quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Sobre o imperialismo e a pirâmide imperialista

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Artigo para O Machete, Revista de Teoria e Política do Partido Comunista do México, escrito pela Secretária-Geral do Partido Comunista da Grécia, Aleka Papariga

Uma das questões propagadas pelo oportunismo contra o Partido é sobre a nossa avaliação (que, aliás, não é nova, sendo mencionada no programa atual e tendo sido elaborada no 15º Congresso, em 1996) de que o capitalismo grego está na fase imperialista de desenvolvimento e ocupa uma posição intermediária no sistema imperialista internacional, com uma forte dependência dos EUA e da União Europeia.
Eles atacam a posição de que a luta pela defesa das fronteiras, dos direitos soberanos da Grécia, do ponto de vista da classe trabalhadora e setores populares, está indissoluvelmente ligada à luta pela derrubada do poder do capital. O povo grego não deve defender os planos de guerra de um ou outro pólo imperialista, a rentabilidade de um ou outro grupo monopolista.
O KKE tem uma rica experiência que confirma plenamente a posição leninista sobre a relação entre o imperialismo - como a fase superior do capitalismo - e o oportunismo no movimento operário, que é um assunto que não está relacionado apenas à Grécia, mas a todos países capitalistas. Não é por acaso que a essência econômica do imperialismo, que tem o monopólio como um dos seus traços característicos, é subestimada ou deixada de lado pelos partidos comunistas que aderiram ao oportunismo, seja antes ou, especialmente, após a vitória da contra-revolução nos países socialistas.
A percepção oportunista sobre o imperialismo e a negação da existência de um sistema imperialista internacional (pirâmide imperialista)
O termo “imperialista” ficou recentemente muito em moda na Europa e na Grécia entre forças que não o utilizavam com frequência ou tão facilmente nos anos anteriores. O problema é que o imperialismo é apresentado como algo diferente e distinto do capitalismo, como um conceito político separado da base econômica, uma posição que foi fortemente respaldada pelo pai do oportunismo, Kautsky. O oportunismo é, entre outras coisas, incapaz de se modernizar; repete-se Kautsky, utilizam-se argumentos anti-científicos, centra-se deliberadamente na superfície e não na essência. Não é de seu interesse e, portanto, não pode ver o panorama inteiro da economia capitalista mundial em suas relações internacionais mútuas. Ele, que não quer entender a essência econômica do imperialismo e ver nessa base a superestrutura ideológica e política, ao final o absolve, o apóia e semeia ilusões entre as massas trabalhadores e populares de que existe capitalismo bom e mau, de que existe gestão burguesa boa e eficaz. Em última análise, o oportunismo quer uma sociedade capitalista, sem os supostos desvios, chamando de desvios as próprias leis da economia capitalista e suas conseqüências. Esconde do povo a essência de classe da guerra, criticando-a de um ponto de vista moral pelas suas trágicas consequências. Semeia a ilusão de que o capitalismo pode garantir a paz se impuser os princípios da igualdade e da liberdade, pelo entendimento político entre países capitalistas rivais, se forem colocadas regras de competição intercapitalista.
O oportunismo, o reformismo, repete com estilo inovador a percepção antiga, velha e ultrapassada de que o imperialismo se identifica com a agressão militar a um país, com a política de intervenção militar, com os bloqueios, com o esforço de reativar a velha política colonial. Na Europa, os oportunistas identificam o imperialismo com a Alemanha e com o dogmático - segundo dizem - ponto de vista liberal autoritário. A política dos EUA sob a administração de Obama é considerada progressista pelas diferenças parciais com a Alemanha sobre a gestão da crise, ou é considerada imperialista apenas em relação à América Latina. Consideram-se progressistas todas as tentativas da classe trabalhadora, por exemplo, na França ou na Itália, de confrontar o antagonismo com o capitalismo alemão. O oportunismo na Grécia tem como posição fundamental a de que o país está sob ocupação alemã, que se tornou ou está se tornando uma colônia, que está sendo saqueado pela Sra. Merkel e pelos credores. O principal inimigo, além da própria Alemanha, é a tríade dos representantes da União Europeia, Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional que supervisionam e determinam a gestão da dívida externa, interna e o déficit fiscal. Acusam a burguesia do país e os partidos governistas de traidores, antipatrióticos, subordinados e subservientes à Alemanha, aos credores e banqueiros.
Eles acusam o KKE a respeito de nossas avaliações sobre o capitalismo grego no sistema imperialista internacional, o que eles não aceitam que exista. Eles acreditam que a Grécia é um país ocupado principalmente pela Alemanha e que o regime é neocolonial.
Utilizam de maneira arbitrária a avaliação de Lenin em sua conhecida obra "Imperialismo, fase superior do capitalismo", de que um punhado, um pequeno número de Estados, saqueiam a grande maioria dos Estados do mundo. Como consequência, o imperialismo é identificado por um número muito pequeno de países, que são contados nos dedos de uma mão, enquanto todos os outros países estão subordinados, oprimidos, são colônias, países ocupados devido à subordinação à percepção liberal.
Hoje em dia há poucos países no topo, nas posições superiores do sistema imperialista internacional (que também é ilustrado pelo esquema de uma pirâmide para mostrar os diferentes níveis ocupados pelos países capitalistas). Poder-se-ia até dizer que estes são um punhado de países, segundo a expressão leninista. No entanto, isso não significa que os outros Estados capitalistas sejam vítimas de poderosos países capitalistas, que a burguesia da maioria dos países sucumbiu à pressão, apesar de seu interesse geral, que teria assim se corrompido. Isso não significa que a luta dos povos da Europa deve estar em direção anti-alemã, e nas Américas deve ser dirigida apenas contra os EUA. Não é por acaso que os oportunistas na Grécia colocam como exemplo positivo a superação da crise no Brasil e na Argentina e exaltam as políticas de Obama.
Sua insistência de que não há pirâmide imperialista, ou seja, de que não existe um sistema imperialista internacional (mas apenas um número muito pequeno de países que podem ser classificados como imperialistas sobretudo devido à sua posição hegemônica imperialista e sua capacidade de decidir lançar uma guerra local ou generalizada), não é nada acidental ou resultado de uma opinião equivocada, é consciente. Disto deriva sua disposição de assumir responsabilidades em um governo burguês para gerir a crise.
O principal é que defendem a existência de uma etapa entre o capitalismo e o socialismo com um objetivo claro. Por um lado, assegurar que a classe trabalhadora renuncie à luta pelo poder operário e, por outro lado, prometer que no futuro distante e indefinido o capitalismo se transformará, pacificamente, mediante reformas e sem sacrifícios, no seu “socialismo”, em que a propriedade capitalista vai coexistir com algumas formas de autogestão.
Cabe assinalar que quando falam de uma Grécia independente e digna que resiste à Sra. Merkel, esclarecem que o país deve permanecer na União Europeia como Estado-membro, enquanto esperam que a OTAN se autodissolva, desligando-se das dependências e compromissos político-militares que impõe.
