quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A esperança reformista com que foi recebida a vitória de Dilma Rousseff pelos reformistas portugueses esfuma-se a cada nomeação dos ministros para o próximo governo na medida em que os nomeados se identificam com os interesses do grande capital.


AINDA SOBRE AS EVENTUAIS ESCOLHAS DE DILMA


Na manhã desta segunda-feira, quando o sol e a névoa trocam cotoveladas por um espaço no céu do Rio, escrevo sem que o governo tenha anunciado Joaquim Levy e Kátia Abreu como ministros da administração Dilma Reloaded.
Portanto, trato de especulações, embora desde a sexta-feira boa parte do noticiário apresente o sr. Levy, na Fazenda, e a sra. Abreu, na Agricultura, como nomes certos.
Se a candidata reeleita ao Planalto confirmar o que se diz, não haverá como escapar à interpretação: acossada pelo conservadorismo mais direitoso na campanha, ela reagiu embicando o discurso rumo à esquerda e triunfou; sob fogo intenso do mesmo conservadorismo em seguida ao pleito, Dilma verga à pressão e toma o caminho à direita.
Sobre o tom da candidata, basta assistir ao anúncio acima, ainda do primeiro turno (clique na imagem do alto ou aqui).
Na segunda volta, do mata-mata, a tonalidade ficou ainda mais, digamos, avermelhada.
Dilma atacou Marina Silva por ter entre os aliados mais influentes uma sócia do Itaú. E Aécio Neves por adiantar que seu titular da Fazenda seria Armínio Fraga, uma das cabeças mais incensadas pelos ricos do Brasil, sobretudo os da jogatina financeira.
Com o novo mandato assegurado, dão conta os repórteres, Dilma convidou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, para substituir Guido Mantega.
Como Trabuco teria, perdão pelo trocadilho desgastado e sem inspiração, negado fogo, a indicação teria recaído sobre outro alto executivo do banco, Joaquim Levy.
O primeiro aspecto que sobressai é a contradição entre a pregação eleitoral de Dilma e suas aparentes ações como gestora.
O segundo é que, se estava claro quem eram seus aliados manjados, tipo PMDB, Dilma deu a entender que rejeitaria os arautos do império do mercado para governar.
Joaquim Levy não é nem aliado. Este artigo de setembro (link alternativo aqui), do qual é co-autor, expressa opiniões frontalmente contrárias às alardeadas por Dilma.
Alguém ousaria sugerir que Levy votou em Dilma Rousseff, e não em Aécio Neves?
Por mais que a presidente venha a chamar para o Ministério personagens vinculados à sua plataforma de campanha, o ministro da Fazenda tem muito mais poder.
Dilma afirmava que entre o PT e o PSDB a diferença fundamental é a maneira de enfrentar as vicissitudes da economia: impondo arrocho aos mais pobres ou não.
Com Levy ministro, ela terá escolhido um quadro com ideias tucanas.
Se Levy é bom para governar, por que, então, Aécio Neves não seria bom presidente?
O caso de Kátia Abreu é mais bandeiroso ainda. É compreensível que Dilma busque recompor as relações com o agronegócio, cujo peso na economia é notável. O problema é escolher alguém que simboliza tudo o que rejeita a militância pró-Dilma nos movimentos populares, que se mobilizou como não o fizera nas eleições passadas.
Convocar Kátia Abreu é galhofar de parcela do eleitorado que lhe permitiu vencer.
É duvidosa a suposição de que, concedendo ao mercado financeiro, aos grandes empresários do agronegócio e à direita, a artilharia contra o governo se reduzirá.
Pelo contrário: esses segmentos se sentirão mais pujantes, para buscar os governos que mais lhes convenham.
Ao desprezar os que a elegeram, Dilma ameaça corroer a base social e política necessária para resistir a furacões vindouros.
(Mário Magalhães, jornalista, é autor da biografia de Marighella).
Partido Comunista Brasileiro

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