quarta-feira, 27 de julho de 2016

Evolução dos acontecimentos na Turquia e a tentativa de golpe de estado

Partido Comunista da Grécia* 24.Jul.16

As informações mais recentes relativas aos acontecimentos na Turquia e à tentativa de golpe referem uma agudização das contradições internas inter-burguesas e divergências entre os diferentes centros de poder no país que estão interligadas com os antagonismos mais gerais na região alargada da Síria, do Médio Oriente e do Mediterrânio Oriental através da intervenção directa e do confronto entre poderosos estados capitalistas.

A Turquia tem participado – e participa – nestes antagonismos com o objectivo de proteger os interesses da classe burguesa turca e de se reforçar enquanto poder regional. O activo envolvimento da Turquia nos acontecimentos na Síria, as operações militares que conduziu na parte norte deste país que é habitada por populações de origem curda, e as suas relações com o Estado Islâmico colocaram-na em confronto com os seus aliados tradicionais, nomeadamente os EUA, a NATO e outros.

É certamente necessária uma ulterior investigação acerca dos incidentes e elementos que dirigiram a tentativa de golpe e da resultante prevalência de Erdogan em relação a ele. No fundamental, o que é necessário ser examinado é que forças, domésticas e exteriores, apoiaram o golpe, quais eram os seus objectivos, o papel dos chamados Kemalistas e forças seculares, ou das forças do Imã Gülen, que o regime de Erdogan “aponta” como os responsáveis, “expulsando” milhares do aparelho de Estado; o papel dos EUA e da NATO; a situação real nas forças armadas turcas ou em parte delas, os possíveis compromissos e acordos que tiveram lugar e que tiveram repercussão no desenrolar e conclusão da tentativa de golpe.

É necessária uma ulterior investigação acerca da posição dos EUA e de outras forças da NATO, que no início da tentativa de golpe falavam da “necessidade de preservação do Estado” e depois, quando a balança se inclinou a favor das forças de Erdogan, apoiaram o “governo democraticamente eleito da Turquia”. Para além disso, devem também ser tomadas em conta as recentes movimentações da Turquia no sentido da normalização de relações com a Rússia e Israel.

A acção organizada de significativos sectores das forças armadas, a tentativa de assassínio de Erdogan, o número de mortos, feridos e detidos, entre os quais numerosos generais das forças armadas, o prolongado bombardeamento de Ancara, os combates de rua em outras cidades, desmentem a ideia de que se tratou de um golpe “encenado” ou um golpe “de farsa”. O tempo se encarregará de clarificar muitos destes aspectos, bem como de quem beneficiou ou virá a beneficiar desta situação.

Em qualquer caso, e por definição, as contradições e antagonismos inter-burgueses e inter-imperialistas não prenunciam nada de bom para os povos da região e em particular para o povo turco, que no decurso de todo o período anterior tem vindo a confrontar-se com as persistentes políticas antipopulares dos governos do AKP, o partido de Erdogan. As elevadas taxas de crescimento nos anos recentes e a melhoria da situação de algumas camadas intermédias não conseguiram, em nenhum caso, eliminar a pobreza, o desemprego, a repressão, a exploração selvagem da classe operária e das camadas populares turcas.

Esta linha política não deixará de ser prosseguida em força pelo facto de Erdogan ter finalmente conseguido controlar a situação. Nem podem, evidentemente, constituir resposta às políticas antipopulares golpes que são expressão de diferentes sectores da burguesia, ou servir de justificação para argumentações acerca da “restauração da democracia” na Turquia ou para ilusões – cultivadas por alguns – de que o regime de Erdogan pode “registar a mensagem” de que são necessários mais direitos sociais e mais liberdades políticas. Tais expectativas vêm já sendo demolidas pelos acontecimentos dos dias que se sucederam imediatamente à tentativa de golpe, que demonstram que o ataque não irá limitar-se aos “instigadores” do golpe e aos seus apoios no aparelho de Estado, mas que irá amplificar-se contra o povo, contra os seus direitos civis mas, sobretudo, contra as suas liberdades laborais, populares e sindicais. Em simultâneo, as atitudes agressivas da burguesia e do Estado turcos são conhecidas e estão claramente expressas no que diz respeito ao Mar Egeu, à disputa de direitos de soberania gregos bem como da questão cipriota, que permanece em aberto.