Eles dizem que a Grécia, enquanto membro da União Europeia e da OTAN, pode recorrer a empréstimos, crédito, investimentos de outros Estados, como os EUA, Rússia e China, ao mesmo tempo em que consideram que os governos do Brasil e Argentina alcançaram a libertação de seus povos do FMI. Como se os investimentos desses Estados não se baseassem na aquisição do maior benefício possível e na utilização de força de trabalho barata, no uso a longo prazo dos recursos naturais e matérias-primas locais, até que se esgotem.
Também dizem que a restauração capitalista nos países socialistas aboliu a Guerra Fria e que o mundo ficou melhor porque tornou-se multipolar, ou seja, tem muitos centros e novas potências. No entanto, "esquecem" o fato de que estes novos "centros" e "potências" são baseados no desenvolvimento das relações capitalistas de produção, no domínio dos monopólios na economia, ou seja, trata-se de novas potências imperialistas emergentes. Concluindo, o mundo não se tornou melhor nem mais promissor – mesmo porque já não há conflito entre o imperialismo e o socialismo -, como sustentam os apologistas do capitalismo. O oportunismo justifica o seu curso decadente interpretando arbitrariamente citações de Marx e Lênin
Devido à existência e à atividade do KKE, o oportunismo, principalmente por causa de suas táticas aventureiras, surge como pretenso substituto do movimento comunista, invocando fragmentos de Lenin, e até mesmo de Marx e Engels, para acusar o nosso partido de ter abandonado o socialismo científico.
Hoje é absolutamente necessário recordar alguns elementos básicos do conceito leninista de imperialismo que tem sido confirmados, bem como destacar os desenvolvimentos que estão se acelerando e fazem ainda mais imperativo do que antes a identificação da luta antiimperialista com a luta anticapitalista. A resposta ao capitalismo não é, entre outras, o retorno impossível à época do capitalismo de livre concorrência, de empresas capitalistas dispersas, mas a afirmação da necessidade e vigência do socialismo, a aquisição de preparação em condições de situação revolucionária. Uma preparação que, é claro, não pode ser conciliada com o oportunismo na luta diária.
Mesmo se imaginarmos o inimaginável, ou seja, se fosse possível voltar ao capitalismo de livre concorrência, isso inevitavelmente produziria novamente o nascimento do monopólio. As grandes empresas carregam dentro de si a tendência de se converterem em monopólios. Marx já deixou claro que a livre concorrência cria o monopólio.
A história tem mostrado que o monopólio, como consequência da concentração de capital, como lei fundamental da fase atual do capitalismo, é uma tendência geral no mundo inteiro e pode coexistir com formas da economia e da propriedade pré-capitalistas. No final do século XIX a crise econômica acelerou a criação dos monopólios, como todas as crises econômicas cíclicas que aceleraram a concentração, a centralização e o surgimento de monopólios poderosos, a reprodução e a competição em um nível elevado. O surgimento de monopólios e seus desenvolvimentos, expansão e enraizamento não é realizado simultaneamente em todos os países, nem mesmo em países vizinhos, mas certamente ocorre da mesma forma, com a exportação de capitais que prevalece sobre a exportação de mercadorias. O surgimento e fortalecimento de monopólios, mesmo quando se limitam a certos setores a nível nacional, ao final causa a anarquia de toda a produção capitalista. Isso foi particularmente característico do século XX e ocorre até hoje em dia com o desequilíbrio de desenvolvimento entre a produção industrial e agrícola, o desequilíbrio de desenvolvimento entre setores da indústria. O desequilíbrio não tem a ver apenas com os setores de produção, mas também com o desequilíbrio na aplicação e uso da tecnologia. A política de pilhagem, de anexações, da conversão de Estados em protetorados, a política de  desmembramento de Estados, não é o resultado da imoralidade política por parte dos imperialistas poderosos, nem é uma questão de subordinação e de covardia por parte da burguesia do país que experimenta a dependência. É um assunto que tem a ver com a exportação de capitais e com a desigualdade inerente ao capitalismo em nível nacional e internacional.
A Grécia é um dos exemplos típicos que, certamente, tem um valor universal, já que o fenômeno não é meramente grego. Nosso país tem um importante potencial produtivo que, no entanto, tem sido desenvolvido de forma seletiva no curso do desenvolvimento capitalista, enquanto a incorporação do país à União Europeia e sua relação em geral com o mercado capitalista mundial levou a uma utilização ainda mais restritiva de seus recursos naturais. Em resumo, deve-se notar que a Grécia tem importantes recursos energéticos, importantes recursos minerais, produção industrial e agrícola, artesanato, ou seja, recursos que podem cobrir grande parte das necessidades do povo, tal como a necessidade de alimentação, de energia, de transportes, de construção de obras públicas, de infra-estrutura e habitação. A produção agrícola pode apoiar a indústria em diversos setores. No entanto, a Grécia, não só como resultado da crise, mas de todo o curso de sua assimilação na pirâmide imperialista, se deteriorou ainda mais; depende das importações, enquanto os produtos gregos não são vendidos e se enterram.
Trata-se de uma característica que mostra as conseqüências da propriedade capitalista e da competição capitalista, tanto a nível europeu quanto a nível mundial.
Assim como Kautsky, o oportunismo contemporâneo divide o capital em seções separadas, centrando sua crítica em uma de suas formas. Lembremos que Kautsky considera como inimigo apenas parte do capital, o capital industrial que, com sua política imperialista, lança seu ataque em primeiro lugar contra as áreas rurais, e assim se cria um desequilíbrio entre o desenvolvimento da indústria e da agricultura. Supostamente se trata de um desvio estrutural. Os oportunistas contemporâneos afirmam mais ou menos as mesmas posições, centrando sua crítica no sistema bancário, os banqueiros, o capital bancário, sem levar em conta a fusão do capital bancário com o capital industrial, ainda que se apresentem como marxistas. Os desequilíbrios que aparecem, mesmo nos países capitalistas desenvolvidos e fortes em diferentes ramos e setores, são atribuídos à irracionalidade ou a uma tendência à especulação, que eles consideram ser imoral, posto que fazem uma distinção entre a rentabilidade e a especulação.
Mas a posição de que a exportação de capitais estava orientada exclusivamente para as zonas rurais não se confirmou nem no período em que o oportunista Kautsky estava em pleno apogeu. Naquela época também a política das chamadas anexações, utilizando como alavanca o capital financeiro, afetou enormemente as áreas industriais. Se o capitalismo na sua fase imperialista apoiasse todo o potencial de desenvolvimento de todos os países, sem exceção, então não haveria esse nível de acumulação capitalista para exportar capitais e explorar as matérias-primas e a classe trabalhadora de um grande número de países, mantendo-os amarrados com uma variedade de relações de dependência e interdependência.
A invocação do patriotismo tem a finalidade de justificar a estratégia da burguesia para tomar a maior parte possível da nova distribuição em condições de rivalidade imperialista implacável.
Os oportunistas e partidos nacionalistas na Grécia estão dizendo em voz alta que a burguesia, o Estado grego e os partidos burgueses, não são patriotas, mas traidores. Na realidade, a burguesia de nosso país, assim como seus partidos, estão bem cientes do fato de que, mesmo em condições de desigualdade, é preferível aderir a uma união imperialista porque é o único modo de reivindicar uma parte do butim e esperar por apoio político-militar externo caso o sistema comece a estremecer, se a luta de classes se intensificar, prevenindo e esmagando o movimento com a ajuda dos mecanismos militares da União Europeia e da OTAN. O patriotismo da burguesia se identifica com a defesa do sistema capitalista podre.
