sábado, 29 de dezembro de 2018

Do romance "A lã e a Neve" de Ferreira de Castro


Os primeiros teares criaram-se, em já difusos e incontáveis dias, para a lã que produziam os rebanhos dos Hermínios. O homem trabalhava, então no seu tugúrio, erguido nas faldas ou a meio da serra. No inverno, quando os zagais se retiravam das soledades alpestres, os lobos desciam também e vinham rondar, famintos, a porta fechada do homem. A solidão enchia-se dos seus uivos e a neve reflectia a sua temerosa sombra. A serra, porque só a pé ou a cavalo se podia vencer, parecia incomensurável, muito maior do que era, e de todos os seus recantos, de todos os seus picos e refegos brotavam superstições e lendas - histórias que os pegureiros contavam, ao lume, a encher de terror as noites infindas.


O homem viera para ali há muitos séculos, mas poucos tinham sido e poucos eram ainda os que lamentavam o seu abrigo de granito nos sítios mais propícios; e, quando faziam, achegavam-se uns aos outros, como se se quisessem defender da bruteza circundante.

Os génios da montanha e as fúrias do céu possuíam assim, quase toda a majestosa extensão da serrania, ermáticos domínios onde podiam transitar com passos de fantasmas ou bramir livremente.

No começo do Verão, antes de demandar os altos da serra, ovelhas e carneiros deixavam, em poder dos donos, a sua capa de Inverno. Lavada por braços possantes, fiada depois, a lã subia, um dia ao tear. E começava a tecelagem. O homem movia, com os pés, a tosca construção de madeira, enquanto as sua mãos iam operando o milagre de transformar a grosseira matéria em forte tecido. Constítuia o acto uma industria doméstica, que cada qual exercia em seu proveito, pois a serra não dava, nessas recuadas eras, mais do lã e centeio.

Pouco a pouco, porém,foi sendo tradição no reino que os homens da Covilhã e suas redondezas eram mestres, como nenhuns outros, em tecer bifas almafegas e buréis. Então, os monarcas e seus acólitos acabaram atentando nesses tecelões dispersos pelas abadas da serra; e com ordenações, pragmáticas, alvarás e regimentos, ora os estimulavam em seu solitário labor, ora os constrangiam sob pesadas sisas. Da Flandres vinham panos concorrentes, que exibiam mais esmerada tessitura; apesar disso, os humildes teares continuavam a mover-se, alimentados pelos rebanhos da Estrela.

Depois, Portugal descobriu longínguas terras e também a rota marítima da India; e houve que vestir a muitas gentes exóticas a troco do que elas, forçadas ou voluntariamente. entregavam aos descobridores. E os teares da serra multiplicaram-se.Cada tecelão trabalhava, ainda, no seu casebre, de lume aceso no Inverno e porta escancarada no Estio. A maior casa pertencia, então, ao deus do povoado. Mas um dia, na Covilhã, ergue-se uma casa maior do que a do deus. Era a primeira fábrica de tecidos.Muitos tecelões deixavam a faina individual e iam trabalhar em conjunto.

Da Inglaterra e da  Irlanda chegavam outros homens para lhes ensinar os últimos progressos da sua arte.A lã da serrajá não bastava;ia-se merca-la ao Alentejo e a outras terras do paísE os teares começaram a vestir os exércitos reais. Cada século aportava novos aperfeiçoamentos à tecelagem e levantava novas fábricas nas margens das duas ribeiras que desciam da serra, cantando, a um lado e outro da cidade.

Um dia, tudo se revolucionou.Já não se tratava de melhores debuxos, de mais gratas cores, mas de coisa mais profunda - da produção automática. Lá nas nevoentas terras inglesas o padre Cartwright inventara o tear mecânico. A água,fazendo girar grandes rodas, começara a produzir o movimento dado, até aí, pelos pés do homem. Mas continuavam a aser precisos os homens junto das novas máquinas.