Os acontecimentos na Turquia mostraram uma vez mais que a situação na região “cheira a pólvora” e é marcada – com consequências imprevisíveis - pelas agudas contradições e antagonismos entre poderosos centros imperialistas. O governo SYRIZA-ANEL assume pesadas responsabilidades porque participa activamente nos planos imperialistas em nome do capital grego; apoiou as perigosas recentes decisões da Cimeira da NATO que assinalam uma escalada nesses antagonismos, em particular entre NATO e Rússia, ao mesmo tempo que cultiva falsas esperanças de que a Grécia possa constituir uma “ilha” numa região turbulenta.

Hoje, mais do que nunca, é necessária a disponibilidade militante do povo contra as guerras e intervenções imperialistas, contra a participação do nosso país em tais guerras e intervenções. É igualmente necessário que cada povo não se deixe enredar em qualquer cenário das contradições inter-burguesas, todas elas contrárias aos seus interesses. Os povos têm, pelo contrário, todo o interesse em desenvolver a sua acção independente e de massas, para preparar e lutar em momento e em cada lugar pelas suas próprias soluções, tendo como critério as suas próprias necessidades e tendo como objectivo o derrube do poder do capital, e a desvinculação de qualquer uma das diferentes alianças imperialistas.

O KKE exprime a sua solidariedade com a classe operária e o povo da Turquia, com o fraterno Partido Comunista na Turquia que nas condições de uma correlação de forças extremamente negativa conduz esta difícil luta, a única capaz de gerar esperança.

ATENAS 19/7/2016
Gabinete de Imprensa do CC do KKE


segunda-feira, 25 de julho de 2016

O socialismo é a supressão das classes. Sem a ditadura do proletariado elas não desaparecerão.

O socialismo é a supressão das classes. A ditadura do proletariado fez tudo o que podia para essa supressão. Mas é impossível suprimir as classes de repente.

E as classes mantiveram-se
e manter-se-ão durante a época da ditadura do proletariado. A ditadura tornar-se-á inútil quando as classes tiverem desaparecido. Sem a ditadura do proletariado elas não desaparecerão.

As classes mantiveram-se, mas cada uma delas modificou-se na época da ditadura do proletariado; modificaram-se também as suas inter-relações. A luta de classes não desaparece sob a ditadura do proletariado, toma apenas outras formas.

No capitalismo o proletariado era uma classe oprimida, uma classe privada de toda a propriedade sobre os meios de produção, a única classe directa e inteiramente oposta à burguesia e, por conseguinte, a única capaz de ser revolucionária até ao fim. Depois de ter derrubado a burguesia e conquistado o poder político, o proletariado tornou-se a classe dominante: ele detém nas suas mãos o poder de Estado, dispõe dos meios de produção já socializados, dirige os elementos e as classes vacilantes, intermédios, reprime a energia crescente da resistência dos exploradores. Todas estas são tarefas particulares da luta de classes, tarefas que o proletariado não colocava nem podia colocar anteriormente.

A classe dos exploradores, dos latifundiários e dos capitalistas, não desapareceu nem pode desaparecer de repente sob a ditadura do proletariado. Os exploradores foram derrotados, mas não aniquilados. Continuam a ter uma base internacional, o capital internacional, de que eles são uma sucursal. Continuam a ter em parte alguns meios de produção, continuam a ter dinheiro, continuam a ter grande número de relações sociais. A energia da sua resistência cresceu centenas e milhares de vezes, precisamente em consequência da sua derrota. A «arte» de dirigir o Estado, o exército, a economia, dá-lhes uma superioridade muito grande, de modo que a sua importância é incomparavelmente maior do que a sua parte no conjunto da população. A luta de classe dos exploradores derrubados contra a vanguarda vitoriosa dos explorados, isto é, contra o proletariado, tornou-se infinitamente mais encarniçada. E não poderia ser doutro modo se se fala de revolução, se não se substitui este conceito (como fazem todos os heróis da II Internacional) pelas ilusões reformistas.

Por último, o campesinato, como toda a pequena burguesia em geral, ocupa também sob a ditadura do proletariado uma posição média, intermédia: por um lado, representa uma massa bastante considerável (imensa na Rússia atrasada) de trabalhadores, unida pelo interesse comum aos trabalhadores de se libertar dos latifundiários e dos capitalistas; por outro lado, são pequenos patrões, proprietários e comerciantes isolados. Esta situação económica provoca inevitavelmente vacilações entre o proletariado e a burguesia. E nas condições da luta exacerbada entre estes últimos, nas condições de uma ruptura incrivelmente brusca de todas as relações sociais, nas condições do enorme apego precisamente da parte dos camponeses e dos pequenos burgueses em geral àquilo que é velho, rotineiro, imutável, é natural que observemos inevitavelmente entre eles passagens de um campo para outro, vacilações, viragens, incerteza, etc.

