quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A esperança reformista com que foi recebida a vitória de Dilma Rousseff pelos reformistas portugueses esfuma-se a cada nomeação dos ministros para o próximo governo na medida em que os nomeados se identificam com os interesses do grande capital.


AINDA SOBRE AS EVENTUAIS ESCOLHAS DE DILMA


Na manhã desta segunda-feira, quando o sol e a névoa trocam cotoveladas por um espaço no céu do Rio, escrevo sem que o governo tenha anunciado Joaquim Levy e Kátia Abreu como ministros da administração Dilma Reloaded.
Portanto, trato de especulações, embora desde a sexta-feira boa parte do noticiário apresente o sr. Levy, na Fazenda, e a sra. Abreu, na Agricultura, como nomes certos.
Se a candidata reeleita ao Planalto confirmar o que se diz, não haverá como escapar à interpretação: acossada pelo conservadorismo mais direitoso na campanha, ela reagiu embicando o discurso rumo à esquerda e triunfou; sob fogo intenso do mesmo conservadorismo em seguida ao pleito, Dilma verga à pressão e toma o caminho à direita.
Sobre o tom da candidata, basta assistir ao anúncio acima, ainda do primeiro turno (clique na imagem do alto ou aqui).
Na segunda volta, do mata-mata, a tonalidade ficou ainda mais, digamos, avermelhada.
Dilma atacou Marina Silva por ter entre os aliados mais influentes uma sócia do Itaú. E Aécio Neves por adiantar que seu titular da Fazenda seria Armínio Fraga, uma das cabeças mais incensadas pelos ricos do Brasil, sobretudo os da jogatina financeira.
Com o novo mandato assegurado, dão conta os repórteres, Dilma convidou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, para substituir Guido Mantega.
Como Trabuco teria, perdão pelo trocadilho desgastado e sem inspiração, negado fogo, a indicação teria recaído sobre outro alto executivo do banco, Joaquim Levy.
O primeiro aspecto que sobressai é a contradição entre a pregação eleitoral de Dilma e suas aparentes ações como gestora.
O segundo é que, se estava claro quem eram seus aliados manjados, tipo PMDB, Dilma deu a entender que rejeitaria os arautos do império do mercado para governar.
Joaquim Levy não é nem aliado. Este artigo de setembro (link alternativo aqui), do qual é co-autor, expressa opiniões frontalmente contrárias às alardeadas por Dilma.
Alguém ousaria sugerir que Levy votou em Dilma Rousseff, e não em Aécio Neves?
Por mais que a presidente venha a chamar para o Ministério personagens vinculados à sua plataforma de campanha, o ministro da Fazenda tem muito mais poder.
Dilma afirmava que entre o PT e o PSDB a diferença fundamental é a maneira de enfrentar as vicissitudes da economia: impondo arrocho aos mais pobres ou não.
Com Levy ministro, ela terá escolhido um quadro com ideias tucanas.
Se Levy é bom para governar, por que, então, Aécio Neves não seria bom presidente?
O caso de Kátia Abreu é mais bandeiroso ainda. É compreensível que Dilma busque recompor as relações com o agronegócio, cujo peso na economia é notável. O problema é escolher alguém que simboliza tudo o que rejeita a militância pró-Dilma nos movimentos populares, que se mobilizou como não o fizera nas eleições passadas.
Convocar Kátia Abreu é galhofar de parcela do eleitorado que lhe permitiu vencer.
É duvidosa a suposição de que, concedendo ao mercado financeiro, aos grandes empresários do agronegócio e à direita, a artilharia contra o governo se reduzirá.
Pelo contrário: esses segmentos se sentirão mais pujantes, para buscar os governos que mais lhes convenham.
Ao desprezar os que a elegeram, Dilma ameaça corroer a base social e política necessária para resistir a furacões vindouros.
(Mário Magalhães, jornalista, é autor da biografia de Marighella).
Partido Comunista Brasileiro

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Por um movimento comunista europeu forte, contra as uniões imperialistas, pela derrocada do capitalismo!

  “Europa 100 anos da Primeira Guerra Mundial: crise, fascismo, guerra. A luta dos partidos comunistas e operários pela Europa do socialismo, da paz, da justiça social”.

Dimitris Koutsoumpas: É necessária a coordenação da atividade dos comunistas tendo como linha a derrubada da OTAN e da UE