Os serranos, que nas solidões da Estrela ora pastoreavam as suas ovelhas, ora teciam a lã que elas forneciam, tornaram-se cada vez mais raros. A maioria entrara nas fábricas. Eles tinham de pautar, agora, a sua vida por um salário fixo, chegasse ou não chegasse para as exigèncias de cada dia. Issoporém, carecia de importância, ninguém pensava em aumentar-lhes os ganhos, pois havia de se ter sempre em conta o preço da mão-de-obra para a concorrência dos tecidos nos mercados.

Os homens passavam os dias e as noites dentro das fábricas, s´saindo aos domingos, para olvidar o cárcere. Já não viam as ovelhas, nem ouviam  o melancólico tanger dos seus chocalhos nos pendores da serra, ao crespúsculo; viam apenas a sua lã, lã que eles desensurravam, que eles lavavam, cardavam, penteavam, fiavam e teciam, lã por toda a parte.

A industria ia crescendo sempre. Agora não eram grandes apenas a casa do deus dos homens e as casas das fábricas; ao lado destas , outras casas grandes tinham surgido - as residências dos industriais.E todo o país falava da prosperidade da Covilhã.

Mais tarde, operou-se nova revolução. As enormes rodas que giravam nas ribeiras detiveram-se: o poder da água fora substituído pelo da eléctricidade. E fábricas existiam onde já laboravam pais, filhos e netos. Os centos de tecelões que, outrora, viviam nos lugarejos da serra, tinham-se multiplicado e constituíam, agora milhares. Ladinas personagens, que, de magros dinheiros dispondo, compravam o fio a uns, mandavam-no tecer a outros e a terceiros vendiam os panos, acabaram desaparecendo também, devoradas pelos industriais poderosos. E só ficavam as grandes fábricas, com seus milhares de operários.

A lã do país já não chegava; tinha-se de procurá-la em terras estrangeiras. Da Austrália, da Nova Zelândia, da África do Sul, passaram a vir grandes carregamentos.Rebanhos distantes alimentavam, através dos mares,as fábricas quase escondidas nas ribeiras da Estrela.

A industria sofria, porém, constantes oscilações. Ora fabricava sem descanso, ora, por escassez de matéria prima ou pouco consumo, diminuía os dias de seu trabalho. Então, homens e mulheres, que à lã haviam entregue a sua vida, defrontavam-se com uma miséria mais descarnada ainda que o normal. Com seu fabrico reduzido, a Covilhã, em vez de exportar panos, passara a exportar raparigas para o meretrício de Lisboa.

A sujeição ao destino comum criara, .todavia, alguns vínculos entre os descendentes dos primeiros tecelões.No século XX,mais do que sons de flautas pastorais descendo do alto da serra para os vales, subiam dos vales para o alto da serra queixumes, protestos, rumores dos homens que, às vezes, se uniam e reivindicavam um pouco mais de pão.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Inicio da vida revolucionária de :VLADIMIR ILITCH LÊNIN



Extraído da Biografia sobre a (SUA VIDA E SUA OBRA)

Filho de Iliá Nicolaevitch Ulianov e de Maria Alexândrovna Blank


VLADIMIR ILITCH ULIÂNOV (Lênin), o fundador do bolchevismo e do primeiro Estado socialista do mundo, nasceu a 9 (22 ) de abril de 1870 na cidade de Simbirsk (hoje Uliânovsk), sobre o Volga.


Natureza viva e ricamente dotada, Lênin aos cinco anos já sabia ler. Aos nove, foi aluno do primeiro ano ginasial no Collio de Simbirsk. Graças à sua capacidade excepcional e à sua aplicação, realizou brilhantes estudos: todos os anos obtinha o primeiro prêmio. Ao sair do ginásio, conhecia bem
o latim, o grego, o francês e o alemão. Lênin era igualmente versado em história e literatura. Apreciava principalmente as obras literárias cujos heróis eram dotados de um caráter firme,
inabalável.