Em condições em que as contradições inter-imperialistas e mundiais conduzam a um conflito militar, então a burguesia da Grécia terá que escolher o lado de um imperialista poderoso, ao lado de que aliança imperialista vai lutar para a redistribuição dos mercados, na esperança de tomar pelo menos uma pequena parte.
É impossível que a burguesia defenda os direitos soberanos a favor do povo; o fará apenas para seus próprios interesses. Se necessário, vai até mesmo ignorar seus interesses particulares a fim de não perder o seu poder, para mantê-lo tanto quanto possível.
A teoria a respeito de um punhado de países dominantes
Quando Lenin falava de um punhado de países que saqueiam um grande número de países, destacou, com muitos exemplos e detalhes, uma variedade de formas de pilhagem coloniais, semi-coloniais e também não-coloniais. No topo da pirâmide está um pequeno grupo de países, já que o capital financeiro (uma das cinco características básicas do capitalismo na fase imperialista, como fusão do capital bancário com o capital industrial) está estendendo seus tentáculos para todos os países mundo.
A ideia de "um punhado de países" define as diferentes formas de relações entre os países capitalistas, caracterizadas pela desigualdade. Isto é o que descreve a pirâmide para ilustrar a economia capitalista global.
Antes de tudo, Lenin deixou claro que o imperialismo é o capitalismo monopolista, é a economia capitalista mundial, é o prólogo da revolução socialista em cada país.
Lenin esclareceu as características do imperialismo: a concentração da produção e do capital, a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação da oligarquia financeira, a exportação de capitais, a criação de uniões monopolistas internacionais. Não se trata de uma política de anexações, de dependências concebidas num aspecto moral ou de um fenômeno que reflita uma certa visão política no marco do sistema político burguês, uma coisa que fazem sistematicamente os oportunistas. Conecta diretamente o imperialismo nas relações internacionais com a emergência do capital financeiro na fase imperialista do capitalismo e sua necessidade imperiosa de expandir continuamente o terreno econômico mais além das fronteiras nacionais, com o objetivo de deslocar os antagonistas. O deslocamento dos antagonistas poderia ser feito mais facilmente através da colonização, assim como através da transformação de uma colônia em um Estado politicamente independente, tirando do meio o país capitalista-metrópole, cuja posição ocuparia uma outra potência capitalista emergente através da exportações de capitais e de investimentos estrangeiros diretos. São importantes e ilustrativas as diferentes posturas da Grã-Bretanha colonialista e da Alemanha emergente como potência imperialista.
A nova divisão do mundo no final do século XIX e princípios do século XX de que falou Lenin, levou-se a cabo entre os países capitalistas mais poderosos. No entanto, no jogo de partilha, da formação da correlação negativa de forças em geral também se envolveram outros Estados capitalistas, não ficaram passivos. Os países capitalistas fortes repartiram não somente as colônias, mas também países não-coloniais, enquanto que à parte das grandes potências coloniais havia países coloniais menores, através dos quais a nova expansão colonial se iniciou. Também se mencionam Estados pequenos que mantinham colônias quando as grandes potências coloniais não logravam um acordo de partilha.
Além disso, Lenin sublinhava que a política colonial existia mesmo nas sociedades pré-capitalistas, mas o que a distingue da política colonial capitalista é que esta é baseada no monopólio. Sublinhava que a variedade de relações entre os Estados capitalistas no período do imperialismo se convertem em um sistema geral, constituem parte do conjunto das relações de partilha do mundo, tornam-se os elos da cadeia de operações do capital financeiro mundial. No período a que se refere Lenin, e ainda hoje, as relações de dependência e saques de matérias-primas também existem às expensas das não-colônias, ou seja, dos Estados com independência política.
Depois da Segunda Guerra Mundial e do estabelecimento do sistema  socialista internacional, levou-se a cabo necessariamente o máximo agrupamento do imperialismo contra as forças do socialismo-comunismo e se intensificou sua agressividade, seu expansionismo econômico, político e militar multifacetado. Sob o impacto da nova correlação de forças, rapidamente começou o desmantelamento dos impérios coloniais, do império francês e britânico. Os Estados capitalistas mais poderosos viram-se obrigados a reconhecer a independência dos Estados nacionais, sob a pressão dos movimentos de independência nacional que desfrutavam do apoio múltiplo e da solidariedade dos países socialistas, do movimento operário e comunista.
No período pós-guerra, uma série de países não se incorporaram plenamente aos organismos político-militares e econômicos do imperialismo, já que tinham a possibilidade de estabelecer relações econômicas com os países socialistas, ainda que a correlação de forças continuasse a favor do capitalismo. Volta-se a observar a variedade de relações, de interdependências, assim como de obrigações nos marcos do mercado capitalista mundial.
Na última década do século XX a situação começou a mudar como resultado de dois fatores que interagiram entre si, mas cada um com sua autonomia relativa. Os países capitalistas mais maduros e poderosos, que estão no topo da pirâmide, com um ponto de partida histórico diferente, mas com o mesmo objetivo estratégico, seguem uma política diferente em favor dos monopólios, especialmente sob o impacto da crise econômica capitalista de 1973. Em condições de crescente antagonismo e mais rápida internacionalização, a estratégia contemporânea que apoia a rentabilidade capitalista abandona as receitas neo-keynesianas que foram úteis especialmente em países que sofreram danos de guerra. Efetuam extensas privatizações, fortalecem as exportações de capitais, diminuem e gradualmente suprimem as concessões que tinha feito especialmente na área social, com objetivo de parar o movimento operário que foi influenciado pelas conquistas do socialismo, comprando uma parte da classe trabalhadora e de setores sociais médios.
Isto se demonstra também pelo fato de que a política pró-imperialista conteporânea tem um caráter mundial; não é uma forma de gestão conjuntural, mas uma opção estratégica, dado que se adotam medidas anti-populares e contrárias aos trabalhadores para contrariar a tendência decrescente da taxa de lucro em quase todos os países, não só na União Europeia, mas também fora dela, especialmente na América Latina. As medidas que estão encaminhadas para a eliminação dos ganhos trabalhistas são tomadas tanto pelos governos liberais quanto pelos social-democratas, tanto pela centro-esquerda quanto pela centro-direita.
A restauração capitalista deu ao imperialismo a oportunidade de lançar uma nova onda de ataques com menor resistência, com a ajuda do oportunismo que se havia fortalecido, enquanto novos mercados foram formados nos antigos países socialistas. Como resultado, debilitou-se a unidade entre as potências dirigentes contrárias ao socialismo, que antes colocavam em segundo plano as contradições entre si. Eclodiu uma nova onda de contradições inter-imperialistas sobre a repartição de novos mercados que resultou nas guerras nos Balcãs, Ásia, Oriente Médio e Norte da África. Nestas guerras tomaram parte também Estados que não estavam integrados nas uniões interestatais imperialistas. Isso demonstra que o sistema imperialista existe como sistema  mundial. Nele se incorporam todos os países capitalistas, mesmo aqueles que estão atrasados ou têm resíduos de formas econômicas pré-capitalistas. As potências dirigentes estão no topo, entre as quais há uma forte concorrência e os acordos estabelecidos são temporários.