Discurso de abertura do Secretário Geral do Comitê Central do KKE, Dimitris Koutsoumpas, no Encontro Comunista Europeu, em 02 de outubro de 2014
Estimados camaradas;
Mais uma vez nos reunimos aqui, no Parlamento Europeu, no Encontro Comunista Europeu. Damos as boas vindas a todos.
A participação de mais de 30 delegações de partidos comunistas e operários de dezenas de países da Europa demonstra que este encontro, realizado por iniciativa do KKE, corresponde à importante necessidade dos comunistas da Europa de reunirem-se, discutirem e posicionarem-se com relação aos acontecimentos atuais. Além disso, objetiva coordenar suas atividades contra as organizações imperialistas, que apenas provocam o sofrimento dos povos de nossos países e, também, coordenar suas atividades contra a barbárie capitalista.
O KKE continuará utilizando todos os meios disponíveis para contribuir com este esforço. De fato, hoje estamos aqui porque nosso partido utiliza as oportunidades disponíveis para seu grupo no parlamento europeu.
Na verdade, refutam-se todos os que, na Grécia e no estrangeiro, insinuaram que a retirada necessária do KKE do grupo europeu do GUE/NGL – após os acontecimentos negativos e o aumento das intervenções do Partido da Esquerda Europeia (PIE) –, supostamente, levaria à redução ou inclusão do desaparecimento destas possibilidades para nosso partido.
Podemos assegurar que, com base na experiência destes meses, ocorreu o contrário. Fortaleceu-se a nossa intervenção independente, nossa presença e luta em todos os processos dentro e fora do parlamento europeu.
Estimados camaradas;
O tema deste encontro reflete, em primeiro lugar, o que estão vivenciando, de uma ou outra forma, os povos da Europa: a crise econômica capitalista, o ressurgimento de tendências nacionalistas, racistas e fascistas, a guerra e as intervenções imperialistas.
Cem anos depois da Primeira Guerra Mundial e uns 70 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa está experimentando as consequências da sede insaciável dos monopólios dos lucros, enfrenta novamente as leis da via de desenvolvimento capitalista, tais como a crise econômica e seus reflexos trágicos para os trabalhadores e as demais camadas populares. A Europa e seus povos enfrentam a guerra.
É claro que as manifestações dos fenômenos diferem de um país para outro. Assim, se em nosso país grandes setores de trabalhadores vivem o desemprego e a deterioração significativa de seu nível de vida. Na Ucrânia, já se leva a cabo um derramamento de sangue. As diferentes manifestações das consequências do capitalismo de um país para outro estão relacionadas com o desenvolvimento capitalista desigual. No entanto, em toda a Europa, em seus quatro cantos, quem se beneficia é um punhado de capitalistas. Com ou sem memorando, está sendo implantada a agenda antipopular, estão se aprofundando os problemas trabalhistas e sociais. Não se trata simplesmente de uma divisão entre os “países ricos” e os “países pobres” da Europa (em detrimento desses últimos), mas de uma divisão impregnada pela profunda divisão classista: inclusive nos países mais pobres da Europa existe riqueza acumulada nas mãos de poucos, que levam uma vida particularmente provocadora em comparação ao resto da população. Da mesma forma, nos países mais ricos existe grande pobreza. Os trabalhadores, independentemente se vivem nos “países pobres” ou nos “países ricos”, têm interesses comuns na derrocada do capital, ainda mais que o capitalismo hoje ameaça os povos com novos derramamentos de sangue.
Ao estudar a experiência histórica, aprendemos que as crises econômicas, como a crise de 1929-1933, conduzem à guerra. Em cada crise se intensifica a agressividade do capital e se destroem enormes forças produtivas.
Nosso partido avalia que, inclusive se a economia entrar em uma fase de recuperação limitada, esta situação pode ser afetada pelo impacto dos acontecimentos na região, pela deterioração do curso econômico na zona do euro.
A economia alemã esteve em recessão no segundo trimestre de 2014, enquanto na Itália e na França se intensificam as preocupações. As leis objetivas do capitalismo são implacáveis. As dificuldades do sistema provocaram intensas contradições quanto à fórmula de gestão econômica, levando à transformação do sistema político para que os capitalistas assegurem a solução governamental mais eficaz para o fortalecimento dos monopólios, sua rentabilidade nas novas condições, para a continuidade do ataque antipopular.
As contradições entre os centros imperialistas estão se aprofundando. Este fato está relacionado com os acontecimentos na Ucrânia, com a guerra de sanções econômicas entre a UE e a Rússia, assim como os acontecimentos no Oriente Médio e na África do Norte. Intensificam-se os enfrentamentos entre os grupos monopolistas fortes, os estados capitalistas, as classes burguesas pelas quotas de mercado, pelo controle dos recursos naturais, pelas tubulações de gás natural e petróleo, assim como pelo controle das rotas de transporte de mercadorias. Trata-se de um antagonismo inter-imperialista implacável que, ao passar do tempo, se torna mais feroz. Uma tarefa principal para nosso movimento é entender que, devido à correlação de forças negativa, modificou-se toda a rede de relações internacionais, o direito internacional tal como foi estabelecido após a Segunda Guerra Mundial.
Nos últimos vinte anos, temos experimentado os primeiros indícios disto com uma longa serie de guerras e intervenções militares da OTAN, dos EUA, da UE na Iugoslávia, Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria, República da África Central e agora na Ucrânia. Ou seja, em todos os lugares onde se questionam os interesses dos monopólios estadunidenses e europeus, onde entram em conflito com os interesses antagônicos dos grupos empresariais russos, chineses e das demais economias capitalistas em desenvolvimento.
É um confronto que implica a utilização de todos os meios disponíveis, como, por exemplo, medidas diplomáticas, econômicas e militares, inclusive a possibilidade de utilizar armas nucleares. Isto se vê confirmado pela decisão da OTAN de formar forças de intervenção rápida, assim como sua intenção de instalar na Europa o chamado “escudo antimísseis”, para adquirir uma “vantagem nuclear” em relação ao “primeiro golpe” contra a Rússia.
Gostaríamos de destacar algumas coisas sobre os acontecimentos na Ucrânia. O KKE, desde o primeiro momento, assinalou que este confronto sangrento se manifestou com mais intensidade após a intervenção dos EUA e da UE nos acontecimentos na Ucrânia, pois são potências que estão em antagonismo feroz com a Rússia sobre o controle dos mercados, das matérias primas e das redes de transporte do país. Assim, o confronto se levou a cabo no terreno da via de desenvolvimento capitalista que segue o país, depois da dissolução da URSS. Em qualquer caso, a derrocada do governo de Yanukovich não constituía um “desenvolvimento democrático”, já que no governo surgiram forças conservadoras reacionárias, inclusive fascistas, utilizadas pela UE e pelos EUA para promover seus planos geopolíticos na região da Eurásia.
O KKE considera que a verdadeira solução para o povo ucraniano não é nem a aproximação da Ucrânia com a atual União Europeia imperialista nem com a atual Rússia capitalista. A tentativa de dividir o povo ucraniano com base étnica, linguística e levá-lo a um massacre ainda maior, com consequências trágicas incalculáveis tanto para o povo como para o país, a fim de escolher entre uma ou outra união capitalista interestatal, é totalmente alheio aos interesses dos trabalhadores.
Consideramos que o povo trabalhador da Ucrânia deve organizar sua luta independente, tendo como critério seus interesses e não qual imperialista escolhe um ou outro setor da plutocracia ucraniana. Deve traçar seu caminho para a ruptura total e para a derrocada das forças reacionárias, visando o socialismo como única alternativa aos impasses da via de desenvolvimento capitalista, às crises e às guerras. Ainda mais quando o povo da Ucrânia experimentou o significado do socialismo, do internacionalismo, dos direitos para a classe operária com base nas suas verdadeiras necessidades. Em grande medida, almeja as grandes conquistas sociais para a classe trabalhadora e demais setores populares.
O KKE, durante todo este período, seguiu a única política que consideramos corresponder a nosso caráter como partido comunista. Desde o primeiro momento, nosso partido pediu que a Grécia não tivesse participação alguma. Nenhuma implicação nos planos imperialistas da OTAN, dos EUA e da UE na Ucrânia, independente como se expressem estes planos, seja com sanções contra a Rússia ou com expedições militares no futuro. Fizemos isto com iniciativas no movimento operário, no parlamento nacional e europeu, com reuniões com o Presidente da República Helênica. Não deixamos de sublinhar que a crise capitalista e as guerras imperialistas andam de mãos dadas e que nosso povo não possui nenhum interesse na participação da Grécia nestes planos.
Estimados camaradas;
Nestas condições de crise econômica, de contradições aprofundadas e de preparação de guerras, vemos que o capitalismo tira novamente os arquivos da história e revive na vida política de muitos países as forças fascistas. É claro que o terreno foi preparado há muitos anos. Já que falamos de nosso continente, a própria UE fez todo o possível para apagar a chama da história verdadeira, que foi escrita com o sangue dos povos. Faz tudo o que é possível para distorcer a história, para justificar direta ou indiretamente a brutalidade fascista. Inclusive, chegou a declarar o dia 9 de maio, o Dia da Vitória Antifascista dos Povos, como “dia da Europa”, tentando eliminar da memória dos povos da Europa o caráter antifascista e anti-imperialista deste aniversário. Nesta campanha ideológica-política suja e caluniosa, nem sequer titubeiam em equiparar o fascismo ao comunismo, com a diretriz e o marco da UE e a teoria infundada dos “dois extremos”.
Ao mesmo tempo, a UE, assim como os EUA, não tem nenhuma dúvida em apoiar-se e apoiar as forças mais reacionárias e obscuras que surgiram no governo da Ucrânia, na direção do estado da Ucrânia, através de um golpe de estado, como ocorreu anteriormente em muitos países bálticos, para a promoção de seus interesses geopolíticos na região da Eurásia. Durante os últimos 25 anos, depois do fim do socialismo e da dissolução da URSS, se leva a cabo uma sistemática “lavagem cerebral” ideológica anticomunista, apresentando as “legiões SS” e outros grupos armados pró-fascistas como “libertadores” dos países do bolchevismo.
No entanto, por mais rancor que tenham, por mais tinta que seja gasta, a realidade objetiva não pode ser alterada. Quase 70 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, milhões de pessoas em todo o mundo apreciam a contribuição do movimento comunista com sacrifícios sem precedentes para a derrota do fascismo.
A principal força desta luta titânica, a alma e o dirigente foram os partidos comunistas, encabeçados pelo partido dos bolcheviques. Milhões de comunistas, homens e mulheres sacrificaram sua vida para um mundo melhor.
O sistema capitalista, os antagonismos que inevitavelmente se manifestam entre os imperialistas e os monopólios estão gravados na consciência dos povos profundamente estigmatizados como responsáveis pelas duas guerras mundiais. Para os milhões de mortos, deficientes, removidos de seus lares. Não titubeiam em cometer qualquer crime se isto serve a seus lucros, seu domínio e ao poder capitalista. Esta realidade ainda continua sendo mais vigente hoje em dia, dado que os antagonismos e os conflitos entre si estão se aprofundando.
