quinta-feira, 23 de abril de 2015

Os Traços Fundamentais do Imperialismo

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A Passagem para o Imperialismo
O capitalismo pré-monopolista, em que domina a livre concorrência, atingiu o seu ponto mais alto de desenvolvimento nos anos de 60 a 70 do século passado. No decurso do último terço do século XIX, teve lugar a passagem do capitalismo pré-monopolista ao capitalismo monopolista.

capitalismo monopolista, ou imperialismo, é o estágio superior e último do capitalismo, cujo traço distintivo fundamental é a substituição da livre concorrência pelo domínio dos monopólios.

A passagem do capitalismo pré-monopolista ao capitalismo monopolista — ao imperialismo — foi preparada pelo desenvolvimento das forças produtivas, pela concentração da produção da sociedade burguesa.

O último terço do século XIX foi assinalado por grandes conquistas técnicas, pelo crescimento da indústria e por sua concentração. Alcançaram ampla aplicação na metalurgia novos métodos de fundição do aço (os processos de Bessemer, Martin e Thomas). A rápida difusão de novos tipos de motores — o motor de combustão interna, a turbina a vapor, o motor elétrico — acelerou o desenvolvimento da indústria e do transporte. Os êxitos da ciência e da técnica criaram a possibilidade da produção de energia elétrica em grande escala em usinas térmicas e, posteriormente, nas grandes centrais hidrelétricas. O emprego da energia elétrica levou a criação de uma série de novos ramos da indústria química e da metalurgia. Ampliou-se a aplicação de métodos químicos em muitos ramos e processos da produção. O aperfeiçoamento dos motores de combustão interna possibilitou o aparecimento e a difusão do transporte automobilístico e, depois, da aviação.

Em meados do século XIX, o lugar predominante na indústria dos países capitalistas ainda era ocupado pela indústria leve. Numerosas empresas de proporções relativamente pequenas pertenciam a proprietários isolados, sendo o peso específico das sociedades por ações comparativamente diminuto. A crise econômica de 1873 levou muitas dessas empresas a ruína e deu um forte impulso a concentração e centralização do capital. A indústria pesada passou a desempenhar o papel dominante na indústria dos principais países capitalistas — sobretudo a metalurgia e a construção de máquinas, assim como a indústria extrativa mineral, para cujo desenvolvimento eram necessários capitais gigantescos. A ampla difusão das sociedades por ações acelerou ainda mais a centralização do capital.

O capitalismo monopolista constituiu-se definitivamente no fim do século XIX e começo do século XX. A passagem ao capitalismo monopolista ocorreu em todos os países desenvolvidos. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento do imperialismo em diferentes países teve suas particularidades características. Assim, na Inglaterra o imperialismo adquiriu um caráter colonial manifesto, e, na França, um caráter usurário.

V.I. Lênin pertence o mérito histórico de haver empreendido a análise marxista do imperialismo como o estádio superior e, ao mesmo tempo, final do desenvolvimento do capitalismo, como a véspera da revolução socialista do proletariado. Em sua obra clássica O Imperialismo, Estádio Superior do Capitalismo e em uma série de outros trabalhos, escritos principalmente durante a Primeira Guerra Mundial, Lênin fez o balanço do desenvolvimento do capitalismo mundial durante o meio século transcorrido após a publicação de O Capital, de Marx. Apoiando-se nas leis do aparecimento, desenvolvimento e declínio do capitalismo, descobertas por Marx e EngelsLênin realizou uma profunda análise científica da essência econômica e política do imperialismo, de suas leis e de suas contradições insolúveis.
Segundo a definição clássica de Lênin, as características econômicas fundamentais do imperialismo são as seguintes:

“1) A concentração da produção e do capital, atingindo um grau tão alto de desenvolvimento que cria os monopólios, os quais desempenham papel decisivo na vida econômica; 2) A fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação, sobre a base deste “capital financeiro”, da oligarquia financeira; 3) A exportação do capital, diversamente da exportação de mercadorias, adquire uma significação particularmente importante: 4) Formam-se as uniões monopolistas internacionais de capitalistas, que dividem o mundo entre si; 5) Termina a divisão territorial do mundo entre as maiores potências capitalistas.”
A Concentração da Produção e os Monopólios. Os Monopólios e a Concorrência
A livre concorrência, que dominava na etapa pré-monopolista do capitalismo, condicionou o rápido processo de concentração da produção em empresas cada vez maiores. A ação da lei da concentração e centralização do capital conduziu inelutavelmente a vitória de um número reduzido de empresas grandes e muito grandes, em relação as quais milhões de pequenas e médias empresas desempenham um papel cada vez mais subordinado. Por sua vez, a concentração da produção preparou a passagem do domínio da livre concorrência para o domínio dos monopólios.

Na Alemanha, nas empresas da indústria, do comércio, dos transportes, etc., em que trabalhavam mais de 50 pessoas, estavam concentradas 22% de todos os operários e empregados, em 1882; 30% em 1895; 37% em 1907; 47,2% em 1925; 49,9% em 1939. Na Alemanha ocidental, em 1957, estavam concentradas nestas empresas 87,7% de todos os operários e empregados, e 37,5%, nas maiores empresas (com mil e mais pessoas ocupadas).
Nos Estados Unidos, em 1904, as maiores empresas, com a produção no valor de um milhão de dólares ou mais, constituíam O,9% do número total de empresas; nestas empresas estavam ocupados 25,6% do número total de operários e elas forneciam 38% da produção global da indústria. Em 1939, as maiores empresas, que constituíam 5,2% do número total, concentravam 55% dos operários ocupados e 67,5% da produção global da indústria. Um grupo ainda mais reduzido — 500 gigantescas corporações industriais dos Estados Unidos — produzia, em 1955, cerca de metade da massa total da produção industrial e obtinha 68% da massa total de lucros.
Na França, em 1954, mais de 48% dos salários foram pagos pelas maiores empresas, que constituíam apenas O,14% do número total de empresas.
A indústria da Rússia se distinguia por um alto grau de concentração. Na Rússia, em 1879, as grandes empresas (com mais de 100 operários) constituíam 4,4% de todas as empresas e concentravam 54,8% da soma total da produção. Em 1903, nas grandes empresas (com mais de 100 operários), concentravam-se 76,6% de todos os operários industriais; estas empresas produziam a maioria esmagadora da produção industrial.
A concentração da produção verifica-se mais rapidamente na indústria pesada e, particularmente, nos ramos industriais novos (química, eletrotécnica, automobilística, etc. ) retardando-se na indústria leve, na qual se conservam muitas pequenas e médias empresas.

Em determinado grau de seu desenvolvimento, a concentração da produção conduz em cheio ao monopólio. A grande envergadura da empresa dificulta a concorrência, torna-a particularmente destruidora por suas consequências e gera a tendência ao monopólio. Ao lado disso, é mais fácil chegar a acordo com algumas dezenas de empresas gigantes do que com centenas e milhares de pequenas empresas. Assim, a livre concorrência é substituída pelo monopólio.
A essência econômica do imperialismo consiste nessa mudança. Entre os países capitalistas, existem diferenças quanto as formas dos monopólios ou quanto a época do seu aparecimento, mas a geração dos monopólios pela concentração da produção é uma lei para todos os países no estádio contemporâneo do desenvolvimento do capitalismo.

Os monopólios são enormes empresas capitalistas ou uniões de empresas capitalistas, que concentram em suas mãos a parte mais importante da produção ou da venda de determinado produto, o que lhes dá a possibilidade de limitação da concorrência e do estabelecimento de altos preços monopolistas para as mercadorias. Com a venda das mercadorias por altos preços, os monopólios garantem a obtenção de altos lucros monopolistas.

São variadas as formas de organizações monopolistas. Já podem ser incluídos entre elas os acordos temporários sobre os preços de venda, que recebem diversas denominações: convenções, “corners”, “rings”, etc.. As formas fundamentais de monopólios são os cartéis, os sindicatos, os trustes e os consórcios.
Cartel é a união monopolista cujos participantes, conservando suas empresas na qualidade de unidades autônomas, entram em acordo sobre as condições de venda e os prazos de pagamento, dividem entre si os mercados de venda, determinam a quantidade de mercadorias produzidas, estabelecem preços. A quantidade de mercadorias que cada participante do cartel tem o direito de produzir e vender denomina-se quota; a violação das quotas acarreta o pagamento de multas a caixa do cartel.
Sindicato é a associação monopolista de empresas autônomas, na qual a venda de mercadorias, e por vezes também a compra de matérias-primas, realizam-se através de um escritório geral.
Truste é o monopólio em que a propriedade de todas as empresas foi unificada e seus proprietários se tornaram sócios, que recebem os lucros de acordo com O número de quotas ou ações pertencentes a cada um. a frente do truste encontra-se uma diretoria, que dirige toda a produção, a venda dos produtos e as finanças das empresas anteriormente autônomas. Frequentemente, os trustes ingressam em uniões mais amplas — os consórcios.
Consórcio é a unificação de uma série de empresas de diferentes ramos da indústria, firmas comerciais, bancos, companhias de transportes e de seguros, a base da dependência financeira comum em relação a determinado grupo de grandes capitalistas, que possui o controle sobre todas as empresas pertencentes ao consórcio.

Os monopólios ocupam os postos dominantes na economia dos países capitalistas. Abarcaram a indústria pesada e também muitos ramos da indústria leve, o transporte ferroviário e marítimo, o comércio interno e externo, os bancos, os negócios de seguros, estabeleceram seu domínio sobre a agricultura.