Ao final do século XX havia três centros imperialistas desenvolvidos principalmente após a Primeira Guerra Mundial: a Comunidade Econômica Europeia, que mais tarde se tornou a União Europeia, os EUA e o Japão. Hoje em dia os centros imperialistas aumentaram e tem surgido novas formas de aliança, como a aliança que tem em seu núcleo a Rússia, a aliança de Shangai, a aliança do Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul (BRICS), a aliança  dos países da América Latina (Mercosul, ALBA), etc.
A política imperialista não é exercida somente pelos países capitalistas que estão na parte de cima, mas também pelos que estão nos outros níveis, inclusive pelos que tem fortes dependências das potências maiores, como potências regionais e locais. Hoje em dia, na nossa região, tal é o caso da Turquia, Israel, os Estados árabes, e tais potências através das quais o capital monopolista ocupa novo terreno e se encontra também na África, Ásia, América Latina, e como consequência disso temos o fenômeno da dependência e interdependência.
A dependência e interdependência das economias, é claro, não são iguais. Estão determinadas pela força econômica de cada país, assim como por alguns outros elementos militares e políticos, dependendo dos laços de aliança particulares.
Ainda que um ou vários países estejam no nível mais alto e sejam os líderes da internacionalização capitalista e da partilha, não deixam de estar sob um regime de interdependência com outros países. Por exemplo, na Europa, a Alemanha pode ser a potência dirigente, no entanto as exportações de capitais e bens industriais dependem da capacidade dos estados europeus absorvê-los. Já na China, devido à crise, esta possibilidade começou a se limitar e por isso os círculos dirigentes do governo, assim como setores da burguesia, sobretudo da indústria, refletem e se preocupam.
O curso da economia dos EUA depende muito da China, bem como dos interesses opostos na União Europeia; a Batalha entre dólar, euro e iene é visível.
Nas Teses do 19º Congresso destaca-se que a tendência de mudança na correlação de forças entre os Estados capitalistas se reflete também na participação dos países no fluxo de capitais na forma de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), bem como das reservas de capital em forma de IED em fluxo.
Está aumentando o número dos Estados-satélites de potências imperialistas fortes, países imperialistas regionais que cumprem um papel particular na política de alianças e de afiliação a uma ou outra potência da pirâmide. As contradições interimperialistas estão em vigor em cada forma de aliança e todas estas relações multifacetadas que abarcam todos os países capitalistas do mundo, sem exceção, constituem a pirâmide imperialista.
Nossa referência a isto não significa em absoluto que estamos de acordo com as posições sobre o “ultra-imperialismo”, como nos acusam equivocadamente. Pelo contrário! Ressaltamos sempre que no sistema imperialista, que representamos sob a forma de uma pirâmide, seguem se desenvolvendo e se manifestando fortes contradições entre os Estados imperialistas, entre os monopólios pelo controle das matérias primas, das rotas de transporte, das cotas de mercado, etc. A burguesia pede formar uma frente comum para a exploração mais eficiente dos trabalhadores, mas sempre afiará suas facas na hora de repartir o “butim” imperialista.
Ademais, é ridícula a acusação de que a referência a uma “pirâmide” é um “enfoque estruturalista” do imperialismo. Lenin, como é bem sabido, utilizou o esquema da “corrente”. O esquema que se utiliza em cada ocasião é uma maneira de ajudar os trabalhadores a compreender a realidade do imperialismo como capitalismo monopolista, como capitalismo que está podre e morre, no qual estão incorporados todos os países capitalistas, segundo sua força (econômica, política, militar, etc.). Isto está claramente em conflito com o chamado “enfoque cultural” do imperialismo que, assim como fez Kautsky, separa a política do imperialismo de sua economia. Lenin assinalava que este enfoque nos levaria à avaliação errônea de que os monopólios na economia podem coexistir na política com um tipo de atividade não monopolista, não violento, não predatório.
O desenvolvimento desigual faz-se ainda mais evidente, não só entre os países capitalistas poderosos em comparação com os mais fracos, mas também no núcleo duro dos países mais poderosos. Cabe destacar que na Europa está crescendo o fosso entre a Alemanha, por um lado, e a França e a Itália, por outro. No entanto, o fenômeno mais importante e característico é a diminuição da participação dos EUA, da UE e do Japão no PIB mundial. A zona do euro já não detém a segunda posição; caiu para terceiro, enquanto a segunda posição foi ocupada pela China. Há uma maior participação da China e da Índia no PIB mundial, enquanto a participação do Brasil, Rússia e África do Sul se mantém estável.
Com relação ao capital que constitui o estoque de IED, é notável a tendência de fortalecimento dos capitais de origem ou de destino final nas economias emergentes do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul). A China se reforça como o destino para o IED e está aumentando sua participação no estoque de IED, especialmente após a eclosão da crise capitalista de 2008. Como exportador de capitais está aumentando a sua participação nas saídas mundiais de IED que duplicaram com crises nos anos 2007-2009 e tem se mantido em um nível elevado desde então.
Por outro lado, tende a se reduzir a participação das economias capitalistas desenvolvidas com respeito à entrada e saída de capital de IED após a eclosão da crise. É claro que não perdem a sua primazia (mantendo uma distância do grupo seguinte de países) já que em meio à crise a maior parte permanece indo ou vindo dos EUA e dos países da União Europeia.
Uma tendência similar está se desenvolvendo com respeito à participação nas importações e exportações de mercadorias. A participação da China está se reforçando constantemente com relação à totalidade das exportações e importações de mercadorias, assim como no conjunto das importações. A participação correspondente da Índia está se fortalecendo, mas a um ritmo muito mais lento, enquanto que a Rússia, a Coréia do Sul e a África do Sul estão se movendo com um ritmo constantemente crescente.
Os únicos países da OCDE que superam os EUA em produtividade (volume de produção por unidade de tempo) são a Noruega, Irlanda, Luxemburgo e se aproximam Alemanha, França, Bélgica e Holanda.
Nas Teses do 19º Congresso enfatiza-se que as mudanças no equilíbrio de forças entre os Estados capitalistas aumentam a possibilidade de uma mudança geral na posição da Alemanha com relação aos temas das relações euro-atlânticas e do rearranjo do eixo imperialista. Os fatores decisivos para este desenvolvimento são, por um lado, a interdependência das economias dos EUA e da União Europeia e, por outro lado, o antagonismo entre o euro e o dólar como moeda de reserva internacional e o fortalecimento da cooperação entre a Rússia e a China.
Sobre a posição da Grécia no sistema imperialista
Aqueles que falam de subordinação e ocupação não reconhecem a exportação de capitais da Grécia (uma traço característico do capitalismo na sua fase imperialista), que foi significativa antes da crise e ainda segue sem ver diminuída em condições de crise. A exportação de capitais é realizada para investimentos produtivos em outros países e, é claro, nos bancos europeus, até que se produzam as condições para voltar a entrar no processo de garantir o máximo benefício possível. Eles enxergam a escassez de capitais em vez da superacumulação.
