domingo, 1 de fevereiro de 2015

Os direitistas "Gregos Independentes" (ANEL) são os parceiros do governo da "esquerda radical" (SYRIZA)


"Não há nenhuma possibilidade de formar um governo de coalizão com Panos Kamenos (líder do partido ANEL). Pertence ao espaço da direita. A trajectória e as posições de Panos Kamenos colocam-no à direita da Nova Democracia. Um governo de esquerda-anti memorando que dependa do voto de Panos Kamenos não pode durar." Dizia em 2012 D.Papadimulis, alto quadro do SYRIZA, eurodeputado e vice-presidente do Parlamento Europeu. 

Alguns de nós lembrámos estas declarações ao ouvir que o SYRIZA e os nacionalistas do ANEL chegaram a acordo para formar governo.

O líder do ANEL, Panos Kamenos era quadro da Nova Democracia e ministro dos Transportes Marítimos, nos governos da Nova Democracia, usando desta posição de alta responsabilidade para apoiar a grande rentabilidade dos armadores gregos. No novo governo Panos Kamenos foi nomeado Ministro da Defesa…

Muitos ficaram surpreendidos. Outros ficaram paralisados. Em particular, muitos trabalhadores no estrangeiro, influenciados pela “tormenta” da propaganda dos meios de comunicação internacionais sobre o “SYRIZA esquerdista”, “perigoso para a União Europeia”, ficaram justificadamente chocados. Especialmente os que, devido às “lentes” deformantes dos meios de comunicação, comemoraram a formação do governo da  “esquerda radical” em que afinal se encontrou espaço para os nacionalistas do ANEL. Ficou demonstrado uma vez mais que o termo “esquerda” não consegue definir correctamente as forças políticas, os seus objetivos e as suas alianças. Se os trabalhadores da Europa, que o “Partido da Esquerda Europeia” (PEE)  chamou a comemorar a vitória do SYRIZA, pusessem os seus “óculos” de classe, poderiam ver que o SYRIZA “esquerdista” é um partido a favor do capital, da UE e da NATO. Portanto, não há motivo para celebrar.

No entanto, é bom realçar que, na Grécia a formação do dito governo não foi surpresa. A cooperação do SYRIZA e do ANEL não é nova. Começou em Março de 2013, quando os presidentes dos dois partidos, usando como pretexto os acontecimentos no Chipre, se reuniram, fizeram declarações conjuntas e discutiram a formação de uma “frente” comum.

Recordamos que o KKE desde o primeiro momento salientou que havia base política para a formação de um governo do SYRIZA com o ANEL ou com outros partidos e isto reflectiu-se a nível governamental.

O KKE deixou claro que o SYRIZA é o novo partido social democrata, com uma política a favor dos monopólios, da UE e da NATO. Um partido social democrata contemporâneo em lugar do PASOK, um partido de gestão burguesa que carrega o pagamento da dívida sobre o povo e fala de orçamentos equilibrados, que apoia o capital com fundos, enquanto oferece migalhas ao povo. Por isso, com base no exposto, não duvida em cooperar mesmo com os nacionalistas para formar um governo burguês.

Esta é a cola que une o SYRIZA a um partido com posições nacionalistas como o ANEL, que anteriormente chegou a cooperar a nível parlamentar com o “Amanhecer Dourado” fascista. Um exemplo típico é que os seus deputados na votação para a suspensão da imunidade dos deputados do Amanhecer Dourado para serem levados a tribunal pelos assassinatos e agressões contra trabalhadores e imigrantes, votaram… “presente”. Obviamente os cargos governamentais são uma recompensa pela sua postura…

Além disso, o ANEL mantem uma posição reacçionária sobre o tema da imigração e, de “caça de imigrantes ilegais”, uma posição similar à do Amanhecer Dourado. Não se devem subestimar propostas ridículas apresentadas pelo ANEL como “o renascimento dos Jogos Olímpicos antigos num lugar perto de Olimpia com atletas de origem grega. Os jogos serão realizados como na antiguidade e os atletas competirão como os antigos”…

As posições e a estratégia do ANEL, tal como as do SYRIZA, têm como meta salvar os monopólios. O ANEL acrescenta a esta linha política palavras de ordem nacionalistas e proclamações em “defesa do helenismo” que “é ameaçado por Merkel”, e trata de ocultar e embelezar o papel da União Europeia.

