terça-feira, 30 de outubro de 2018

A propósito da vaga de terror fascista que de novo avança, e a importância da opinião de Clara Zetkin sobre a ascensão e a forma como combater o "Fascismo"

Zetkin: "Fascismo"
25/10/2018

No fascismo, o proletariado é confrontado por um inimigo extraordinariamente perigoso. O fascismo é a expressão concentrada da ofensiva geral empreendida pela burguesia mundial contra o proletariado. Sua derrubada é, portanto, uma necessidade absoluta, ou melhor, é mesmo uma questão da existência cotidiana... Por estes motivos, todo o proletariado deve concentrar-se na luta contra o fascismo. Será muito mais fácil derrotar o fascismo se estudarmos clara e distintamente sua natureza. Até aqui tem havido ideias extremamente vagas sobre esse assunto, não apenas entre as grandes massas de trabalhadores, mas também no interior da vanguarda revolucionária do proletariado e dos comunistas. Até agora, o fascismo foi colocado em um nível com o Terror Branco de Horthy na Hungria. Embora os métodos de ambos sejam semelhantes, em essência eles são diferentes. O Terror Horthy foi estabelecido depois que a vitoriosa, embora de curta duração, revolução do proletariado havia sido suprimida, e era a expressão da vingança da burguesia. Os líderes do Terror Branco eram um grupo muito pequeno de ex-oficiais. O fascismo, ao contrário, visto objectivamente, não é a vingança da burguesia em retaliação à agressão proletária contra a burguesia, mas é uma punição do proletariado por não conseguir levar adiante a revolução iniciada na Rússia. Os líderes fascistas não são uma casta pequena e exclusiva; eles se estendem profundamente em amplos elementos da população.

Temos que superar o fascismo não apenas militarmente, mas também política e ideologicamente. Os reformistas até hoje consideram o fascismo como nada mais que uma violência nua, a reação contra a violência iniciada pelo proletariado. Para os reformistas, a Revolução Russa equivale à Mãe Eva mordendo a maçã no Jardim do Éden. Os reformistas rastreiam o fascismo de volta à Revolução Russa e suas consequências. Nada além disto foi afirmado por Otto Bauer no Congresso da Unidade em Hamburgo, quando declarou que uma grande parte da culpa pelo fascismo recai sobre os comunistas, que enfraqueceram a força do proletariado por divisões contínuas. Ao dizer isso, ele ignorou inteiramente o facto de que os [Social-Democratas] Independentes alemães haviam se separado muito antes que este “exemplo desmoralizante” fosse dado pela Revolução Russa.

Ao contrário de seus próprios pontos de vista, Bauer, em Hamburgo, teve de concluir que a violência organizada do fascismo deve ser enfrentada pela formação de organizações de defesa do proletariado, porque nenhum apelo à democracia pode recorrer contra a violência direta. De qualquer forma, ele prosseguiu explicando que não se referia a armas como insurreição ou greve geral, que nem sempre levavam ao sucesso. O que ele quis dizer foi a coordenação da ação parlamentar com ação de massa. Qual seria a natureza dessas ações que Otto Bauer não disse, mas esse é o ponto exato da questão. A única arma recomendada por Bauer para a luta contra o fascismo foi o estabelecimento de um Bureau Internacional de Informações sobre a reação mundial.

A característica distintiva dessa nova e antiga [2ª] Internacional é sua fé no poder e permanência da dominação burguesa, e sua desconfiança e covardia em relação ao proletariado como o fator mais forte da revolução mundial. Eles são da opinião de que, contra a força invulnerável da burguesia, o proletariado não pode fazer nada além de agir com moderação e abster-se de provocar o tigre da burguesia. O fascismo, com todo ímpeto na execução de seus atos violentos, não é mais do que a expressão da desintegração e decadência da economia capitalista e o sintoma da dissolução do Estado burguês. Esta é uma das suas raízes. Os sintomas dessa decadência do capitalismo foram observados mesmo antes da guerra.

A guerra abalou a economia capitalista até a sua fundação, resultando não apenas no empobrecimento colossal do proletariado, mas também na miséria profunda da pequena burguesia, do pequeno campesinato e dos intelectuais. Havia sido prometido a todos esses elementos que a guerra traria uma melhoria de suas condições materiais. Mas o oposto aconteceu. Um grande número de ex-classes médias tornaram-se proletárias, perdendo inteiramente sua segurança econômica. Essas fileiras foram integradas por grandes massas de ex-oficiais, que agora estão desempregados. Foi entre esses elementos que o fascismo recrutou um contingente considerável. O seu modo de composição é também a razão pela qual o fascismo em alguns países é de caráter francamente monarquista.

A segunda raiz do fascismo está no retardamento da revolução mundial pela atitude traiçoeira dos líderes reformistas. Grande parte da pequena burguesia, incluindo até as classes médias, havia descartado sua psicologia dos tempos da guerra em nome de uma certa simpatia pelo socialismo reformista, esperando que este provocasse uma reforma social por vias democráticas. Eles ficaram desapontados em suas esperanças. Eles podem agora ver que os líderes reformistas estão em acordo benevolente com a burguesia, e o pior de tudo é que essas massas perderam a fé não apenas nos líderes reformistas, mas no socialismo como um todo. Essas massas de simpatizantes socialistas decepcionados são acompanhadas por grandes círculos do proletariado, de trabalhadores que desistiram de sua fé não apenas no socialismo, mas também em sua própria classe. O fascismo se tornou uma espécie de refúgio para os politicamente sem abrigo. Para ser justo, deve-se dizer que os comunistas também – excepto os russos – levam parte da culpa pela deserção desses elementos para as fileiras fascistas, porque nossas acções, por vezes, não conseguiram agitar as massas profundamente o suficiente. O objectivo óbvio dos fascistas, ao ganhar apoio entre os vários elementos da sociedade, seria, naturalmente, tentar superar o antagonismo de classe nas próprias fileiras de seus adeptos, e o chamado Estado autoritário deveria servir como um meio para esse fim. O fascismo agora abrange elementos que podem se tornar muito perigosos para a ordem burguesa. No entanto, até agora esses elementos foram invariavelmente superados pelos elementos reacionários.

A burguesia tinha visto claramente a situação desde o início. A burguesia quer reconstruir a economia capitalista. Nas atuais circunstâncias, a reconstrução da dominação de classe burguesa só pode ser conseguida às custas da crescente exploração do proletariado pela burguesia. A burguesia tem plena consciência de que os socialistas reformistas de fala mansa estão rapidamente perdendo seu controle sobre o proletariado, e que não haverá nada para a burguesia, mas recorrer à violência contra o proletariado. Mas os meios de violência dos Estados burgueses estão começando a falhar. Eles precisam, portanto, de uma nova organização de violência, e isso é oferecido a eles pelo confuso conglomerado do fascismo. Por essa razão, a burguesia oferece toda as forças sob seu comando a serviço do fascismo.

O fascismo tem características diversas em diferentes países. No entanto, tem duas características distintivas em todos os países, a saber, a pretensão de um programa revolucionário, que é habilmente adaptado aos interesses e demandas das grandes massas, e, por outro lado, a aplicação da violência mais brutal.

O exemplo clássico é o fascismo italiano. O capital industrial na Itália não era forte o suficiente para reconstruir a economia arruinada. Não se esperava que o Estado interviesse para aumentar o poder e as possibilidades materiais da capital industrial do norte da Itália. O Estado estava dando toda a sua atenção ao capital agrário e ao pequeno capital financeiro. As indústrias pesadas, que haviam sido artificialmente impulsionadas durante a guerra, entraram em colapso quando a guerra acabou, e uma onda de desemprego sem precedentes se instalou. As promessas feitas aos soldados não puderam ser resgatadas. Todas essas circunstâncias criaram uma situação extremamente revolucionária. Esta situação revolucionária resultou, no verão de 1920, na ocupação das fábricas. Naquela ocasião ficou demonstrado que as maduras condições revolucionárias faziam sua primeira aparição apenas para uma pequena minoria do proletariado. A ocupação das fábricas estava, portanto, fadada a terminar em uma tremenda derrota, em vez de se tornar o ponto de partida para o desenvolvimento revolucionário. Os líderes reformistas dos sindicatos agiram como traidores ignominiosos, mas ao mesmo tempo foi demonstrado que o proletariado não possuía nem a vontade nem o poder de marchar em direcção à revolução.

Não obstante a influência reformista, havia forças em acção entre o proletariado que poderiam se tornar inconvenientes para a burguesia. As eleições municipais, nas quais os social-democratas conquistaram um terço de todos os conselhos, foram um sinal de alarme para a burguesia, que imediatamente começou a procurar uma força que pudesse combater o proletariado revolucionário. Foi nessa época que Mussolini ganhou alguma importância com o fascismo. Após a derrota do proletariado na ocupação das fábricas, o número de fascistas era superior a mil, e grandes massas do proletariado juntaram-se à organização Mussolini. Por outro lado, grandes massas do proletariado haviam caído em um estado de indiferença. A causa do primeiro sucesso do fascismo foi que ele começou com um gesto revolucionário. Seu pretenso objectivo era lutar para manter as conquistas revolucionárias da guerra revolucionária e, por isso, exigiam um Estado forte, capaz de proteger esses frutos revolucionários da vitória contra os interesses hostis das várias classes sociais representadas pelo “antigo Estado”. Suas palavras de ordem eram dirigidas contra todos os exploradores e, portanto, também contra a burguesia. O fascismo naquela época era tão radical que até exigiu a execução de Giolitti e o destronamento da dinastia italiana. Mas Giolitti absteve-se cuidadosamente de usar a violência contra o fascismo, que lhe parecia ser o mal menor. Para satisfazer esses clamores fascistas, ele dissolveu o Parlamento. Naquela época, Mussolini ainda fingia ser um republicano, e em uma entrevista, ele declarou que a facção fascista não poderia participar na abertura do parlamento italiano por causa da cerimónia monárquica que o acompanhava. Essas declarações provocaram uma crise no Movimento Fascista, que havia sido estabelecido como um partido por uma fusão dos seguidores de Mussolini e dos representantes da organização monarquista, e a [direcção] executiva do novo partido era formada por um número par de membros de ambos as facções. O Partido Fascista criou uma arma de dois gumes para a corrupção e a aterrorização da classe trabalhadora. Para a corrupção da classe trabalhadora foram criados os sindicatos fascistas, as chamadas corporações nas quais trabalhadores e empregadores estavam unidos. Para aterrorizar a classe trabalhadora, o Partido Fascista criou os esquadrões militantes que surgiram das expedições punitivas.