O monstro fascista, tanto hoje quanto no passado, é uma criação do sistema capitalista, nasce em suas entranhas, não é algo fora disto, como pretendem apresentá-lo. O fascismo é a expressão extrema do capital, utilizado como a “ponta de lança” do poder capitalista contra o movimento operário.
Utiliza as condições da democracia parlamentar burguesa para fortalecer-se, contando com o apoio do capital ou de setores dele, assim como do aparato estatal. Seu objetivo é aplicar uma forma dura de exercício do poder dos monopólios, tal como fizeram no passado os partidos nacional-socialistas de Hitler e Mussolini, para suprimir o movimento operário e popular. Isto foi e continua sendo sua principal característica e disto surge o ódio anticomunista declarado de todas as forças fascistas ao longo do tempo.
O fortalecimento dos fascistas na Ucrânia, na Grécia, na França e em outros países da Europa está vinculado ao desmentido das falsas experiências que fomentaram tanto a socialdemocracia quanto os partidos burgueses liberais, todo tipo de governos burgueses, que prometiam ajustes favoráveis ao povo e, na prática, aplicaram uma dura política antipopular, servindo aos monopólios. Então, a frustração dos setores populares destroçados, dos trabalhadores autônomos, dos camponeses, dos desempregados, de setores da classe operária sem experiência, sobretudo jovens, pode levar, inclusive, a uma direção mais reacionária. Isto foi demonstrou tanto pela história como pelos acontecimentos atuais. As consignas, as promessas de mudança a favor do povo que são refutadas na prática pelas diferentes formas de gestão dos interesses do capital, da barbárie capitalista, da estratégia da UE, que levam a consciência do povo ao retrocesso. O fascismo, assim como há 80 anos, pode ser a opção das classes burguesas não apenas como força de ataque e intimidação contra o movimento popular, mas também como força de gestão do poder burguês.
Nós comunistas lutamos para erradicar as causas que geram as crises, a guerra, o fascismo, ou seja, o próprio sistema capitalista. Consideramos que esta direção, a luta pela transformação revolucionária, pelo socialismo, não só nos dá força para o confronto diário com o capital, para lutar pelos objetivos e demandas que correspondem às necessidades populares, como também para orientar nossa política de alianças. Nós comunistas da Grécia, lutamos nesta direção, tentando unir todos, a maioria, ou seja, a classe operária, os setores populares urbanos e rurais na luta contra os monopólios, contra o capitalismo.
Estimados camaradas;
É de grande importância a postura do movimento comunista e operário. Não deve cair nas “armadilhas” montadas, entre outros, pelas forças de “esquerda”, ou seja, oportunistas-sociademocratas, como é SYRIZA na Grécia e PIE na Europa, que chamam os setores operários e populares a lutarem “sob as bandeiras estrangeiras”. Posições como, por exemplo, a formação de uma “frente do sul” da Europa ou da suposta “democratização da UE”, da “mudança do papel do BCE”, etc., enturvam as águas. Estas posições semeiam ilusões de que é possível uma “fórmula de gestão racional” melhor, que corrigirá a UE e livrará o capitalismo de sua barbárie atual.
Além disso, gostaríamos de destacar o seguinte: assim como capitalismo, o sistema imperialista internacional não pode se desfazer de suas características inerentes e “humanizar-se” supostamente com um modo de gestão de “esquerdas”. Assim, suas alianças capitalistas interestatais, suas organizações imperialistas, como a UE, tampouco podem “humanizar-se”. De fato, nas condições atuais vão piorar; não há como melhorarem. O único caminho para os povos é a luta para sua derrocada, pela construção da nova sociedade socialista, com a classe trabalhadora, o povo no poder.
A UE e a OTAN são “ferramentas” dos monopólios europeus e estadunidenses. A UE não está sob a “tutela” dos EUA e da OTAN. A UE não se arrasta atrás dos EUA e da OTAN, como defendem as forças oportunistas, mas coopera estreitamente e isto é evidente em muitos casos. Certamente, existem interesses distintos que se chocam com um ou outro modo de tratar conjuntamente um tema. No entanto, as potências imperialistas da UE e da OTAN são chamadas cada vez mais a diminuir as distâncias entre seus interesses separados e obter uma coordenação comum entre a UE, a OTAN e os EUA, fortalecendo ainda mais a aliança depredadora da OTAN e suas infraestruturas na Europa, em cooperação, buscando alcançar vantagens e dialogar com a Rússia capitalista atual de uma posição de força. Neste marco e em nome da suposta “segurança europeia”, integram os planos de aumento dos fundos militares, o chamado “escudo antimísseis”, o aumento dos chamados “corpos militares flexíveis”, a maior participação da Ucrânia nos planos da OTAN, etc., tal como foi decidido na recente reunião da OTAN em Gales.
A Europa do socialismo, da paz e da justiça social pela qual lutamos, requer objetivamente o fortalecimento da luta operária e popular a nível nacional. Porque o fortalecimento da luta a nível nacional é um requisito prévio para que se fortaleça a luta a nível regional e europeu, para que mude a correlação de forças, a fim de romper o “elo da cadeia” do poder dos monopólios e os grilhões imperialistas da UE e da OTAN, através da retirada destas, o que nas condições atuais só pode ser garantido pelo poder operário e popular.
Este assunto tem sido levantado em nosso país, dado que a principal oposição, SYRIZA, por um lado promete lealdade a estas uniões e, por outro, promete que quando estiver no governo reparará a UE, declara que a retirada da OTAN não é sua prioridade ou, inclusive, alguns de seus quadros falam geralmente da necessidade de que a OTAN “se dissolva”. Porém, a linha revolucionária que corresponde aos interesses de cada povo e de todos os povos é uma: lutar consequentemente nos países membros da OTAN para retirar-se desta, organizar a luta contra a integração dos países, onde as burguesias estão se preparando para entrar na aliança depredadora. Não há um terceiro caminho.
É bem conhecida a tática das forças oportunistas e socialdemocratas, como SYRIZA e outras, que se agrupam basicamente no PIE e que, há anos, “levam água ao moinho” da OTAN, apoiando os pretextos e as intervenções imperialistas como, por exemplo, na Iugoslávia, Líbia ou Síria e, ao mesmo tempo, tentam enganar os trabalhadores, falando em termos gerais e de modo pacifista a favor da dissolução da OTAN. É hipócrita porque uma determinada demanda pode ser promovida por um movimento, um partido, de que seu país não está na OTAN ou que ainda não pensou em aderir a esta. Porém, quando um país é membro deste grupo de assassinos, não pode atuar com indiferença e dizer que “deveria dissolver-se”. Primeiro, é preciso lutar para separar seu país dos planos assassinos e desta organização criminosa, que é o “braço longo” e armado dos monopólios europeus e estadunidenses.
Estimados camaradas;
Há cem anos existiam certos analistas de acontecimentos internacionais que estimavam que as contradições, o conflito entre as grandes potências de então se limitariam a certos focos, a guerras locais e a enfrentamentos. Isso é porque consideravam que os interesses da cooperação dos círculos econômicos dos grandes países eram tão grandes que funcionariam para prevenir uma Guerra Mundial.
Como sabemos hoje, estas avaliações foram refutadas pela realidade e, de fato, milhões de pessoas pagaram com sua vida. O capitalismo, as contradições interimperialistas já provocaram duas Guerras Mundiais, causando enormes destruições. Hoje, o “fusível” da guerra se acendeu. Não são poucos os que dizem que um conflito generalizado é “ilógico”, já que os benefícios desta cooperação entre as grandes potências, como, por exemplo, entre Alemanha e Rússia, são enormes, assim como não seria lógico levá-las a um conflito generalizado. Nós não compartilhamos com estas vozes apassivadoras.
No entanto, estudamos os desenvolvimentos, as diferenciações, os interesses separados e as cooperações que desenvolvem as burguesias, porém não esquecemos que a crise capitalista “embaralha as cartas” dentro do sistema imperialista, onde participam todos os países capitalistas com base na sua força econômica, política e militar. As contradições interimperialistas que no passado deram lugar a dezenas de guerras locais, regionais e a duas guerras mundiais, continuam conduzindo a duros confrontos econômicos, políticos e militares, independentemente da composição ou recomposição, das mudanças na estrutura e no marco dos objetivos das uniões imperialistas internacionais, da chamada nova “arquitetura”.
Contudo, “a guerra é a continuação da política por outros meios”, sobretudo em condições de profunda crise de super acumulação e de mudanças importantes na correlação de forças no sistema imperialista internacional, onde a redistribuição dos mercados raramente ocorre sem derramamento de sangue.
Esta constatação de que enquanto existir o capitalismo, haverá também as condições que geram a guerra, impõe tarefas complexas para nós. Por isso, nos dirigimos à classe trabalhadora do país, aos povos da Europa e destacamos que seus interesses se identificam com a luta anti-capitalista e anti-monopolista comum pela desvinculação das organizações imperialistas, pelo desmantelamento das bases militares estrangeiras e das armas nucleares, pelo regresso das forças militares de missões imperialistas, pela manifestação de solidariedade com todos os povos que lutam e tentam traçar seu próprio caminho de desenvolvimento. Para que se liberte nosso país dos planos e das guerras imperialistas. Para que se converta em realidade a consigna: “Nem terreno, nem mar para os assassinos dos povos!” Esta é uma luta diária. Uma luta com objetivos concretos, que os comunistas na Grécia levam a cabo de forma unificada com a luta pelo poder popular e não separada dela.
A utilização da valiosa experiência histórica de cada movimento, de cada partido em seu país e a nível internacional é uma ferramenta significativa. Porém, ao mesmo tempo, não é possível nos limitarmos a nossa experiência do passado. O desejo da burguesia de cada país de tomar parte ativamente na distribuição dos mercados através de uma guerra se relacionará ainda mais com uma campanha nacionalista enganosa. A burguesia de cada país tentará convencer seu povo com vários pretextos de que possui interesse material em entrar em outra guerra expansionista, em tentar anexar territórios ou aceitar novos compromissos e dependências. No entanto, em todo caso, qualquer forma que tome a participação de cada país em particular na guerra imperialista, na intervenção imperialista, nosso movimento comunista, os partidos comunistas devem liderar a organização independente da resistência operária e popular e vincular esta luta com a derrota definitiva de sua burguesia, local e estrangeira, como invasor. E isto pode se converter em realidade caso o Partido Comunista tome a iniciativa de formar a Frente Operária e Popular sob a bandeira: O povo dará a liberdade e o caminho de saída da barbárie capitalista que, enquanto prevalece, traz a guerra e a “paz” imperialista com a pistola na cabeça do povo.
A contribuição do socialismo na Europa após a dissolução, que ocorreu há quase 25 anos, continua sendo inquebrantável. Somente o socialismo pode sentar as bases econômicas e sociais que, por um lado, vão satisfazer as necessidades contemporâneas dos trabalhadores e das demais camadas populares e, ao mesmo tempo, garantir a paz.
Os partidos comunistas e operários da Europa devem intensificar seus esforços, sua atividade, sua coordenação e contribuir com uma linha de derrocamento, visando fortalecer a frente europeia contra a OTAN e a UE. Por um futuro de esperança para os povos e os jovens de nossos países.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Contra o capitalismo, organização e acção proletária!