Na siderurgia dos Estados Unidos dominam oito monopólios, sob cujo controle se encontravam, em 1956, 82% de toda a capacidade produtiva de aço do país; entre eles, os dois maiores — o truste United States Steel e a corporação Bethlehem Steel — dispunham de 50% de toda a capacidade produtiva. O monopólio mais antigo dos Estados Unidos é o truste de petróleo Standard Oil, que explora a riqueza petrolífera de dezenas de países. Três firmas possuem importância decisiva na indústria automobilística: a General Motors, a Ford e a Chrysler. Na indústria eletrotécnica ocupam posição dominante duas firmas: a General Electric e a Westinghouse. A indústria química é controlada, em grande medida, pelo consórcio Dupont de Nemours, e a de alumínio, pelo consórcio Mellon. No período posterior a Segunda Guerra Mundial, aumentou particularmente a importância dos consórcios que ocupam as posições principais na produção de armamentos, sobretudo da arma atômica: General Motors, General Electric e outros.
Na Inglaterra, O papel das uniões monopolistas cresceu particularmente após a Primeira Guerra Mundial, quando surgiram os cartéis nas indústrias têxtil e carbonífera, na siderurgia e em uma série de novos ramos da indústria. O truste químico inglês controla cerca de nove décimos de toda a produção da indústria química básica e quase toda a produção de material explosivo, tintas e azoto no país. É estreitamente ligado com os ramos mais importantes da indústria inglesa e, em particular, com os consórcios bélicos. Desempenham grande papel os monopólios especializados na exploração das colônias, sobretudo o consórcio Unilever. Os monopólios petrolíferos Royal Dutch Shell e British Petroleum (até 1954 denominava-se companhia de petróleo Anglo-Iraniana) possuem explorações petrolíferas e participam da extração de petróleo numa série de países do Oriente Próximo e Médio, do sudeste da Ásia e da América Latina.
Na Alemanha, os cartéis conseguiram ampla difusão a partir do fim do século passado. No período entre as duas guerras mundiais, dominavam na economia do país o truste do aço (Vereinigte Stahlwerke), que possuía cerca de 200 mil operários e empregados. O truste químico (Interessen-Gemeinschaft Farbenindustrie), com 100 mil operários e empregados, os monopólios da indústria carbonífera, o consórcio de canhões Krupp, os consórcios eletrotécnicos, Companhia Geral de Eletricidade e Siemens. Na Alemanha ocidental, 74% de todo o capital das sociedades anônimas pertenciam, em 1952, as grandes sociedades anônimas (com mais de 10 milhões de marcos de capital). Em 1955, sua parte no total do capital das sociedades anônimas aumentou para 80%. Na indústria mineira, pertencem as grandes empresas 90% do capital das sociedades anônimas; 81% na siderurgia; 99% na indústria petrolífera. Na indústria eletrotécnica, oito grandes companhias possuem 82% do capital em ações. as maiores dentre elas — a Companhia Geral de Eletricidade e a Siemens —, juntamente com as firmas que se encontram sob seu controle, pertencem 75% de todo o capital em ações da indústria eletrotécnica.
Na França, atualmente, toda a produção de alumínio está concentrada nas mãos de uma companhia. Uma firma controla 80% de toda a produção de tintas. Três companhias controlam: 75% da construção naval; 72% da indústria de cimento; 90% da produção de pneumáticos; 65% da indústria de açúcar. Nas empresas de quatro companhias, em 1953, teve lugar a produção de 93% dos automóveis. Cinco grandes companhias detêm em suas mãos: 70 a 75% de toda a produção de aço, 90% da indústria de refino do petróleo.
Na Itália, no Japão, e mesmo em países pequenos como a Bélgica, a Suécia e a Suíça, as organizações monopolistas ocupam os postos dominantes na indústria.
Na Rússia anterior a revolução, os grandes monopólios abarcavam os principais ramos da indústria pesada. O sindicato Prodamet (união para a venda dos produtos das empresas metalúrgicas), surgido em 1902, administrava as vendas de mais de quatro quintos do metal. Em 1904, foi organizado o sindicato Prodvagon, que monopolizava quase inteiramente a produção e a venda de vagões. O sindicato Produgol abarcava três quartos de toda a extração de carvão do Donbass.

Os economistas burgueses, tentando embelezar o capitalismo contemporâneo, afirmam que a difusão dos monopólios supostamente liberta o regime burguês de males como a concorrência, a anarquia da produção, as crises. Na realidade, o domínio dos monopólios não somente não pode eliminar a concorrência, a anarquia da produção, as crises, como aguça ainda mais todas as contradições do capitalismo.

Lênin indicava que o imperialismo não pode reconstruir o capitalismo de cima a baixo. Ao lado do papel dominante dos monopólios, em todos os países conservam-se numerosas empresas capitalistas médias e pequenas e massas de pequenos produtores — camponeses e artesãos. O monopólio, que se forma numa série de ramos da produção, aumenta o caos inerente a toda a economia capitalista em seu conjunto.

“Os monopólios, surgindo da livre concorrência, não a eliminam, mas existem acima dela e ao lado dela, gerando, desse modo, uma série de contradições, atritos e conflitos particularmente agudos e violentos.”

Em primeiro lugar, a concorrência não cessa dentro dos monopólios. Os participantes dos sindicatos e dos cartéis lutam entre si por mercados mais vantajosos, por uma parte (quota) maior na produção e na venda. Nos trustes e consórcios, trava-se a luta pelos postos dirigentes, pelo lote de ações que controla a sociedade, pela distribuição dos lucros.

Em segundo lugar, realiza-se a concorrência entre, os monopólios: tanto entre os monopólios do mesmo ramo como entre os monopólios de diferentes ramos, quando um fornece mercadorias a outro (por exemplo, entre os trustes siderúrgico e automobilístico), ou quando produzem mercadorias que podem ser substituídas umas pelas outras (carvão, petróleo, energia elétrica). Nas condições de uma capacidade limitada do mercado interno, os monopólios que produzem artigos de consumo travam uma luta encarniçada pela venda de suas mercadorias.

Em terceiro lugar, a concorrência se realiza entre os monopólios e as empresas não monopolistas. Os ramos monopolizados acham-se numa situação privilegiada em relação aos outros ramos. Os monopólios adotam todas as medidas para o estrangulamento das empresas “marginais”, “selvagens”, que não ingressam nas uniões monopolistas. Apropriando-se de parte da mais-valia dos ramos e empresas não monopolizados, os monopólios elevam seus lucros.

Ao lado disso, o domínio dos monopólios confere a luta de concorrência proporções particularmente amplas e uma extrema agudeza. Estendeu-se em enorme medida a esfera dessa luta. Na etapa pré-monopolista do capitalismo, a luta de concorrência se travava quase exclusivamente em torno da venda de mercadorias e, além disso, principalmente dentro do mercado nacional limitado dos países, tomados por separado. Na etapa monopolista do capitalismo, a luta de concorrência se trava no mercado capitalista mundial e, a par disso, não somente em torno da venda de mercadorias, mas também pelas fontes de matérias-primas e pelas esferas de aplicação de capital.

Os meios e métodos de luta de concorrência empregados pelos monopólios revestem-se de um caráter particularmente agudo e destruidor. Para estrangular o adversário, os monopolistas põem em prática todos os processos possíveis de violência direta, de suborno e de chantagem, recorrem a maquinações financeiras complexas, utilizam amplamente o aparelho do Estado.

O desenvolvimento dos monopólios significa uma enorme socialização da produção. Mas os frutos dessa socialização caem nas mãos de alguns monopolistas, cujo domínio sobre o resto da população torna-se particularmente opressivo. Verifica-se um maior aprofundamento da contradição fundamental do capitalismo — a contradição entre o caráter social da produção e a forma capitalista privada da apropriação — e, em consequência disso, as crises se tornam ainda mais devastadoras.

Os apologistas dos monopólios, que difundem a teoria do “capitalismo popular”, baseiam-se em que, mesmo nos países capitalistas mais desenvolvidos, ao lado dos monopólios existe uma grande quantidade de pequenas e médias empresas na esfera da indústria e do comércio. Os fatos demonstram, porém, que milhões de pequenas empresas, existentes ao lado de poucas empresas gigantes, vivem sob o pavor constante da morte e da ruína. Assim é que nos Estados Unidos, no período de 1945 a 1950, surgiram cerca de 2,6 milhões de pequenas empresas, mas pereceram acima de 1,8 milhões. Em cada dezena de novas empresas pequenas, três habitualmente subsistem menos de um ano, duas vivem não mais de dois anos, e uma ou duas conseguem durar quatro anos. Somente um quarto delas logra sobreviver seis ou mais anos; apenas poucas empresas pequenas são transferidas aos filhos ou aos netos de seus fundadores.
A Concentração e os Monopólios na Esfera Bancária. O Novo Papel dos Bancos
Não se pode ter uma compreensão suficientemente completa sobre a força real e a importância dos monopólios atuais, se não se der atenção ao papel dos bancos. Nos negócios bancários, como na indústria, realiza-se a concentração do capital e a passagem da livre concorrência ao monopólio.

Inicialmente os bancos serviam, principalmente, como intermediários nos pagamentos. Com o desenvolvimento do capitalismo, ampliou-se a atividade dos bancos como comerciantes de capital. A acumulação de capital e a concentração da produção na indústria levaram a centralização nos bancos de enormes meios monetários livres, a procura de aplicação lucrativa. Cresceu continuamente a parte dos grandes bancos na massa geral dos giros bancários.

A concentração nos negócios bancários, do mesmo modo que na indústria, conduz ao monopólio. Mediante a compra de ações, a concessão de créditos, etc., os maiores bancos submetem os pequenos. Tendo conquistado uma posição monopolista, os grandes bancos concluem acordos entre si para a divisão das esferas de influência. Formam-se as uniões monopolistas de bancos. Cada uma dessas uniões comanda dezenas, as vezes centenas de bancos menores, que na prática se tornam filiais dos grandes. Por meio do desenvolvimento da rede de sucursais, os grandes bancos reúnem em suas caixas os meios de grande número de empresas. Quase lodo o capital monetário da classe dos capitalistas e a poupança de outras camadas da população ficam a disposição de pequenos grupos de negocistas bancários.

Nos Estados Unidos, 20 maiores bancos possuíam, em 1900, 15% da soma total dos depósitos de todos os bancos do país; 19% em 1929; 27% em 1939; e 29% em 1952. Na Inglaterra, a soma dos balanços de cinco maiores bancos constituía, em 1900, 28% da soma total dos balanços de todos os bancos de depósito ingleses; 37% em 1916, 73% em 1929, e 79% em 1952. Na França,seis bancos de depósitos em 1952 possuíam 66% da soma total dos depósitos de todos os bancos franceses. Em 1954, naAlemanha ocidental, apenas três maiores bancos dispunham de 59% dos depósitos de todos os bancos de crédito.

A concentração da indústria e a formação dos monopólios bancários conduzem a modificação essencial das inter-relações entre os bancos e a indústria. Com o aumento das proporções das empresas, adquirem importância cada vez maior os grandes créditos a longo prazo, concedidos pelos bancos aos capitalistas industriais. O crescimento da massa de depósitos que se encontra a disposição dos bancos abre amplas possibilidades para essa aplicação a longo prazo dos recursos dos bancos na indústria.

