terça-feira, 6 de junho de 2017

A “preocupação” da União Europeia com a Venezuela

A União Europeia aprovou em 15 de Maio, numa reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros, uma declaração sobre a situação na Venezuela em que, com falas mansas, procura uma espécie de “internacionalização” da luta política que se trava no país. O argumento, bem explicitado pelo seráfico ministro português Santos Silva, é este: como vivem na Venezuela muitos cidadãos oriundos de países europeus, a crise “também diz directamente respeito à União Europeia”.

Mesmo apelando a “ambas as partes” para evitarem a violência, a UE não deixa de apoiar a principal exigência política da oposição de antecipação de eleições — quando no próximo ano terão lugar eleições presidenciais, como estabelece a constituição do país.

A oposição, politicamente liderada pela direita e fortemente apoiada pelo imperialismo norte-americano, depois de ter perdido as eleições presidenciais de Abril de 2013 (após a morte de Hugo Chávez), lançou uma campanha de protestos contra o governo de Maduro, aproveitando-se da tremenda crise económica que assola país. Independentemente do julgamento que, do lado da esquerda, se faça do chavismo e do actual poder na Venezuela, o certo é que está em marcha uma tentativa de golpe de estado para destruir as (ainda assim magras) vantagens que o regime deu à população mais pobre desde 1999.

É atrás deste processo golpista que a UE está alinhada, fazendo corpo com os EUA. Ambos apostam em que a situação interna venezuelana se degrade mais a ponto de justificar interferências mais directas.

Não podendo ainda clamar que Maduro “mata o seu próprio povo”, como fizeram com a Líbia e a Síria, vão entretanto veiculando a ideia falsa de que os mortos resultantes dos confrontos são todos opositores do regime e vítimas da repressão governamental. E mascaram que, do outro lado, uma massa considerável de população pobre defende o regime, não só por aquilo que ele fez nos anos de sucesso do chavismo, mas também por perceber o retrocesso que representaria uma vitória da direita.

A Venezuela passa por uma aguda luta de classes de saída ainda incerta. Por isso mesmo, os EUA, primeiros interessados em pôr termo à experiência “bolivariana”, usam todos os meios (financeiros, propagandísticos) para fortalecer a burguesia venezuelana e promover a líderes “populares” os seus representantes de direita.

A UE, segue atrás — para já, sob capa “humanitária”. Ou como disse Santos Silva, “preocupada” com a “segurança e bem-estar” dos seus concidadãos de além-Atlântico.

Original encontra-se em www.jornalmudardevida.net

Artigo de: Manuel Raposo


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