Eles não vêem o problema da superacumulação porque assim eles seriam forçados a admitir o caráter da crise econômica capitalista que faria voar pelos ares a sua proposta política pró-monopolista. Os partidos burgueses, bem como os oportunistas, apesar das diferenças parciais entre eles, defendem a proteção da competitividade dos monopólios nacionais que inevitavelmente trazem em primeiro plano as reestruturações reacionárias, garantem uma força de trabalho mais barata, intensificam a intimidação estatal, a repressão e o anticomunismo, ao mesmo tempo em que dirigem o foco da atenção para a expansão do capital grego na região (Balcãs, Mediterrâneo Oriental, zona do Mar Negro). Trata-se, dentre outras coisas, do ciclo vicioso que conduz a um novo e mais profundo ciclo de crise.
Lenin, em seu livro sobre o imperialismo, acrescentou que a comparação não pode ser feita entre os países capitalistas desenvolvidos e atrasados, mas entre a exportação de capitais, um assunto que os oportunistas em todos os lugares não querem e não se atrevem a reconhecer, pois este critério refuta seu ponto de vista com relação à ocupação da Grécia, a colônia grega.
Todos esses dados também confirmam que a partir deste ponto de vista, a luta contemporânea deve ter uma direção antimonopolista, anticapitalista, que em nenhum caso pode ser somente antiimperialista com o conteúdo que dão os oportunistas a este termo, que identificam o imperialismo com a política externa agressiva, com relações desiguais, com a guerra, com a chamada questão nacional, desligada de exploração de classe, das relações de propriedade e poder.
É um fato que a adesão de um país a uma aliança interestatal imperialista, e inclusive em uma forma mais avançada, como é a União Europeia, limita algumas capacidades de manobras táticas do ponto de vista da burguesia. Por exemplo, minimiza as margens e as possibilidades de manobra na política monetária uma vez que esta está sob a jurisdição do Banco Central Europeu. Mas este assunto não tem a ver somente com o período da crise, já que haviam sido firmados acordos entre Estados-membros muito antes  - 20 anos antes da eclosão da crise na zona do euro -, segundo os quais se cedem direitos nacionais-estatais coscientemente, se reconhece a primazia do direito europeu em muitos assuntos, independentemente do fato de que a zona euro e a União Europeia em geral não tenham uma forma federal. Esta tendência, precisamente, que demonstra o interesse classista da burguesia, será expressa na promoção de elementos de federalização da União Europeia se forem superados os respectivos desacordos interimperialistas.
A situação na África, em regiões da Eurásia e do Oriente Médio confirma que todos os países capitalistas estão incorporados no sistema imperialista internacional, independentemente de ter ou não a capacidade de assumir a responsabilidade para a realização de uma política expansionista. Em qualquer caso, o século XX e o século XXI mostram que mesmo os EUA, a principal potência imperialista, não conseguem lidar independentemente com os assuntos  mundiais do imperialismo se não dispuser da ajuda múltipla e do apoio de seus aliados, se não formar alianças pelo menos temporárias. A Grécia não é apenas um Estado-membro da União Europeia e da OTAN, é um país que tem uma aliança de importância estratégica para os EUA, devido a sua posição geográfica no cruzamento de três continentes: Europa, Ásia e África, sendo uma importante base militar para lançamento de ataques e de suprimentos para as operações militares, um país por onde passam dutos de petróleo e de gás natural. Ao longo do século XX e XXI, quando necessário, contribuiu com as operações de guerra e para a manutenção da paz imperialista, assim como no caso da guerra na Iugoslávia, no Afeganistão, Iraque e Líbia, atuando com forças militares, mostrando também sua disposição na guerra contra a Síria.
Portanto, a posição do KKE de que a Grécia pertence ao sistema imperialista, que está organicamente integrada e que desempenha um papel ativo na guerra como aliado dos atores principais, está completamente justificada. Trata-se de uma decisão que leva em conta os interesses da burguesia que, de fato, chamou duas vezes o imperialismo britânico e norte-americano para esmagar o povo armado com forças militares, armas e operações militares.
Os oportunistas contemporâneos, quando querem destacar a necessidade de que sua burguesia não seja o "primo pobre" em termos de partilha de mercados, recordam-se da questão nacional, mas quando se trata do assunto da luta pelo socialismo, logo declaram que ou o socialismo será mundial ou que não pode ser realizado num só país. Renunciam à luta em âmbito nacional, ou seja, rejeitam a necessidade de agudizar a luta de classes, a necessidade de preparar o fator subjetivo em condições de situação revolucionária.
A luta pela libertação do homem de toda  forma de exploração, a luta contra a guerra imperialista, não pode obter um desenvolvimento positivo se não for combinada com a luta contra o oportunismo. Independentemente da força política do oportunismo em cada país, este não deve ser subestimado ou  julgado com critérios parlamentares, posto que a raíz do oportunismo se encontra no próprio sistema imperialista, porque a burguesia quando se dá conta que não pode gerir os seus negócios com estabilidade, apóia-se no oportunismo como uma visão generalizada, como um partido político, a fim de ganhar tempo para reagrupar o sistema político burguês, minando o crescimento contínuo do movimento operário revolucionário. A concentração de forças, a aliança da classe operária com os setores populares pobres dos trabalhadores autônomos objetivamente deve se desenvolver em uma direção firmemente antimonopolista e anticapitalista, deve dirigir-se à conquista do poder operário. A direção antimonopolista e anticapitalista expressa o compromisso necessário, porém avançado, entre o interesse da classe operária de eliminar toda forma de propriedade capitalista – grande, média e pequena – e as camadas que são oscilantes devido à sua natureza (por sua posição na economia capitalista), que têm interesse na abolição dos monopólios, na socialização dos meios de produção concentrados, ao mesmo tempo em que estão imbuídas da ilusão de que têm interesse na pequena propriedade privada. Não podem entender que seus interesses a longo e médio prazo só podem ser atendidos pelo poder socialista. A ilusão de que qualquer outro compromisso pode ter êxito em condições de capitalismo monopolista, ou seja, na fase imperialista do capitalismo, é prejudicial, utópico, ineficiente.
O KKE, em condições em que não há uma situação revolucionária, tem como meta não apenas prevenir o curso descendente, não apenas obter conquistas temporárias, mas sobretudo preparar o fator subjetivo, ou seja, o partido da classe operária e seus aliados, para levar a cabo suas tarefas estratégicas em condições de situação revolucionária. Nestas situações, que não podem ser preditas de antemão - há de se levar em conta o aprofundamento da crise econômica, a agudização das contradições interimperialistas que chegam até o ponto de conflitos militares -,  é possível que se criem as condições prévias e seus desdobramentos na Grécia. Nas condições da situação revolucionária, o papel da preparação organizativa e política da vanguarda do movimento operário, do Partido Comunista, é decisivo para o agrupamento e orientação revolucionária da maioria da classe operária, especialmente do proletariado industrial, para atrair os setores dirigentes das camadas populares. 
Tradução: PCB (Partido Comunista Brasileiro)

