sábado, 26 de dezembro de 2015

Salário mínimo pago aos mais qualificados

Têxtil e construção são dos setores mais afetados pelos baixos salários, mas o fenómeno chega agora aos jovens licenciados.

 Os salários mais baixos deixaram de estar confinados aos setores tradicionais. Agora, os jovens licenciados vieram reforçar as estatísticas das remunerações mais débeis.

 A existência de salários mínimos entre os trabalhadores altamente qualificados tem a ver com o crescimento do desemprego. São muitas as empresas de informática e novas tecnologias que contratam os jovens que saem das universidades, muito bem preparados, e pagam-lhes o salário mínimo, ou por vezes menos, e sem horários... 

“No setor terciário, de serviços, onde não existe contratação coletiva, banalizou-se a chamada prestação de serviços. Isso sucede nas empresas de tecnologias de informação, com programadores, mas também na hotelaria e turismo, onde não há vínculos de trabalho e os ordenados são até inferiores ao salário mínimo nacional”... 

 A par desta nova realidade, os setores tradicionais, como o têxtil e a construção, continuam a ser dos que mais pagam o salário mínimo, como assinala o Banco Central Europeu no seu último boletim, onde dá igualmente conta de que o desemprego real é o dobro dos valores divulgados pelos países da União Europeia... 

  

sábado, 12 de dezembro de 2015

O caso bárbaro de Mohamed Suleiman

José Goulão
  

Poucos conhecerão as notícias abjectas sobre Mohamed Suleiman nestas horas em que tanto se fala de terrorismo, barbárie e selvajaria como contraponto à nossa superioridade civilizacional plena de virtudes e bênçãos divinas, provenham elas de entidades supremas ou dos não menos supremos mercados.

Não, Mohamed Suleiman não é nenhum dos bandidos armados que praticaram as chacinas de Paris ou Madrid ou Nova Iorque, ou decapitaram um qualquer “cidadão ocidental”; estes são os verdadeiros terroristas, assim definidos pelos lugares onde actuam e as vítimas que provocam, mas de que ninguém ouviria falar entre nós caso se ficassem pelos massacres simultâneos de centenas de sírios e iraquianos, previamente forçados a cavar as valas comuns para nelas partirem em busca da eternidade, porque isso era assunto lá entre eles, entre bárbaros, que não encaixa nos padrões exigentes e ilustrados de direitos humanos.

Mohamed Suleiman tem 15 anos, é um adolescente palestiniano de Hares, perto de Nablus, na Cisjordânia, detido numa masmorra israelita desde os 13 anos por “atirar pedras”, pecado gravíssimo porque cometido numa estrada reservada a colonos – a designação verdadeira, ocupantes, é politicamente incorrecta – exemplo das obras públicas israelitas que institucionalizam um civilizado regime de apartheid um quarto de século depois de o apartheid original ter sido extinto.

As autoridades israelitas foram buscar Mohamed Suleiman a casa há dois anos, não havendo qualquer flagrante a invocar, e mantiveram-no na cadeia até completar 15 anos. Torturaram-no, juntamente com mais quatro jovens, até confessarem o crime de “atirar pedras” e agora, que já tem idade para ser “julgado”, um tribunal militar israelita condenou-o a 15 anos de prisão por “25 tentativas de assassínio”, judiciosa versão da acusação original baseada no arremesso de calhaus; mas se a família não conseguir pagar uma multa de sete mil euros até 26 de Janeiro a pena transforma-se automaticamente em prisão perpétua. Como os parentes do garoto não têm esse dinheiro – vivem sob ocupação numa terra submetida à violência sádica e fundamentalista dos colonos, espoliados de todos os meios de sobrevivência pelo Estado de Israel - Mohamed Suleiman corre o sério risco de passar o resto dos seus dias que vão para lá dos 15 anos, idade dos sonhos para os adolescentes livres, numa masmorra às ordens dos civilizados esbirros ocupantes.

Esta é a história de Mohamed Suleiman. Ela não corre nos nossos tão informados telejornais, nos nossos periódicos ditos de referência, nas nossas rádios inundadas de cachas, apesar de tais meios não descansarem um segundo na denúncia do terrorismo, do terrorismo mau, pois claro, mas onde deveria caber, por simples misericórdia, um cantinho para Mohamed Suleiman, ao que parece insuspeito de ser do Estado Islâmico ou da Al-Qaida, cujos mercenários às vezes podem ser terroristas, outras nem tanto, depende.