A forma mais difundida de colocação dos recursos monetários dos bancos na indústria é a compra de ações de diversas empresas. Os bancos contribuem para a formação de sociedades por ações, tomando a si a reorganização de empresas de capitalistas isolados sob a forma de sociedades anônimas e a criação de novas sociedades anônimas (incorporação). A venda e a compra de ações se realizam, em escala cada vez maior, por intermédio dos bancos.

Os interesses dos bancos e das empresas industriais entrelaçam-se cada vez mais estreitamente. Quando um banco financia algumas grandes empresas de determinado ramo, está interessado no acordo monopolista entre elas e contribui para tal acordo. Por este meio, os bancos fortalecem e aceleram, muitas vezes, o processo de concentração e centralização do capital e a formação dos monopólios.

A transformação dos bancos, de simples intermediários, num punhado de monopolistas onipotentes, constitui um dos processos fundamentais de transformação do capitalismo da época da livre concorrência em capitalismo monopolista.
O Capital Financeiro e a Oligarquia Financeira
Como resultado do fato de que os bancos se tornam coproprietários de empresas industriais, comerciais e de transportes, ao adquirirem suas ações e obrigações, e os monopólios industriais, por sua vez, possuem ações dos bancos a eles ligados, verifica-se o entrelaçamento, a união dos capitais monopolistas bancário e industrial. Surge um novo tipo de capital — o capital financeiro.

capital financeiro é o capital unificado dos monopólios bancários e industriais. A época do imperialismo é a época do capital financeiro.
Ao definir o capital financeiro, Lênin assinalou três aspectos mais importantes:

“A concentração da produção; os monopólios dela decorrentes; a fusão ou a união dos bancos com a indústria — eis a história do aparecimento do capital financeiro e o conteúdo deste conceito.”

A união do capital bancário com o capital industrial manifesta-se claramente sob a forma da união pessoal dos dirigentes dos monopólios bancários e industriais. As mesmas pessoas encabeçam as grandes uniões monopolistas nos negócios bancários, na indústria, no comércio e em outros ramos da economia capitalista.

Na Alemanha, antes da Primeira Guerra Mundial, seis maiores bancos berlinenses possuíam seus prepostos como diretores de 344 empresas industriais e como membros da administração em mais 407, ou seja, ao todo, em 751 sociedades. Por outro lado, nos órgãos dirigentes destes seis bancos encontravam-se 51 grandes industriais. Posteriormente, esta união pessoal atingiu um desenvolvimento ainda maior. Em 1932, pertenciam aos órgãos dirigentes dos três principais bancos berlinenses 70 grandes representantes da indústria. Nos Estados Unidos, em 1950, um pequeno grupo de 400 industriais e banqueiros ocupava um terço dos 3 705 postos dirigentes nas 250 maiores corporações (sociedades anônimas), que possuíam 42% de todos os capitais do país.

O capital financeiro submete cada vez mais não somente a indústria, mas também a agricultura. São variadas as formas desta submissão. Em todos os países capitalistas, realiza-se a união dos monopólios bancários com a grande propriedade territorial. Em escala crescente, os bancos concentram em suas mãos a propriedade da terra. A especulação com terrenos, particularmente nos arredores das cidades que crescem com rapidez, é uma das operações altamente lucrativas do capital financeiro. A revenda de terrenos por elevados preços monopolistas enriquece os bancos e os grandes proprietários. O sistema de crédito hipotecário dá aos bancos a possibilidade de arruinar os pequenos e médios proprietários e concentrar em seu poder as terras a eles pertencentes. O capital bancário entrelaça-se estreitamente com as organizações monopolistas no terreno da produção, do transporte e da venda dos produtos agrícolas.

Em cada país capitalista, um punhado de grandes banqueiros e industriais monopolistas tem em suas mãos todos os ramos vitalmente importantes da economia, dispondo da maioria esmagadora da riqueza social. A gestão dos monopólios capitalistas inevitavelmente se converte no domínio da oligarquia financeira (a palavra grega “oligarquia” significa literalmente “domínio de poucos”).

O domínio da oligarquia financeira no terreno econômico realiza-se antes de tudo por meio do chamado “sistema de participação”. Este sistema consiste em que um grande homem de negócios ou um grupo de homens de negócios tem em suas mãos a sociedade anónima fundamental (“sociedade-mãe”), que encabeça o consórcio; esta sociedade, por sua vez, possuindo o lote de ações, que assegura o controle, domina as “sociedades-filhas”, dependentes dela; estas, por meio análogo, administram as “sociedades-netas”, e assim por diante. Por meio deste sistema os negocistas financeiros têm a possibilidade de dispor de enormes somas de capital alheio.

Com a ajuda de um sistema de participação amplamente ramificado, oito maiores grupos financeiros dos Estados Unidos — Morgan, Rockefeller, First National City Bank, Dupont, Mellon, Cleveland, Chicago e Bank of America — ocupam posição dominante em toda a economia do país. A soma dos ativos controlados por estes oito grupos financeiros, segundo dados de 1955, era igual a 218,5 bilhões de dólares. Desta forma, 65,3 bilhões pertenciam ao grupo Morgan, £1,4 bilhões a Rockefeller, e 22 bilhões de dólares ao grupo de Chicago.

A oligarquia financeira, desfrutando um monopólio de fato, obtém massas imensas de lucros, que crescem rapidamente, como resultado da incorporação (isto é, da criação de sociedades anônimas), da emissão de ações e obrigações, da colocação de empréstimos estatais, de encomendas vantajosas do Estado. O capital financeiro, concentrado em poucas mãos, extrai um tributo cada vez maior da sociedade.

A oligarquia financeira domina também no terreno político. A política interna e externa dos governos burgueses serve aos interesses egoístas dos grandes monopólios.
A Exportação de Capital
O capitalismo pré-monopolista, em que dominava a livre concorrência, se caracterizava pela exportação de mercadorias. O capitalismo imperialista, em que dominam os monopólios, caracteriza-se pela exportação de capital.

O traço distintivo característico do capitalismo é o crescimento das trocas, tanto no interior de cada país, como, particularmente, das trocas internacionais. Na época do imperialismo, o comércio internacional se amplia ainda mais, porém a exportação de capital começa a desempenhar um papel particularmente importante.

exportação de capital para o exterior realiza-se com o objetivo de obter elevados lucros monopolistas. Ela se verifica sob duas formas fundamentais: ou por meio da concessão de empréstimos a governos, cidades ou bancos de outros países, ou por meio da criação, no estrangeiro, de empresas industriais, comerciais e bancárias, concessões, construção de estradas-de-ferro, e também pela compra a preço ínfimo de empresas já existentes nos países debilitados (como consequência das guerras, por exemplo).

A exportação de capital é condicionada, em primeiro lugar, pelo domínio dos monopólios em todos os países de capitalismo desenvolvido e, em segundo lugar, pela situação monopolista de alguns países mais ricos, nos quais a acumulação de capital atingiu imensas proporções. Nestes países, no limiar do século XX, surgiu um vultoso “excedente de capital”.

O “excedente de capital” nos países capitalistas desenvolvidos possui caráter relativo, pois nestes países o baixo nível de vida das massas torna-se um obstáculo para o crescimento ulterior da produção, aumenta o atraso da agricultura em relação a indústria e, em geral, a desigualdade de desenvolvimento dos diversos ramos da economia. Se o capitalismo pudesse eliminar a oposição entre a cidade e o campo, elevar o nível de vida das massas trabalhadoras, então não se poderia falar de nenhum “excedente de capital”. Mas, então, o capitalismo não seria capitalismo, uma vez que tanto a desigualdade de desenvolvimento como o baixo nível de vida das massas da população constituem condições e premissas básicas desse modo de produção.

“A necessidade de exportação do capital é criada pelo fato de que, em alguns países, o capitalismo “amadureceu demais” e faltam ao capital (nas condições do atraso da agricultura e da pobreza das massas) possibilidades de colocação “lucrativa.”

Em busca de altos lucros, o capital “excedente” aflui ao exterior. O capital é exportado preferentemente para os países atrasados, nos quais há poucos capitais, os salários são baixos, a matéria-prima barata e o preço da terra relativamente pouco elevado. Nestes países, o capital monopolista tem a possibilidade de obter, e realmente obtém, enormes lucros. A exportação de capital está estreitamente ligada com o crescimento da exportação de mercadorias: os monopólios que exportam capital, habitualmente impõem ao país-devedor suas mercadorias a preços vantajosos para os monopólios. Os monopólios estrangeiros apoderam-se dos mercados de venda e das fontes de matérias-primas dos países devedores.

Além dos países atrasados, o capital é exportado também para os países industrialmente desenvolvidos. Isto ocorre nos períodos de desenvolvimento particularmente acelerado destes países, os quais suscitam a necessidade da afluência de capitais do exterior (por exemplo, os Estados Unidos antes da Primeira Guerra Mundial), ou então nas condições de debilitamento desses países, provocado pela guerra (a Alemanha, depois da Primeira Guerra Mundial, os países capitalistas da Europa ocidental, depois da Segunda Guerra Mundial).

Os economistas e políticos burgueses apresentam a exportação de capital como se fosse “ajuda” e “benefício” prestado aos povos atrasados pelos países capitalistas desenvolvidos. Na realidade, a exportação de capital, ao acelerar o desenvolvimento das relações capitalistas nos países atrasados, conduz simultaneamente a escravização e a pilhagem desses países pelos monopólios estrangeiros. A exportação de capital é um dos fundamentos do sistema de opressão imperialista, com o qual alguns ricos países usurários exploram a maior parte do mundo. Como consequência da exportação de capital, o mundo se divide em um punhado de Estados usurários e a maioria gigantesca de Estados devedores.

A exportação de capital tem sérias consequências também para os países, que exportam capital. Estes países, por um lado, multiplicam sua riqueza e fortalecem suas posições no mercado mundial. Eles conseguem uma afluência constante de mais-valia, provinda do exterior, sob a forma de juros de empréstimos ou de lucros das empresas no estrangeiro. Por outro lado, a exportação de capital conduz a um certo estorvo no desenvolvimento dos países que exportam capital, porquanto limita a possibilidade de expansão das inversões de capital dentro do país. Um dos resultados importantes da exportação de capital é o crescimento da rivalidade entre as potências, a luta pelas esferas mais vantajosas de aplicações de capital.