Lênin passou sua infância e adolescência na região do Volga, nas províncias de Simbirsk, Kazan e Samara, que eram províncias essencialmente camponesas. Ali, observa de perto a vida dos camponeses, a miséria e a ignorância, a servidão desumana e a exploração feroz que reinavam no campo; estabelece contato estreito com os trabalhadores. Vê que a par das massas trabalhadoras russas, são oprimidas as numerosas nacionalidades: os tchuvachos, os mordvos, os tártaros, etc.
Adolescente ainda, toma ódio pela opressão das massas trabalhadoras e pela opressão nacional.


Os anos de estudos e a juventude de Lênin coincidiram  com um dos períodos mais sombrios da História russa. Lênin dirá mais tarde que foi uma época de "reação desenfreada, incrivelmente insensata e feroz". o governo autocrático apressava-se a anular mesmo as reformas espúrias da década de 60.


Fôra proibida não somente a imprensa democrá-tica, mas quase tôda a imprensa liberal. A reação campeava igualmente no ensino; o Ministério da Instrução Pública, ou, como chamá-lo-á mais tarde Lênin, o "ministério do obscurecimento público", empenhava-se em fazer dos jovens estudantes fiéis lacaios da autocracia. O desenfreado arbítrio do governo do tzar, a servidão absoluta e a opressão inaudita que pesavam sôbre os operários e os camponeses, a monstruosa opressão nacional, a covardia e o baixo servilismo dos liberais diante dos reacionários: tal é a imagem da vida russa desse tempo.


Desde cedo, Lênin começa a refletir sôbre a vida ambiente, a prestar atentamente ouvidos às conversas políticas dos adultos. Apaixonado pela leitura, 'travara conhecimento, desde o verdor de sua juventude, com tudo quanto os publicistas democratas revolucionários haviam dado de melhor na Rússia.


Com a idade de 14 ou 15 anos, Lênin leu o romance de Tchernichevski Que Fazer?, que produziu nêle uma grande impressão. Lera igualmente as obras de Dobroliúbov, de Pissariev e outros livros "proibidos" na época. Conhecia a fundo os poetas democratas da época de Nekrássov.
» Seu irmão mais velho, Alexandre Uliânov, com o qual estava ligado por sólida amizade, exerceu sôbre o jovem Lênin uma influência considerável. Alexandre era um jovem sério, refletido, muito severo para consigo próprio e para com seus deveres. Quando veio passar as férias em casa, no verão de 1885 e 1886, trouxe de Petersburgo, onde fazia seus estudos na Faculdade de Física e Matemática, O Capital de Marx.

Desde essa época, Lênin empreende o estudo dessa obra.

Bem cedo Lênin concebera um sentimento de hostilidade contra o regime político e social da Rússia tzarista. Desde os últimos anos do ginásio, estava penetrado de espírito revolu cionário. E êsse estado de espírito revelou-se em suas composições escolares. Por isso, o diretor do colégio, devolvendo-lhe o caderno de composição, disse-lhe certo dia com um tom zangado: "Que classes oprimidas são essas de que você fala? E que é que elas têm que ver aqui?"
.
. O ano de 1887 assinala uma reviravolta na vida de Lênin, que toma definitivamente o caminho revolucionário.

Nesse ano uma grande dor se abate sobre os Uliânov.

Em 1 de março, o irmão de Vladimir Ilitch, Alexandre Uliânov, é preso em Petersburgo por haver participado dos preparativos de um atentado contra o tzar Alexandre III. Ao mesmo tempo, é prêsa a irmã mais velha, Ana, que também fazia seus estudos em Petersburgo.

Amiga íntima dos Uliânov, V. Kachkadámova relata que, tendo recebido de Petersburgo a notícia da prisão de Alexandre, foi encontrar Lênin no colégio (êle. estava então no oitavo ano, último do curso ginasial) para decidir com êle como preparar Maria Alexândrovna para essa ^dolorosa notícia.