No México o massacre de Ayotzinapa, somado a um longo e trágico historial de violência estatal e mafiosa, despertou uma profunda cólera popular e deu lugar a amplas mobilizações de massa. Manifestam-se sinais de uma crise geral para a qual o actual poder, com o programa e os meios de que dispõe, não tem solução. Mas está ainda em construção a força organizada, revolucionária e de massas, capaz de abrir caminho a uma solução.
A repressão de Estado contra os companheiros da escola do magistério manifesta os sinais evidentes de uma profunda crise do sistema capitalista mexicano. Uma crise que – tal como Lénine formulou - abre a possibilidade de que o regime social apodreça indefinidamente, se a burguesia não encontra uma saída estrutural ou se não se cria a força revolucionária que a resolva. Estamos perante uma crise estrutural que revela a incapacidade da burguesia monopolista para conduzir o desenvolvimento das forças produtivas do país.
A situação que o país vive reflecte claramente aquilo que o marxismo-leninismo denunciou: que o capitalismo na sua fase monopolista imperialista não só não pode desenvolver harmonicamente o crescimento das sociedades, como as conduz através de crises e comoções sociais que levam ao aumento da exploração da mão-de-obra assalariada, à miséria, à exclusão e à pobreza extrema de milhões de famílias mexicanas.
Sob a direcção do imperialismo, a organização económica actual não pode garantir a geração de empregos remunerados, nem o desenvolvimento das forças produtivas. O capitalismo monopolista requer a sua própria estrutura produtiva, a mesma que não permite o funcionamento separado da pequena e média produção, e que pelo contrário exige a sua subordinação, a sua reconversão em economia complementar, amarrada às leis e necessidades dos monopólios.
Esta crise de estrutura evidencia que se produziu a ruptura do equilíbrio das forças que tradicionalmente vinham participando na direcção do Estado e do seu governo. O actual bloco de sectores no poder está em crise e isso reflecte-se em todo o aparelho político da burguesia. É uma crise profunda porque rompe com os mecanismos tradicionais de dominação sobre os quais assentava o controlo social.
Sobre a base desta crise de estrutura surgiu uma crise política, e não é uma crise passageira. Trata-se da incapacidade da direcção política burguesa para resolver, com o programa e os meios de que dispõe actualmente, os problemas políticos e de desenvolvimento social que se colocam nesta conjuntura. Nesta crise os partidos são inúteis porque todos os que existem são parte do sistema de dominação, o oportunismo de direita, a social-democracia e os partidos pequeno-burgueses arrastam-se na crise do sistema.
As manifestações e mobilizações de estudantes, trabalhadores, assalariados, demonstram que cresce a desconfiança das massas e que os trabalhadores já não somos levados pela manipulação da burguesia através dos meios de comunicação que controla, sobretudo os meios electrónicos como a televisão e a rádio.
A resposta que Marx e Engels deram à pergunta de como vence a burguesia este tipo de crise continua sendo válida:preparando crises mais extensas e mais violentas e diminuindo os meios para as prevenir. Mas para os comunistas esta não é a única solução possível. Nas condições da crise da estrutura de dominação burguesa é possível e urgente à classe operária elaborar já uma alternativa própria face à solução burguesa cuja única proposta é incrementar a violência para recuperar o controlo perdido.
Existem as condições objectivas para que o proletariado conquiste a sua independência de classe e dispute o poder à burguesia. Mas para os comunistas do que se trata não é de enunciar este facto objectivo, trata-se de acelerar a construção do partido, da organização política dos operários e assalariados, uma organização que seja capaz de disputar a direcção da sociedade à burguesia e de lhe arrebatar o poder político. Aproveitar as contradições actuais para construir o partido da classe operária, orientado, tal como decidimos no nosso quinto congresso, a caminhar no sentido do cumprimento da missão histórica do proletariado: a revolução socialista.
*Membro do CC do México
Fonte: El Comunista, órgão do Comité Central do Partido Comunista de México