Aqui deve ser enfatizado novamente que a tremenda traição dos reformistas italianos durante a greve geral, que foi a causa da terrível derrota do proletariado italiano, havia dado um incentivo directo aos fascistas para capturar o Estado. Por outro lado, os erros do Partido Comunista consistiam em considerar o fascismo apenas como um movimento militarista e terrorista sem qualquer base social profunda.

Vamos agora examinar o que o fascismo fez desde a conquista do poder para o cumprimento de seu programa revolucionário pretendido, para a realização de sua promessa de criar um Estado sem classes. O fascismo ergueu a promessa de uma nova e melhor lei eleitoral e de igual sufrágio para as mulheres. A nova lei do sufrágio de Mussolini é, na realidade, a pior restrição da lei do sufrágio em favor do Movimento Fascista. De acordo com essa lei, dois terços de todos os assentos devem ser entregues ao partido mais forte, e todos os outros partidos juntos devem ter apenas um terço das cadeiras. O sufrágio feminino foi quase totalmente eliminado. O direito de voto é dado apenas a um pequeno grupo de mulheres proprietárias e às chamadas “viúvas dos generais”. Não há mais nenhuma menção à promessa de um parlamento económico e da Assembleia Nacional, nem da abolição do Senado, prometida tão solenemente pelos fascistas.

O mesmo pode ser dito sobre as promessas feitas na esfera social. Os fascistas haviam inscrito em seu programa a jornada de oito horas, mas o projecto de lei apresentado por eles fornece tantas excepções que não deve haver uma só pessoa que trabalhe oito horas na Itália. Nada veio também da prometida garantia dos salários. A destruição dos sindicatos permitiu aos empregadores efectuar reduções salariais de 20% a 30% e, em alguns casos, de 50% a 60%. O fascismo prometera a previdência para a velhice e a invalidez. Na prática, o governo fascista, em nome da economia, cortou  50.000.000 de liras que haviam sido reservadas para esse fim no orçamento. Aos trabalhadores foi prometido o direito de participação técnica na administração das fábricas. Hoje existe uma lei na Itália que proíbe completamente os conselhos de fábrica. As empresas estatais estão passando para as mãos do capital privado. O programa fascista continha uma provisão para um imposto de renda progressivo sobre o capital, que era, até certo ponto, agir como uma forma de expropriação. Na verdade, o oposto foi feito. Vários impostos sobre o luxo foram abolidos, como o imposto sobre automóveis, pela pretensa razão de que restringiria a produção nacional. Os impostos indirectos foram aumentados porque isso reduziria o consumo doméstico e, assim, melhoraria as possibilidades de exportação. O governo fascista também revogou a lei para o registro compulsório de transferências de títulos, reintroduzindo assim o sistema de títulos ao portador e abrindo a porta para o sonegador de impostos. As escolas foram entregues ao clero. Antes de capturar o Estado, Mussolini exigiu uma comissão para investigar os lucros da guerra, dos quais 85% deviam ser restituídos ao Estado. Quando esta comissão se tornou incomoda para seus patrocinadores financeiros, os industriais pesados, ele ordenou que a comissão só apresentasse um relatório a ele, e quem publicasse qualquer coisa que acontecesse naquela comissão seria punido com seis meses de prisão.

Também em questões militares, o fascismo não cumpriu suas promessas. Foi prometido que a actuação do exército seria restringida à defesa territorial. Na realidade, o período de serviço militar permanente foi aumentada de oito para dezoito meses, o que significou o aumento das forças armadas de 250.000 para 350.000. As Guardas Reais foram abolidas porque eram democráticas demais para se adequarem a Mussolini! Por outro lado, os carabineiros foram aumentados de 65.000 para 90.000 e todas as tropas policiais foram duplicadas. As organizações fascistas foram transformadas em uma espécie de milícia nacional, que pelas últimas contas já atingiu o número de 500.000. Mas as diferenças sociais introduziram um elemento de contraste político na milícia, que deve levar ao colapso final do fascismo.

Quando comparamos o programa fascista com o seu cumprimento, podemos antever hoje o completo colapso ideológico do fascismo na Itália. A bancarrota política deve inevitavelmente se seguir à falência ideológica. O fascismo é incapaz de manter juntas as forças que o ajudaram a entrar no poder. Um choque de interesses em muitas formas já está se fazendo sentir. O fascismo ainda não conseguiu tornar a antiga burocracia subserviente a ela. No exército também há atrito entre os velhos oficiais e os novos líderes fascistas. As diferenças entre os vários partidos políticos estão crescendo. A resistência contra o fascismo está aumentando em todo o país. O antagonismo de classes começa a permear até mesmo as fileiras dos fascistas. Os fascistas não conseguem cumprir as promessas que fizeram aos trabalhadores e aos sindicatos fascistas. Reduções salariais e demissões de trabalhadores estão na ordem do dia. Assim acontece que o primeiro protesto contra o movimento sindical fascista veio das fileiras dos próprios fascistas. Os trabalhadores logo voltarão ao seu interesse de classe e dever de classe. Não devemos encarar o fascismo como uma força unificada capaz de repelir nosso ataque. É antes uma formação, que compreende muitos elementos antagônicos, e será desintegrada de dentro. Mas seria perigoso supor que a desintegração ideológica e política do fascismo na Itália seria seguida imediatamente pela desintegração militar. Pelo contrário, devemos estar preparados para o fascismo se esforçar para se manter vivo por métodos terroristas. Portanto, os revolucionários trabalhadores italianos devem estar preparados para as mais sérias lutas. Seria uma grande calamidade se estivéssemos satisfeitos com o papel dos espectadores desse processo de desintegração. É nosso dever acelerar este processo com todos os meios à nossa disposição. Este não é apenas o dever do proletariado italiano, mas também o dever do proletariado alemão em face do fascismo alemão.

Depois da Itália, o fascismo é mais forte na Alemanha. Como consequência do resultado da guerra e do fracasso da revolução, a economia capitalista da Alemanha é fraca, e em nenhum outro país o contraste entre a maturidade objectiva para a revolução e o despreparo subjectivo da classe trabalhadora é tão grande quanto agora mesmo na Alemanha. Em nenhum outro país os reformistas falharam tão ignominiosamente como na Alemanha. O seu fracasso é mais criminoso do que o fracasso de qualquer outro partido na velha Internacional, porque são eles que deveriam ter conduzido a luta pela emancipação do proletariado por meios absolutamente diferentes especialmente no país onde as organizações da classe trabalhadora eram melhor organizadas e mais antigas do que em qualquer outro lugar.

Estou firmemente convencida de que nem os Tratados de Paz nem a ocupação do Ruhr deram tanto impulso ao fascismo na Alemanha quanto a tomada do poder por Mussolini. Isso encorajou os fascistas alemães. O colapso do fascismo na Itália desencorajaria grandemente os fascistas na Alemanha. Não devemos esquecer uma coisa: o pré-requisito para a derrubada do fascismo no exterior é a derrubada do fascismo em todos os países pelo proletariado desses países. Cabe a nós superar o fascismo ideológica e politicamente. Isso nos impõe enormes tarefas.

Devemos perceber que o fascismo é um movimento dos desapontados e daqueles cuja existência está arruinada. Portanto, devemos nos esforçar para conquistar ou neutralizar aquelas massas que ainda estão no campo fascista. Desejo enfatizar a importância de percebermos que devemos lutar ideologicamente pelos corações e mentes dessas massas. Devemos perceber que eles não estão apenas tentando escapar de suas tribulações atuais, mas que estão ansiando por uma nova filosofia. Devemos sair dos limites estreitos de nossa actividade actual. A Terceira Internacional é, em contraste com a antiga [2ª] Internacional, uma Internacional de todas as raças sem quaisquer distinções. Os partidos comunistas não devem ser apenas a vanguarda dos proletários do trabalho manual, mas também os enérgicos defensores dos interesses dos trabalhadores do cérebro. Devemos liderar todos os sectores da sociedade que sejam levados a se opor à dominação burguesa por causa de seus interesses e suas expectativas de futuro. Alegro-me, portanto, com a proposta do camarada Zinoviev (falando em uma sessão do Comitê Executivo Ampliado da Internacional Comunista em junho deste ano) de assumir a luta pelo governo dos trabalhadores e camponeses. Eu estava muito me alegrei quando li sobre isso. Esta nova palavra de ordem tem um grande significado para todos os países. Não podemos dispensá-lo na luta pela derrubada do fascismo. Significa que a salvação das grandes massas do pequeno campesinato será alcançada através do comunismo. Não devemos nos limitar a continuar lutando pelo nosso programa político e econômico. Devemos, ao mesmo tempo, familiarizar as massas com os ideais do comunismo como filosofia. Se fizermos isso, mostraremos o caminho para uma nova filosofia a todos aqueles elementos que perderam o rumo durante o desenvolvimento histórico dos últimos tempos. O pré-requisito necessário para isso é que, ao nos aproximarmos dessas massas, também nos tornemos organizacionalmente, como Partido, uma unidade firmemente soldada. Se não for assim, corremos o risco de cair em direção ao oportunismo e à falência. Devemos adaptar nossos métodos de trabalho às novas tarefas. Precisamos falar às massas em uma linguagem que elas possam entender, sem prejudicar nossas ideias. Assim, a luta contra o fascismo traz uma série de novas tarefas.

Cabe a todos os partidos realizar esta tarefa energicamente e em conformidade com a situação em seus respectivos países. No entanto, devemos ter em mente que não é suficiente superar o fascismo ideológica e politicamente. A posição do proletariado em relação ao fascismo é, atualmente, de autodefesa. Esta autodefesa do proletariado deve assumir a forma de uma luta pela sua existência e organização.