A tarefa do proletariado em relação a esta classe — ou a estes elementos sociais — consiste em dirigi-los, em lutar pela influência sobre eles. Levar atrás de si os vacilantes, os instáveis, eis o que deve fazer o proletariado.

Se confrontarmos todas as forças ou classes fundamentais e as suas inter-relações modificadas pela ditadura do proletariado, veremos que ilimitado absurdo teórico, que estupidez é a concepção pequeno-burguesa corrente da transição para o socialismo «através da democracia» em geral, que vemos em todos os representantes da II Internacional. A base deste erro reside no preconceito herdado da burguesia de que a «democracia» tem um conteúdo absoluto, acima das classes. Mas, na realidade, a democracia entra também numa fase absolutamente nova sob a ditadura do proletariado, e a luta de classes eleva-se a um grau superior, submetendo a si todas e quaisquer formas.
As frases gerais sobre a liberdade, a igualdade e a democracia equivalem de facto a uma cega repetição de conceitos que são uma cópia das relações da produção mercantil. Querer resolver por meio dessas frases gerais as tarefas concretas da ditadura do proletariado significa passar em toda a linha para a posição teórica, de princípio, da burguesia. Do ponto de vista do proletariado, a questão coloca-se unicamente assim: liberdade de não ser oprimido por que classe? igualdade de qual classe com qual outra? democracia na base da propriedade privada ou na base da luta pela abolição da propriedade privada? etc.

Engels esclareceu há muito no Anti-Duhring que o conceito de igualdade, sendo uma cópia das relações da produção mercantil, se transforma em preconceito se não se compreender a igualdade no sentido da supressão das classes[N120]. Esta verdade elementar sobre a distinção entre o conceito de igualdade democrático burguês e o socialista é constantemente esquecida. E se não a esquecermos, torna-se evidente que o proletariado, ao derrubar a burguesia, dá com isto o passo mais decisivo para a supressão das classes e que, para o completar, o proletariado deve prosseguir a sua luta de classe utilizando o aparelho do poder de Estado e aplicando diversos métodos de luta, de influência, de acção em relação à burguesia derrubada e em relação à Pequena burguesia vacilante.

domingo, 17 de julho de 2016

Entrevista ao Jornal "Pravda" J. V. Stálin 17 de Fevereiro de 1951



PERGUNTA — Qual a vossa opinião sobre a última declaração feita pelo primeiro ministro britânico Attlee, na Câmara dos Comuns segundo a qual, apôs o fim da guerra, a União Soviética não se teria desarmado, isto é, não teria desmobilizado suas tropas mas, em seguida teria aumentado continuamente suas fôrças armadas ?
RESPOSTA — Considero que esta declaração do primeiro ministro Attlee é uma calúnia à União Soviética.
O mundo inteiro sabe que a União Soviética desmobilizou suas tropas após a guerra. Como se sabe, a desmobilização se realizou em três etapas: a primeira e a segunda durante 1945, e a terceira de maio a setembro de 1946. Além disso em 1946 e 1947, procedeu-se à desmobilização das classes mais antigas do Exército Soviético, e, em princípios de l948 as restantes classes antigas foram desmobilizadas.

Tais são os fatos conhecidos de todos.
Se o primeiro ministro Attlee conhecesse a ciência das finanças ou da economia, teria compreendido, sem dificuldade, que nenhum Estado nem mesmo o Estado Soviético, poderia desenvolver amplamente a industria civil, empreender grandiosas obras tais como a construção de centrais hidroelétricas no Volga, no Dnieper e no Amu-Dariá, que necessitam dezenas de bilhões de despesas orçamentarias, prosseguir em uma politica de baixa sistemática dos preços das mercadorias de consumo corrente, politica que também exige dezenas de bilhões de despesas orçamentárias, investir centenas de bilhões para o reerguimento da economia nacional destruída pelos ocupantes alemães e, ao mesmo tempo, multiplicar suas forças armadas e desenvolver a indústria de guerra. É fácil compreender que tal politica insensata conduziria à bancarrota do Estado. O primeiro ministro Attlee deveria saber por sua própria experiência assim como pela dos Estados Unidos, que o aumento das forças armadas de um pais e a corrida armamentista levam ao desenvolvimento da industria de guerra, à redução da indústria civil, à interrupção das grandes construções civis, ao aumento dos impostos e dos preços das mercadorias de consumo corrente. É compreensível que se a União Soviética não diminui, mas, ao contrário, desenvolve a indústria civil, não reduz, mas, ao contrário, amplia a construção de grandiosas centrais hidroelétricas e de sistemas de irrigação, não interrompe, mas, ao contrário, prossegue numa politica de baixa dos preços, ela não pode, ao mesmo tempo, ampliar a indústria de guerra e multiplicar suas forças armadas sem correr o risco de entrar em bancarrota.

