futuro pertence ao socialismo,Venceremos!

As organizações de juventude comunista europeias que assinam a declaração:


1. Juventude Comunista da Áustria, KJOE
2. Jovem Liga Comunista da Grã-Bretanha, YCL Grã-Bretanha
3. Jovens socialistas do Partido Socialista dos Trabalhadores da Croácia
4. União Comunista da Juventude, KSM - República Checa
5. Juventude Comunista da Dinamarca
6. Juventude do Partido Comunista dos Trabalhadores da Finlândia
7. Jovens Trabalhadores Alemães Socialistas, SDAJ
8. Juventude Comunista da Grécia, KNE
9. Movimento Juvenil Connolly, CYM
10. Frente da Juventude Comunista, FGC - Itália
11. Juventude do Partido Socialista dos Trabalhadores da Letónia
12. Movimento de jovens comunistas, MJB - Holanda
13. Juventude do Partido Comunista da Polônia
14. União da Juventude Socialista, UTS - Roménia
15. União Comunista Leninista da Federação Russa, LKSM RF
16. Liga Revolucionária da Juventude Comunista (Bolcheviques), RKSM (b) - Rússia 17. Jovem Liga Comunista da Jugoslávia, SKOJ - Sérvia
18. Coletivos de jovens comunistas, CJC - Espanha
19. União Comunista da Juventude da Espanha, UJCE
20. Juventude Comunista da Suécia, SKU
21. Juventude Comunista da Turquia, TKG


quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

O golpe de Estado na Venezuela: a única solução do imperialismo

Venezuela

Já havíamos avisado do Partido Comunista dos Trabalhadores espanhóis dos movimentos da oposição venezuelana após o revés político que levou à reação política do nascimento da Assembléia Nacional Constituinte na Venezuela.

A oposição na Venezuela fica com apenas o golpe de estado, que tem sido praticamente por décadas, durante anos. Lançada ao abismo político, a oposição apela veementemente à "comunidade internacional", que não é mais do que todos aqueles estados em que o fascismo está sendo estabelecido de uma forma ou de outra (EUA, França, Itália, Espanha, Hungria, Brasil , Argentina, etc.), que invadem a Venezuela para restabelecer o único modelo de estado possível: o da guerra permanente contra os trabalhadores.

Foi o que aconteceu na segunda-feira passada quando um pequeno grupo de assaltantes invadiu a sede do destacamento de Segurança Urbana no município de Sucre, removendo um lote de armas de guerra e sequestrando dois policiais e dois guardas nacionais sob ameaça de morte. Esses soldados estão ligados ao partido da vontade popular de Juan Guaidó, autoproclamado como "presidente da transição".

Mesmo o capitalismo com uma face reformista não é mais válido para o imperialismo, que ataca com toda a fúria qualquer avanço social mínimo que possa ocorrer, tudo o que não lhe permite obter o máximo benefício à custa do sofrimento dos povos. O Partido Comunista dos Trabalhadores espanhóis denuncia, como tem feito todo esse tempo, as repetidas agressões imperialistas contra o povo venezuelano e adverte sobre os movimentos perigosos contra o Estado venezuelano dos referidos países para derrubá-lo.

Somente o fortalecimento da política proletária, o marxismo-leninismo, permitirá ao povo venezuelano livrar-se de um sistema capitalista ainda em vigor na Venezuela e impedir que a classe burguesa continue seus ataques contra os trabalhadores e outras classes populares. O povo venezuelano conta com a solidariedade do Partido Comunista Operário Espanhol em sua luta contra o imperialismo e em sua defesa contra a burguesia criminosa nacional e internacional.


D. García - Secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista Operário Espanhol

22 de janeiro de 2019

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Os satélites estão a mudar de sol – Intensificação das contradições interimperialistas

Os satélites estão a mudar de sol

– Intensificação das contradições interimperialistas

por Ángeles Maestro [*]

O objetivo estratégico que presidiu a todos os planos do imperialismo, desde a vitória da Revolução de Outubro até ao afundamento da URSS, em 1991, foi a derrota do comunismo. A finalidade comum de destruir o primeiro Estado proletário tornou possível a luta conjunta contra ele de todas as potências capitalistas que se confrontaram nas duas guerras mundiais. Perante este objetivo superior, as contradições interimperialistas apareciam secundarizadas e a hegemonia de Washington assegurada.