O proletariado deve ter um aparato bem organizado de autodefesa. Sempre que o fascismo usa a violência, deve ser enfrentado com a violência proletária. Não me refiro a esses atos terroristas individuais, mas à violência da luta de classes revolucionária organizada do proletariado. A Alemanha deu um primeiro passo com a criação de “centúrias” de fábricas. Essa luta só pode ser bem-sucedida se houver uma frente proletária unida. Os trabalhadores devem se unir para essa luta, independentemente de a qual partido pertençam. A autodefesa do proletariado é um dos maiores incentivos para o estabelecimento da frente única proletária. Somente instilando a consciência de classe na alma de todo trabalhador conseguiremos preparar também a derrubada militar do fascismo, que, no atual estágio, é absolutamente necessária. Se obtivermos sucesso nisso, podemos ter a certeza de que em breve chegará a hora do sistema capitalista e do poder burguês, independentemente de qualquer êxito da ofensiva geral da burguesia contra o proletariado. Os sinais de desintegração, tão palpáveis diante de nossos olhos, nos dão a convicção de que o gigante proletário voltará a participar da luta revolucionária, e que seu grito ao mundo burguês será: eu sou a força, eu sou a vontade, em mim você vê o futuro!

Artigo de Clara Zetkin publicado no Labour Monthly, de agosto de 1923



quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Unidade Popular: na luta pelos direitos dos trabalhadores e contra o fascismo

O candidato da extrema direita Jair Bolsonaro – capitão afastado do Exército – representa os interesses dos grandes banqueiros e multinacionais neste segundo turno. A violência e o fascismo que ele prega é contra o povo pobre e trabalhador e tem como objetivo impedir que estes se manifestem contra os patrões e o injusto sistema capitalista em que vivemos.

Quem é trabalhador, quem é explorado e oprimido, deve refletir e votar contra um candidato que quer retirar seus direitos. De fato, o milionário Bolsonaro votou a favor da PEC da morte, que reduz por 20 anos os recursos da saúde, educação e moradia, além de congelar os salários dos profissionais que atendem a população; defende a privatização completa da educação em nosso país e a entrega das universidades para as grandes empresas privadas de educação.

A verdade é que a política de Bolsonaro é a de cortar os gastos sociais e entregar mais dinheiro para os banqueiros. Prova disso é que já nomeou um banqueiro como seu mentor econômico. Essa política é a mesma adotada hoje pelo Governo Temer e que tem levado milhões de brasileiros a sofrerem nas filas dos hospitais, mães ficarem sem creche e milhões de jovens serem excluídos da universidade. Além disso, ele votou contra os direitos das trabalhadoras domésticas e a favor da reforma trabalhista, que retirou direitos de milhões de trabalhadores.

Se for eleito, Bolsonaro tentará impor, com apoio de generais antipovo, a reforma da Previdência (que impede, na prática, os trabalhadores de se aposentar) e aumentará os privilégios do judiciário, dos marajás do Congresso Nacional e das altas patentes do Exército.

Bolsonaro também irá privatizar empresas públicas fundamentais como os Correios, o Banco do Brasil, Furnas e Petrobras aos grandes grupos estrangeiros, em especial aos monopólios dos EUA.

Em relação aos direitos trabalhistas, uma das propostas de seu plano de governo é criar uma carteira de trabalho na qual o empregado deverá abrir mão dos seus direitos, precarizando ainda mais as condições de vida. Bolsonaro quer reduzir salários e direitos para enriquecer os capitalistas em crise e aumentar seus lucros milionários.

Por isso, a Unidade Popular pelo Socialismo (UP) indica o voto em Haddad 13 para derrotar o candidato da extrema direita fascista. Votamos contra a retirada de direitos e defendemos a imediata revogação da PEC da morte e da reforma Trabalhista. Haddad, ao contrário do candidato dos banqueiros, se comprometeu a reestabelecer os direitos dos trabalhadores e cancelar as reformas de Temer.

Trabalhador e trabalhadora, é uma grande mentira que Bolsonaro acabará com os crimes no país e com a corrupção. A verdade é que ele irá reprimir os trabalhadores, as mulheres, os negros e os LGBTs e implantar uma nova ditadura.

O próprio Bolsonaro recebeu propina da JBS no valor de R$ 200 mil e acumulou um patrimônio de mais de R$ 16 milhões em imóveis, tendo omitido parte disso de sua declaração junto o TSE. Ele é da turma de Paulo Maluf e foi filiado ao seu partido, o PP, durante 20 anos, um dos partidos mais corruptos da história do país. Também é apoiado há anos pelo gangster Eduardo Cunha, preso e condenado a 24 anos de cadeia por fraudes e corrupção.

Por tudo isso, afirmamos que ele fará um governo corrupto e a favor dos banqueiros. A repressão que tanto propaga é para reprimir o povo e garantir a implementação do programa que atende apenas aos interesses de uma ínfima minoria.
Diante dessa grave situação, a Unidade Popular pelo Socialismo chama o povo a se organizar e defender nas ruas seus direitos políticos e democráticos conquistados na luta pelo fim da ditadura fascista de 1964.

Votamos Haddad 13 para derrotar a extrema direita e impedir mais retrocessos em nosso país. Mas não basta votar, devemos organizar comitês, contra o fascismo e o desemprego que unam o povo na luta por seus direitos, realizando uma grande campanha pela revogação da famigerada reforma Trabalhista e da PEC da morte.

Abaixo o fascismo! Em defesa dos direitos dos trabalhadores!

Vote Haddad 13 para derrotar o fascismo nas urnas e nas ruas!

Pelo poder popular e o socialismo!

Partido Comunista Revolucionário do Brasil



domingo, 21 de outubro de 2018

O Materialismo Dialético, Concepção do Mundo do Partido Marxista Leninista



Por: V. P. Tchertkov

Segundo a definição do camarada Stálin, o marxismo é
"a ciência das leis do desenvolvimento da natureza e da sociedade, a ciência da revolução das massas oprimidas e exploradas, a ciência da vitória do socialismo em todos os países, a ciência da construção da sociedade comunista.”(1)

Orientando-se por essa grande ciência revolucionária, o Partido de Lênin e Stálin definiu com clareza os caminhos a percorrer na luta dos trabalhadores pela libertação do jugo dos latifundiários e dos capitalistas, levou os operários e os camponeses à vitória sobre os exploradores, conduziu o povo soviético pela estrada ampla e clara do comunismo, tornou o país soviético poderoso e invencível, transformando-o no baluarte mundial da paz, da democracia e do socialismo.


O materialismo dialético é a única concepção científica do mundo e constitui o alicerce teórico do comunismo.


No trabalho Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, o camarada Stálin dá a segunda definição do materialismo dialético:


"O materialismo dialético é a concepção do mundo do Partido marxista-leninista. Chama-se materialismo dialético porque seu modo de abordar os fenômenos da natureza, seu método de estudar esses fenômenos e de conhecê-los é dialético, e sua interpretação, sua compreensão dos fenômenos da natureza, sua teoria é materialista."(2)

A criação, por Marx e Engels, do materialismo dialético foi um grande feito científico. Marx e Engels generalizaram e reelaboraram criticamente as conquistas do pensamento filosófico, generalizaram e reinterpretaram criadoramente as conquistas das ciências naturais e sociais, bem como toda a experiência da luta das massas trabalhadoras contra a exploração e a opressão.


Utilizando tudo aquilo que de melhor havia sido acumulado pela humanidade durante os milênios anteriores, Marx e Engels realizaram uma reviravolta revolucionária na filosofia, criaram uma filosofia qualitativamente nova.


A essência da reviravolta revolucionária realizada na filosofia pelos fundadores do marxismo reside em que a filosofia se tornou, pela primeira vez na história da humanidade, uma ciência que arma os homens com o conhecimento das leis do desenvolvimento da natureza e da sociedade e que serve de instrumento de luta pela vitória do comunismo. Os sistemas filosóficos do passado se caracterizavam pelo fato de que seus criadores, incapazes de elaborar um quadro único e harmonioso do mundo, amontoavam indistintamente os mais variados fatos, conclusões, hipóteses e simples fantasias, pretendiam conhecer em última instância a verdade absoluta e limitavam assim, na sua essência, o vivo processo de conhecimento, pelo homem, das leis da natureza e da sociedade.


A descoberta feita por Marx e Engels assinalou o fim da velha filosofia, que ainda não se podia chamar de científica, e o começo do período novo, científico, da história da filosofia. A filosofia marxista não é uma ciência acima das outras ciências.


O materialismo dialético é um instrumento de pesquisa, um método que penetra todas as ciências da natureza e da sociedade e, por sua vez, constantemente se enriquece com as novas conquistas das ciências e da atividade prática de construção do socialismo e do comunismo.


O marxismo marca também uma etapa qualitativamente nova na evolução do pensamento filosófico, no sentido de que somente com o marxismo a filosofia se tornou uma bandeira das massas.

J. V. Stálin ensina que o marxismo
"não representa simplesmente uma doutrina filosófica. É a doutrina das massas proletárias, sua bandeira; os proletários de todo o mundo a veneram e se 'inclinam' diante dela. Por conseguinte, Marx e Engels não são simplesmente fundadores de uma ‘escola' filosófica qualquer: são os chefes vivos do movimento proletário vivo, que cresce e se fortalece dia a dia”.(3)

Foi por isso que A. A. Jdânov, criticando, no debate sobre filosofia, a errônea interpretação da história da filosofia como simples substituição de uma escola filosófica por outra, observou que"com o aparecimento do marxismo como concepção científica do mundo, própria do proletariado, termina o velho período da história da filosofia, o período em que a filosofia era uma ocupação de indivíduos isolados, um patrimônio de escolas filosóficas compostas de pequeno número de filósofos e seus discípulos, encerrados em si mesmos, desligados da vida e do povo, estranhos ao povo.

O marxismo não é uma escola filosófica desse tipo. Ao contrário, é a superação da velha filosofia, que era patrimônio de uns poucos eleitos — da aristocracia do espírito — e o começo de um período inteiramente novo na história da filosofia, em que essa se torna uma arma científica nas mãos das massas proletárias que lutam pela sua libertação do capitalismo?(4)

Ao ganhar as massas, as ideias da filosofia marxista se tornam uma força material. As doutrinas filosóficas anteriores ao marxismo não tinham e não podiam ter essa força.


A profunda diferença dos princípios entre o materialismo dialético como filosofia marxista e os sistemas filosóficos anteriores reside em que o materialismo dialético serve de poderoso instrumento de influência prática sobre o mundo, instrumento de conhecimento e de transformação do mundo.