Antes da Primeira Guerra Mundial, os principais países exportadores de capital eram a Inglaterra, a França e a Alemanha. Suas inversões de capital no exterior atingiam 175 a 200 bilhões de francos: a Inglaterra, de 75 a 100 bilhões; a França, 60 bilhões; a Alemanha, 44 bilhões de francos. A exportação de capital dos Estados Unidos ainda não desempenhava um grande papel, constituindo menos de 10 bilhões de francos.
Depois da guerra de 1914/1918, ocorreram grandes modificações na exportação mundial de capital. A Alemanha perdeu seus capitais no exterior. Reduziram-se consideravelmente as inversões de capital da Inglaterra e da França no exterior, e a exportação de capital dos Estados Unidos aumentou grandemente.
Após a Segunda Guerra Mundial, em 1949, as inversões norte-americanas de capital no exterior superavam o total das inversões de capital de todos os demais países capitalistas, tomados em conjunto. A soma total dos capitais norte-americanos invertidos no exterior cresceu de 11,4 bilhões de dólares em 1939 para 49,5 bilhões de dólares em 1956. As inversões norte-americanas de capital, dirigidas aos países subdesenvolvidos da América Latina e do Oriente Médio, produzem lucros gigantescos. Assim, na década de 1946/1955, os lucros obtidos pelas inversões de capital norte-americano na América Latina atingiram cerca de 7 bilhões de dólares. Nos mesmos dez anos, as novas inversões de capital dos Estados Unidos na América Latina chegaram a 2 bilhões de dólares e, juntamente com a aplicação de parte dos lucros, as inversões norte-americanas de capital nessa região aumentaram em 3,6 bilhões de dólares.
A Divisão Econômica do Mundo entre as Alianças de Capitalistas. Os Monopólios Internacionais
À medida em que cresce a exportação do capital, a medida em que se ampliam os laços e as “esferas de influência” dos grandes monopólios no exterior, criam-se condições para a divisão do mercado mundial entre eles. Formam-se os monopólios internacionais.

Os monopólios internacionais são acordos entre os maiores monopólios de diferentes países sobre a divisão de mercados, a política de preços, as proporções da produção. A formação dos monopólios internacionais significa um novo grau da concentração e centralização da produção e do capital, incomparavelmente mais elevado do que os precedentes. Muitos monopólios internacionais são criados com a participação ativa dos Estados capitalistas, constituindo um dos principais meios de sua expansão econômica.

Lênin indicava que, na época do capital financeiro, os monopólios privados e estatais entrelaçam-se e unificam-se, uns e outros constituem apenas elos particulares da luta imperialista pela divisão do mundo.

Os defensores dos monopólios internacionais esforçam-se por apresentá-los como instrumento de paz, assegurando que os acordos internacionais monopolistas podem conciliar, por meios pacíficos, as contradições que surgem entre os grupos e países imperialistas. Semelhantes afirmações nada têm de comum com a realidade.

Com efeito, a divisão econômica do mundo pelos monopólios internacionais se realiza de acordo com o poderio de cada uma das partes, e a força dos grupos monopolistas modifica-se. Cada um deles luta continuamente pela elevação de sua quota, pela ampliação da esfera de exploração monopolista. As mudanças na correlação de forças acarretam inevitavelmente o agravamento da luta pela redivisão dos mercados, o agravamento das contradições entre os diferentes grupos e os Estados que os apoiam. Os acordos internacionais de monopolistas distinguem-se pela instabilidade e encerram a fonte de conflitos inevitáveis.

Os monopólios internacionais começaram a surgir nas décadas de 60 a 80 do século XIX. No fim do século passado, não havia mais de 40. as vésperas da Primeira Guerra Mundial, existiam em todo o mundo cerca de 100 cartéis internacionais, e, antes da Segunda Guerra Mundial, mais de 300.
Ainda antes da Primeira Guerra Mundial, o mercado petrolífero estava repartido de fato entre o truste americano Standard Oil, pertencente a Rockfeller, e o consórcio Royal Dutch Shell, sob a influência predominante do capital inglês. O mercado de produtos eletrotécnicos estava dividido entre duas firmas monopolistas: a Companhia Geral de Eletricidade, alemã, e a General Electric Corporation, norte-americana, controlada pelo grupo Morgan.
Os acordos monopolistas internacionais abarcavam até mesmo uma esfera como a produção de armamentos. As maiores firmas que fabricavam material bélico — a Armstron-Vickers, na Inglaterra; a Schneider-Creusot, na França; a Krupp, na Alemanha; a Bofors, na Suécia — estavam ligadas entre si por muitos fios durante um período prolongado.
Os monopólios internacionais desempenharam um grande papel na preparação da Segunda Guerra Mundial. Os maiores monopólios dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França, ligados por acordos cartelizadores com os trustes alemães, inspiraram e orientaram a política dos círculos dirigentes desses países — política de estímulo e instigação a agressão hitlerista, que levou a guerra.
Depois da Segunda Guerra Mundial, surgiram grandes monopólios internacionais, dos quais participam diretamente vários Estados. Entre tais monopólios se encontra, particularmente, a chamada Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, de que fazem parte a República Federal Alemã, a França, a Itália, a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo.
A Conclusão da Divisão Territorial do Mundo entre as Grandes Potências e a Luta pela sua Redivisão
Juntamente com a divisão econômica do mundo entre as alianças de capitalistas, e em ligação com ela, realiza-se a divisão do mundo entre os Estados imperialistas, a luta pela conquista de terras alheias, a luta pelas colônias e semi- colônias.

Denominam-se colônias os países privados de independência estatal e que constituem possessões dos Estados-metrópoles imperialistas. Ao lado das colônias, na época do imperialismo, existem diferentes tipos de países semicoloniais e dependentes. São países subdesenvolvidos, objeto de exploração colonial por parte das potências imperialistas, e que se encontram sob dependência econômica e política desses Estados, mas conservam uma independência formal.

“São típicos dessa época não apenas dois grupos fundamentais de países: os que possuem colônias e as colônias, mas também diversas formas de países dependentes, politicamente independentes do ponto de vista formal, porém, na realidade, emaranhados numa rede de dependência financeira e diplomática.”

No curso de sua expansão por todo o mundo, o capitalismo engendrou a tendência a aproximação econômica de países separados, a liquidação do isolamento nacional e a unificação gradual de imensos territórios em um todo interligado. A escravização das colônias e dos países dependentes pelas potências imperialistas é o processo por meio do qual o capitalismo monopolista realiza a unificação econômica gradual de enormes territórios. Esta unificação se realiza por meio da criação dos impérios coloniais, baseados na opressão e na exploração impiedosa dos países coloniais e dependentes pelas metrópoles.

No período do imperialismo, chega a conclusão a formação do sistema capitalista de economia mundial, que se baseia em relações de dependência dos países fracos para com os fortes, em relações de domínio e subordinação. Por meio da crescente exportação de capital, da ampliação das “esferas de influência” e das conquistas coloniais, os países imperialistas submeteram ao seu domínio os povos das colônias e dos países dependentes.

“O capitalismo transformou-se em um sistema mundial de opressão colonial e asfixia financeira da imensa maioria da população da terra por um punhado de países “avançados.”

Deste modo, as economias nacionais se converteram em elos de uma só cadeia, da chamada economia mundial. Juntamente com isso, o mundo dividiu-se em um pequeno grupo de países imperialistas, que exploram e oprimem os países coloniais e dependentes, e a imensa maioria de países coloniais e dependentes, cujos povos travam a luta pela sua libertação do jugo do imperialismo.

Os defensores da burguesia representam o domínio imperialista nas colônias sob a forma de uma “missão civilizadora”, que teria como objetivo conduzir os povos atrasados ao caminho do progresso e do desenvolvimento independente.

Na realidade, entretanto, o imperialismo condena os países coloniais e dependentes ao atraso econômico, e centenas de milhões de habitantes desses países a opressão e a escravização, a falta de direitos e a miséria, a fome e a ignorância, em escala sem precedentes. A conquista das colônias pelas potências imperialistas leva a um agravamento extremo da opressão nacional e da discriminação racial. Segundo a caracterização de Lênin, o capitalismo na etapa imperialista deixou de ser um libertador de nações, como havia sido no período da luta contra o feudalismo, e converteu-se em um opressor monstruoso de nações.

No começo do século XX, a divisão do mundo havia terminado. A política colonial dos países capitalistas levou a conquista de todas as terras não ocupadas pelos imperialistas. Não restando mais terras “livres”, criou-se uma situação em que cada nova conquista pressupõe a tomada de territórios do seu possuidor. A conclusão da divisão do mundo colocou na ordem-do-dia a luta pela sua redivisão.

A luta pela redivisão do mundo já dividido é um dos traços distintivos fundamentais do capitalismo monopolista. Esta luta, em última instância, toma a forma de luta pelo domínio do mundo. Nisto reside a base económica para a gestação das guerras, a qual subsiste, enquanto existir o imperialismo. As guerras foram inevitáveis durante todo o período em que o imperialismo constituiu um sistema único dominante, e as forças sociais contrárias a guerra eram insuficientemente organizadas e potentes para opor uma resistência activa aos esforços imperialistas no sentido de desencadear a guerra.

As guerras imperialistas e a corrida armamentista acarretam para os povos de todos os países capitalistas imensas privações e custam milhões de vidas humanas. Ao lado disso, as guerras e a militarização da economia constituem fonte de renda para os monopólios, proporcionando-lhes lucros particularmente elevados.
A Ação da Lei Econômica Fundamental do Capitalismo no Período do Imperialismo
Como já foi dito, a substituição da livre concorrência pelo domínio dos monopólios gera novos aspectos, que distinguem o período do imperialismo do período do capitalismo pré-monopolista. Estes novos aspectos do imperialismo surgiram como desenvolvimento e continuação das propriedades fundamentais do capitalismo em gerai. A passagem ao imperialismo não anula as leis do capitalismo, mas apenas modifica sua ação. Nas obras de Lênin, dedicadas a descoberta da essência do imperialismo, estão indicadas as particularidades da ação das leis económicas do capitalismo na sua etapa monopolista de desenvolvimento.

“O imperialismo — escreveu V.I. Lênin —, na realidade, não reconstrói e não pode reconstruir o capitalismo de cima a baixo. O imperialismo complica e aguça as contradições do capitalismo, “mistura” os monopólios com a livre concorrência, mas não pode eliminar a troca, o mercado, a concorrência, as crises, etc..”