Tendo corrido os olhos pela carta, Lênin, de sobrecenho carregado, manteve-se em prolongado silêncio. "Não tinha maisdiante de mim — escreve ela em suas memórias — o jovem de outrora, cheio de despreocupação e transbordante da alegria de viver, mas um adulto meditando sôbre um problema de importância." — é grave de fato, — disse êle — isso pode acabar mal para Sacha"
.
Todos os esforços de Maria Alexândrovna para salvar da morte o filho mais velho foram em vão. Foi executado na fortaleza de Schliisselburg a 8 de maio de 1887
.
Assim que soube da prisão de Alexandre Uliânov, toda a "sociedade" liberal de Simbirsk afastou-se dos Uliânov; foram abandonados mesmo pelos conhecidos mais íntimos.

Essa pusilanimidade geral causou forte impressão no jovem Lênin. Sabia agora o quanto valia a tagarelice dos liberais.


A morte do irmão influiu consideràvelmente na decisão que Lênin tomaria de enveredar pelo caminho da revolução.

Entretanto, por maior que fôsse sua admiração pelo heroísmo do irmão, Lênin, já nessa época, considerava o terrorismo na luta contra a autocracia como um caminho errado, que não atingia o alvo. Ao saber que Alexandre fizera parte de uma organização terrorista, Lênin disse: "Não, seguiremos outro caminho. Não é êsse caminho que se deve tomar".


Saindo do ginásio com medalha de ouro, Lênin matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Kazan, a 13 de agosto de 1887.
Pouco depois, estabelecia contatos com os revolucionários de Kazan e tomava parte num círculo de estudantes "de tendência muito nociva", segundo a definição da Ocrana tzarista.


Nesse meio estudantil Lênin destacou-se a todos os respeitos: tinhà espírito revolucionário, muita energia, vastas leituras, e sabia defender com convicção sua maneira de ver. Durante sua permanência na Universidade, foi objeto de estreita vigilância por parte da polícia e das autoridades universitárias.


O govêrno do tzar tomara o cuidado de só confiar a professores reacionários as cátedras universitárias, e perseguia todas as organizações dos estudantes, sobre as quais se exercia uma vigilância particularmente rigorosa. Círculos e sociedades, mesmo que se propusessem prestar uma ajuda material, eram suspeitos de desígnios antigovernamentais. Os estudantes eram encarcerados por delitos de opinião. A política das perseguições policiais provocava entre os estudantes protestos veementes.


Em 1887, a entrada em vigor do reacionário "estatuto universitário de 1884" foi o impulso direto que contribuiu para acentuada agitação entre os estudantes. Em fins de novembro, irromperam tumultos entre os estudantes de Moscovo, tumultos êsses que logo se estenderam à província. A 4 de dezembro de 1887, um movimento de efervescência estala também na Universidade de Kazan. Lênin toma parte das mais activas, tanto nas conferências que prepararam a ação dos estudantes, quanto na própria ação. As autoridades administrativas tzaristas não tardam a desencadear contra os estudantes repressões sobre repressões, Na noite de 4 para 5 de dezembro, Lênin é prêso em seu domicílio; são detidos ao mesmo tempo vários outros participantes e organizadores activos do movimento revolucionário dos estudantes. " — Você se revolta, jovem, mas tem um muro diante de você" — disse a Lênin o comissário de polícia que o conduzia à prisão." — Um muro, sim, mas podre. Um pequeno empurrão, e ei-lo por terra" — respondeu Lênin.


Encontrando-se um dia reunidos na prisão, os estudantes debatiam a questão do que faria cada qual quando estivessem em liberdade. Quando chegou a vez de Lênin e lhe formularama pergunta: "E você, Uliânov, que pensa fazer depois?" — êle respondeu que não via senão um caminho diante dêle, o da luta revolucionária.


A 5 de dezembro, Lênin é expulso da Universidade, e,dois dias depois, em 7 de dezembro de 1887, deportado para a aldeia de Kokúchkino, província de Kazan, sob a vigilância secreta da polícia. Foi ali que veio instalar-se sua irmã, Ana Ilinitchna, cuja deportação para a Sibéria fôra substituída pela
vigilância oficial da polícia.