E se o primeiro ministro Attlee, malgrado todos esses fatos e considerações cientificas, ainda acha que é possível caluniar abertamente a União Soviética e sua politica de paz, nesse caso a única explicação possível é que ele acredita poder, por meio da calúnia à União Soviética, justificar a corrida armamentista ora executada na Grã Bretanha pelo governo trabalhista.

O primeiro ministro Attlee tem necessidade de mentir a respeito da União Soviética, tem necessidade de apresentar a politica de paz da União Soviética como uma politica agressiva e a politica agressiva do governo britânico como uma politica de paz. Isto para induzir a erro o povo britânico, impingir-lhe essa mentira contra a União Soviética e, enganando-o, arrastá-lo a uma nova guerra mundial organizada pelos círculos dirigentes dos Estados Unidos da América.

O primeiro ministro Attlee se diz partidário da paz. Mas, se ele ama realmente a paz, por que recusou a proposta da União Soviética, na Organização das Nações Unidas, relativa à imediata conclusão de um Pacto de Paz entre a União Soviética, a Grã-Bretanha, os Estados Unidos da América, a China e a França?

Se ele ama realmente a paz, por que recusou as propostas da união Soviética de proceder imediatamente à redução dos armamentos, de interditar imediatamente a arma atômica?

Se ele ama realmente a paz, por que persegue os partidários a paz? Por que proibiu o Congresso dos Partidários da Paz, na Grã-Bretanha? Pode a campanha de defesa da paz ameaçar a segurança da Grã-Bretanha?

É claro que o primeiro ministro Attlee não está a favor da manutenção da paz mas a favor do desencadeamento de uma nova guerra mundial de agressão.

PERGUNTA — Que pensais da intervenção na Coreia? Como pode ela terminar?

RESPOSTA — Se a Grã-Bretanha e os Estados Unidos da América rejeitarem definitivamente as propostas de paz do Governo Popular da China, a guerra da Coreia não pode terminar senão com a derrota dos intervencionistas.

PERGUNTA — Por que? Serão os generais e oficiais norte-americanos e britânicos piores do que os generais e oficiais chineses e coreanos?

RESPOSTA — Não, não são piores. Os generais e oficiais norte-americanos e britânicos absolutamente não são piores que os generais e oficiais de qualquer outro país. No que diz respeito aos soldados dos Estadas Unidos e da Grã-Bretanha, eles, como se sabe, na guerra contra a Alemanha hitlerista e o Japão militarista, demonstraram o seu valor. De que se trata, então? De que os soldados consideram injusta a guerra contra a Coreia e a China, enquanto que consideravam a guerra contra a Alemanha hitlerista e o Japão militarista perfeitamente justa. E essa guerra é impopular ao mais alto grau entre os soldados norte-americanos e britânicos.

É com efeito difícil convencer os soldados de que a China, que não ameaça nem à Grã-Bretanha, nem aos Estados Unidos e à qual os norte-americanos usurparam a lha de Taiwan, é o agressor, enquanto que os Estados Unidos da América, que se apoderaram de Taiwan e levaram suas tropas até às próprias fronteiras da China, são os que se defendem. É difícil convencer os soldados de que os Estados Unidos da América têm o direito de defender sua segurança no território da Coreia e nas fronteiras da China, enquanto que a China e a Coreia não têm o direito de defender sua segurança em seu próprio território ou nas fronteiras de seu Estado. Daí a impopularidade da guerra entre os soldados anglo-americanos.

É compreensível que generais e oficiais, os mais experimentados, possam ser derrotados se seus soldados consideram a guerra que lhes é imposta como profundamente injusta, e, se, em consequência, cumprem suas obrigações na frente de um modo inteiramente formal, sem fé na justeza de sua missão, sem entusiasmo.