A lei económica fundamental do capitalismo — a lei da mais-valia — atua em todas as etapas do capitalismo. Na etapa do imperialismo, como decorrência do domínio dos monopólios, ela alcança um ulterior desenvolvimento. Sabe-se que, na sociedade capitalista, o lucro representa uma forma modificada da mais-valia. A caça ao lucro mais elevado é um traço característico do capitalismo. No período do capitalismo pré-monopolista, a lei do lucro médio possui uma importância dominante. Cada capitalista isolado esforça-se por obter o super-lucro — um excedente acima do lucro médio. Mas a livre concorrência não oferece a possibilidade de manter esse super lucro durante um período prolongado. Na etapa do capitalismo monopolista, a situação se modifica. Concentrando a maior parte da produção de certas mercadorias e esmagando seus concorrentes, os cartéis, trustes e consórcios têm a possibilidade de obter um elevado lucro monopolista.

elevado lucro monopolista compreende o excedente de lucro, acima do lucro médio capitalista, obtido pelos monopólios como resultado de seu domínio em uma ou outra esfera da produção ou da troca.

As mercadorias produzidas pelos monopólios são vendidas, não pelo preço de produção, mas por um preço mais alto, monopolista. O preço monopolista é igual ao custo de produção mais o elevado lucro monopolista. O preço monopolista é mais alto do que o preço de produção e, via de regra, supera o valor das mercadorias.

Desse modo, a base do domínio dos monopólios, atua no imperialismo a lei do elevado lucro monopolista como manifestação e desenvolvimento da lei económica fundamental do capitalismo.

Na etapa do imperialismo, a mais-valia continua a ser a base dos elevados lucros monopolistas dos cartéis, trustes e consórcios. Cresce em enormes proporções a exploração dos operários nas empresas capitalistas, eleva-se também a exploração adicional dos operários através do sistema tributário e do mecanismo de preços. Entretanto, a mais-valia criada pelos operários nas empresas capitalistas não é a única fonte do elevado lucro monopolista. Os monopólios conseguem super lucros também por meio da conquista de uma parte maior da mais-valia, em consequência do que diminui o nível médio dos lucros dos ramos e empresas não-monopolizados; por meio da apropriação, pelos monopólios, de uma parte considerável do valor produzido pelos pequenos produtores (sobretudo pelos camponeses) e pelos povos explorados do mundo colonial.

Os monopólios utilizam o progresso da técnica para o aumento de seus lucros, obtêm a elevação do grau de exploração dos operários por meio da aplicação de todos os possíveis sistemas extenuantes de organização e pagamento do trabalho, que levam a uma extrema intensificação do trabalho nas empresas. A intensificação do trabalho importa em um enorme crescimento da taxa e da massa de mais-valia extraída da classe operária. Além disso, a intensificação do trabalho leva a que um grande número de operários se tornem excedentes e caiam nas fileiras do exército de desempregados, privados da esperança de voltar a produção. São dispensados das empresas também os operários cujas forças não possibilitam uma aceleração extrema dos processos de produção.

Nos Estados Unidos, a taxa de mais-valia na indústria mineira e de transformação, computada a base de dados oficiais, era de 145% em 1889, de 165% em 1919, de 210% em 1929, de 220% em 1939 e de cerca de 260% em 1947.
Deste modo, em menos de 60 anos, a taxa de mais-valia cresceu quase 1,8 vezes.

Ao mesmo tempo, o aumento da carestia da vida e a elevação da carga tributária reduzem o salário real. Na época do imperialismo, cresce a diferença entre o salário do operário e o valor de sua força de trabalho. O aumento da exploração da classe operária no processo da produção é acompanhado pela pilhagem dos trabalhadores como consumidores. Os operários são obrigados a pagar em excesso grandes somas aos monopólios, que estabelecem altos preços monopolistas para as mercadorias que produzem e vendem. Tudo isto implica no incremento da ação da lei geral da acumulação capitalista, que condiciona o empobrecimento relativo e absoluto do proletariado.

A exploração dos camponeses e, particularmente, a exploração das colônias e dos países dependentes constituem fontes das mais importantes dos gigantescos super lucros dos monopólios capitalistas.

A exploração das massas fundamentais do campesinato pelos monopólios expressa-se principalmente no fato de que o domínio dos monopólios gera uma diferença crescente entre o nível de preços dos produtos agrícolas e das mercadorias industriais (as chamadas “tesouras” de preços). Vendendo mercadorias por preços inflacionados, ao mesmo tempo os monopólios compram aos camponeses os produtos de sua lavoura por preços extremamente reduzidos (baixos preços monopolistas de compra). Constituindo um instrumento para a sucção de recursos da agricultura, os preços monopolistas entravam o seu desenvolvimento. Uma das armas mais efetivas para o arruinamento das economias camponesas é a difusão do crédito hipotecário. Os monopólios enredam os camponeses em dívidas e depois apropriam-se, por preços ínfimos, de suas terras e propriedades.

A compra de produtos da economia camponesa, pelos monopólios, a preços extremamente baixos, não significa de modo algum que o consumidor urbano se beneficie com gêneros alimentícios baratos. Entre o camponês e o consumidor urbano estão os intermediários — os comerciantes —, unificados em organizações monopolistas, que arruínam os camponeses e espoliam os consumidores urbanos.

A exploração dos países economicamente atrasados e dependentes pela burguesia dos Estados imperialistas é um aspecto inerente ao capitalismo monopolista. O imperialismo não pode viver e desenvolver-se sem uma afluência incessante de tributos de outros países. Esses tributos resultam da exploração cruel das massas trabalhadoras do mundo colonial. Os monopólios se enriquecem por meio das trocas não-equivalentes, isto é, por meio da venda de suas mercadorias, nos países coloniais e dependentes, a preços que superam consideravelmente seu valor, e da compra de mercadorias produzidas nestes países a preços excessivamente baixos, que não compensam o seu valor. Os monopólios conseguem grandes lucros por meio de empréstimos a juros altos, concedidos as colônias, e também por meio de operações de transportes, de seguros e bancárias. Lênin acentuava que a essência econômica e política do imperialismo consiste em que um punhado de grandes monopólios obtém super lucros de bilhões, oprime centenas de milhões de habitantes dos países atrasados e luta pela divisão dos despojos.

Um instrumento importante para a elevação monopolista dos preços é a política alfandegária dos Estados burgueses. Na época da livre concorrência, recorriam as altas tarifas alfandegárias os países cuja indústria necessitava defesa em face da concorrência estrangeira. Na época do imperialismo, pelo contrário, as altas tarifas servem aos monopólios como instrumentos de ataque na luta pela conquista de novos mercados. As tarifas elevadas ajudam a sustentar os preços monopolistas dentro do país.

Com o objetivo de conquistar novos mercados externos, os monopólios aplicam amplamente o “dumping” — a venda de mercadorias no exterior a preços ínfimos, consideravelmente abaixo dos preços de produção e, até mesmo, do custo de produção do mercado interno e, frequentemente, do mercado mundial. A expansão das vendas no exterior por meio do “dumping” permite sustentar altos preços no interior do país sem reduzir a produção, e com isso as perdas ocasionadas pelas exportações a preços ínfimos são cobertas as custas da elevação dos preços no mercado interno. Em seguida, quando o mercado externo em questão já está conquistado e consolidado pelos monopólios, eles passam a venda das mercadorias por altos preços monopolistas.

Finalmente, um dos caminhos para assegurar altos lucros monopolistas é o das guerras e da militarização da economia. As guerras enriquecem fabulosamente os magnatas do capital financeiro, e, nos intervalos entre as guerras, os monopólios se esforçam por conservar o nível elevado de seus lucros por meio de uma desenfreada corrida armamentista. As guerras e a militarização da economia proporcionam aos monopolistas volumosas encomendas bélicas, pagas pelo tesouro a preços elevados, e uma torrente abundante de empréstimos e subsídios provenientes dos meios do orçamento estatal. Nas condições de guerra, a legislação do trabalho é frequentemente violada, ou mesmo anulada, os trabalhadores são mobilizados e as greves proibidas. Tudo isto dá aos capitalistas a possibilidade de elevar o grau de exploração dos operários por meio do aumento da intensidade do trabalho. Ao mesmo tempo, o nível de vida das massas trabalhadoras é rebaixado em consequência do crescimento dos impostos e da carestia de vida. A militarização da economia capitalista, tanto nas condições de guerra como nos tempos de paz, significa o brusco aumento da exploração das massas trabalhadoras com o objetivo de elevar os lucros dos monopólios.

Assim, o preço monopolista e o elevado lucro monopolista expressam o aumento da exploração do trabalho e o agravamento das contradições do capitalismo na etapa do imperialismo.

Como foi dito antes, os monopólios não podem eliminar a concorrência na época do imperialismo. A particularidade distintiva do imperialismo é a união de princípios que se contradizem mutuamente – os monopólios e a concorrência. A obtenção de elevados lucros monopolistas por um grupo de monopolistas gera uma concorrência encarniçada da parte de seus rivais, de outros grupos monopolistas. Os altos preços monopolistas de certas mercadorias frequentemente provocam a ampliação da produção dessas mercadorias por empresas capitalistas, que não participam de uniões monopolistas. A concorrência, que se aguça no período do imperialismo, leva a transferência de capitais de uns ramos para outros e cria a tendência ao nivelamento dos lucros, a formação da taxa média de lucro e do preço de produção. Esta tendência choca-se com o domínio dos monopólios, que utilizam seu poderio para criar obstáculos a livre transferência de capitais para os ramos monopolizados e, deste modo, manter os preços monopolistas e os elevados lucros monopolistas. Por força disto, cria-se uma grande desigualdade de lucros. Se, nos ramos monopolizados, as mercadorias são vendidas por preços monopolistas, que asseguram o elevado lucro monopolista, nos ramos não monopolizados as mercadorias frequentemente são vendidas por preços abaixo do preço de produção, em vista do que os empresários não obtêm nem mesmo o lucro médio. O papel dominante é desempenhado pelo preço monopolista e pelo lucro monopolista.

Sustentando os preços em nível alto, que supera o valor das mercadorias, os monopólios se apropriam dos resultados do crescimento da produtividade do trabalho e da diminuição do custo de produção. O que ganham os monopólios perdem os operários, os pequenos produtores, a população dos países dependentes, os capitalistas que não participam das uniões monopolistas. Ao mesmo tempo, o preço monopolista, como indicava Marx, não pode destruir os limites que determinam o valor das mercadorias: o alto nível dos preços monopolistas não altera a soma total do valor e da mais-valia produzidos na economia capitalista mundial, mas influi substancialmente na sua distribuição.