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Milhares participaram na Manifestação Nacional da PAME - Frente Militante de Todos os Trabalhadores - com a palavra de ordem: “Não queremos viver com migalhas”



Milhares de pessoas de todas as partes da Grécia enviaram, na grandiosa manifestação, uma mensagem de luta e de reivindicação da vida que lhes pertence.

Foi uma mensagem decisiva por uma outra sociedade, em que a classe operária pode usufruir da riqueza que produz.

Mais de 1000 organizações do movimento operário e popular (federações sindicais setoriais e de locais de trabalho, sindicatos, comissões de luta, organizações e associações de agricultores, associações de trabalhadores por conta própria, associações de estudantes e de jovens do ensino secundário, associações de mulheres, de reformados, comissões populares, etc.) participaram na iniciativa da Frente Militante de todos os Trabalhadores (PAME), na magnífica manifestação nacional, que se realizou no sábado, 1 de novembro, na praça Sintagma frente ao parlamento.

Dezenas de milhares de pessoas vieram de autocarro do continente, mas também de Creta, das Ilhas do Mar Egeu e das Ilhas Jónicas e concentraram-se em 9 pontos diferentes da capital grega. Desfilaram depois até à Praça Sintagma, que se tornou demasiado pequena para acolher todos os manifestantes (nota: ver a imagem do localque mostra a dimensão da manifestação.

O Secretariado Executivo da PAME, na sua declaração, saudou o mar de gente – nada menos de 100 000 pessoas – que inundou o centro de Atenas.

Dirigindo-se à manifestação, Giorgos Perros, membro do Secretariado Executivo da PAME, referiu-se às questões ligadas ao desemprego, afirmando que “nenhum desempregado pode ficar sozinho a enfrentar a pobreza e o desemprego”. Apelou ainda aos trabalhadores para porem fim ao roubo dos salários e dos rendimentos do povo. Apelou ainda à luta por aumentos reais dos seus rendimentos, nos salários e nas pensões.

Como o orador sublinhou: “As reivindicações do movimento dos trabalhadores, com o objetivo de recuperarem as perdas que sofreram, devem ser agressivas e baseadas nas nossas atuais necessidades. 

Para que tais reivindicações se concretizem e consolidem, devem estar paralelamente ligadas à luta contra os objetivos e as políticas da UE, o memorando e as dívidas que não contraímos”.

Sublinhou também que «o nosso dever é resistir ao “realismo” a respeito dos limites da resistência da economia que está contido nas propostas do governo e na oposição oficial, que ajustam as nossas reivindicações às necessidades do capital.

Dizem-nos que, se os patrões não existirem, se a rentabilidade não existir, não conseguiremos viver e seremos destruídos. Mas nós dizemos que podemos viver sem patrões, que somos nós que produzimos a riqueza, que ela tem de nos ser devolvida».

A luta pelo sucesso da greve geral de 27 de novembro começa com esta grandiosa manifestação nacional como ponto de partida.