Marx afirmou, já no começo de sua atividade revolucionária, que se nos velhos tempos tomavam os filósofos por tarefa apenas explicar o mundo desta ou daquela maneira, deve a filosofia nova, revolucionária, transformá-lo. Sob a bandeira do marxismo-leninismo, o Partido Comunista da União Soviética e o povo soviético modificaram radicalmente a fisionomia da velha Rússia. O materialismo dialético, criado por Marx e Engels e desenvolvido por Lênin e Stálin, é uma poderosa arma teórica nas mãos da classe operária que luta contra o capitalismo, pelo socialismo e pelo comunismo.



Uma concepção do mundo é um sistema de ideias sobre o mundo em seu todo, são os princípios básicos segundo os quais os homens abordam e explicam a realidade que os cerca e pelos quais se orientam em sua atividade prática.


Por maiores que sejam as descobertas feitas nos diferentes setores da natureza, elas ainda não fornecem nem podem fornecer uma compreensão única da natureza, uma interpretação desta como um todo. Poderão, por exemplo, determinadas descobertas no domínio dos fenômenos químicos, determinadas leis químicas constituir uma concepção do mundo, fornecer uma compreensão da natureza em seu todo? Evidentemente não, porque, por mais importantes que sejam, só são válidas dentro de limites bastante restritos — o setor dos fenômenos químicos — e não revelam a essência de uma grande quantidade de outros fenômenos.


O mesmo se pode dizer de todas as demais ciências. Nenhuma das chamadas ciências concretas pode dar uma ideia total do mundo, pode dispensar a necessidade da elaboração de uma concepção total do mundo.


Houve na História muitas tentativas de criar um quadro completo do mundo por meio da extensão das leis de uma das ciências concretas a todos os fenômenos da natureza e da sociedade. Assim, no século XVIII, os filósofos não só estendiam as leis da mecânica a todos os fenômenos da natureza, como tentavam interpretar, por meio delas, os fenômenos sociais. Na segunda metade do século XIX, teve ampla divulgação na filosofia e sociologia burguesas a transplantação para a sociedade das leis do darwinismo, criando-se assim a base teórica para que a sociologia enveredasse por uma orientação tão reacionária como o darwinismo social.


Por vezes, verificava-se também o oposto, isto é, tentativas de estender as leis sociais aos fenômenos da natureza. A vida dos insetos, por exemplo, era comparada à atividade do Estado; afirmava-se que "também os animais trabalham”, etc.


As tentativas de aplicação das leis peculiares a certos fenômenos a outros são anticientíficas e reacionárias. Este gênero de teorias profundamente reacionárias encontra grande campo de desenvolvimento na época do imperialismo, quando os defensores do capitalismo em decomposição deturpam conscientemente a ciência, esforçando-se por justificar, custe o que custar, o capitalismo e as guerras de agressão e de rapina.


Para elaborar uma concepção do mundo completa e total, é necessário generalizar as leis da natureza e da sociedade, descobrir leis gerais inerentes a todos os fenômenos, objetos e processos da realidade — leis que possam servir de princípios diretores e de ponto de partida para abordar-se os mais diversos fenômenos da realidade. A descoberta de leis desse tipo, a elaboração do método de abordar a realidade e de interpretá-la é tarefa de uma ciência especial — a filosofia.

Intervindo no debate sobre filosofia, em 1947, A. A. Jdânov afirmou:
"A história cientifica da filosofia é, por conseguinte, a história do nascimento, origem e desenvolvimento da concepção materialista e científica do mundo e de suas leis."(5)

A história da origem e desenvolvimento da concepção científica do mundo não é um processo autônomo qualquer de desenvolvimento de ideias puras, que saiam umas das outras. Na realidade, as diversas descobertas no domínio da filosofia representam sempre a generalização — consciente ou inconsciente — dos conhecimentos reais sobre a natureza, o reflexo — consciente ou inconsciente — de determinadas necessidades do desenvolvimento da vida social.


Engels afirma que: "não foi, de forma alguma, a força da ideia pura que impulsionou os filósofos, como eles imaginavam. Ao contrário, o que na realidade os impulsionou foi, principalmente, o progresso formidável e cada vez mais impetuoso das ciências naturais e da indústria."(6)

O processo de desenvolvimento do pensamento filosófico foi influenciado não só pela produção, não só pelo desenvolvimento das forças produtivas, como também pelas relações de produção, pelas relações sociais entre os homens. As ideias filosóficas, como superestrutura erguida sobre a infraestrutura real de tal ou qual sociedade, representam sempre e em toda parte o reflexo deturpado, na cabeça dos homens, das transformações ocorridas na esfera da produção e das conquistas das ciências naturais.


Essa deturpação, nas formações sociais em que existem classes antagônicas, é condicionada pelo caráter das relações sociais, pela posição de classe dos autores dos sistemas e doutrinas. A luta entre as classes, a luta entre as forças sociais progressistas e reacionárias encontra expressão na filosofia como luta entre correntes ideológicas opostas. Assim, posto que a sociedade se dividia em classes hostis e era impulsionada pela luta entre as mesmas, a história do pensamento filosófico se apresentava como história da luta entre ideias, luta que refletia a história da luta de classes.


O materialismo surgiu e se desenvolveu em áspera luta contra o idealismo e contra as diferentes correntes idealistas. Toda a história da filosofia é a história da luta entre os principais campos e partidos da filosofia, a qual reflete o conflito entre as classes sociais e os partidos que representam seus interesses.

Lênin afirmou:


"A filosofia moderna está tão impregnada do espírito de partido como a de dois mil anos atrás.”(7)

Assim, a história da filosofia é a história da luta entre dois campos opostos — o materialismo e o idealismo. Os materialistas visam a uma interpretação correta da realidade, partindo das próprias leis da realidade, da natureza. Ao contrário, os idealistas tentam explicar o mundo, a natureza, não a partir dela mesma, mas com a ajuda de forças ideais fictícias que, em última instância, são forças divinas.


O concepção idealista do mundo é tão anticientífica e reacionária como a religião, que tem raízes comuns com o idealismo. O idealismo considera o mundo como encarnação da "ideia absoluta”, da "razão universal”, da "consciência”. Do ponto de vista do idealismo, os fenômenos e objetos da natureza que nos cercam — todo o mundo em seu conjunto —não existem por si mesmos, mas são produto de forças do outro mundo pretensamente acima da natureza.


Os idealistas, particularmente os idealistas do tipo do filósofo alemão Hegel, falam muito na unidade do mundo e em que conseguiram elaborar uma interpretação única e completa da realidade. Mas isso são meras palavras. Na realidade, os idealistas não estão em condições de encontrar uma unidade real entre todos os fenômenos do mundo e falam de uma unidade fictícia, inteiramente fantástica.


Todo idealismo, quer forneça um quadro do mundo à base de forças do outro mundo, sobrenaturais, ou considere a consciência humana como o primário, leva inevitavelmente à religião, ao clericalismo. Não é casual, portanto, que o próprio idealista Hegel tenha falado da "razão universal” como ideia do "portador do mundo”, isto é, de Deus, e os machistas tenham, de fato, representado o papel de lacaios do obscurantismo clerical. Todos os idealistas apelam, de uma maneira ou de outra, para a religião. O idealismo se confunde intimamente com a religião. Nisto reside a essência reacionária, hostil à ciência, da concepção idealista do mundo.


As concepções abertamente religiosas, que pretendem igualmente assumir o papel de concepção do mundo, são também, por certo, idealistas. A concepção religiosa do mundo, que deturpa o quadro real do mundo, é totalmente reacionária. Tanto a religião como o idealismo servem à burguesia como instrumento de escravização espiritual dos trabalhadores.


A religião afirma que os diversos fenômenos da natureza e da sociedade são únicos porque todos eles são "criados por Deus” e devem a Deus toda a sua existência. Entretanto, essa "unidade” interpretada pelos teólogos é fictícia, fantástica. Como demonstra a ciência e a atividade prática diária dos homens, os objetos e fenômenos da realidade existem independentemente de forças do outro mundo, quaisquer que sejam. Ao afirmar que o mundo foi criado por uma força superior, a concepção religiosa do mundo não vê a ligação que realmente existe entre os diferentes fenômenos da natureza, que se condicionam mutuamente e dão origem um ao outro.


A concepção única do mundo deve ser buscada não na imposição artificial das leis inerentes a certos fenômenos, a fenômenos inteiramente diferentes, nem numa "unidade” imaginária, fantástica, divina ou em qualquer outra "unidade” sobrenatural, mas na unidade real entre as próprias coisas e fenômenos da natureza viva e inanimada.


A concepção materialista do mundo em sua forma moderna, superior — o materialismo dialético — é a única concepção científica do mundo. Lênin escreveu que a doutrina de Marx:


"é completa e harmoniosa, fornecendo aos homens uma concepção total do mundo, incompatível com qualquer superstição, com qualquer reação e com qualquer defesa da opressão burguesa.''(8)
Todavia, antes que se tornar-se possível a criação da concepção dialética e materialista do mundo, teve a ciência que percorrer um longo e tortuoso caminho de desenvolvimento e criar as premissas necessárias para essa grande descoberta.


O camarada Stálin afirma que:
"o materialismo dialético é um produto do desenvolvimento das ciências, inclusive da filosofia, durante o período precedente."(9)

Na base do desenvolvimento da vida social e, sobretudo, dos êxitos alcançados no processo de produção dos bens materiais, verificaram-se novas e novas conquistas das ciências naturais, descobertas no domínio da interpretação dialética e materialista da natureza e tentativas de sua generalização filosófica.


Todos os êxitos alcançados pelas ciências naturais e pela filosofia foram, em última análise, provocados pelas necessidades da produção. Engels afirma que a origem e o desenvolvimento das ciências foram condicionados desde o início pela produção, pelas necessidades práticas da sociedade. Foi justamente o desenvolvimento da produção social no período do regime escravista que deu nascimento, nos primeiros tempos, a uma ciência ainda rudimentar e não diversificada, da qual faziam parte também as ideias filosóficas.