PERGUNTA — Como considerais a resolução da Organização das Nações Unidas (ONUproclamando agressor à República Popular Chinesa?

RESPOSTA — Considero-a uma resolução vergonhosa,
Na verdade, é preciso ter perdido até os últimos restos de consciência para afirmar que os Estados Unidos da América que se apoderaram de um território chinês, a Ilha de Taiwan, e invadiram a Coreia até às fronteiras da China, são os que se defendem enquanto que a República Popular Chinesa, que defende suas fronteiras e se esforça por recuperar Taiwan invadida pelos norte-americanos, seja o agressor.

A Organização das Nações Unidas, criada para ser o baluarte da paz, se transforma em um instrumento de guerra, em um meio para desencadear uma nova guerra mundial. O núcleo agressor da ONU está constituído por dez países: os membros do Pacto de agressão do Atlântico-Norte (Estados Unidos da América, Grã-Bretanha, França, Canadá, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Dinamarca, Noruega, Islândia) e por vinte países da América Latina (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela). Os representantes desses países decidem atualmente, na ONU, da guerra e da paz. Foram eles que fizeram a ONU adotar a vergonhosa decisão que declara agressora a República Popular Chinesa.

Fato característico do atual estado de coisas na ONU, é, por exemplo, que a pequena República Dominicana, que tem apenas dois milhões de habitantes, tenha aí, atualmente, o mesmo peso que a Índia e bem mais do que a República Popular Chinesa, privada do direito de voto na ONU.

Desse modo, a ONU, transformando-se em instrumento de uma guerra de agressão deixa, ao mesmo tempo, de ser uma organização mundial de nações iguais em direitos; na realidade, a ONU é atualmente menos uma organização mundial do que uma organização para os norte-americanos, que age segundo os caprichos dos agressores norte-americanos. Não somente os Estados Unidos da América e o Canadá aspiram o desencadeamento de uma nova guerra, mas este caminho é igualmente seguido pelos vinte países da América Latina, onde os latifundiários e os negociantes anseiam por uma nova guerra em qualquer parte da Europa ou da Asia, a fim de vender aos países beligerantes mercadorias a preços exorbitantes e ganhar milhões neste negócio sangrento. Não é segredo para ninguém que os vinte representantes dos vinte países latino-americanos representam atualmente o exército mais unido e mais obediente dos Estados Unidos da América na ONU.

Desse modo a Organização das Nações Unidas enveredou pelo caminho inglório da Sociedade das Nações. Com isso, enterra sua autoridade moral e se condena à desagregação.

PERGUNTA. — Considerais inevitável uma nova guerra mundial?

RESPOSTA — Não. Pelo menos no momento atual, não se pode considerá-la inevitável.

Evidentemente, nos Estados Unidos da América, na Grã-Bretanha, assim como na França, existem fôrças agressivas que têm sede de uma nova guerra. Elas têm necessidade de uma guerra para obter super-lucros, para saquear os outros países. São os milionários e os milhardários que consideram a guerra como uma fonte de receitas que lhes fornece lucros.

São elas, essas fôrças agressivas, que têm em suas mãos os governos reacionários e que os dirigem. Mas, ao mesmo tempo, elas têm medo de seus próprios povos que não querem uma nova guerra e são pela manutenção da paz. É por isso que elas procuram empregar os governos reacionários para envolver seus povos com mentiras, para enganá- los e apresentar uma nova guerra como uma guerra defensiva, e a política de paz dos países pacíficos como uma política agressiva. Elas procuram enganar seus povos para impor-lhes seus planos de agressão e arrastá-los a uma nova guerra.

É precisamente por isto que elas têm medo da campanha em defesa da paz, temendo que esta desmascare as intenções agressivas dos governos reacionários.

É precisamente por isto que elas fizeram malograr as propostas da União Soviética, relativas à conclusão de um Pacto de Paz, à redução dos armamentos, à interdição da arma atômica, pelo temor de aceitação dessas propostas fizesse fracassar as medidas agressivas governos reacionários e tornasse inútil a corrida armamentista.

Como terminará esta luta das fôrças agressivas e das fôrças amantes da paz?

A paz será mantida e consolidada se os povos tomarem em suas mãos a causa da manutenção da paz e se a defenderem até o fim A guerra pode tornar-se inevitável se os provocadores de guerra conseguirem envolver as massas populares em mentiras, enganá-las e arrastá- las a uma nova guerra mundial.