A manifestação nacional aprovou duas resoluções, em resposta à solidariedade internacionalista que os manifestantes receberam de dezenas de organizações sindicais de todo o mundo. A primeira resolução é uma mensagem internacionalista de classe com a classe operária da Turquia, por ocasião do novo crime dos patrões numa mina da região de Karaman. A segunda resolução apelou às “organizações sindicais e às organizações do movimento popular para condenarem a injusta e bárbara prisão dos 5 patriotas cubanos através resoluções, declarações, mensagens de solidariedade e outras iniciativas” e sublinhou a necessidade do fortalecimento do movimento de solidariedade que luta pela sua libertação.

Declaração do Secretário-geral do KKE
Dimitris Koutsoumpas, Secretário-geral do CC do KKE, fez a seguinte declaração na manifestação nacional na Praça Sintagma:

“Só há um caminho em frente para não perder tempo, para enfrentar a fraude, a desorientação, a linha política antipopular do governo e os vários truques do bipartidarismo. A magnífica manifestação da PAME, hoje, mostra esse caminho em frente. Esta manifestação desencadeou-se por iniciativa da PAME por todo o país e foi abraçada por mais de 1000 organizações de trabalhadores do setor público e privado, pelo movimento dos trabalhadores por conta própria nas cidades, pelos pequenos agricultores, a juventude, os estudantes e as mulheres. Este é o caminho que devemos seguir, esta é a nossa solução: resistência, luta, aliança popular para alcançar trabalho estável e permanente para todos, acabar com o saque dos impostos e recuperar as perdas que os salários, as pensões e os direitos da segurança social sofreram nos últimos anos.

Temos de prosseguir neste caminho que começou com a iniciativa da PAME.

Acabem as ilusões com os novos salvadores. Temos de virar as costas àqueles que  supostamente prometem novas soluções governamentais, os novos salvadores que nos querem levar para outra espiral descendente antipopular. Voltaremos a encontrar-nos em 27 de novembro na greve geral nacional, nas manifestações e concentrações que ocorrerão nesse dia. Organizamos a nossa luta, cada pessoa no seu posto de trabalho, em todos os estabelecimentos de ensino, em todos os bairros, para aplanar o caminho que leva a novos desenvolvimentos a favor dos interesses do povo e do país”. 

sábado, 1 de novembro de 2014

Caráter Internacional da Revolução de Outubro De J. Stálin 7 de Novembro de 1927

A Revolução de Outubro não é somente uma revolução circunscrita "a um âmbito nacional". É, antes, de tudo, uma revolução do tipo internacional, de tipo mundial, pois representa uma reviravolta radical na história da humanidade, uma reviravolta do velho mundo, do mundo capitalista, para o mundo novo, para o mundo socialista.

No passado, as revoluções acabavam, geralmente, com a substituição de um grupo de exploradores por outro grupo de exploradores no leme do governo. Mudavam os exploradores, mas a exploração continuava. Assim aconteceu na época dos movimentos libertadores dos escravos. Assim aconteceu na época das sublevações dos servos. Assim aconteceu na época das conhecidas "grandes" revoluções da Inglaterra, França e Alemanha. Não me refiro à Comuna de Paris, que foi a primeira tentativa do proletariado — gloriosa e heróica, mas, contudo, uma tentativa fracassada — para virar a história contra o capitalismo.

A Revolução de Outubro se distingue fundamentalmente destas revoluções. Ela se propõe, como objetivo, não a substituição de uma forma de exploração por outra forma de exploração, de um grupo de exploradores por outro grupo de exploradores, mas a supressão de toda espécie de exploração do homem pelo homem, a supressão de todos e cada um dos grupos exploradores, a instauração da ditadura do proletariado, a instauração do poder da classe mais revolucionária entre todas as classes oprimidas que existiram até hoje, a organização da nova sociedade socialista sem classe.

É precisamente por isto que o triunfo da Revolução de Outubro assinala uma mudança radical e profunda na história da humanidade, uma mudança radical e profunda nos destinos históricos do capitalismo mundial, uma mudança radical e profunda no movimento de libertação do proletariado mundial, uma mudança radical e profunda nos métodos de luta e nas formas de organização, nos hábitos de vida e nas tradições, na cultura e na ideologia das massas exploradas do mundo inteiro.

Nisto reside a base de por que a Revolução de Outubro é uma revolução de tipo internacional, de tipo mundial.

E nisto reside também a profunda simpatia que sentem pela Revolução de Outubro as classes oprimidas de todos os países, que vêm nela a garantia de sua libertação.

Poderiam assinalar-se uma série de problemas fundamentais nos quais a Revolução de Outubro exerce uma influência sobre o desenvolvimento do movimento revolucionário do mundo inteiro.

1

A Revolução de Outubro se caracteriza, antes de tudo, por haver rompido a frente do imperialismo mundial, por haver derrubado a burguesia imperialista num dos maiores países capitalistas e por haver colocado no Poder o proletariado socialista.

A classe dos assalariados, a classe dos perseguidos, a classe dos oprimidos e dos explorados elevou-se pela primeira vez na história da humanidade à posição de classe dominante, contagiando com o seu exemplo o proletariado de todos os países.

Isto significa que a Revolução de Outubro abriu uma nova época, a época das revoluções proletárias nos países do imperialismo.
Despojou os senhores de terra e os capitalistas dos instrumentos e meios de produção, convertendo-os em propriedade coletiva e contrapondo deste modo a propriedade socialista à propriedade burguesa. Com isso, tornou evidente a mentira dos capitalistas de que a propriedade burguesa é inviolável, sagrada, eterna.

Arrancou o Poder da burguesia, privou a burguesia dos direitos políticos, destruiu a máquina do Estado burguês e entregou o Poder aos Sovietes, contrapondo deste modo ao parlamentarismo burguês, como democracia capitalista, o Poder socialista dos Sovietes como democracia proletária. Tinha razão Lafargue ao dizer, já em 1887 que, no dia seguinte à revolução, "todos os antigos capitalistas seriam privados dos direitos eleitorais". Com isso, a Revolução de Outubro evidenciou a mentira dos social-democratas de que hoje é possível a transição pacífica para o socialismo pela senda do parlamentarismo burguês.