domingo, 22 de setembro de 2013

50.000 operários marcham em Bangladesh por melhores condições de trabalho no sector Têxtil.

50.000 marcham em Bangladesh por melhores condições de trabalho no sector têxtil

Em Bangladesh, dezenas de milhares de trabalhadores têxteis saíram às ruas sábado em Dhaka, a capital, para exigir melhores condições de trabalho e um aumento no setor de salário mínimo.
Segundo a mídia local, cerca de 50 mil manifestantes participaram do protesto para exigir um aumento salarial de 5.000 taka (70 dólares). A mobilização, que durou quatro horas, é considerada a maior marcha da história da cidade capital.
Os trabalhadores também bloquearam as entradas para Daca e danificou dezenas de fábricas têxteis, localizados nas proximidades da mesma cidade que estão desempregados.
"Somos contra a parede, porque não temos escolha a não ser para levantar a nossa voz ... Não poupamos esforços para torná-lo sobre a nossa demanda", disse o presidente da Federação Têxtil Sommilito, Nazma Akter.
Cerca de quatro milhões de pessoas que trabalham nesse setor, em Bangladesh, um país que está em segundo a maior do mundo em termos de exportação de produtos têxteis e da indústria integra 80 por cento do seu produto interno bruto (PIB).
Atualmente, o governo está negociando com os proprietários de fábricas têxteis para aumentar o salário mínimo, mas eles se recusam a fazer o pedido, com o argumento de que os comerciantes estrangeiros, principalmente grandes empresas ocidentais querem comprar produtos baratos.

Desindustrialização, desemprego e pobreza assombram a Itália


Desindustrialização, desemprego e pobreza assombram a Itália

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Para os operários da Firem de Modena, da Dometic de Forli, da Hydronic-Lift de Milão, e de outras vinte e duas pequenas fábricas metalúrgicas espalhadas no norte da Itália, o fim das férias do verão revelou uma trágica realidade: os patrões, na calada da noite, mandaram desmontar os equipamentos para encaixotá-los com destino à China, Polônia, Sérvia, Eslovênia, Marrocos e Vietnã. Países onde o custo da mão-de-obra é quatro vezes menor que a italiana.
A maior parte das fábricas italianas que optaram por volatilizar seus equipamentos é filial de multinacionais européias que estão à beira da falência. 
Pobreza absoluta e relativa
Vigonovo – pequena cidade da região Veneto, com apenas 10.078 moradores (3.875 famílias) –, decidiu aliviar a pobreza absoluta na sua cidade, informando os gerentes de supermercados e de lojas de alimentação que a prefeitura de Vigonovo pagaria os alimentos roubados pelos velhos, os jovens e os estrangeiros que os furtavam por não terem nada a comer. A iniciativa do prefeito Zecchinato escandalizou grande parte da mídia, que o chamou de "oportunista alpinista midiático", mas conseguiu, finalmente, visualizar uma faceta da crise socioeconômica que hoje – mesmo se o governo tenta dissimular – apresenta sinais evidentes do prisma da fome na Itália.
Segundo as estatísticas do ISTAT (Sistema Estatístico Nacional), em janeiro de 2013, a Itália tinha uma população de 59.685.227 pessoas, das quais 4.300.760 (7,4%) de nacionalidade estrangeira. Dessas, hoje, 1.725.766 (6,8% das famílias) vivem em "pobreza absoluta", tendo uma renda mensal que não excede os 400,00 euros, enquanto 3.232.564 pessoas (12,7% das famílias) vivem em "pobreza relativa", desfrutando de uma renda mensal de no máximo 950 euros. Se considerarmos que o aluguer de uma casa  (cozinha, um quarto e uma sala) no subúrbio periférico de Roma ou de Milão não se encontra por menos de 400 euros; que uma passagem metro custa 1,50 euro; que um quilo de carne bovina de segunda qualidade custa 10 euros; e que a gasolina subiu até 1,95 euro o litro, é evidente que as famílias de operários ou de funcionários públicos com dois ou três filhos, mesmo com um salário de 1200 euros, vivem na "pobreza relativa", à causa do alto custo de vida que penaliza, sobretudo, os trabalhadores.
É necessário dizer que em 2003 havia poucos milhares de indivíduos considerados "indigentes". Porém, o crescimento da pobreza absoluta se deu com a subida do desemprego, que no setor privado foi violenta, sobretudo a partir de 2009. De fato, em julho de 2013 havia 22.509.000 trabalhadores com carteira assinada. Nesse período, 433.000 trabalhadores (1,9%) foram desempregados e nenhum deles foi reintegrado no trabalho fabril. Por isso, o exército dos desempregados chegou a 3.076.430 e 39,5% desse contingente é formado por jovens (homens e mulheres) entre 18 e 30 anos. Além disso, as estatísticas oficiais não avaliam mais a categoria dos chamados "desempregados crônicos", formada pelos trabalhadores ou funcionários considerados "velhos", por estarem entre os 50 e 62 anos, e aqueles que, apesar de estarem na faixa etária dos 40, não procuram mais trabalho.
Desempregados que com mais frequência buscam uma ocupação na economia ‘submersa’, para trabalharem ao lado dos imigrados estrangeiros (inclusive os clandestinos), sem nenhuma garantia contratual e com salários de no máximo 500 euros. Uma situação que testemunha de forma dramática como as leis dos mercados e a lógica política dos governos capitalistas que tornam ainda mais barbara a exploração sobre os trabalhadores,empurrando grande parte da sociedade italiana para os limites da indigência e da miséria. De fato, o que mais cresceu nos últimos três anos foi a economia submersa e a economia ilegal, ambas monitoradas pelos círculos mafiosos que, hoje, controlam a maior parte dos subúrbios e das periferias das grandes cidades italianas.
Diante desse problema, o "democrata" Giampiero D'Alia, ministro da Administração Pública, teve a brilhante idéia de "desempregar" 108.000 funcionários públicos e, consequentemente, não renovar os contratos temporários de 150.000 profissionais, que na sua maioria trabalham na saúde e na educação. Uma solução que, em Bruxelas, será ovacionada por Angela Merkel e David Cameron, mas que ampliará ainda mais o cenário da pobreza e das diferenças sociais na Itália.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