Eis porque a vasta campanha a favor da manutenção da paz, como meio de denunciar as criminosas maquinações dos provocadores de guerra, se reveste hoje em dia de primordial importância.

No que concerne à União Soviética, ela continuará hoje como ontem a executar inflexivelmente uma política visando a impedir a guerra e a manter a paz.

sábado, 16 de julho de 2016

Turquia :Não há alternativa excepto o povo

por PCT [*]
O Partido Comunista [Turco] conclama o nosso povo a organizar-se nas fileiras do Partido contra os inimigos do povo e da humanidade.

A libertação está nas nossas mãos.

Não temos todos os pormenores do que aconteceu durante a tentativa de golpe que teve lugar na Turquia nas horas entre 15 e 16 de Julho.

Entretanto, sabemos muito bem que planos apoiados por forças estrangeiras, que não colhem seu poder da classe trabalhadora, não podem derrotar as trevas do AKP e resolver problemas da Turquia.

Os acontecimentos de hoje recordam-nos mais uma vez a seguinte realidade: Ou o povo da Turquia organizar-se-á e livrar-se-á do AKP ou as políticas reaccionárias do AKP intensificar-se-ão, a repressão aumentará, continuarão os massacres, a pilhagem e o roubo.

O único poder que pode derrubar o AKP é o do povo, não há alternativa a isto.

O AKP é responsável por tudo o que se verificou na noite passada. Todos os factores que levaram à situação e condições actuais são o produto do domínio do AKP e dos patrões internos e estrangeiros que apoiam o AKP.

Contudo, o facto de que o principal partido responsável seja o AKP não significa que a tentativa de golpe não fosse orquestrada pelo próprio Erdogan a fim de alcançar seus objectivos, tal como abrir o caminho para uma presidência executiva ou limpar os obstáculos relativos à nova constituição.

A tensão e as rivalidades entre diferentes grupos dentro do estado e das forças armadas que se sabe existirem desde há algum tempo transformaram-se em conflito armado. Se bem que as tensões entre estas forças sejam reais, é uma mentira que qualquer dos lados neste conflito represente os interesses do povo. Em consequência, procurar a solução contra o domínio do AKP através de um golpe militar é tão errado quanto dar qualquer apoio ao AKP sob o disfarce de tomar posição contra golpes militares por qualquer razão. A última coisa que deveria ser feita em nome do apoio à liberdade e aos direitos humanos na Turquia é dar apoio ao AKP, o qual demonstrou reiteradamente que é um inimigo da humanidade.

Ainda que não tenham orquestrado este golpe, Erdoðan e o AKP esforçar-se-ão por utilizar as condições resultantes e o apoio que receberam como meio para aumentar a sua legitimidade. Nosso povo deveria ficar alerta contra passos que o AKP certamente dará nos próximos dias. Levantar a luta contra o AKP e suas trevas é o único caminho para impedir que esta tentativa falhada de golpe resulte na consolidação do domínio do AKP tornando-o numa ferramenta para levar a instável Turquia do AKP à estabilidade. O facto de que todas as mesquitas na Turquia difundiram continuamente propaganda de Erdoðan a noite toda é uma indicação concreta da urgência da tarefa que temos em mãos.

O Partido Comunista conclama o nosso povo a organizar-se nas fileiras do Partido contra os inimigos do povo e da humanidade.

A libertação está nas nossas mãos.

Partido Comunista, Turquia 
16/07/2016

A versão em inglês encontra-se em solidnet.org/...

Este documento encontra-se em http://resistir.info/ .

sexta-feira, 15 de julho de 2016

A história da criança com multideficiência que um colégio privado não quis e a escola pública recebeu

Criança de 13 anos com Necessidades Educativas Especiais não terá sido aceite por colégio privado e acabou "encaminhada" para escola pública. Mãe denuncia "exclusão". "Não tem fundamento" reage a instituição, que recebe quase seis milhões de euros do Estado. O que se passou? 