Deste modo, a ação da lei económica fundamental do capitalismo na etapa imperialista de desenvolvimento do regime burguês conduz ao agravamento de todas as contradições a ele inerentes.

Ao lado disso, o jugo dos monopólios cria a base económica para a existência de interesses fundamentais comuns entre o proletariado dos países capitalistas desenvolvidos, as grandes massas camponesas exploradas desses países e as massas populares dos países coloniais e semicoloniais na luta contra a omnipotência dos monopólios, contra o imperialismo.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

O Fundamento das Crises Capitalista de Superprodução


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A partir do início do século XIX, da época em que surgiu a grande indústria mecânica, o curso da reprodução ampliada capitalista é interrompido periodicamente pelas crises econômicas.

As crises capitalistas são crises de superprodução. As crises manifestam-se, antes de tudo, em que as mercadorias não encontram saída porque foram produzidas em quantidade maior do que podem comprar os principais consumidores — as massas populares, cujo poder aquisitivo está limitado dentro de marcos muito estreitos. Os “excedentes” de mercadorias entulham os depósitos. Os capitalistas diminuem a produção e dispensam operários. Centenas e milhares de empresas são fechadas. Cresce aceleradamente o desemprego. Grande número de pequenos produtores da cidade e do campo são arruinados. A falta de saída para as mercadorias produzidas leva ao transtorno do comércio. Rompem-se as relações de crédito. Os capitalistas sentem uma carência aguda de dinheiro em mão para os pagamentos. O “crack” irrompe nas bolsas — caem aceleradamente as cotações das ações e de outros títulos. Espraia-se a onda de bancarrotas de firmas industriais, comerciais e bancárias.

A superprodução de mercadoria na época das crises não é absoluta, mas relativa. Isto significa que o excesso de mercadoria existe apenas em comparação com a procura solvente, mas não em comparação com as necessidades reais da sociedade. Durante as crises, as massas trabalhadoras sentem uma privação particularmente aguda do mais essencial, suas necessidades são satisfeitas em condições piores do que em qualquer outra época. Massas de milhões passam fome porque foi produzido demasiado ’ trigo, pessoas padecem de frio porque se extraiu “demasiado carvão. Os trabalhadores são privados dos meios de vida, precisamente porque produziram estes meios de vida em quantidade demasiada. Tal é a escandalosa contradição do modo de produção capitalista, no qual, segundo as palavras do socialista utópico francês Fourier, “a abundância torna-se fonte de indigência e privações”.

As comoções da vida econômica ocorriam frequentemente também nos modos de produção pré-capitalistas. Mas eram provocadas por quaisquer calamidades extraordinárias, espontâneas ou sociais: inundações, secas, guerras sangrentas ou epidemias devastavam as vezes países inteiros, condenavam as populações a fome e ao perecimento. Todavia, a distinção radical entre estas comoções econômicas e as crises capitalistas reside em que a fome e a miséria, provocadas por tais comoções, eram consequência do desenvolvimento insuficiente da produção, da carência aguda de produtos. Enquanto isso, no capitalismo, as crises são geradas pelo crescimento da produção em face do baixo nível de vida das massas populares, pelo “excesso” relativo de mercadorias produzidas.

Como foi demonstrado anteriormente, a produção e a circulação mercantil simples já encerra a possibilidade das crises. Entretanto, as crises só se tornam inevitáveis no capitalismo, quando a produção adquire cada vez mais um caráter social, enquanto que o produto do trabalho socializado de muitos milhares e milhões de operários destina-se a apropriação privada dos capitalistas. A contradição entre o caráter social da produção e a forma capitalista privada de apropriação dos resultados da produção, contradição fundamental do capitalismo, constitui o fundamento das crises econômicas de superprodução. Assim, a inevitabilidade das crises radica-se no próprio sistema de economia capitalista.

A contradição fundamental do capitalismo manifesta-se como oposição entre a organização da produção nas empresas por separado e a anarquia da produção no conjunto da sociedade. Em cada fábrica por separado, o trabalho dos operários é organizado e subordinado a vontade única do empresário. Mas na sociedade em conjunto, como resultado do domínio da propriedade privada dos meios de produção, reina a anarquia da produção, que exclui o desenvolvimento planificado da economia. Por isso, são inevitavelmente violadas as condições complexas que se fazem necessárias para a realização do produto social na reprodução ampliada capitalista. Estas violações se acumulam gradualmente enquanto não irrompe a crise, momento em que o processo de realização chega a um completo transtorno.

Na caça a maiores lucros, os capitalistas ampliam a produção, aperfeiçoam a técnica, introduzem novas máquinas e lançam enormes massas de produtos no mercado. Nesta mesma direção atua a tendência constante a baixa da taxa de lucro, condicionada pelo aumento da composição orgânica do capital. Os empresários se esforçam por compensar a queda da taxa de lucro com o aumento da massa de lucros por meio da ampliação da produção, da elevação da quantidade de mercadorias fabricadas.

Desse modo, é inerente ao capitalismo a tendência a ampliação da produção, ao enorme crescimento da capacidade produtiva. Mas, como resultado do empobrecimento da classe operária e dos camponeses, a procura solvente dos trabalhadores atrasa-se em relação ao crescimento da produção, reduz-se de modo relativo. Em consequência disso, a ampliação da produção capitalista choca-se inevitavelmente com os marcos estreitos do consumo das massas fundamentais da população.

O objetivo da produção capitalista — a obtenção de lucros em escala cada vez maior — entra inevitavelmente em contradição com o meio necessário para atingir tal objetivo, com a ampliação da produção. A crise representa, no curso da reprodução ampliada capitalista, o momento em que essa contradição se manifesta sob a forma aguda de superprodução de mercadorias que não encontram saída.

A contradição fundamental do capitalismo manifesta-se exteriormente no antagonismo de classe entre o proletariado e a burguesia. O capitalismo se caracteriza pela ruptura entre duas importantes condições da produção: entre os meios de produção, que se concentram nas mãos dos capitalistas, e os produtores diretos, que estão privados dos meios de produção e possuem apenas sua força de trabalho. Esta ruptura se revela claramente nas crises de superprodução, quando de um lado surge um excesso de meios de produção e de produtos, um excedente de capital, e de outro lado um excesso de força de trabalho, as massas de desempregados, privadas dos meios de existência.
As crises acompanham inevitavelmente o modo de produção capitalista. Elas não podem ser eliminadas enquanto existir o capitalismo.
O Caráter Cíclico da Reprodução Capitalista
As crises capitalistas de superprodução repetem-se com determinados intervalos, de 8 a 12 anos. A inevitabilidade das crises é determinada pelas leis econômicas gerais do modo de produção capitalista, as quais atuam em todos os países que seguem o caminho de desenvolvimento capitalista. Ao mesmo tempo, o curso de cada crise, suas formas de manifestação e particularidades dependem também das condições concretas de desenvolvimento deste ou daquele país.

Já no fim do século XVIII e começo do século XIX, ocorreram na Inglaterra crises parciais de superprodução, que atingiram ramos isolados da indústria. A primeira crise industrial, que abarcou a economia do país em seu conjunto, desencadeou-se na Inglaterra em 1825. Em 1836 a crise começou na Inglaterra e depois estendeu-se aos Estados Unidos. A crise de 1847/1848, que abrangeu a Inglaterra, uma série de países do continente europeu e os Estados Unidos, já foi em essência uma crise mundial. A crise de 1857 atingiu os principais países da Europa e da América. Seguiram-se as crises de 1866, 1873, 1882 e 1890. A mais profunda foi a crise de 1873, que assinalou o começo da passagem do capitalismo pré-monopolista para o capitalismo monopolista. No século XX ocorreram crises em 1900/1903 (esta crise começou na Rússia, onde sua ação foi consideravelmente mais forte do que em qualquer outro país), em 1907, em 1920/1921, em 1929/1933, em 1937/1938, e depois da Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos, em 1948/1949 e em 1953/1954. No fim de 1957, começou nos Estados Unidos uma nova crise.

O período entre o começo de uma crise e o começo de outra crise denomina-se ciclo. O ciclo consiste de quatro fases: crise, depressão, reanimação e ascenso. A fase fundamental do ciclo é a crise, que constitui o ponto de partida do novo ciclo.

crise é a fase do ciclo em que a contradição entre o crescimento das possibilidades produtivas e a redução relativa da procura solvente manifesta-se de forma tempestuosa e destruidora. Nesta fase do ciclo, revela-se a superprodução de mercadorias que não encontram saída; ocorre uma queda brusca nos preços; a carência aguda de meios de pagamento é seguida pelo “crack” da bolsa, que provoca bancarrotas em massa; tudo isto conduz a diminuição brusca da produção, ao crescimento do desemprego, a redução dos salários. A depreciação de mercadorias, o desemprego, a destruição direta de máquinas, de equipamentos e de empresas inteiras significam uma enorme devastação das forças produtivas da sociedade. Por meio do arruinamento e da liquidação de muitas empresas, por meio da destruição de parte das forças produtivas, a crise adapta violentamente, e num prazo certo, as proporções da produção as proporções da procura solvente.