Mas a Revolução de Outubro, não se deteve nem podia se deter aí. Depois de destruir o velho, o burguês, empreendeu a construção do novo, do socialista. Os dez anos transcorridos desde a Revolução de Outubro são dez anos de edificação do Partido, dos sindicatos, dos Sovietes, da cooperação, das organizações culturais, do transporte, da indústria, do Exército Vermelho. Os êxitos indiscutíveis alcançados pelo socialismo na URSS, na frente da construção demonstraram claramente que o proletariado pode governar o país com êxito sem burguesia e contra a burguesia,pode construir a indústria com êxito sem burguesia e contra a burguesia, pode dirigir toda a economia nacional com êxito sem burguesia e contra a burguesia, pode construir o socialismo com êxito, a despeito do cerco capitalista. A velha "teoria" de que os explorados não podem arranjar-se sem os exploradores, do modo que a cabeça e as outras partes do corpo não podem se arranjar sem o estômago, não é patrimônio exclusivo de Menenio Agripa, o célebre senador romano de que nos fala a história antiga. Esta "teoria" é hoje a pedra angular da "filosofia" política da social-democracia em geral e da política social-democrata de coalizão com a burguesia imperialista em particular. Esta "teoria", que se revestiu do caráter de um preconceito, é atualmente um dos obstáculos mais sérios com que tropeça o desenvolvimento revolucionário do proletariado dos países capitalistas. Um dos resultados mais importantes da Revolução de Outubro é o fato de haver assestado o golpe de misericórdia nesta falsa "teoria".

Será que ainda é preciso demonstrar que estes resultados da Revolução de Outubro, e outros semelhantes, exerceram e não podem deixar de exercer uma grande influência sobre o movimento revolucionário da classe operária dos países capitalistas?

Fatos tão notórios para todo o mundo como o incremento progressivo do comunismo nos países capitalistas, como o crescimento das simpatias dos proletários de todos os países para com a classe operária da URSS, e, finalmente, a afluência de delegações operárias ao País dos Sovietes, indicam de um modo indiscutível que a semente lançada pela Revolução de Outubro começa a dar seus frutos.

2

A Revolução de Outubro, não abalou o imperialismo somente nos centros de sua dominação, nas "metrópoles". Foi também um golpe contra a retaguarda do imperialismo, contra sua periferia, minando a dominação do imperialismo nos países coloniais e dependentes.

Ao derrubar os senhores de terra e os capitalistas, a Revolução de Outubro rompeu as cadeias da opressão nacional e colonial e libertou das mesmas a todos os povos oprimidos de um vasto império, sem exceção. O proletariado não pode libertar-se sem libertar os povos oprimidos. Traço característico da Revolução de Outubro é o fato de haver levado a cabo, na URSS, estas revoluções nacional-coloniais não sob a bandeira da hostilidade nacional e dos choques entre as nações, mas sob a bandeira da confiança mútua e da união fraternal entre os operários e os camponeses das nacionalidades da URSS, não em nome do nacionalismo, mas em nome do internacionalismo.

Precisamente por isto, porque em nosso país as revoluções nacional-coloniais foram levadas a cabo sob a direção do proletariado e sob a bandeira do internacionalismo, precisamente por isto, os povos párias, os povos escravos, elevaram-se pela primeira vez na história da humanidade à condição de povos verdadeiramente livres e verdadeiramente iguais, contagiando com o seu exemplo os povos oprimidos do mundo inteiro.

Isto significa que a Revolução de Outubro abriu uma nova época, uma época de revoluções coloniais, que se processam nos países oprimidos do mundo em aliança com o proletariado, sob a direção do proletariado.

Antes, "costumava-se" acreditar que o mundo estava dividido desde tempos imemoriais em raças inferiores e superiores, em negros e brancos, dos quais os primeiros não são aptos para a civilização e estão condenados a ser objeto de exploração, enquanto que os segundos são os únicos expoentes da civilização, destinados a explorar os primeiros. Hoje é preciso considerar esta lenda como destruída e desfeita. Um dos resultados mais importantes da Revolução de Outubro é o fato de haver assestado o golpe de misericórdia, nesta lenda, demonstrando na prática que os povos não europeus libertados e atraídos ao caminho do desenvolvimento soviético são capazes de impulsionar uma cultura realmente avançada e uma civilização realmente avançada, não inferior, de modo algum, à dos povos europeus.

Antes, "costumava-se" acreditar que o único método para libertar povos oprimidos era o método do nacionalismo burguês, o método de separar as nações umas das outras, o método de desuni-las, o método de acentuar a hostilidade nacional entre as massas trabalhadoras de diferentes nações. Hoje é preciso considerar como refutada esta lenda. Um dos resultados mais importantes da Revolução de Outubro é o fato de haver assestado o golpe de misericórdia nesta lenda, demonstrando na prática a possibilidade e a conveniência do método proletário, internacional, de libertação dos povos oprimidos, como o único método acertado, demonstrando na prática a possibilidade e a conveniência de uma aliança fraternal entre os operários e os camponeses dos mais diversos povos sobre os princípios do livre consentimento e do internacionalismo. A existência da União de Repúblicas Socialistas Soviéticas, protótipo da futura unificação dos trabalhadores de todos os países numa só economia mundial, só pode servir de prova direta disto.

Não é preciso dizer que estes resultados e outros semelhantes da Revolução de Outubro, não podiam nem podem deixar de exercer uma grande influência sobre o movimento revolucionário nos países coloniais e dependentes. Fatos como o incremento do movimento revolucionário nos povos oprimidos, na China, na Indochina, na Índia, etc, e o crescimento da simpatia destes povos para com a URSS mostram isto de um modo indiscutível.

Passaram os tempos em que se podia explorar e oprimir tranquilamente as colônias e os países dependentes.

Começou a era das revoluções libertadoras nas colônias e nos países dependentes, a era do despertar do proletariado destes países, a era de sua hegemonia na revolução.

3

Ao lançar a semente da revolução tanto nos centros do imperialismo como em sua retaguarda, ao debilitar a potência do imperialismo nas "metrópoles" e ao abalar sua dominação nas colônias, a Revolução de Outubro pôs em cheque a própria existência do capitalismo mundial em seu conjunto.

Se, sob as condições do imperialismo, o desenvolvimento espontâneo do capitalismo se transformou — em virtude de sua desigualdade, em virtude do caráter inevitável dos conflitos e dos choques armados e, finalmente, em virtude da carnificina imperialista sem precedentes — no processo de decomposição e agonia do capitalismo, a Revolução de Outubro e, como resultado dela, a separação de um enorme país do sistema mundial do capitalismo, só podiam no mínimo acelerar este processo, minando passo a passo as própria bases do imperialismo mundial.

Mais ainda. A Revolução de Outubro, ao solapar o imperialismo, criou ao mesmo tempo, com a primeira ditadura proletária, uma base potente e aberta para o movimento revolucionário mundial, base que este movimento jamais havia tido antes e na qual pode agora apoiar-se. Criou um centro potente e aberto para o movimento revolucionário mundial, centro que jamais havia tido antes e em torno da qual pode agora este movimente adquirir coesão, organizando a frente única revolucionária dos proletários e dos povos oprimidos de todos os países contra o imperialismo.