São menos de três quilómetros a separar um episódio, no mínimo, controverso. Susana Sousa Rios, mãe de uma criança de 13 anos com Necessidades Educativas Especiais (NEE), terá sido aconselhada a procurar uma escola pública quando tentou inscrever o filho no privado. Em depoimento escrito e entrevista telefónica à VISÃO, esta progenitora, de 36 anos, acusa o Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas de ter discriminado o seu filho. "Visto que não podiam negar-me a inscrição, «convidaram-me» a inscrevê-lo na escola pública, mais precisamente naEscola de Paços de Brandão, pois aí, não sendo o ideal, teria melhores condições do que o colégio privado", sugeriram-lhe, segundo a sua versão. Chocada e "revoltada" com a "indiferença" que sentiu na reunião tida para o efeito, esta encarregada de educação acabaria mesmo por recorrer à tal instituição pública. "E em boa hora o fiz", assume, pois a criança lá continua. "O meu filho gosta da escola, de todos os profissionais, do professor ao assistente operacional. Embora as condições não sejam as ideais, fazem mais e melhor", explica, satisfeita. Susana, "mãe a tempo inteiro por força das circunstâncias", refere que o filho sofre de multideficiência, destacando a epilepsia e os problemas motores e hormonais. "Em Paços de Brandão têm sido muito abertos, têm-no acompanhado na medida das possibilidades. Se mais verbas tivessem, melhor faziam", esclarece.



O caso, segundo ela, ocorreu em meados de 2014.


Nessa altura, tentou inscrever o seu filho no Colégio de Santa Maria de Lamas, estabelecimento de ensino privado situado no concelho de Santa Maria da Feira que mantém um contrato de associação com o Estado no valor de quase seis milhões de euros anuais relativos a 74 turmas. Há dois anos, o seu filho, acabado de fazer o 4º ano, ia ingressar no 2º ciclo. Susana solicitou uma reunião à direção do colégio, uma vez que é residente na freguesia e, como tal, teria prioridade na inscrição. Diz ter abordado o assunto com a diretora Joana Vieira, sendo depois encaminhada para uma psicóloga e uma educadora especial. "Após verem os relatórios, sem margem para dúvidas, disseram-me que o colégio não tinha verbas para fazer a integração de meninos como o meu filho", relata. Foi então que, de acordo com a sua narrativa, lhe acabaram por sugerir a inscrição no agrupamento de escolas de Paços de Brandão, a pouco mais de dois quilómetros.

Artigo completo em Visão
 

terça-feira, 12 de julho de 2016

Foxconn troca 60 mil funcionários por robots.


  Fabricante taiwanesa é conhecida por ser fornecedora de grandes tecnológicas como a Apple ou a Samsung. 

 A multinacional taiwanesa Foxconn, conhecida por ser fornecedora de grandes fabricantes de tecnologia como a Apple ou a Samsung, substituiu 60 mil dos seus trabalhadores por robots na fábrica de Kushan.

 A empresa reduziu o número de trabalhadores de 110 mil para 50 mil funcionários nesta fábrica, segundo o jornal chinês South China Morning Post.

A empresa explicou que os novos robots vão realizar as tarefas mais mecânicas do processo de produção mas que os seus centros continuam com necessidade de trabalhadores que se dediquem à investigação e desenvolvimento. 

A Foxconn não especificou se os 60 mil trabalhadores receberam formação para realizar tarefas mais complexas e que se podiam continuar a trabalhar na empresa. 

A empresa, além de ser fornecedora de grandes tecnológicas, é conhecida pela falta de condições dadas aos seus funcionários, que trabalham longas horas, levando a um elevado número de suicídios embora tenham surgido promessas de progresso. 
 
 A substituição dos trabalhadores da Kushan não é apenas uma iniciativa da Foxconn. Há cerca de 600 grandes empresas nesta localidade que têm planos semelhantes, segundo autoridades locais citadas pelo jornal chinês.

 Kushan é a maior localidade de produção de computadores portáveis e recebe a sede de 4.800 empresas taiwanesas.   Um estudo do Forum Económico Mundial de Janeiro prevê que cinco milhões de empregos vão desaparecer até 2020, com as funções substituídas com robots.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Hospitais públicos pagaram 100 milhões aos privados para fazerem cirurgias



Nos últimos três anos, os hospitais públicos pagaram cerca de 100 milhões de euros em cirurgias e consultas feitas no privado para reduzir as listas de utentes à espera de procedimentos cirúrgicos, que poderiam ter sido feitos no sector público, caso o governo anterior não tivesse cedido aos fortíssimos lóbis da saúde privada, médicos e grupos económicos, sendo a saúde considerada já o cluster mais lucrativo do século XXI (a seguir ao tráfico e ao petróleo, claro!).