FINAL-Não é uma relíquia marxista ,mas um guia para a acção"

A educação da actividade revolucionária das massas

«A consciência da classe operária não pode ser uma verdadeira consciência política se os operários não estão habituados a reagir contra todos os casos de arbitrariedade e opressão, de violência e abusos, de toda a espécie, quaisquer que sejam as classes afectadas;» – sendo que devem reagir com uma visão socialista e não outra qualquer. «A consciência das massas operárias não pode ser uma verdadeira consciência de classe se os operários não aprenderem, com base em factos e acontecimentos políticos concretos e, além disso, necessariamente de actualidade, a observar cada uma das outras classes sociais em todas as
manifestações da sua vida intelectual, moral e política; se não aprenderem a aplicar na prática a análise materialista e a apreciação materialista de todos os aspectos da actividade e da vida de todas as classes, camadas e grupos da
população. (…) O conhecimento de si própria [da classe operária] está inseparavelmente ligado a uma clara compreensão não só dos conceitos teóricos…
ou melhor: não tanto dos conceitos teóricos, como das ideias elaboradas com base na experiência da vida política sobre as relações entre todas as classes da sociedade actual».

Esta recomendação de Lénine, de não confundir a política com a pedagogia, deve ser lembrada hoje, em particular, àqueles que repetem obstinadamente que os operários não têm compreensão, não têm consciência nem disposição para a luta, que são corruptos, devassos, aproveitadores, etc.

As «denúncias políticas que abarcam todos os aspectos da vida são uma condição indispensável e fundamental para educar a actividade revolucionária das massas».

Por isso, a nossa tarefa, a tarefa dos comunistas de hoje, é aprofundar, ampliar e intensificar as denúncias políticas e a agitação política. A nossa tarefa é dar mais daquilo que a experiência «económica» e fabril nunca ensinará aos operários, designadamente, conhecimentos políticos. Estes conhecimentos só os intelectuais socialistas podem adquirir, e é seu dever, se forem socialistas não só em palavras, fornecer este conhecimento aos operários, não só sob a forma de raciocínios,
brochuras e artigos (que frequentemente são um pouco maçudos), mas sob a forma de denúncias vivas sobre o que fazem no presente o governo e as classesdominantes em todos os aspectos da vida, sob a forma de respostas e reacções a estes actos.

As acusações de passividade e reaccionarismo dos operários não são mais do que indicadores da passividade, inacção e inconsistência dos próprios ideólogos e dirigentes que não cumprem o seu papel e limitam a sua actividade. Conclui-se pois que em vez de se queixarem da pouca actividade das massas e serem tão pouco exigentes em relação a si próprios, em relação à sua actividade, os comunistas devem antes elevar o seu papel de organizadores e revolucionários conscientes. Não é a direcção da luta económica que nos é exigida, mas a direcção da agitação política em todos os aspectos – eis o que transforma a luta profissional no movimento revolucionário de classe. É possível fazer muito mais para a luta económica se não restringirmos os nossos objectivos políticos às necessidades da luta exclusivamente económica ou exclusivamente parlamentar.

Como vemos a crítica de Lénine no livro Que Fazer? atinge de todas as formas a fuga aos verdadeiros deveres dos revolucionários: a organização e condução de uma agitação política diversificada, em que se deve ir a todas as classes da população, como teóricos, como propagandistas e como organizadores (pois «os comunistas apoiam todo o movimento revolucionário»).

E este trabalho teórico «deve orientar-se para o estudo de todas as particularidades da situação social política das diferentes classes». Disto, como salienta Lénine, ninguém deve duvidar.

Sobre os princípios organizativos     

Atrás já referimos que a estreiteza do trabalho de organização está inquestionável e inseparavelmente ligada (embora com frequência de modo inconsciente) com a restrição da teoria marxista e dos objectivos políticos dos comunistas. A inconsciência limita o nosso horizonte, incute-nos medo de nos afastarmos do carácter e nível do trabalho do partido, semi-de-massas, acessível,
habitual e tradicional.

Lénine exige a máxima consciência no trabalho organizativo, mostrando de que modo a estreiteza da concepção da luta teórica está ligada não só à estreiteza de vistas na luta política, mas também à restrição das tarefas revolucionárias. Com tal estreiteza de concepções e o culto da inconsciência «é absolutamente desnecessária uma organização centralizada (…) (que, por isso mesmo, não pode formar-se no decorrer de tal luta), uma organização que reúna num único impulso comum
todas as manifestações de oposição política de protesto e indignação, uma organização formada por revolucionários profissionais e dirigida por verdadeiros líderes políticos de todo o povo.»Tal organização não pode formar-se porque «o carácter da estrutura de qualquer instituição é determinado, natural e inevitavelmente, pelo conteúdo da actividade política dessa instituição.»

A existência de organizações cuja consciência se inclina perante a espontaneidade; «o prosternar-se perante formas de organização que surgem espontaneamente, o não ter consciência de como é estreito e primitivo o nosso trabalho de organização (…) a falta desta consciência é uma verdadeira doença do nosso movimento. Não é evidentemente uma doença própria da decadência,
mas do crescimento», considera Lénine.

Não terá o actual movimento comunista essa mesma doença? Esta conclusão impõe-se por si própria. Qual é o grau de consciência do trabalho de organização dos comunistas hoje? Não defendem por vezes alguns dirigentes partidários e organizadores atrasados formas estreitas de organização, directamente herdadas por nós do PCUS e ajustadas e adaptadas à legislação burguesa? Identificando esta doença no movimento do seu tempo, Lénine exigiu a mais intransigente luta contra toda a defesa do atraso, contra toda a legitimação da estreiteza de vistas; exigiu de cada qual que participa no trabalho prático a decisão inquebrantável de se desembaraçar desta estreiteza e do trabalho à moda antiga.