As primeiras tentativas no sentido de elaborar uma concepção única do mundo tiveram lugar ainda na remota antiguidade — na China e Índia antigas e, posteriormente, na Grécia antiga. Os filósofos da Grécia antiga, materialistas e dialéticos, consideravam que o mundo não fora criado por nenhum Deus e que existe independentemente da consciência dos homens. O mais eminente deles, Heráclito, ensinava que o mundo é um todo único e que todos os fenômenos têm origem no fogo e voltam ao fogo.


Os pensadores da antiguidade tinham uma ideia tão geral da natureza que não viam as profundas diferenças existentes entre seus diversos fenômenos. Sua concepção da natureza ainda era ingênua. Entretanto, a ideia de que a natureza existe por si mesma e está em constante transformação era extremamente produtiva e progressista, não surgiu em vão e deixou profunda marca na história da ciência.


Os filósofos materialistas franceses do século XVIII — Diderot, Helvetius, Holbach, etc. — fizeram uma ousada tentativa de descrever um quadro único do mundo.


Sendo ideólogos da burguesia do período ascensional — em que ela era uma classe progressista que impulsionava o desenvolvimento das forças produtivas da sociedade — os materialistas franceses defendiam as ideias filosóficas avançadas, isto é, manifestavam-se firmemente contra a interpretação religiosa do mundo e tentavam explicar, em bases científicas, todos os fenômenos da natureza. O nível de desenvolvimento da ciência ainda não possibilitava, contudo, naquela época, descobrir a verdadeira interdependência entre os fenômenos da natureza, não possibilitava observar as complexas transições dialéticas de uns fenômenos a outros, o processo de transformação de uns fenômenos em outros. Por isso, os filósofos materialistas franceses do século XVIII, sendo em geral metafísicos, faziam apenas conjeturas isoladas a respeito do desenvolvimento. Além disso, os pensadores franceses, falseando suas próprias intenções de mostrar o mundo como um todo único, caíam, ao examinar os fenômenos sociais, em posições idealistas porque não sabiam descobrir as bases materiais da vida social. É claro que a concepção do mundo própria do materialismo francês não era e não podia ser consequente, estritamente científica e completa.


O desenvolvimento posterior das ciências naturais e da prática social deu novo impulso ao desenvolvimento do pensamento filosófico.

Como afirma Engels, em fins do século XVIII e começo do século XIX:
"a geologia, a embriologia, a fisiologia animal e vegetal e a química orgânica, se desenvolviam, e (...), na base dessas novas ciências, já por toda parte surgiam conjeturas geniais, que anunciavam uma avançada teoria da evolução (...)".(10)

Dessa forma, o desenvolvimento das ciências naturais, refletindo os êxitos no desenvolvimento da produção, apresentava sempre e em escala cada vez mais ampla o problema da interpretação dialética da natureza.


No primeiro terço do século XIX, Hegel tentou ligar todos os fenômenos do mundo à ideia da comunidade de seu desenvolvimento. Essa tentativa não foi coroada de êxito, porém. A filosofia idealista de Hegel foi uma reação contra o materialismo francês. Ideólogo da burguesia alemã atemorizada pelo movimento das classes não privilegiadas e exploradas da sociedade, Hegel foi um pensador conservador. E embora Hegel tivesse conhecimento das mais importantes conquistas das ciências de sua época e tivesse tirado da realidade objetiva a própria ideia do desenvolvimento universal, apresentava tudo isso, em virtude do caráter reacionário de suas ideias políticas, de forma deturpada.


Hegel afirmou que a unidade do mundo não está em sua materialidade, mas no fato de tudo ser produto do espírito. Declarou que todos os fenômenos da natureza são graus do desenvolvimento da "ideia absoluta”, por ele inventada. Assim, segundo seu sistema, o mundo tem princípio e fim, seu desenvolvimento "começa” a partir do momento em que o "espírito universal” inicia o processo de seu "autoconhecimento” e "termina” quando o mesmo "espírito universal”, representado pela filosofia do próprio Hegel, conclui seu "autoconhecimento”.


Por esse motivo, a dialética idealista de Hegel não era nem podia ser um método científico de conhecimento. A dialética de Hegel achava-se voltada para o passado e não para o futuro. Hegel negava o desenvolvimento da natureza e esforçava-se por acabar com o desenvolvimento da sociedade, eternizando na Alemanha o Estado dos junkers prussianos chefiado por Frederico Guilherme III.


Entretanto, a ideia do desenvolvimento, embora limitada pelo sistema metafísico e compreendida por Hegel de maneira deturpada, idealista, foi a "medula racional” de sua filosofia, sendo aproveitada pela filosofia em seu desenvolvimento posterior.


Feuerbach — outro filósofo alemão que representou grande papel na história do pensamento filosófico — tampouco criou filosofia que fosse uma concepção científica e completa do mundo. Assim como todos os materialistas anteriores a Marx, Feuerbach continuava a considerar de maneira idealista os fenômenos e leis da sociedade, para não se falar no caráter metafísico do seu materialismo.


Os filósofos russos Hertzen, Bielinski, Tchernitchévski e Dobrolíubov foram, entre os filósofos do passado, os que mais se aproximaram da concepção científica, dialética materialista do mundo. Os pensadores russos foram democratas revolucionários que conclamavam as massas populares à luta contra a ordem feudal. Ao mesmo tempo, os pensadores russos submetiam a uma severa crítica o capitalismo, com sua falsa democracia e sua falsa igualdade. Todos eles consideravam a filosofia como instrumento de luta contra a desigualdade social e nacional.


É justamente pelo seu democratismo revolucionário que se explica o fato de que houvessem submetido a uma aguda crítica o idealismo hegeliano com seu temor a tudo que é avançado e revolucionário. Como materialistas e dialéticos tinham uma ideia mais completa do movimento da própria natureza "desde a pedra ao homem”, ressaltavam o papel decisivo das massas populares no progresso social e expressavam pensamentos geniais sobre as causas internas do desenvolvimento da sociedade.


Aproximando-se mais que outros da concepção científica do mundo, os filósofos russos, no entanto, tal como todos os demais materialistas anteriores a Marx, não souberam interpretar de maneira materialista os fenômenos da sociedade — não podendo, assim, elaborar uma concepção científica do mundo acabada e completa.


Somente os fundadores do comunismo, Marx e Engels, criaram uma concepção do mundo realmente científica, que abrange todos os fenômenos da natureza e da sociedade. Essa concepção do mundo é o materialismo dialético, que só pôde ser criado num determinado nível do desenvolvimento das ciências naturais e das ciências da sociedade e, sobretudo, num determinado grau de maturidade da luta de classes do proletariado contra a burguesia.


Os êxitos alcançados pelas ciências naturais foram uma das premissas mais importantes para a criação do materialismo dialético.


A primeira metade do século XIX foi assinalada por grandes descobertas no domínio das ciências naturais. Entre essas descobertas é necessário mencionar, antes de mais nada, a lei da conservação e da transformação da energia.


A tese da unidade da natureza, da eternidade da matéria e do movimento, foi fundamentada ainda no século XVIII pelo fundador da ciência russa, M. V. Lomonóssov, que formulou então a lei da conservação da matéria e do movimento. Em 1748, em carta a Eiler, Lomonóssov escreveu que:
"todas as transformações se verificam na natureza de tal maneira que aquilo que é acrescentado a alguma coisa é retirado de outra, na mesma proporção. Assim, a quantidade de substância adicionada a um corpo é retirada de outro, a quantidade de horas que durmo é retirada da quantidade de horas em que permaneço acordado, etc. Essa lei da natureza é tão geral que se estende também às regras do movimento: um corpo, que impulsiona outro corpo e o põe em movimento, perde seu movimento na mesma proporção em que o transmite ao outro corpo.”(11)

Aprofundando as teses de Lomonóssov sobre a conservação da matéria e do movimento, o sábio russo G. G. Guess estabeleceu em 1840 a lei fundamental que liga os fenômenos térmicos aos químicos, dando assim a primeira formulação da lei da conservação e da transformação da energia em relação a esses processos concretos. No começo da década de 40, R. Mayer Joule, o sábio russo E. K. Lents e outros formularam a lei geral da conservação e da transformação da energia, consolidando a compreensão da unidade entre as diferentes formas do movimento da matéria.


O sábio russo P. F. Gorianínov, em 1827-1834, e a seguir o sábio tcheco Purkínie, em 1837, lançaram as bases da teoria celular da estrutura dos organismos vivos. Em 1838-1839, os sábios alemães Schleiden e Schwann desenvolveram a teoria celular, confirmando assim a unidade entre todos os fenômenos da natureza orgânica.


Em 1859, Darwin apresentou a teoria da evolução do mundo orgânico e, em 1869, o grande sábio russo D. I. Mendelêiev criou o sistema periódico dos elementos químicos. Engels considerava a metade do século XIX como um período do desenvolvimento das ciências naturais "em que o caráter dialético dos processos da natureza impunha-se irresistivelmente, em que, por conseguinte, somente a dialética podia ajudar as ciências naturais a superarem as dificuldades da teoria.”(12)

Engels diz ainda:


"Liberta do misticismo, a dialética torna-se uma necessidade absoluta para as ciências naturais, que deixavam domínio em que bastavam as categorias fixas (...)(13)

Em suma, as ciências naturais exigem insistentemente a passagem da metafísica à dialética, do idealismo ao materialismo, que considera a natureza em seu desenvolvimento dialético.


O estudo dialético e materialista dos fenômenos da natureza e da sociedade significa analisá-los tais quais são, objetivamente.


Marx escreveu que o método dialético que criou "não só é radicalmente diferente do hegeliano, como é mesmo seu oposto direto. Para Hegel, o processo do pensamento, que ele chega a transformar, sob o nome de Ideia, em sujeito independente, é o demiurgo (criador, edificador) do real, e este apenas a forma fenomenal da Ideia. Para mim, ao contrário, o ideal não é nada mais do que o reflexo do mundo material transplantado para a cabeça do homem e nela transformado."(14)

Hegel considerava a dialética como a ciência das leis do espírito absoluto, das leis da consciência. Para Marx, ela é antes de tudo a ciência das leis da própria natureza e da sociedade. A dialética não foi inventada por Marx ou criada do nada. Marx a descobriu nos próprios objetos e fenômenos da natureza e da sociedade.