À semelhança do que acontece com o ensino, mas com certeza para pior, o Estado, através dos governos que o gerem, tem desinvestido nos serviços públicos de Saúde, congelamento das carreiras, não admissão de novos profissionais, reformas antecipadas até há algum tempo atrás, aumento do horário de trabalho (de 35 para 40 horas), corte no valor do preço hora e das horas complementares e extraordinárias, encerramento de serviços, para entregar aos tubarões da medicina privada muitos milhões para a realização de actos médicos e prestação de cuidados de saúde e exames complementares de diagnóstico que ele próprio tem competência e capacidade para realizar.

O boicote à realização de cirurgias e consultas por parte de alguns médicos, bem como a realização de exames complementares de diagnóstico, tem sido uma estratégia delineada e colocada em prática desde há muito, desde do tempo dos governos de Cavaco Silva/PSD, com a conivência activa das administrações hospitalares e que, nos últimos tempos, teve um desenvolvimento extraordinário com a abertura de clínicas privadas mesmo ao lado das instituições de saúde do estado, adoptando inclusivamente nomes muito semelhantes à daquelas, como aconteceu em Coimbra.

E também não será por acaso que se encontra em Coimbra a instituição pública que mais dinheiro tem dado a ganhar às clínicas privadas a fim de realizar aquilo que ela não pode ou não quer (vamos lá saber as razões exactas?). Foram mais de 2.500 cirurgias realizadas fora, com um custo total de 4,6 milhões de euros, e com mais de 14 mil inscritos. Coimbra lidera também as listas de espera, mais do que o Centro Hospitalar Lisboa Central que vem a seguir! Tem sido o fartar vilanagem!

Este problema facilmente seria resolvido desde que houvesse vontade política, coisa que este governo ainda não manifestou, bastava: separar o público do privado, quem trabalha no público não trabalha no privado (há médicos e até alguns enfermeiros que parecem ter o dom da ubiquidade!); rentabilizar os blocos operatórios, que estão na maior parte do tempo às moscas; responsabilizar pessoalmente os administradores hospitalares, parece que isso já existe mas só no papel; e... contratar mais profissionais de saúde, os necessários, seria até uma boa forma de combater o desemprego, e de forma indirecta subir os salários, e igualar por cima os contratos no privado, colocando-os a par dos da função pública; neste particular, os enfermeiros até agradeciam e um bom ponto de reflexão para os nossos "queridos" dirigentes sindicais!

DN: «Só em 2015, foram emitidos mais de 111 mil vales para operações no setor privado ou social, com um custo de 36 milhões de euros
Entre 2013 e 2015 os hospitais públicos gastaram cerca de cem milhões de euros em operações feitas fora do Serviço Nacional de Saúde (SNS), no setor privado ou social, através de vales-cirurgia, emitidos ao final de seis meses de o doente estar à espera. Só em 2015 foram emitidos mais de 111 mil vales que levaram à realização de 20 282 operações, com um custo de 36 milhões de euros. O ano terminou com perto de 194 mil utentes na lista de inscritos para cirurgia - mais dez mil do que 2014 - e 5972 doentes pendentes.

Os dados provisórios do Ministério da Saúde foram enviados ao Bloco de Esquerda numa resposta sobre o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC) nos últimos três anos e a que o DN teve acesso. Uns hospitais descem, outros sobem, mas no total a fatura e o número de operações feitas fora do SNS aumentou . "Acreditamos que se pode estabelecer uma relação com a saída dos profissionais mais diferenciados e a redução de serviços. Podem estar a deixar o SNS com menos capacidade e a enviar mais doentes para o privado. Não compreendemos que aconteça, porque o SNS tem capacidade instalada e é preciso aproveitá-la. É incompreensível que hospitais de fim de linha enviem imensos doentes para o privado", diz Moisés Ferreira, deputado do BE.

O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) é o que tem a fatura mais elevada e 2560 cirurgias realizadas fora. No final do ano tinham 14 mil inscritos na lista e 237 doentes pendentes. "Apenas 25% dos doentes aceitaram ser operados fora do CHUC. O valor faturado foi de 4,6 milhões de euros. O CHUC é dos hospitais com maior produção cirúrgica. Em 2015 foram feitas 65 735 cirurgias. Temos vindo a "aumentar a capacidade interna e a reduzir a emissão de vales-ci rurgia", refere. Quanto aos doentes pendentes, "são propostas cirúrgicas que estão em fase de avaliação clínica e/ou a aguardar exames e esclarecimentos adicionais", número que não consideram elevado dada a procura. (...)»