No cenário internacional irromperam recentemente factos aparentemente surpreendentes. Quando, no passado mês de novembro, se celebrava em Paris o centenário do armistício da I Guerra Mundial, Trump, com o objetivo de atacar a França e a Alemanha e de recordar o papel hegemónico dos EUA na Europa, disse que " quando os americanos desembarcaram na Normandia, em 1944, os franceses estavam a aprender a falar alemão ". Mais do que um desejo tão pouco sedutor de conseguir que os países europeus aumentassem a sua participação económica e militar na NATO, essa afirmação deve interpretar-se como mais um exagero na escalada dos confrontos entre os EUA e a UE, que, nessa altura, culminaram com a decisão de esta última criar um exército europeu independente.

São só desafinações de Trump, ou existem, desde há algum tempo, mudanças importantes nas relações inter-imperialistas?

Há bastante tempo que a Red Roja concentra as suas análises da atual fase do capitalismo precisamente nas contradições interimperialistas entre a UE – e sobretudo da potência hegemónica, a Alemanha – e os Estados Unidos. Esse interesse corresponde à necessidade de conhecer o melhor possível os confrontos que se dão entre as cúpulas do poder, agudizadas em épocas como as atuais de crise geral do capitalismo. Na luta pela conquista do poder político, o fator decisivo que define a correlação de forças é a debilidade do inimigo.

O objetivo estratégico que presidiu a todos os planos do imperialismo, desde a vitória da Revolução de Outubro até ao afundamento da URSS, em 1991, foi a derrota do comunismo. A finalidade comum de destruir o primeiro Estado proletário tornou possível a luta conjunta contra ele de todas as potências capitalistas que se confrontaram nas duas guerras mundiais. Perante este objetivo superior, as contradições inter-imperialistas apareciam secundarizadas e a hegemonia de Washington assegurada.

Depois da II Guerra Mundial, o interesse de Washington, como grande potência vencedora e herdeira do imperialismo britânico, concentrava-se em controlar a Europa. Os seus instrumentos para construir uma Europa ocidental a reboque dos interesses do EUA e totalmente dependente dos seus interesses no plano militar foram o Plano Marshall e a NATO.

A meta histórica da Casa Branca, que agora abre brechas, era controlar o continente euroasiático, o " pivô do mundo ". Para isso, havia que impedir o surgimento de uma potência europeia com vontade própria, com suficiente poder económico e militar para ser capaz de se opor aos EUA, que pudesse estabelecer relações com a URSS (ou, atualmente, com a Rússia) de forma soberana e contra os seus interesses. O procedimento foi desenhar de forma reiterada confrontos entre os países do Coração Continental, de forma que nenhum pudesse chegar a ser suficientemente forte para ser um obstáculo para a hegemonia anglo-saxónica.

A confrontação entre as duas grandes potências socialistas, a URSS e a China, o posterior desaparecimento da primeira e a instauração na segunda de parâmetros capitalistas, o estabelecimento de bases da NATO na maior parte dos países europeus (sendo as principais na Alemanha e no Kosovo depois da liquidação da República Federal da Jugoslávia), ou a integração na Aliança Atlântica de boa parte dos países do extinto Pacto de Varsóvia, pareciam assegurar um futuro luminoso aos planos norte-americanos.

E pur si muove [1]

A derrota do movimento comunista e a enorme crise geral que afeta o capitalismo, desde o início da década de 70 do século passado, e cujo penúltimo safanão se iniciou em 2007, está a ter consequências económicas, políticas e sociais que pressupõem mudanças qualitativas nessa ordem mundial estabelecida a partir de 1945.