Para a criação de uma concepção científica e completa do mundo não bastavam, porém, as ciências naturais. Era para isso necessária certa madureza das relações sociais, a fim de que os homens pudessem ver e compreender os móveis internos do desenvolvimento da sociedade.


Ao contrário de todas as formações sociais anteriores, as forças produtivas desenvolvem-se no capitalismo de maneira extremamente impetuosa e, pela primeira vez, torna-se possível observar que é justamente a produção que constitui a base do desenvolvimento social e que as mudanças ocorridas na produção acarretam transformações em todos os outros setores da vida social. Ao mesmo tempo, o capitalismo simplifica e põe a nu as contradições de classe. Marx e Engels afirmaram no Manifesto do Partido Comunista que a época burguesa substituiu a exploração velada por ilusões religiosas e políticas "pela exploração aberta, direta, brutal e cínica."

Essa circunstância permitiu estabelecer teoricamente o fato de que "as classes sociais que lutam entre si são, em cada momento, o produto das relações de produção e de troca; em uma palavra: das relações econômicas de sua época (. ..)”.(15)


A condição decisiva para a criação do materialismo dialético foi o aparecimento de uma nova classe, o proletariado, e sua atuação na arena histórica como força política independente.


As maiores manifestações revolucionárias do proletariado nesse período foram os levantes de Lyon em 1831 e 1834, na França; o movimento de massas dos operários na Inglaterra, que recebeu a denominação de movimento cartista e que alcançou seu ponto culminante em 1838-1842, e o levante dos tecelões da Silésia em 1844, na Alemanha. Esses acontecimentos históricos, afirma Engels, "provocaram uma reviravolta decisiva na compreensão da História." Assim, sem o aparecimento, na arena da História, da classe operária revolucionária, era impossível compreender cientificamente a história da sociedade e, sem essa compreensão, era impossível elaborar uma concepção científica do mundo.


Na sociedade capitalista, a classe operária é a única que, por força de sua posição social, está interessada na criação de uma concepção científica do mundo, de uma filosofia científica. À classe operária cabe o papel histórico de derrubar o capitalismo e acabar para sempre com todas as formas de escravidão econômica, política e espiritual, estabelecendo sua ditadura e utilizando-a como alavanca para a construção da sociedade comunista sem classes. A classe operária acha-se, por isso, vitalmente interessada na criação de uma filosofia que forneça um quadro real do mundo e que possibilite não só conhecer a história da natureza e da sociedade e as leis de seu desenvolvimento no presente, como também prever a marcha dos acontecimentos no futuro, dominar as leis da natureza e da sociedade e obrigá-las a servir aos interesses de toda a humanidade. Isto explica o fato de que as grandes conquistas das ciências na primeira metade do século XIX serviram justamente aos ideólogos do proletariado, como material para a elaboração de uma concepção científica do mundo. Por outro lado, em virtude de sua situação de classe, os ideólogos da burguesia não chegaram, nem podiam chegar, às conclusões necessárias que decorriam das descobertas científicas daquele período.


Somente na transformação total e radical das bases do regime capitalista e no movimento da sociedade para um regime social novo, mais elevado, é que o proletariado encontra o caminho para livrar-se da escravidão capitalista. É por isso que a doutrina dialética do desenvolvimento e da transformação, da vitória do novo sobre o velho, é organicamente assimilada pelo proletariado, como confirmação e esclarecimento de suas aspirações de classe. O proletariado revolucionário e sua vanguarda, o Partido Comunista, não veem nem podem ver outros meios de luta pelos seus objetivos fora da luta de classes contra as forças reacionárias, contra os exploradores.

Para a classe operária a dialética materialista apresenta-se como a ciência que ilumina a luta revolucionária das massas; é na doutrina dialética de que o desenvolvimento é o resultado de contradições, da luta entre opostos, que o proletariado encontra, sua arma teórica natural na luta contra o capitalismo e pelo socialismo.

Marx afirma:
"Assim como a filosofia encontra no proletariado sua arma material, também o proletariado encontra na filosofia sua arma espiritual (.. .)(16)

Depois de terem reelaborado, de maneira crítica, tudo o que de avançado e progressista já havia sido alcançado na história do pensamento humano, Marx e Engels criaram, assim, uma completa concepção científica do mundo, colocando-a a serviço dos interesses do proletariado.



O materialismo dialético, como concepção do mundo completa e científica, caracteriza-se pela unidade entre o método dialético e a teoria materialista, pela unidade entre o método e a teoria. O método dialético, criado por Marx e Engels e enriquecido e desenvolvido por Lênin e Stálin, é uma das mais grandiosas conquistas da ciência.

V. I. Lênin e J. V. Stálin ensinam que a dialética é a alma do marxismo. O proletariado revolucionário e sua vanguarda — o Partido marxista — utilizam conscientemente as leis da dialética e veem nela a arma para lutar pela aceleração do progresso social.


O método do conhecimento não é algo artificialmente criado e desligado da realidade objetiva; é constituído por determinadas leis objetivas existentes na realidade, descobertas pelos homens nas próprias coisas e fenômenos, e que servem de meio para seu conhecimento.


Os idealistas assumem posição oposta. Os representantes de uma das escolas da moderna filosofia burguesa dos Estados Unidos, que se dizem instrumentalistas, interpretam o método e a teoria do conhecimento de maneira subjetiva, como muitos outros idealistas e reacionários. Segundo esses inimigos da ciência, não existem leis objetivas na natureza e na sociedade. Afirmam que o método do conhecimento é artificialmente criado pelos homens, que é um instrumento "conveniente" por meio do qual o homem dá forma aos fenômenos e ordena a natureza a seu modo.


Na realidade, porém, o método de conhecimento não pode ser criado artificialmente. Como já afirmamos, o método é constituído pelas próprias leis do desenvolvimento da natureza, descobertas, fielmente compreendidas e conscientemente empregadas pelos homens no processo do conhecimento.


Mas dentre as leis da natureza quais são as que constituem o método de seu conhecimento?


Conhecemos leis matemáticas, físicas, químicas, biológicas, fisiológicas e outras leis concretas, que atuam com relação a determinados fenômenos naturais. Podem algumas dessas leis constituir um método de conhecimento de todos os outros fenômenos? Não, não podem, porque cada uma delas atua apenas em seu setor de conhecimento. Do que se trata é de leis da natureza que, descobertas e fielmente compreendidas, tornem-se um método geral de conhecimento de todos os fenômenos da natureza.


A história da filosofia e das ciências em geral conhece uma grande quantidade de tentativas frustradas de criação de um método universal de conhecimento. As tentativas mais frequentes foram feitas no sentido de considerar as leis da matemática como método de pesquisa de todos os fenômenos da natureza. E até hoje muitos sábios da burguesia mantêm esse ponto de vista. A inconsistência de tais tentativas é, no entanto, evidente: nenhum dos setores especiais do conhecimento, por mais importante e pormenorizadamente desenvolvido que seja, pode, do ponto de vista dos princípios, pretender o papel de método universal.


Somente o marxismo-leninismo descobriu o único método científico e universal de conhecimento da natureza e da sociedade. Este método é constituído pelas leis gerais que atuam com relação a todos os objetos e fenômenos, sem exceção. São justamente essas leis que o marxismo-leninismo considera como método universal de conhecimento.

Na Dialética da Natureza, Engels afirma que "a dialética é concebida como a ciência das leis mais gerais de todo movimento. Isso significa que suas leis devem ser válidas tanto para o movimento na natureza e na história humana como para o movimento do pensamento."(17)

Engels afirma ainda:

"É, portanto, da história da natureza e da sociedade humana que são abstraídas as leis da dialética. Elas nada mais são, precisamente, que as leis mais gerais dessas duas fases do desenvolvimento histórico, bem como do próprio pensamento.”(18)

Assim, as leis da dialética, como as mais gerais e universais, encontradas sempre e em toda parte, constituem o método de conhecimento dos fenômenos da natureza e da sociedade. A ciência afirma, assim, que entre todos os fenômenos da natureza viva e inanimada existe certa interdependência, que eles não estão isolados uns dos outros. Daí se conclui, portanto, que os fenômenos da natureza animada e inanimada não devem ser estudados isoladamente uns dos outros, mas em sua real ligação mútua.


A ciência afirma que em todos os fenômenos da natureza animada e inanimada têm lugar processos de transformação, renovação e desenvolvimento. O desenvolvimento é uma lei de todos os objetos e fenômenos da natureza animada e inanimada. Trata-se, por conseguinte, de lei geral, universal, que se manifesta sempre em toda parte. Bastou descobrir-se uma vez essa lei geral das próprias coisas e fenômenos, e compreendê-la corretamente — coisa que Marx e Engels foram os primeiros a fazer na ciência — para que se tornasse possível empregar essa lei objetiva da natureza como método de pesquisa e orientar-se conscientemente por ela no estudo de todos os fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento.


O mesmo se deve dizer da lei dialética da unidade e luta entre os contrários. O marxismo demonstrou, sob todos os ângulos, que a luta de contrários é a origem interna do desenvolvimento de todos os fenômenos da natureza animada e inanimada. Essa lei da dialética também é geral e universal. É por isso que o conhecimento dessa lei possibilita caminhar com segurança na pesquisa de fenômenos novos, ainda desconhecidos para nós, ensinando-nos a procurar a origem do desenvolvimento dos mesmos não em forças externas, de um outro mundo, mas no caráter internamente contraditório dos próprios fenômenos.


Conclui-se, assim, que graças ao conhecimento de leis gerais já descobertas e corretamente compreendidas — as leis da dialética — a pesquisa das leis concretas tornou-se consideravelmente mais fácil; os homens as procuram com segurança e as encontram. Nisto consiste a significação orientadora e metodológica do método dialético, o seu papel como poderoso e fiel instrumento para o conhecimento da verdade.


Na dialética materialista, tem o Partido marxista não só um método para a explicação dos fenômenos da vida social, como também os princípios que o orientam na procura dos caminhos e meios para a transformação desses fenômenos.


O método dialético é um método de ação revolucionária. Orientando-se pelo método dialético marxista, o Partido bolchevique baseia sua política, sua estratégia e sua tática numa acertada análise científica do desenvolvimento econômico da sociedade, na consideração das condições históricas concretas, e parte da correlação das forças de classe e das tarefas reais que se apresentam à classe operária numa determinada situação.