“As crises sempre representam apenas a solução violenta e temporária das contradições existentes, são explosões violentas que restabelecem num instante o equilíbrio violado.”

depressão é a fase do ciclo que surge imediatamente depois da crise. Esta fase do ciclo se caracteriza pelo fato de que a produção industrial se encontra em estado de estancamento, os preços das mercadorias são baixos, o comércio marcha debilmente, existe abundância de capital monetário livre. No período da depressão, criam-se as premissas para a reanimação e o ascenso posteriores. Os estoques de mercadorias acumulados em parte são destruídos e em parte são liquidados a preços baixos. Os capitalistas se esforçam por encontrar saída para a situação de estancamento da produção, por meio da redução do custo de produção. Eles alcançam este objetivo, em primeiro lugar, mediante o aumento da exploração dos operários, o rebaixamento dos salários e a elevação da intensidade do trabalho; em segundo lugar, mediante o reequipamento das empresas, a renovação do capital fixo, a introdução de aperfeiçoamentos técnicos, com o objetivo de tornar a produção lucrativa com os preços baixos que resultaram da crise. A renovação do capital fixo impulsiona o crescimento da produção numa série de ramos. As empresas que fabricam equipamento conseguem encomendas e, por sua vez, promovem a procura de diversos tipos de matérias-primas e materiais. Assim se abre a saída da depressão e ocorre a passagem a reanimação.

reanimação é a fase do ciclo no curso da qual as empresas recobrem-se da comoção e os capitalistas passam a ampliação da produção. Gradualmente, o nível da produção atinge as proporções anteriores, os preços se elevam, crescem os lucros. A reanimação conduz ao ascenso.

ascenso é a fase do ciclo no decorrer da qual a produção ultrapassa o ponto mais alto atingido no ciclo anterior, nas vésperas da crise. Durante o ascenso são construídas novas empresas industriais, estradas de ferro, etc.. Os preços sobem, os comerciantes tratam de comprar mercadorias na maior quantidade possível, tendo em vista a futura elevação dos preços, e deste modo incitam os industriais a uma ampliação ainda maior da produção. Os bancos concedem empréstimos, de bom grado, aos industriais e comerciantes. Tudo isto cria a possibilidade de ampliar as proporções da produção e do comércio muito além dos limites da procura solvente. Assim surgem as condições para a crise de superprodução seguinte.

Antes da irrupção da crise, a produção atinge o nível mais alto, mas as possibilidades de venda parecem ainda maiores. A superprodução já existe, mas de forma oculta. A especulação faz os preços subirem e infla desmesuradamente a procura de mercadorias. Os excedentes de mercadorias acumulam-se. Em grau ainda maior, o crédito oculta a superprodução: os bancos continuam a conceder créditos a indústria e ao comércio, sustentando artificialmente a ampliação da produção. Quando a superprodução atinge o grau mais alto, eclode a crise. Depois, todo o ciclo se repete.

O curso cíclico da reprodução capitalista encontra sua expressão concreta na conjuntura econômica. Denomina-se conjuntura a situação geral da economia em determinado período, neste ou naquele país, em uma ou outra região, ou no mundo capitalista em conjunto. Os índices da conjuntura são dados sobre O movimento da produção, as grandes construções, o desemprego, o nível de salário, o comércio (interno e externo), os preços, as operações bancárias e da bolsa, O nível dos juros, etc.. As modificações da conjuntura têm como seu fundamento geral a mudança das fases do ciclo capitalista.

Cada crise impulsiona a renovação maciça do capital fixo. Esforçando-se para restabelecer a lucratividade de suas empresas em face da brusca rebaixa dos preços, os capitalistas intensificam a exploração dos operários, introduzem novas máquinas e tornos, empregam novos métodos de produção. a custa da intensificação da exploração da classe operária, do arruinamento dos pequenos produtores, da absorção de muitas empresas dos concorrentes, os grandes capitalistas realizam novas inversões de capital. Desse modo, a saída da crise é criada pelas forças internas do modo de produção capitalista.

Entretanto, com a passagem a reanimação e ao ascenso, acumulam-se de novo, inevitavelmente, violações das condições de reprodução, desproporções, contradições entre o crescimento da produção e os limites estreitos da procura solvente. Em consequência disso, depois de um intervalo mais ou menos determinado, eclode inevitavelmente uma nova crise de superprodução.

“Embora sejam muito diferentes e não coincidam entre si os períodos durante os quais se inverte capital, as crises, apesar disso, sempre constituem o ponto de partida para grandes e novas inversões de capital. Consequentemente, se encararmos a sociedade em conjunto, a crise gera. em maior ou menor grau, uma nova base material para o ciclo seguinte de rotações.”

Nos ramos decisivos da indústria, a duração da vida dos meios de produção fundamentais, levando-se em conta não só o desgaste físico como também o desgaste moral, é de cerca de dez anos, em média. A renovação periódica maciça do capital fixo é o fundamento material da periodicidade das crises, que se repetem regularmente no decurso da história do capitalismo.
Cada crise prepara terreno para novas crises. Com o desenvolvimento do capitalismo, aumenta a profundidade e a força destruidora das crises.
As Crises Agrárias
No capitalismo, a indústria é a esfera dominante da produção social, que predomina sobre as outras esferas e determina seu desenvolvimento. O desenvolvimento da indústria capitalista conduz a reorganização da agricultura em bases capitalistas. na medida em que a agricultura é atraída à órbita das relações capitalistas, ela cai, cada vez mais, sob a ação das leis da reprodução capitalista, que levam inevitavelmente as crises econômicas de superprodução. As crises de superprodução na agricultura são denominadas crises agrárias.

A inevitabilidade das crises agrárias é condicionada pela mesma contradição fundamental do capitalismo, que constitui o fundamento das crises industriais. Ao lado disso, as crises agrárias possuem algumas particularidades: frequentemente elas têm um caráter mais prolongado, mais dilatado, em comparação com as crises industriais.

A crise agrária do último quarto do século XIX, que abrangeu os países da Europa ocidental, a Rússia, e depois também os Estados Unidos, começou na primeira metade da década de 70 e prolongou-se, de uma ou outra forma, até meados da década de 90 do século XIX. Ela foi provocada pelo fato de que, em consequência do desenvolvimento do transporte marítimo e da ampliação da rede ferroviária, começou a entrar no mercado europeu, em grande quantidade, o trigo mais barato proveniente da América, da Rússia e da Índia.

A produção de trigo custava mais barato na América em decorrência do cultivo de novas terras férteis e da existência de terras livres, pelas quais não se cobrava a renda absoluta. A Rússia e a Índia podiam exportar trigo para a Europa ocidental a preços baixos porque os camponeses russos e indianos, sufocados por tributos superiores as suas forças, eram obrigados a vender o trigo a preços ínfimos. Os arrendatários capitalistas e os camponeses europeus, em face da elevada renda, aumentada pelos grandes proprietários de terra, não podiam suportar essa concorrência. Depois da Primeira Guerra Mundial, com a enorme redução do poder aquisitivo da população, desencadeou-se na primavera de 1920 uma aguda crise agrária, que golpeou com força particular os países não-europeus (Estados Unidos, Canadá, Argentina, Austrália). A agricultura ainda não se havia recuperado desta crise quando, no fim de 1928, manifestaram-se evidentes sintomas de uma nova crise agrária que se iniciava no Canadá, nos Estados Unidos, no Brasil e na Austrália. Essa crise abarcou os países fundamentais do mundo capitalista que exportavam matérias-primas e gêneros alimentícios.

A crise abrangeu todos os ramos da agricultura, entrelaçou-se com a crise industrial de 1929 a 1933 e prolongou-se até o começo da Segunda Guerra Mundial. Após a Segunda Guerra Mundial, iniciou-se novamente a crise agrária nos maiores países que exportam produtos agrícolas — Estados Unidos, Canadá, Argentina, Austrália, e numa série de ramos da agricultura dos países da Europa ocidental.
Explica-se o caráter dilatado das crises agrárias pelas seguintes causas principais:

Em primeiro lugar, os proprietários de terra, por força do monopólio da propriedade privada sobre a terra, também durante as crises agrárias obrigam os arrendatários a pagar, nas proporções anteriores, o arrendamento fixado no contrato. Em face da queda dos preços das mercadorias agrícolas, a renda agrária é paga as custas da redução posterior do salário dos operários agrícolas, as custas do lucro e, por vezes, até mesmo as custas do capital adiantado pelos arrendatários. Em consequência disso, torna-se muito difícil a saída da crise por meio da introdução de técnica aperfeiçoada e da redução do custo de produção.

Em segundo lugar, no capitalismo, a agricultura é um ramo atrasado em comparação com a indústria. A propriedade privada da terra, as sobrevivências de relações feudais, a necessidade de pagamento da renda absoluta e diferencial aos proprietários de terra — tudo isto impede o livre afluxo de capitais para a agricultura, retarda o desenvolvimento de suas forças produtivas. A composição orgânica do capital na agricultura é mais baixa do que na indústria; o capital fixo, cuja renovação maciça é a base material da periodicidade das crises industriais, desempenha na agricultura um papel menor do que na indústria.

Em terceiro lugar, os camponeses, pequenos produtores de mercadorias, esforçam-se durante as crises para conservar o volume anterior da produção, a fim de manter-se a qualquer preço no pedaço de terra que é seu ou arrendado, e o fazem a custa de trabalho desmedido, subalimentação, exploração predatória do solo e do gado. Isto aumenta ainda mais a superprodução de produtos agrícolas.

Assim, a base comum do caráter dilatado das crises agrárias é o monopólio da propriedade privada sobre a terra, as sobrevivências feudais a ele ligadas e o atraso relativo da agricultura em comparação com a indústria.

O peso principal das crises agrárias recai sobre as massas fundamentais do campesinato. A crise agrária arruína as massas de pequenos produtores mercantis; promovendo a ruptura das relações de propriedade estabelecidas, ela acelera a decomposição do campesinato e o desenvolvimento das relações capitalistas na agricultura. Ao mesmo tempo, as crises agrárias exercem uma influência destruidora na agricultura dos países capitalistas, provocando a redução da área cultivada e da quantidade de gado.
As Crises Econômicas Periódicas e o Agravamento das Contradições do Capitalismo
Constituindo uma explosão violenta de todas as contradições do modo de produção capitalista, as crises econômicas levam inelutavelmente a um aprofundamento e agravamento posteriores destas contradições.

Em regra, as crises capitalistas de superprodução possuem um caráter geral. Iniciando-se em qualquer ramo de produção, elas abrangem rapidamente toda a economia nacional. Nascendo em um ou em alguns países, elas se estendem a todo o mundo capitalista.

Cada crise conduz a uma brusca redução da produção, a queda dos preços por atacado das mercadorias e das cotações das ações na bolsa, a diminuição do volume do comércio interno e externo. O volume da produção cai ao nível existente vários anos atrás. No século XIX, os países capitalistas, durante as crises, tiveram o nível de sua atividade econômica reduzido ao de 3 a 5 anos atrás, e no século XX ao nível de dezenas de anos atrás.