A leitura desta crise realizada por organizações políticas e sindicais da socialdemocracia (PSOE-IU-PCE, Comissiones Obreras, UGT, e agora o Unidos Podemos) sempre dispostas a prestar ajuda ao capital, foi a contraposição do capitalismo europeu " social e humano " ao norteamericano, " selvagem e brutal ". Este discurso de " regresso ao Estado do bem-estar " prestou enormes favores à burguesia espanhola e à de fora. Agora, essas declarações de lavagem da face ao capitalismo correm por toda a parte e a sua superestrutura política vai abrindo brechas à medida que o descrédito do sistema e a correspondente radicalização de posições ocupam com força crescente o cenário internacional.

Luta pelos mercados e as matérias-primas. Sanções e desdolarização

A poderosa irrupção da indústria chinesa e a ocupação dos principais mercados em praticamente todos os setores conduziu à queda a pique da economia produtiva norte-americana. A resposta da Casa Branca foi a imposição de importantes obstáculos às importações chinesas e ao estabelecimento de novas sanções à Rússia. Ao assédio económico sucedeu-se o cerco militar: ampliação das bases militares dos EUA na Ásia e o acossar da NATO contra a Rússia ao longo de todas as suas fronteiras europeias.

Enquanto se desenhava a derrota dos EUA e da UE (sobretudo a França e a Grã-Bretanha) na Síria, às mãos do Eixo da Resistência (Hezbollah, Síria, Resistência Palestiniana e Irão), apoiado pela Rússia, abria-se caminho para um novo confronto económico inter-imperialista.

O acordo nuclear com o Irão e o levantamento de sanções em 2015 foi deliberadamente preparado pela Alemanha. Imediatamente depois de ser assinado, Berlim desenvolveu as suas relações comerciais com Teerão, abrindo caminho a outros países da UE. A Casa Branca ficava secundarizada na competição para converter o território do inimigo "xiita" em campo de negócios.

Washington, pressionado pelos seus sócios na região (Israel e Arábia Saudita), e já em franca retirada da Síria e do Iraque, no passado mês de novembro impôs novas sanções contra o Irão e a qualquer empresa ou país que negocie com ele. Uma mal dissimulada tentativa de impedir o aproveitamento comercial por parte dos concorrentes da UE do novo e poderoso mercado iraniano.

O resultado de todo este complexo processo não pode ser mais nefasto para os EUA. Desde a Turquia ao Estado espanhol – para referir os exemplos mais claros na história de Estados intervencionados pelos EUA – as declarações foram rotundas e insólitas. " Não aceitamos imposições do imperialismo dos EUA ", declarou Erdogan, " Isso de estar por mim ou contra mim pertence a outra época e Espanha não vai permitir esse tipo de conceções ", asseverou o lacaio Borrel, que reapareceu repentinamente.

Se os satélites se manifestam assim não é por lhes ter dado um ataque repentino de soberania e independência, mas porque estão a mudar de sol.

Merkel, em nome da UE dirigiu-se ao Irão, contundente: " Mantenham os vossos compromissos que nós manteremos os nossos ".

A ameaça das sanções tem tido como consequência que uma crescente lista de países se declarem insubmissos e decidam realizar as suas transações em moedas diferentes do dólar. As repercussões para a Europa, que começam apenas a manifestar-se, são graves e afetam toda a sua estrutura de dominação.

O imperialismo é uma relação de poder que pode ser exercida sempre que os países subordinados a aceitem. Tudo indica que o coquetel de sanções, juntamente com a desdolarização progressiva, ameaça tornar-se para o império ianque " não um tiro nos pés, mas mais acima ".

O germe do novo exército europeu

Esta escalada de tensão entre os EUA e a UE tende a crescer porque se baseia nos interesses económicos em confronto que, por sua vez, favorecem a aproximação desta última com a Rússia. Os últimos episódios aprofundam a confrontação: o apoio dos EUA ao Brexit, para debilitar a UE, ou a tentativa – condenada ao fracasso – de impedir que se materialize, através do Nord Stream [2] . a compra de gás natural russo pela UE.

Parece estar a terminar o longo período em que as contradições euro-norte-americanas se conciliavam debaixo do chapéu de chuva da NATO.

O estouro da URSS anulou a necessidade de " proteção perante a ameaça comunista " e a crise geral do capitalismo manifesta-se como uma luta feroz pelos mercados e as matérias-primas, com o objetivo de controlar a queda crescente da taxa de lucro.

