Desde a segunda metade do século XIX criava-se para a
Rússia um perigo verdadeiramente real de escravidão e perda de sua
independência como Estado. A Rússia tzarista, cada vez mais atrasada, ficava
atrás no desenvolvimento econômico dos países mais avançados e, por
conseguinte, caía cada vez mais sob a dependência escravizadora de outros
Estados. Cada vez mais aumentava "o papel dependente, tanto do tzarismo
como do capitalismo russo em relação ao capitalismo europeu."
Com uma cifra comparavelmente alta de produção na
indústria de carvão, a Rússia não tinha indústria de maquinarias pesadas. A
indústria têxtil — a única inteiramente nas mãos dos capitalistas russos —
também dependia das firmas estrangeiras, pelo fato de que não possuía
fabricação própria de máquinas necessárias.
Nas empresas organizadas pelo capital estrangeiro na
Rússia, a produção estava disposta de tal maneira que aumentava a dependência
técnico-econômica do país. Por exemplo, nas empresas de produção
eletrotécnicas, onde prevalecia o capital alemão, faltavam séries completas de
produção: importava-se da Alemanha uma quantidade de detalhes. Os capitalistas
estrangeiros, com pleno conhecimento de causa freiavam e impediam a construção
de maquinaria. Na Rússia tzarista importava-se 60% de maquinaria para a
indústria e 58% para a agricultura. Para evitar as barreiras dos direitos
alfandegários, o capital estrangeiro emigrou para a Rússia. Na Rússia
encontrava força de trabalho barata, a proteção da burocracia tzarista e uma
burguesia desorganizada, incapaz de fazer frente ao competidor estrangeiro.
Em suma, o capital estrangeiro abrangeu os principais
ramos da indústria russa: metalurgia, 72%; carvão da bacia do Don, 70%;
petróleo, 60%; eletrotécnica, 90%. Nas minas da Bacia do Don, nos campos petrolíferos
de Bakú, na produção metalúrgica da Ucrânia mandavam os capitais estrangeiros.
Os altos funcionários tzaristas ajudavam os acionistas estrangeiros a
conquistar posições de mando na economia russa. Até os mais inteligentes dos
mandatários tzaristas não viam outra solução para a atrasada situação econômica
do país, senão, a da entrada de capitais estrangeiros. É bastante
característica a declaração do famoso ministro tzarista Witte: "Se
continuamos esperando a criação de empresas produtoras pela via de capitais
nacionais, teremos que aguardar largo tempo para certos resultados positivos e
neste Ínterim a Europa continuará avançando, deixando-nos mais atrasados." Witte supunha que o
capital estrangeiro serviria de certo modo como escola para os capitalistas
russos. Compreende-se que este caminho levava somente a transformação da Rússia
de país semi-colonial em uma colônia do imperialismo ocidental europeu.
No período da primeira revolução russa, os
imperialistas do Ocidente fizeram o bastante para consolidar a escravidão
financeira da Rússia e assegurar o regime anti-popular tzarista.
"Todavia em 1906, quando a revolução
estava desenvolvendo-se na Rússia, o Ocidente — como indicava o camarada Stalin — ajudou à
reação tzarista a levantar-se, fazendo-lhe um empréstimo de dois mil milhões de
rublos. E efetivamente o tzarismo se manteve com o preço da escravidão
financeira da Rússia ao Ocidente."
O camarada Stalin indicou, não
por casualidade, o caráter escravizador destas operações financeiras. Tais
empréstimos eram extraordinários. Em si mesmo, um empréstimo não quer dizer que
o país se entregue à escravidão. A Inglaterra recebia empréstimos da América,
da França, da Alemanha, mas estas eram operações financeiras entre países num
mesmo pé de igualdade. A Rússia tzarista ao receber empréstimos de países
estrangeiros, lhes dava um direito ilimitado para a exploração de suas
riquezas, o uso das fontes de energia, direção dos bancos e das empresas
produtoras. Desta maneira, a influência do capital estrangeiro, na forma de
empréstimos escravizava a Rússia no sentido econômico, tomando em conta que
esta dependência econômica se convertia também em dependência política.
Assim, o tzarismo se convertia em inimigo do povo, não
somente como cabeça dirigente do sistema de servidão agrícola e com seu
conseqüente atraso geral, mas também como o instrumento da escravidão
estrangeira, agente de capitais estrangeiros, a fim de tirar do povo exausto os
milhões necessários para a amortização dos juros dos empréstimos. A autocracia,
como indicava o camarada Stalin, deixava caminho
livre para o capital estrangeiro, ele que tinha em suas mãos indústrias básicas
da economia russa, tais como as de combustível e metalurgia. E é por isso que
um verdadeiro patriota devia odiar a autocracia tzarista.
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