Um dos mais importantes princípios do materialismo dialético é a tese de que todos os fenômenos da natureza e da sociedade se desenvolvem de tal maneira que, em determinada etapa de seu desenvolvimento — quando o período do desenvolvimento gradual e evolutivo é substituído pelo período do desenvolvimento sob a forma de saltos, revolucionário — passam de um estado qualitativo a outro.


Referindo-se ao desenvolvimento da sociedade, o camarada Stálin escreveu em seu trabalho Anarquismo ou Socialismo?: "(...) o método dialético afirma que o movimento tem dupla forma: uma evolutiva e outra revolucionária.

O movimento é evolutivo, quando os elementos progressistas continuam espontaneamente seu trabalho diário e introduzem, na velha ordem de coisas, transformações pequenas, quantitativas.

O movimento é revolucionário, quando os mesmos elementos se unem, se compenetram de uma só ideia e se lançam contra o campo inimigo, para extirpar a velha ordem de coisas e introduzir na vida transformações qualitativas, instaurar uma nova ordem de coisas.

A evolução prepara a revolução e cria o terreno para ela; e a revolução coroa a evolução e contribui para prosseguir a obra dessa."(19)

Essas teses da dialética materialista dão uma ideia científica das leis do desenvolvimento da natureza e da sociedade, armam a classe operária e todos os trabalhadores com um método acertado de conhecimento e de transformação revolucionária do mundo.


A dialética materialista fundamenta teoricamente a necessidade da luta pela transformação revolucionária da sociedade exploradora.


Se a passagem das transformações quantitativas, graduais e lentas, às bruscas mudanças qualitativas é uma lei do desenvolvimento, torna-se então claro — afirma o camarada Stálin — que as reviravoltas revolucionárias empreendidas pelas classes oprimidas, são fenômeno perfeitamente natural e inevitável. Não é a transformação gradual e lenta das condições de vida da sociedade capitalista por meio de reformas, mas a transformação qualitativa do regime capitalista por meio da revolução e a criação de novos fundamentos para a vida social, que decorre como conclusão prática dos princípios da dialética materialista.


Essa conclusão desmascara os social-democratas de direita, que pregam ideias reacionárias, segundo as quais o capitalismo se transforma em socialismo de maneira espontânea, sem saltos e comoções. Inimigos jurados dos trabalhadores, servis em face do imperialismo norte-americano, os socialistas de direita tudo fazem para demonstrar a "inconsistência" da dialética marxista.


A vida demonstra o contrário, porém. As crises econômicas que periodicamente abalam os países capitalistas, as guerras, as revoluções que amadurecem cada vez mais completamente nos diferentes países e que já golpearam mortalmente o capitalismo em vários países da Europa e da Ásia — atestam a irrefutável verdade da dialética marxista e a derrota, completa e inevitável, dos seus inimigos.


No trabalho O Marxismo e os Problemas de Linguística, J. V. Stálin afirma a inevitabilidade da explosão das velhas ordens sociais nas sociedades divididas em classes hostis. Essa tese de J. V. Stálin explica as revoluções sociais realizadas pelos oprimidos durante séculos e vibra novo golpe contra toda espécie de deturpadores da ciência, que defendem o capitalismo em decomposição.


A dialética marxista ensina que numa sociedade antagônica o novo nasce em consequência da explosão do velho. Nas condições do socialismo, o desenvolvimento se processa de maneira diferente.


Em seu genial trabalho O Marxismo e os Problemas de Linguística, o camarada Stálin, desenvolvendo a filosofia marxista, criticou profundamente aqueles que não compreendem a especificidade com que se manifesta, na realidade soviética, a lei da passagem de uma qualidade a outra. O camarada Stálin critica os talmudistas que se deixam empolgar pelas "explosões” e afirma que, na sociedade socialista, a passagem de uma velha qualidade a uma qualidade nova se realiza sem explosões, de forma gradual, porque nessa sociedade não há classes antagônicas. No socialismo, a substituição do velho pelo novo se realiza gradualmente porque o desenvolvimento da sociedade se verifica na base dos princípios do socialismo, através do ulterior desenvolvimento dos mesmos.

Essas indicações do camarada Stálin têm imensa significação teórica e prática. Vibram golpe esmagador nos deturpadores do marxismo-leninismo, concretizam e desenvolvem importantíssimas teses do materialismo dialético aplicado às condições da sociedade socialista e servem de guia para a atividade prática de construção do comunismo.


O marxismo considera o desenvolvimento da natureza e da sociedade como processo de autodesenvolvimento, porque a natureza e a sociedade se transformam segundo leis internas, que lhes são inerentes. As causas fundamentais de todo desenvolvimento estão no caráter contraditório de todos os fenômenos da natureza e da sociedade; a todos eles é peculiar a luta do novo contra o velho, do que nasce contra o que morre.


Do ponto de vista da dialética marxista, as contradições que existem no mundo material são infinitamente variadas. V. I. Lênin pôs em destaque esta tese, extremamente importante. V. I. Lênin afirmou, em carta a Máximo Gorki:
"(...) a vida se processa através de contradições e as contradições da vida são muito mais ricas, diversificadas e profundas do que parece, à primeira vista, à inteligência humana."(20)
Na sociedade dividida em classes antagônicas, o caráter contraditório do desenvolvimento se expressa na luta entre as classes. A história da sociedade exploradora é, por isso, a história da luta de classes.


Se a luta entre as forças opostas, a luta entre classes antagônicas faz avançar o desenvolvimento da sociedade exploradora, daí decorre a seguinte conclusão: não devemos dissimular as contradições da sociedade capitalista, mas pô-las a nu, não devemos refrear a luta de classes, mas levá-la até o fim.


Foi sempre em completo acordo com essa lei da dialética materialista que o Partido bolchevique elaborou sua tática e procurou os caminhos e métodos de luta por um novo regime social. O Partido bolchevique mobilizou os trabalhadores da Rússia para a luta decisiva contra os capitalistas e os latifundiários, pela vitoriosa realização da Grande Revolução Socialista de Outubro, pela liquidação dos elementos capitalistas da cidade e do campo e pela construção da sociedade socialista e, hoje, conduz com firmeza nosso povo para o comunismo. Essas históricas vitórias, conquistadas sob a bandeira de Lênin e Stálin, comprovam a grande força organizadora, mobilizadora e transformadora da ciência marxista-leninista.


Em nossa época, milhões de trabalhadores dos países de democracia popular, dirigidos pelos Partidos Comunistas e Operários, criam com êxito as bases do socialismo. O materialismo dialético e histórico — a teoria marxista-leninista — qual poderoso projetor, ilumina-lhes o caminho do progresso.


As contradições são a origem de todo desenvolvimento. Também no socialismo existem contradições. O esclarecimento de suas particularidades nas condições do socialismo adquire significação extraordinariamente grande para a atividade prática do Partido Comunista e do povo soviético.


Na sociedade socialista, onde não há classes hostis, as contradições não têm caráter antagônico. Todavia, em nosso país também existem o novo e o velho, existem contrários e há luta entre os mesmos. As contradições e a luta entre o novo e o velho existem em novas condições, porém. O desenvolvimento da sociedade se realiza, no socialismo, à base de novas forças motrizes: a unidade moral e política da sociedade soviética, a amizade entre os povos e o patriotismo soviético. A luta entre o novo e o velho na vida econômica, política e espiritual da sociedade soviética não exige a ruptura das bases da sociedade, mas se realiza no quadro de um maior fortalecimento dos princípios do socialismo, no quadro de uma maior coesão dos operários, dos camponeses e da intelectualidade soviética em torno das tarefas da construção do comunismo, em torno do Partido Comunista. A particularidade da luta entre o novo e o velho e dos conflitos entre os mesmos, na sociedade socialista, reside em que a maioria absoluta do povo — chefiada pelo Partido Comunista — se coloca a favor do novo.


As contradições entre o novo e o velho no desenvolvimento do socialismo são reveladas e resolvidas através do desenvolvimento da crítica e da autocrítica. A crítica e a autocrítica são arma inseparável e de ação permanente do bolchevismo. A crítica e a autocrítica são a chave por meio da qual os homens soviéticos descobrem e extirpam as deficiências e fazem a sociedade avançar.


Tudo isso comprova que a dialética marxista é não só o único método científico de conhecimento, mas também um método de ação revolucionária. O materialismo dialético não só possibilita compreender-se cientificamente o passado e o presente, como representa também inabalável base teórica de previsão e compreensão científicas dos caminhos e métodos de luta pelo futuro.


A grande força transformadora da concepção dialético-materialista do mundo reside em que, sendo a única científica, fornece os princípios para a compreensão do mundo em seu todo e, ao mesmo tempo, indica os caminhos e meios para transformá-lo. J. V. Stálin afirma que o marxismo é uma concepção completa do mundo, um sistema filosófico
"do qual decorre, logicamente, o socialismo proletário de Marx.”(21)



O materialismo dialético é a única interpretação científica dos fenômenos da natureza e da sociedade, instrumento de conhecimento e de transformação do mundo.


A teoria materialista, do mesmo modo que o método dialético, não é criada, inventada, artificialmente. Interpretar materialisticamente os fenômenos da natureza animada e inanimada significa concebê-los tal qual são, sem quaisquer acréscimos estranhos.


A teoria materialista marxista, o materialismo filosófico marxista, parte da consideração de que o mundo é material, de que os vários fenômenos no mundo são diferentes aspectos da matéria em movimento, de que o mundo se desenvolve segundo as leis da matéria e não necessita de nenhum Deus, de nenhum espírito, nem de quaisquer outras ficções idealistas.


A teoria materialista parte, além disso, da consideração de que os fenômenos da natureza e as condições da vida material da sociedade são o primário, enquanto a consciência dos homens, toda a esfera da vida espiritual da sociedade, é secundária, derivada.


Considerando a consciência como secundária, como reflexo das leis da natureza e da sociedade, a teoria materialista interpreta da única maneira justa a origem das ideias, concepções e instituições sociais. Assim, a teoria materialista revela o verdadeiro papel das ideias e concepções dos homens, na vida social.


Compreendendo as ideias e as concepções dos homens como reflexo de leis da natureza e da sociedade, — leis que existem objetivamente — a teoria marxista afirma a cognoscibilidade do mundo e de suas leis.