E, efetivamente, o confronto económico inter-imperialista terá as suas consequências militares. Merkel declarou em maio que " A época em que podíamos confiar que os EUA nos protegessem acabou-se. A Europa deve tomar o seu destino nas próprias mãos ".

O projeto PESCO (Cooperação Estruturada Permanente em Segurança e Defesa) dotado de um orçamento inicial de 12 000 milhões de euros, inicia a criação de um exército estritamente europeu e uma base de produção de armamento e inovação tecnológica a partir exclusivamente de empresas europeias e explicitamente independente dos EUA.

Luta de classes e relações inter-imperialistas

A decadência económica relativa dos EUA, que também pode ter consequências para a manutenção da sua descomunal estrutura militar, com cerca de 1000 bases militares no planeta, não supõe que a sua capacidade agressiva diminua. A relativa independência da UE em relação aos EUA e à NATO não se concretizou nem, em caso de concretizar-se, supõe que o imperialismo europeu seja " bom " ou " humano ".

São orientados exatamente pelos mesmos objetivos na luta de morte para concorrer nas melhores condições na selva do capitalismo, erguida sobre a exploração – sem mais limites do que a luta de classes – da classe operária e da natureza.

Por aqui não há nenhuma esperança. O dilema continua a ser: socialismo ou barbárie. A conquista do poder político pela classe operária, única possibilidade de destruir o monstro capitalista que aniquila a humanidade, exige conhecer as suas debilidades e, sobretudo, as suas divisões e as suas discordâncias.

18/Janeiro/2019

Notas da autora

[1] Estes aspetos foram analisados em Maestro, A. (2016) Las contradicciones entre el imperialismo estadounidense y el europeo. Controlar el "pivote mundial" [As contradições entre o imperialismo norte-americano e o europeu. Controlar o "pivô mundial]. www.redroja.net/...

[2] O documento da Red Roja intitulado El mito de la vuelta al estado del Bienestar. Otro capitalismo es imposible [O mito do regresso do Estado do bem-estar. Outro capitalismo é impossível], escrito no início das convulsões da crise (2012), tinha o objetivo de desfazer a enésima tentativa de colocar a "reforma" da UE e o regresso ao "Estado do bem-estar" como objetivo das mobilizações populares contra a colocação do peso brutal das consequências da crise sobre as classes populares. Depois do 15 de março, pretendia-se impor estas palavras de ordem, a partir de uma chamada Cimeira Social, formada pelas Comissiones Obreras, a UGT, o PSOE, a IU e os seus satélites. Desta vez, não alcançaram o objetivo. As Marchas pela Dignidade surgiram um ano depois, colocando no centro do seu programa o Não Pagamento da Dívida e o questionamento do euro e da UE, entre outras coisas. www.redroja.net/..

[3] A lista de países e empresas que realizam o seu comércio em moedas diferentes do dólar está em crescendo. Destacam-se a compra de armas à Rússia por países como a Índia, o Paquistão, o Qatar ou a Turquia, aliados incondicionais dos EUA durante décadas. 

[4] No passado dia 12 de dezembro, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou uma resolução contra a entrada em funcionamento do Nord Stream 2, com a qual ameaça a Rússia de novas sanções e apela à Europa que faça o mesmo. O Nord Stream 2 é um gasoduto de 1.200 km que une a Rússia e a Alemanha através do Mar Báltico; quer dizer, sem passar pela Ucrânia. Além da Gazprom russa, participam nele os grupos energéticos alemães Uniper e Wintershall, a austríaca OMV, a francesa Engie e o gigante anglo-holandês Shell.


Notas do editor

[1] E pur si muove: E, no entanto, [a Terra] move-se – frase atribuída a Galileu, obrigado a renegar pela Inquisição a sua teoria heliocêntrica.

[2] Nord Stream: também conhecido como Gasoduto Russo-Alemão e Gasoduto do Mar Báltico, é um gasoduto submarino para o transporte de gás natural entre Vyborg, na Rússia, e Greifswald, na Alemanha.


[*] Médica, responsável pela Red Roja.


O original encontra-se em redroja.net/...