Este nacionalismo subjacente é a outra face do cosmopolitismo do capital, que é utilizado regularmente pelo SYRIZA.
Obviamente o que está sendo atacado não é o “helenismo”. Quem está a ser  impiedosamente atacada é a classe operária e as camadas populares, e isso vai continuar independentemente da forma de gerir a crise capitalista, independentemente dos gestores do poder burguês, mesmo quando chegar a recuperação tão esperada pelos burgueses.

Outro exemplo característico no programa governamental do ANEL é a referencia ao estabelecimento de um “subsídio de desemprego” que permitirá ao empregador “pagar aos trabalhadores somente a parte do salário líquido mensal, não coberto pelo subsídio".  É portanto mais um partidário da subvenção aos empregadores. O  SYRIZA tem propostas similares quanto à implementação de programas de trabalho flexível na União Europeia que apoiam o capital e “reciclam” o desemprego.

Além disso, no seu programa económico, o ANEL defende “A despenalização do empreendedorismo”. Esta posição do ANEL encaixa na do SYRIZA sobre o apoio do  empreendedorismo saudável, e nos elogios da Federação Helénica de Empresas ao novo governo. Podemos ver como estão a tremer os industriais gregos no seu comunicado recente: “AFederação, como representante de base das empresas gregas organizadas, estará ao lado do governo e proporcionará ao primeiro ministro as posições da política industrial e o plano para o crescimento da economia grega, assim como a rede de relações com a comunidade empresarial europeia e internacional”.

Em termos de Educação, o ANEL é partidário das universidades privadas e quer permitir a sua criação no nosso país. “A abolição legal plena e real de asilo em instituições de ensino e nas universidades, e as ocupações, serão rigorosamente  punidas pelo código  penal” e “as Escolas profissionais exemplares irão cooperar com as empresas”. Obviamente, que o facto de o SYRIZA ter deixado claro que tanto a Educação como a Saúde continuarão a ser espaços abertos à actividade empresarial, confirma a coerência deste governo.

Não acreditamos que seja necessário dar mais exemplos…

O comunicado do Comité Central do KKE sobre o resultado das eleições destaca que: “A alternância governamental e, em concreto, o novo governo do SYRIZA, não constitui uma mudança política favorável ao povo. O governo de coalizão SYRIZA-ANEL irá manter os compromissos antipopulares do país com a UE e os credores e isso, efectivamente, dará descanso ao sistema político burgués que procura assimilar o povo mais profundamente através da recomposição do sistema político burguês, num momento crítico para o povo e para o seu movimento. O SYRIZA admitiu já que após as eleições haverá um programa a acordar com os credores. Este programa, mesmo que não se chame memorando ou  não tenha a forma típica do memorando actual, incluirá condições antipopulares.

O KKE, consequente com o que dizia antes das eleições, não vai apoiar ou dar “voto de tolerância” ao novo governo. Usará a agrupação de forças, que existe nesta fase, para fazer o que prometeu aa povo, ou seja, ser uma forte oposição operária e popular no parlamento, com propostas a favor do povo, mas sobretudo no movimento para que se fortaleça a aliança popular para o presente e o futuro. Para que se fortaleçam as lutas contra a União Europeia, os memorandos permanentes, os monopólios, o capital e o seu poder que estão aqui, presentes. Para que se recuperem as grandes perdas que  os trabalhadores sofreram no período da crise. Para que os trabalhadores assalariados e os independentes não paguem  de novo, mas sim os grupos monopolistas e o capital, para que não distribuam as migalhas aos que vivem em pobreza extrema.”

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