Isto significa, em primeiro lugar, que a Revolução de Outubro produziu um ferimento mortal no capitalismo mundial, ferimento do qual este não se refará jamais. E por isso precisamente o capitalismo não voltará jamais a reconquistar aquele "equilíbrio" e aquela "estabilidade" que tinha antes de Outubro. O capitalismo poderá estabilizar-se parcialmente, poderá racionalizar sua produção, entregar o governo do país ao fascismo, acossar temporariamente a classe operária, mas não voltará jamais a desfrutar aquela "tranquilidade" e aquela "segurança", aquele "equilíbrio" e aquela "estabilidade" que ostentava antes, pois a crise do capitalismo mundial alcançou um tal grau de desenvolvimento, que a fogueira da revolução se acenderá inevitavelmente, seja nos centros do imperialismo, seja na periferia, despedaçando os remendos capitalistas e aproximando dia a dia a queda do capitalismo. Tal qual, na conhecida fábula: "se tira o rabo, fica o focinho; se tira o focinho, fica o rabo".

Isto significa, em segundo lugar, que a Revolução de Outubro elevou a uma certa altura a força e a importância, a coragem e a vontade combativa das classes oprimidas do mundo inteiro, obrigando as classes dominantes a levá-las em conta como um novo e importante fator. Hoje, já não se pode considerar as massas trabalhadoras do mundo como um "tropel cego" que vagueia nas trevas e não tem horizontes, já que a Revolução de Outubro acendeu o farol que lhes ilumina o caminho e lhes assinala as perspectivas. Se antes não havia nem uma tribuna universal aberta, de onde se pudessem manifestar e plasmar os sonhos e as aspirações das classes oprimidas, hoje esta tribuna existe e é a primeira ditadura proletária. Pode-se duvidar de que a destruição desta tribuna envolveria para muito tempo a vida político-social dos "países adiantados" nas sombras de uma negra reação desenfreada? Não se pode negar que só o fato da existência do "Estado bolchevique" põe um freio às forças negras da reação e facilita a luta das classes oprimidas por sua libertação. E é isto precisamente o que explica esse ódio bestial que os exploradores de todos os países sentem contra os bolcheviques. A história se repete, embora sobre bases novas. Do mesmo modo que antigamente, na época da queda do feudalismo, quando a palavra "jacobino" provocava nos aristocratas de todos os países um sentimento de horror e repugnância, hoje, na época da queda do capitalismo, a palavra "bolchevique" provoca também um sentimento de horror e repugnância nos países burgueses. E inversamente, assim como antes o asilo e a escola dos representantes revolucionários da burguesia ascendente era Paris, hoje o asilo e a escola dos representantes revolucionários do proletariado ascendente é Moscou. O ódio aos jacobinos não salvou o feudalismo da derrocada. Pode-se duvidar de que o ódio aos bolcheviques também não salvará o capitalismo de seu esmagamento inevitável?

Passou a era da "estabilidade" do capitalismo, arrastando consigo a lenda da imutabilidade da ordem burguesa.

Começou a era da derrocada do capitalismo.

4

A Revolução de Outubro não é somente uma revolução no campo das relações econômicas e político-sociais. É, ao mesmo tempo, uma revolução nos cérebros, uma revolução na ideologia da classe operária. A Revolução de Outubro surgiu e se consolidou sob a bandeira do marxismo, sob a bandeira da idéia da ditadura do proletariado, sob a bandeira do leninismo, que é o marxismo da época do imperialismo e das revoluções proletárias, Representa, portanto, a vitória do marxismo sobre o reformismo, a vitória do leninismo sobre o social-democratismo, a vitória da Terceira sobre a II Internacional.

A Revolução de Outubro abriu uma abismo intransponível entre o marxismo e o social-democratismo, entre a política do leninismo e a política do social-democratismo. Antes, até a vitória da ditadura do proletariado, a socialdemocracia podia fazer alarde com a bandeira do marxismo, sem negar abertamente a idéia da ditadura do proletariado, mas tampouco sem nada fazer, absolutamente nada, por aproximar a realização desta idéia, pois esta atitude da socialdemocracia não implicava em ameaça alguma para o capitalismo. Então, naquele período, a socialdemocracia se contundia formalmente, ou quase se confundia, com o marxismo. Hoje, depois da vitoria da ditadura do proletariado, quando todos viram com clareza meridiana aonde conduz o marxismo e o que pode significar sua vitória, a socialdemocracia já não pode fazer alarde com a bandeira do marxismo, já não pode namorar com a idéia da ditadura do proletariado, sem criar um certo perigo para o capitalismo. Depois de haver rompido há muito tempo com o espírito do marxismo, viu-se obrigada a romper também com a bandeira do marxismo, lançando-se aberta e francamente contra o fruto do marxismo, contra a Revolução de Outubro, contra a primeira ditadura do proletariado que houve no mundo, sem travar uma luta revolucionária contra a burguesia mesma, sem criar as condições para a vitória da ditadura do proletariado no próprio país. Entre a socialdemocracia e ao marxismo abriu-se um abismo. Desde agora, o único portador e baluarte do marxismo é o leninismo, o comunismo.

Mas as coisas não pararam aí. Depois de deslindar os campos entre a socialdemocracia e o marxismo, a Revolução de Outubro, foi além, jogando aquela no campo dos defensores diretos do capitalismo contra a primeira ditadura proletária que houve no mundo. Quando os senhores Adler e Bauer, Wells, e Levy, Longuet e Blum denigrem o "regime soviético", exaltando a "democracia" parlamentar, querem dizer com isso que lutam e continuarão lutando a favor da restauração da ordem capitalista na URSS, a favor da manutenção da escravidão capitalista nos Estados "civilizados". O social-democratismo atual é o sustentáculo ideológico do capitalismo. Lênin tinha mil e uma vezes razão quando dizia que os atuais políticos socialdemocratas são os "verdadeiros agentes da burguesia dentro do movimento operário, os lugares-tenentes operários da classe capitalista" e que, na "guerra civil entre o proletariado e a burguesia", se colocariam inevitavelmente "ao lado dos versalheses contra os comunardos". Não se pode acabar com o capitalismo sem acabar com o social-democratismo dentro do movimento operário. Por isso, a era da agonia do capitalismo é, ao mesmo tempo, a era da morte lenta do social-democratismo dentro do movimento operário. A grande importância da Revolução de Outubro, reside, entre outras coisas, em que representa o triunfo inevitável do leninismo sobre o social-democratismo dentro do movimento operário mundial. Passou a era da dominação da Segunda Internacional e do social-democratismo dentro do movimento operário.

Começou a era da dominação do leninismo e da Terceira internacional.
(Publicado 110 jornal "Pravda", n.° 255, de 6-7 de novembro de 1927).