Assim é que com a idade de dezessete anos Lênin recebia o baptismo da revolução num primeiro conflito com a autocracia tzarista. A partir de então, Lênin consagra sua vida inteiramente à luta contra a autocracia e o capitalismo, à obra de libertação dos trabalhadores do regime de opressão e de exploração.


A Ocrana tzarista marcou, à sua maneira, o início da actividade revolucionária do jovem Lênin. Os gendarmes informaram o Governador de Kaz^n de que o deportado de Kokúchkino, Lênin, tomara "parte activa na organização de círculos revolucionários entre a juventude estudantil de Kazan". A 27 de dezembro de 1887, os beleguins da polícia foram encarregados de exercer sobre êle uma vigilância diária. Desde esse momento, o ôlho da gendarmaria espiona incessantemente Lênin e tôda a família Uliânov. O menor gesto de Lênin é objeto de um relatório que voa ao Departamento da Polícia. Lênin passa cêrca de um ano nessa aldeiazinha perdida.

Lê muito e aplica-se na formação de seu espírito. Já nessa época, revela o dom de trabalhar metodicamente, de acordo "com um plano rigorosamente estabelecido. Desde jovem, obstina-se em desenvolver consigo próprio uma grande capacidade de trabalho.


Em princípios de outubro de 1888, Lênin foi autorizado a fixar residência em Kazan, onde se encontrava sua mãe com os filhos mais moços. Mas recusam-lhe o acesso à Universidade.
Havendo Lênin solicitado autorização para ir continuar seus estudos no estrangeiro, o Departamento da Polícia recomendou ao Governador "não lhe conceder passaporte para o estrangeiro",


Em Kazan, Lênin travou conhecimento com os membros dos diferentes círculos revolucionários ilegais. As obras de Marx, originais ou traduzidas, do mesmo modo que os livros de Plekhanov dirigidos contra o populismo — em particular Nossas Divergências — eram lidos e vivamente discutidos nesses círculos. Os relatórios de polícia, redigidos de acordo com as informações fornecidas pela vigilância secreta de que Lênin era objeto, assinalavam que êle tinha "uma tendência nociva", e mantinha "relações com indivíduos suspeitos".


No outono de 1888, Lênin pôs-se a estudar seriamente O Capital de Karl Marx. Esse livro produziu nele uma impressão indelével. "Foi com um ardor e uma animação extremos — conta A. Uliânova-EIizárova — que êle me expôs os princípios  da teoria de Marx, bem como o horizonte novo que ela entreabria... Ele transpirava serena confiança que se comunicava a seus interlocutores. Já nesse momento conhecia a arte de convencer e de empolgar o espírito por sua palavra.


Entregando-se a alguma análise ou descobrindo um caminho novo, seria incapaz de não participá-lo aos outros, de não aliciar partidários.


Esses adeptos, jovens de espírito, revolucionário que também estudavam o marxismo, ele logo os encontrou em Kazan".


Na mesma época, Lênin ingressava num dos círculos marxistas de Kazan, organizados por N. Fedosseiev, morto tragicamente no exílio, na Sibéria (1898). Durante os meses que passou no círculo de Fedosseiev, Lênin trabalhou obstinadamente para realizar sua própria educação, para assimilar a teoria marxista.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Se há e houve “avanços” e “aspectos positivos” bem como recuperação económica, tais foram para a burguesia capitalista.



Apesar de a sua mão estar presente e dar acordo prévio ao novo OGE, a EU não deixa de constantemente ingerir contra a devolução de parte do assalto capitalista que foi feito pelo governo PSD/CDS, (com o acordo do PS e da UGT, diga-se), e de exigir novos cortes no que resta dos direitos laborais e a implementação de novas reformas estruturais que mais não visam do que a destruição dos direitos sociais conquistados no após Abril 1974.