Tão pouco a ONU, a UNICEF, a omnipresente e justiceira NATO, a democratíssima e vigilante União Europeia, tantos observatórios e organizações não-governamentais parecem conhecer a barbárie terrorista de que é vítima Mohamed Suleiman e os seus companheiros. Já me esquecia das boas razões para tal alheamento: Israel, tal como esse farol da democracia que é a Arábia Saudita e também a fraternal Turquia, agora às portas da União Europeia desde que sirva de tampão à entrada de refugiados na Europa, enquanto nutre bandos terroristas, são exemplos brilhantes de civilização e de respeito pelos direitos humanos. Os amigos e aliados jamais praticam terrorismo, tratam da nossa “segurança”.

O caso de que são vítimas Mohamed Suleiman e os cinco de Hares é um exemplo de terrorismo puro e duro, sem adjectivação porque o terrorismo é um fenómeno único, não existem terroristas bons ou maus, civilizados ou bárbaros. Mas esta é uma tese vinda dos bas-fonds da teoria da conspiração, não conta para a vida nos nossos dias.

Ainda sobram no mundo, porém, algumas organizações solidárias que, enquanto denunciam esta aberração selvática, procuram, para já, ajudar a reunir os sete mil euros necessários para tentar travar, no mínimo, a perpetuidade da prisão do jovem.

Quanto ao resto, a história de Mohamed Suleiman e tantas outras histórias que preenchem o quotidiano trágico de Jerusalém Leste, Cisjordânia e Gaza, as histórias de degredos, demolição de casas, assassínios selectivos, escolas e hospitais arrasados, asfixia económica, privação de água e energia, checkpoints e rusgas arbitrárias, muros e outras formas de segregação física e psicológica, mais não é do que exposição da hipocrisia terrorista pela qual se guia a chamada “comunidade internacional”.

Agora que a bandeira da Palestina, Estado fantasma, ondula junto ao palácio de vidro da ONU as boas consciências dos nossos civilizados e democráticos dirigentes sentem-se apaziguadas. Casos escabrosos de terrorismo como o de Mohamed Suleiman poderia, é certo, mascarar essa “paz” tão laboriosamente aparentada, mas que não haja problema: varre-se para o fundo dos tapetes da diplomacia e do desconhecimento, com a prestimosa colaboração do amestrado aparelho de propaganda.


Os Bárbaros 
08 de Dezembro 2015

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Greve Geral Nacional na Grécia de 3 de Dezembro de 2015



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No dia 3 de Dezembro 2015, dia de greve geral nacional, dezenas de milhares de trabalhadores de todos os sectores, desempregados, pensionistas, mulheres e jovens mobilizaram-se contra a liquidação da Segurança Social promovida pelo capital, pelo governo grego e pela União Europeia e contra a nova tormenta de impostos que serão carregados novamente às costas das camadas populares. Com a sua participação nas manifestações organizadas pela Frente Militante de todos os Trabalhadores (PAME) as massas grevistas apelaram aos trabalhadores e às camadas populares da sociedade grega para que participem num levantamento operário nacional “porque la segurança social não é um negócio, é um direito”.

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No comício central de Atenas, Spiros Marinis, membro doa Secretariado Executivo da PAME e do Conselho Executivo da Associação Nacional de Professores (DOE) mencionou as medidas anti-populares do governo SYRIZA-ANEL que continuam no caminho da destruição total da Segurança Social e chamou a atenção para as exigências do movimento sindical de classe:

  • Serviços de saúde exclusivamente gratuitos para todos. Contratação de milhares de trabalhadores do sector da saúde, com contratos permanentes segundo as necessidades reais. Abolição de toda actividade privada no sector da Saúde e na Segurança Social.
  • Sistema de Saúde e Segurança Social, de Medicina Preventiva e de Emergência, unitário, exclusivamente público e gratuito para todos, subsidiado exclusivamente por fundos estatais.
  • Cuidados médicos completos e gratuitos para todos os desempregados e para as suas famílias, sem mais condições e pre-requisitos.
  • Segurança Social obrigatória e pública para todos.
  • Nenhum corte mais nas pensões, recuperação das perdas nas pensões principais e secundárias ao nível de 2009. Restituição do direito às 13ª e 14ª pensões primárias e secundárias.
  • Idade de reforma aos 60 anos para os homens e aos 55 para as mulheres. Para aqueles que trabalham em Profissões Pesadas e Pouco Saudáveis, aos 55 e 50 respectivamente.
  • Que o Estado e os patrões cubram agora mesmo todas as perdas dos fundos de segurança social. Que paguem os que roubaram os fundos!
  • Trabalho permanente para todos com direitos plenos, contratação colectiva e segurança social.
Segundo Marinis, “esta é a nossa linha de choque, contra a resignação a uma vida de miséria” e apelou à organização da luta “para mudar a correlação de forças negativa de hoje em dia, para partir as nossas correntes de exploração e planificar o desenvolvimento económico que terá como objectivo a satisfação das necessidades populares modernas” (…)