Essas teses da teoria materialista constituem os mais importantes princípios da concepção do mundo. Têm imensa significação para a compreensão de todos os fenômenos da natureza animada e inanimada.

A teoria materialista não só permite interpretar-se cientificamente todos os fenômenos da natureza e da sociedade, como serve também de poderoso instrumento para a transformação da realidade.


Estendendo as teses do materialismo dialético à sociedade, o marxismo foi o primeiro a ver que a sociedade não é um amontoado de casualidades, mas a realização de leis determinadas, peculiares ao desenvolvimento social. Isso permitiu que as forças sociais avançadas e o Partido Comunista baseassem sua atividade não nas exigências da "razão”, da "moral universal” e de outros princípios elaborados por idealistas de diferentes tipos, mas, como afirma o camarada J. V. Stálin:
"(...) nas leis do desenvolvimento da sociedade, no estudo dessas leis.”(22)
Obrigando a estudar atentamente as leis objetivas do desenvolvimento social, o marxismo-leninismo atribui, ao mesmo tempo, imenso papel à atividade revolucionária e transformadora dos homens, à atividade das classes e dos partidos avançados.


O marxismo-leninismo ensina que são os homens que sempre criam a História; que na história da sociedade o desenvolvimento não se realiza por si mesmo, automaticamente, mas como resultado da atividade dos homens, através da luta e do trabalho de milhões. Lênin e Stálin ensinam que a queda do capitalismo não sobrevêm automaticamente, mas como resultado de uma luta tenaz contra ele, luta empreendida por todos os trabalhadores sob a direção da classe operária e de seu partido revolucionário.

J. V. Stálin afirma:


"Alguns camaradas pensam que logo que houver uma crise revolucionária a burguesia se verá inevitavelmente num impasse; que seu fim, por conseguinte, já está predeterminado; que a vitória da revolução já se acha, assim, assegurada, e que só lhes resta aguardar a queda da burguesia e redigir resoluções vitoriosas. É um profundo erro. A vitória da revolução nunca virá por si mesma. E preciso prepará-la e conquistá-la.”(23)

Pondo em relevo o papel decisivo da produção material no desenvolvimento da sociedade, o materialismo histórico de forma alguma nega a significação das ideias. Pelo contrário, o materialismo dialético, em oposição ao materialismo vulgar, frisa o papel ativo das ideias na vida da sociedade. Em seu genial trabalho Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, o camarada Stálin aponta o imenso papel das ideias progressistas e sua significação mobilizadora, organizadora e transformadora. No trabalho O Marxismo e os Problemas de Linguística, o camarada Stálin demonstra o grande papel ativo que tem no desenvolvimento da sociedade a superestrutura social, que se ergue sobre a infraestrutura econômica, isto é, as ideias e instituições sociais.


No socialismo, é particularmente grande o papel da atividade dinâmica dos homens, o papel das ideias e das instituições sociais avançadas.


A atividade sempre crescente dos homens soviéticos e o trabalho organizador do Partido bolchevique e do Estado soviético comprovam a grande significação das ideias e instituições avançadas nas condições da realidade soviética. A função econômica, organizadora, cultural e educativa do Estado soviético, por exemplo, totalmente desconhecida no Estado burguês, tem grande significação para acelerar o movimento da sociedade soviética no sentido do comunismo. O Estado soviético planifica o desenvolvimento de todos os setores da economia e da cultura e mobiliza os homens soviéticos para a luta por novos êxitos no movimento contínuo para o comunismo.


A tese do materialismo histórico, segundo a qual aumenta de maneira extraordinária, no socialismo, o papel da ação consciente dos homens, é cabalmente confirmada pela atividade dirigente e orientadora do Partido de Lênin e Stálin. O Partido bolchevique, armado com a teoria mais avançada — o marxismo-leninismo — determina, na base do conhecimento das leis objetivas do desenvolvimento histórico, a direção do avanço da sociedade soviética. Estudando as leis do desenvolvimento da sociedade, generalizando a experiência do trabalho e da luta das massas, o Partido fixa tarefas concretas para o povo soviético, em cada etapa da construção do comunismo. Ao Partido de Lênin e Stálin pertence o papel decisivo na organização e mobilização das massas de nossa Pátria, na luta por maiores êxitos na construção comunista.


Sendo a única concepção científica do mundo, o materialismo dialético serve e não pode deixar de servir à classe progressista e consequentemente revolucionária da sociedade moderna — o proletariado e seu Partido marxista.


Nisto reside a essência do caráter de classe e de partido do materialismo dialético. O caráter de classe e de partido do materialismo dialético consiste justamente em que o portador dessa ciência, em nossa época, é a classe operária, seu Partido marxista.


As leis da dialética são tão objetivas e exatas como o são as leis da química, da física e de outras ciências. Todavia, se as leis da química, da física e de outras ciências podem ser utilizadas de maneira idêntica por todas as classes, se podem servir de maneira idêntica a todas as classes, já as leis da dialética não podem ser utilizadas por todas as classes, mas apenas por uma classe revolucionária — o proletariado e seu Partido. Por sua própria natureza, o materialismo dialético é a concepção do mundo do proletariado, por ser esta a única classe consequentemente revolucionária.


O espírito de partido do materialismo dialético consiste também em que é um método de conhecimento e de transformação revolucionária da sociedade, baseado nos princípios do socialismo e do comunismo. Por força das leis objetivas do desenvolvimento social, o socialismo substitui o capitalismo. Todavia, de todas as classes da sociedade moderna, somente uma, a classe operária, utiliza conscientemente essas leis, transformando a sociedade na base dos princípios do socialismo e do comunismo.


A essência do princípio de espírito marxista de partido reside, por conseguinte, em que é impossível, na sociedade moderna, ter uma concepção do mundo realmente científica sem partilhar a concepção do mundo própria ao proletariado e a seu Partido marxista.

V. I. Lênin ensina que
"o materialismo inclui, por assim dizer, o espírito de partido, obrigando-nos, em qualquer análise dos acontecimentos, a nos colocarmos, direta e francamente, no ponto de vista de um determinado grupo social"(24), no ponto de vista da classe operária.

Na filosofia, o espírito de partido reside em não oscilar entre as correntes do idealismo e do materialismo, da metafísica e da dialética, mas manter, de maneira franca e aberta, o ponto de vista de determinada corrente. O proletariado revolucionário e o Partido marxista assumem, de maneira franca e aberta, as posições do materialismo dialético, defendendo-o e desenvolvendo-o com firmeza.

Lênin escreveu:


"A genialidade de Marx e de Engels reside justamente em que, durante um período muito prolongado (quase meio século), se empenharam em desenvolver o materialismo, em fazer avançar uma tendência fundamental da filosofia, em realizar essa obra consequentemente, sem marcar passo nem repisar as questões gnosiológicas já resolvidas, e em demonstrar como aplicar esse materialismo às ciências sociais, varrendo implacavelmente, como lixo, os absurdos, o galimatias pretensioso e enfática, as inúmeras tentativas de ‘descobrir’ uma 'nova' tendência na filosofia (...)"(25)

A filosofia marxista é irreconciliavelmente hostil à contemplação, ao objetivismo burguês e ao apoliticismo. O espírito de partido da filosofia marxista exige uma luta firme e apaixonada contra todos os inimigos do materialismo, qualquer que seja a bandeira sob a qual se coloquem.


Em nossa época, o espírito de partido da filosofia marxista nos obriga a lutar diariamente contra todo gênero de novas correntes e tendências em moda, que se multiplicam com particular rapidez nos Estados Unidos da América e na Inglaterra e que semeiam o idealismo extremado, a metafísica e o obscurantismo; obriga-nos a desmascarar o caráter servil da atividade dos filósofos da burguesia, que deturpam a ciência em proveito dos imperialistas, justificam o jugo social e nacional e as guerras de rapina.


O traço característico do espírito de partido do materialismo dialético reside também em que coincide com a objetividade científica, porquanto os interesses de classe do proletariado não diferem da linha geral de desenvolvimento da História, mas, ao contrário, concordam organicamente com ela.


Todo o desenvolvimento da sociedade capitalista, apesar dos interesses e da vontade de suas classes dominantes, prepara as condições para o socialismo, torna sua vitória inevitável, e a atividade do proletariado, sua luta pelo socialismo, concorda exatamente com essa lei objetiva do desenvolvimento social.


A revolução socialista, cuja realização é a missão histórica do proletariado, acaba para sempre com a exploração, abre amplo caminho ao comunismo e corresponde, assim, aos interesses fundamentais de toda a humanidade trabalhadora.


É por isso que o ponto de vista de classe do proletariado, seu espírito de partido, expressando com acerto os interesses do proletariado e as necessidades do desenvolvimento de toda a sociedade humana, concorda plenamente com a verdade objetiva. O princípio do espírito marxista de partido exige uma luta decidida pela verdade objetiva na ciência, a qual não só não contradiz os interesses do proletariado, do partido marxista, como também é condição da luta vitoriosa contra aquilo que se tornou obsoleto na ciência e na vida social.


Em suma, o espírito de partido da filosofia marxista é estranho à estreiteza de classe e ao subjetivismo que são inerentes ao espírito de partido da burguesia. E isso se compreende. Mesmo na época em que a burguesia era uma classe progressista, seus interesses, como classe exploradora, limitavam o campo de visão de seus ideólogos, levavam-nos a entrar em contradição com a realidade, levavam-nos ao subjetivismo. Na época do imperialismo — que é a última etapa na vida do capitalismo, a etapa de seu colapso histórico — os interesses de classe da burguesia estão em contradição com o progresso da humanidade, são irreconciliavelmente hostis a tudo que é avançado e progressista na vida dos povos. É por isso que o ponto de vista de classe da burguesia, na filosofia e na ciência, não coincide com a verdade objetiva, a deturpa e a nega. É justamente no interesse do espírito de partido da burguesia que os diversos lacaios do imperialismo — sábios, filósofos e jornalistas burgueses — deturpam a verdade e mentem, procurando demonstrar a eternidade do capitalismo. Nessa hostilidade da sociedade burguesa à verdade objetiva, científica, manifesta-se apenas a condenação do capitalismo e seu inevitável colapso.