O mesmo acontece com o PSD e CDS que concordando no essencial com a estratégia macro económica no novo OGE, utilizam de forma demagógica o campo de manobra que previamente lhes foi concedido pelas decisões politicas do BE e do PCP de votar favoravelmente o novo OE, para votarem contra e exigir um OGE mais subserviente em relação às exigências da UE e ainda mais amigo dos interesses capitalistas e ao mesmo tempo procurar retirar dividendos eleitorais e poder responsabilizar as tímidas “devoluções” previstas, pelas consequências económicas e sociais que a nova crise económica capitalista, que já anunciam, possa vir a trazer .

O novo OGE vai para lá da convergência que as regras imperialistas da EU impõem, a subserviência do governo consegue ir mais longe na redução do défice publico do que aquilo que lhe é exigido.

A convergência de interesses com os grupos financeiros, a banca, as PPPs e outros apoios à burguesia continuam na ordem dos vários milhares de milhões de euros.

Converge com a estratégia militar imperialista norte-americana, elevando a participação financeira na NATO, em mais 330 milhões, passando para 2.728 milhões de euros, estando previsto que até 2024 segundo o acordo realizado em Bruxelas  esta participação sob para 2% do PIB, o que ultrapassará a módica quantia de 4.ooo milhões de euros por ano.

Como “o carro não pode andar sem travões”: Ou seja se o crescimento económico abrandar mais que o previsto a convergência com o investimento público sofrerá novas cativações, particularmente aqueles que tenham a ver com o melhoramento dos serviços públicos, tais como a saúde, a educação e transportes, na medida que em primeiro lugar e mais importante para o governo estão as outras convergências que representam os interesses da NATO e da EU

O “rigor económico” no novo OGE, será mais do mesmo, manter os salários baixos e os direitos laborais e sociais no mínimo possível para garantir a competitividade às empresas capitalistas e poder atrair capitais internacionais.

Os “avanços” e “aspectos positivos” do novo OGE:

A “devolução” de parte do confisco capitalista levado a cabo pelo anterior governo PSD/CDS , pelo actual governo capitalista PS não é um “avanço“, como afirmam os social liberais que à esquerda do PS, colaboram e apoiam o governo, o muito que se poderá dizer é que se trata de uma tímida  recuperação de rendimentos, que o governo tem tido o cuidado, por via dos vários ajustamentos de impostos indirectos recuperado e a manter quase tudo na mesma praticamente como se tem verificado, 50% da população vive abaixo dos 550 euros, 25% desta vive com  rendimentos a roçar ou mesmo abaixo do que a burguesia e seus governos de serviço consideram o limite de pobreza. O mesmo se vai manter com o novo OGE. 

O aumento do salário mínimo nacional e as reformas mínimas têm um aumento miserável e continua com a forte desvalorização , que ao longo dos anos , foi praticada pelos efeitos da inflação, pelos congelamentos e desvalorização da antiga moeda (o escudo)
.
Baixa-se o IVA para as touradas e continua-se a PUNIR as famílias pobres, com a manutenção do IVA a 23%  na electricidade, que conjuntamente com as outras taxas que configuram na factura, eleva a totalidade dos impostos para perto de 50%

Para compensar a redução do preço das propinas, e a “gratuitidade” dos manuais escolares, está previsto a cativação de 19 milhões de euros referentes às bolsas de mérito.

Portanto, se há ou houve “avanços” e “aspectos positivos” bem como recuperação económica, no qual o BE e o P”C”P fazem questão de se rever e em  reclamar a sua cota parte, tais foram para a burguesia capitalista na medida em que para manter a sua competitividade e com isso obter altos lucros, sujeitam os trabalhadores a baixos e miseráveis salários, perdas de direitos laborais e altas cargas de exploração.

A exemplo do movimento laboral que em França obriga o governo a recuar na sua ofensiva capitalista e a repor rendimentos, é necessário organizar a luta a partir dos locais de trabalho e de habitação e ir muito mais longe, na medida em que estas “devoluções” e pequeníssimas cedências não só ficam muito aquém da nossa necessidade, como é apenas parte do rendimento auferido de que há muitos anos a esta parte o capitalismo e a burguesia nos vêm roubando.