A extração de carvão nos Estados Unidos caiu em 9,1% durante a crise de 1873, em 7,5% na de 1882, em 6,4% na de 1893, em 13,4% na de 1907, em 27,5% na de 1920/1921, em 40,9% na de 1929/1933. A produção de ferro gusa nos Estados Unidos caiu em 27% durante a crise de 1873, em 12,5% na de 1882, em 27,3% na de 1893, em 38,2% na de 1907, em 54,8% na de 1920/1921, e 79,4% na de 1929/1933.
Na Alemanha, o volume total da produção industrial caiu em 6,1% durante a crise de 1873, em 3,4% na de 1890, em 6,5% na de 1907, e 40,6% na de 1929/1933.
Na Rússia, em decorrência da crise de 1900/1903, a fundição de ferro gusa reduziu-se de 17% em 1903, em comparação com 1900, a laminação de trilhos em 30% e a extração de petróleo diminuiu de 10% em 1903, em comparação com 1901.
Com a crise de 1857, os Estados Unidos foram lançados dois anos para trás quanto a extração de carvão, quatro anos quanto a produção de ferro gusa; dois anos quanto a exportação e três anos quanto a importação. Com a crise de 1929, os Estados Unidos foram lançados para trás 28 anos quanto a extração de carvão, 36 anos quanto a produção de ferro gusa, 31 anos quanto a produção de aço, 35 anos quanto a exportação e 31 anos quanto a importação.
Com a crise de 1929, a Inglaterra foi lançada 35 anos para trás quanto a extração de carvão, 76 anos quanto a produção de ferro gusa, 23 anos quanto a produção de aço e 36 anos quanto ao comércio exterior.

As crises econômicas revelam claramente o caráter rapace do capitalismo. Durante cada crise, enquanto milhões de pessoas se encontram em condições de extrema penúria, condenadas a miséria e a fome, são destruídas massas enormes de mercadorias que não encontram saída — de trigo, de batatas, de leite, de gado, de algodão. São fechados ou demolidos usinas inteiras, estaleiros, altos-fornos, são destruídas culturas cerealíferas e técnicas, são derrubadas plantações - de árvores frutíferas.

Nos anos de crise (1929/1933), nos Estados Unidos, foram demolidos 92 altos-fornos, 72 na Inglaterra, 28 na Alemanha e 10 na França. A tonelagem dos navios destruídos nestes anos atingiu mais de 6,5 milhões de toneladas de registro.
A ação destrutiva das crises agrárias pode ser vista pelos seguintes dados. Nos Estados Unidos, de 1926 a 1937, mais de 2 milhões de granjas foram vendidas compulsòriamente, em pagamento de dívidas. A renda proveniente da agricultura reduziu-se de 6,8 bilhões de dólares em 1929, a 2,4 bilhões em 1932. Nesse mesmo período, a venda de máquinas e equipamentos agrícolas diminuiu de 458 milhões de dólares para 65 milhões de dólares anuais, ou seja, em 7 vezes, e o consumo de adubos artificiais reduziu-se quase a metade.
O governo dos Estados Unidos adotou todas as medidas para a redução da produção agrícola. Em 1933 foram destruídos por meio de re-aração, 10,4 milhões de acres de culturas algodoeiras, foram comprados e exterminados 6,4 milhões de porcos e o trigo foi queimado nas fornalhas das locomotivas.
No Brasil, foram destruídos cerca de 22 milhões de sacas de café, e, na Dinamarca, 117 mil cabeças de gado.

As crises acarretam inúmeros males à classe operária, as massas fundamentais do campesinato, a todos os trabalhadores. Provocam o desemprego em massa, que condena ao ócio forçado, a miséria e a fome centenas de milhares e milhões de pessoas. Os capitalistas utilizam o desemprego para aumentar a exploração da classe operária e rebaixar o nível de vida dos trabalhadores.

O número de operários ocupados na indústria de transformação dos Estados Unidos, durante a crise de 1907, reduziu-se em 11,8%. Durante a crise de 1929/1933, o número de operários da indústria de transformação norte-americana diminuiu de 38,8%, e a soma de salários pagos caiu de 57,7%. Segundo dados de estatísticos norte-americanos, no período de 1929 a 1938, como resultado do desemprego, foram perdidos 43 milhões de homens-ano.

As crises agravam em alto grau a insegurança da existência dos trabalhadores, seu receio pelo dia de amanhã. Não encontrando trabalho durante anos, os proletários perdem sua qualificação; após o término da crise, muitos deles já não podem voltar a produção. Pioram as condições de moradia dos trabalhadores, aumenta o número de pessoas sem teto que vagueiam pelo país em busca de trabalho. Nos anos de crise, eleva-se bruscamente o número de suicídios de pessoas levadas ao desespero, cresce a mendicidade e a delinquência.

As crises conduzem ao agravamento das contradições de classe entre o proletariado e a burguesia, entre as massas fundamentais do campesinato e os latifundiários, usurários e camponeses ricos que os exploram. Nas condições de crise, a classe operária é privada de muitas conquistas por ela obtidas em luta árdua e prolongada contra os empresários e o Estado burguês. Isto demonstra aos operários que o único caminho para se libertarem da exploração e da insegurança é a destruição do sistema de escravidão assalariada capitalista.

As mais amplas massas do proletariado, condenadas pelas crises a imensas privações, impregnam-se de consciência de classe e de decisão revolucionária. A incapacidade da burguesia para dirigir as forças produtivas da sociedade quebranta a fé das camadas pequeno-burguesas da população na solidez da ordem capitalista. Verifica-se o agravamento da luta de classes na sociedade capitalista.

Durante as crises, o Estado burguês corre em auxílio dos capitalistas com subsídios monetários, que são pagos afinal de contas pelas massas trabalhadoras. Utilizando o aparelho de violência e coerção, o Estado ajuda os capitalistas a realizarem uma ofensiva contra o nível de vida da classe operária e dos camponeses. Isto agrava o empobrecimento das massas trabalhadoras. Ao mesmo tempo, as crises revelam a impotência do Estado burguês em face das leis espontâneas do capitalismo.

As crises constituem o índice mais evidente de que as forças produtivas criadas pelo capitalismo ultrapassaram os marcos das relações de produção burguesas, motivo por que estas últimas se tornaram um freio para o crescimento posterior das forças produtivas.

“A crise demonstra que a sociedade contemporânea poderia produzir uma quantidade de produtos incomparavelmente maior, a fim de melhorar a vida de todo o povo trabalhador, se a terra, as fábricas, as máquinas, etc. não fossem usurpadas por um punhado de proprietários privados, que extraem milhões da miséria popular.

Cada crise torna mais próxima a derrocada do modo de produção capitalista.
Os economistas burgueses tentam por todos os meios ocultar a verdadeira natureza e as causas das crises, porquanto nas crises se manifestam, de modo particularmente claro e agudo, as contradições insolúveis do capitalismo, que evidenciam a inevitabilidade de sua ruína. Tentando dissimular a inevitabilidade das crises no capitalismo, eles habitualmente as consideram como resultado de causas acidentais, que poderiam ser eliminadas — segundo pensam — com a conservação do sistema de economia capitalista.

Com este objetivo, os economistas burgueses proclamam, como causa final das crises, a violação “casual” da proporcionalidade entre os ramos da produção, ou o atraso “temporário” do consumo em relação a produção, propondo assegurar tipos de “consumo” como a corrida armamentista e a guerra para curar o capitalismo das crises. Todavia, tanto a desproporcionalidade na produção como a contradição entre a produção e o consumo são formas de manifestação inevitáveis da contradição fundamental do capitalismo, que não pode ser eliminada enquanto ele subsista. Alguns economistas burgueses chegam a afirmar que as crises são engendradas pelo movimento das manchas solares, que exerceriam influência nas colheitas e, consequentemente, em toda a vida econômica.

A fim de dissimular a inevitabilidade das crises no capitalismo, os economistas burgueses constroem numerosas “teorias da conjuntura”, nas quais as oscilações da conjuntura, que refletem o curso cíclico da reprodução capitalista, são explicadas pela maior quantidade possível de “fatores”, de ordem casual ou derivada. Nos intervalos entre as crises, os defensores da burguesia se manifestam habitualmente com .afirmações grandiloquentes de que chegou o fim das crises e de que o capitalismo ingressou no caminho do desenvolvimento sem crises. Entretanto, a crise seguinte demonstra toda a falsidade de semelhantes assertivas. A vida revela invariavelmente a mais completa inconsistência de todas as receitas para curar o capitalismo das crises.
A Tendência Histórica do Desenvolvimento do Capitalismo. O Proletariado como Coveiro do Capitalismo
Depois que o capitalismo se tornou o regime dominante, o processo de concentração da propriedade em poucas mãos avançou a passos gigantescos. O desenvolvimento do capitalismo conduz ao arruinamento dos pequenos produtores, que passam as fileiras do exército dos operários assalariados. Ao lado disso, aguça-se a luta de concorrência entre os capitalistas, como resultado da qual um capitalista elimina muitos outros. A concentração do capital significa a concentração de imensas riquezas nas mãos de um círculo cada vez mais estreito de pessoas.

Desenvolvendo as forças produtivas e socializando a produção, o capitalismo cria as premissas materiais do socialismo. Juntamente com isso, o capitalismo engendra seu coveiro — a classe operária, que assume o papel de chefe e dirigente de todas as massas trabalhadoras e exploradas. O desenvolvimento da indústria é acompanhado pelo crescimento numérico do proletariado, pelo aumento de sua coesão, consciência e organização. O proletariado se ergue, cada vez mais decididamente, na luta contra o capital. O desenvolvimento da sociedade capitalista, que leva ao agravamento das contradições antagônicas a ela inerentes e ao agravamento da luta de classes, prepara as premissas necessárias para .a vitória do proletariado sobre a burguesia.

A expressão teórica dos interesses radicais da classe operária é o marxismo — o socialismo cientifico, que constitui uma concepção do mundo íntegra e harmoniosa. O socialismo científico ensina ao proletariado a unir-se para a luta de classe contra a burguesia. Os interesses de classe do proletariado coincidem com os interesses do desenvolvimento progressivo da sociedade, fundem-se com os interesses da maioria esmagadora da sociedade, pois a revolução socialista significa a destruição de toda a exploração.

Se, na aurora do capitalismo, alguns usurpadores — os capitalistas e latifundiários — expropriaram as massas populares, o desenvolvimento do capitalismo leva a inevitabilidade da expropriação dos poucos usurpadores pelas massas populares.

“O monopólio do capital torna-se uma algema para este modo de produção que cresceu com ele e sob ele. A centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho atingem um ponto em que se tornam incompatíveis com o seu envoltório capitalista. Este salta em pedaços. Soa a hora da propriedade privada capitalista. Os expropriadores são expropriados.”

Tal é a tendência histórica do desenvolvimento do modo de produção capitalista.