– Mas – dirão os que discordam – Lénine falava sobre o trabalho artesanal e a sua superação, enquanto nós temos um partido amadurecido, com história. – Pois aí é que está o problema – retorquimos nós. – Caminhamos por um trilho já aberto, fazemos tudo como de costume, sem pensarmos qual é a organização de que temos hoje necessidade. Aliás, Lénine entendia por trabalho artesanal uma organização insuficiente: o reduzido alcance de todo o trabalho revolucionário em geral, a falta de preparação e a falta de habilidade prática, a falta de continuidade e organização
entre determinadas frentes de trabalho, a falta de sistematização da propaganda e da agitação e, sobretudo, as tentativas de justificar esta estreiteza e erigi-la em «teoria» particular, isto é, o culto da espontaneidade. O último está de resto inseparavelmente ligado a uma concepção estreita da teoria marxista, do papel dos revolucionários e das tarefas políticas que se colocam ante eles.

Não será isto semelhante ao desejo de uma parte importante do aparelho do partido e de parte dos militantes de se agarrarem às estruturas partidárias existentes e habituais e, a partir delas, procurar uma base social e um eleitorado?

Não será isto semelhante à atitude burocrática para com a organização do partido e o seu trabalho, que continua a grassar na vida interna partidária desde o tempo do PCUS? O livro de Lénine obriga-nos a pensar nestas questões e induz-nos a reflectir sobre os resultados: «Arrastar [-se] na cauda do movimento, [é] coisa inútil no melhor dos casos e, no pior, extremamente nocivo para o movimento», avisa Lénine.

Ao resolver a primeira e mais urgente tarefa prática – criar uma organização de revolucionários –, Lénine mostrou a absurdidade e a nocividade de a misturar com a organização dos operários.

 Afirma que não pode haver movimento revolucionário sólido sem uma organização estável de dirigentes, que assegure a continuidade; que quanto mais extensa for a massa espontaneamente integrada na luta, massa queconstitui a base do movimento e que nela participa, mais premente será a necessidade de semelhante organização, e mais sólida deverá ser ela (já que será fácil aos demagogos de toda a espécie arrastar as camadas atrasadas da massa); que tal organização deve ser formada, fundamentalmente, por pessoas entregues profissionalmente às actividades revolucionárias; que a centralização das funções mais clandestinas não debilitará, antes reforçará a amplitude e o conteúdo da actividade de uma grande quantidade de outras organizações destinadas ao grande público e, por consequência, o menos regulamentadas e clandestinas possível.

Pode parecer que estas teses foram elaboradas para a Rússia autocrática e que o seu significado se limita a esse contexto. No entanto, Lénine insistiu que elas têm uma importância geral, como se constata no seu trabalho de 1919, Sobre As Tarefas da III Internacional.

 «Para vencer de facto o oportunismo(...) é preciso     

Primeiro, conduzir toda a propaganda e agitação do ponto de vista da revolução, em oposição às reformas, explicando sistematicamente às massas essa oposição, teórica e praticamente, a cada passo do trabalho parlamentar, sindical, cooperativo, etc. Em caso nenhum recusar (salvo em casos especiais, a título de excepção) a utilização do parlamentarismo e de todas as “liberdades” da
democracia burguesa, não recusar as reformas, mas encará-las apenas como resultado acessório da luta de classe revolucionária do proletariado. (…)

Segundo, deve-se combinar o trabalho legal e o ilegal. Os bolcheviques sempre o ensinaram e com particular insistência (…) Disto troçavam os heróis do oportunismo infame, exaltando fatuamente a “legalidade”, a “democracia”, a “liberdade” dos países e repúblicas da Europa Ocidental, etc. (…) 

Não há um único país no mundo, a mais avançada e a mais “livre” das repúblicas burguesas, onde
não reine o terror da burguesia, onde não esteja proibida a liberdade de agitação a favor da revolução socialista, de propaganda e de trabalho organizativo precisamente nessa direcção. Um partido que até ao presente não reconheceu isto sob a dominação da burguesia e não realiza um trabalho ilegal sistemático,mglobal, apesar de todas as leis da burguesia e dos parlamentos burgueses, é um partido de traidores e de miseráveis, que com o reconhecimento verbal da
revolução enganam o povo.

Terceiro, é necessária uma guerra constante e impiedosa para expulsar completamente do movimento operário os chefes oportunistas (…) Os partidos que em palavras são pela revolução mas na prática não realizam um trabalho constante pela influência precisamente do partido revolucionário, e só do partido revolucionário, em todas a espécie de organizações operárias de massas, são partidos de traidores.

Quarto, não se pode admitir que em palavras condenem o imperialismo, mas de facto não travem uma luta revolucionária pela libertação das colónias (e das nações dependentes) da sua própria burguesia imperialista. Isto é hipocrisia. É a política dos agentes da burguesia no movimento operário. (…)

Quinto, é uma enorme hipocrisia este fenómeno típico dos partidos (…) [oportunistas]: reconhecer em palavras a revolução e alardear perante os operários frases pomposas acerca do seu reconhecimento da revolução, mas de facto ter uma atitude puramente reformista para com os rudimentos, os germes, as manifestações de crescimento da revolução que constituem todas as acções de massas que quebram as leis burguesas, saem de toda a legalidade, por exemplo, as greves de massas, as manifestações de rua, os protestos dos soldados, os comícios entre as tropas, a difusão de panfletos nos quartéis e acampamentos, etc.


Se perguntarmos a qualquer (…) [oportunista] se o seu partido realiza esse trabalho sistemático, ele responder-vos-á ou com frases evasivas, que dissimulam a ausência desse trabalho – inexistência da organização e do aparelho necessário, incapacidade do seu partido para o realizar –, ou com declamações contra o “putschismo”, o anarquismo, etc. E é nisto que consiste a traição à classe operária (…)


Mas só hipócritas ou idiotas podem não compreender que os êxitos particularmente rápidos da revolução na Rússia estão ligados a um trabalho de muitos anos do partido revolucionário no sentido indicado, em que durante muitos anos se criou sistematicamente uma aparelho ilegal para dirigir as manifestações e as greves, para trabalhar no seio das tropas, se estudou em pormenor os meios, se redigiu literatura ilegal que fazia o balanço da experiência e educava todo o partido na ideia da necessidade da revolução, se formava os chefes das massas para semelhantes casos, etc., etc.»

Pensamos que estas teses de Lénine sobre a construção da organização de revolucionários podem também hoje servir de orientação aos comunistas. Pelo menos deve-se formar uma atitude consciente em relação a elas. Só então se poderá prosseguir na resolução das tarefas que se colocam ante o movimento operário.

Lénine, por mais de uma vez, expressou o desejo de que seria preferível ler menos os clássicos do marxismo, mas lê-los de forma mais aplicada, melhor, reflectindo mais seriamente sobre o que se lê. Não declamar simplesmente certas teses marxistas, mas saber resolver primeiro teoricamente os problemas para depois convencer a organização, o partido a as massas da justeza da decisão – eis o
que se exige de um revolucionário marxista.




segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Entrevista com o Secretário Geral do CC do PC da Grécia, Dimitris Koutsoumpas, para o jornal do PCPE sobre a situação politica na Grécia e no mundo e a luta que deve ser travada contra o oportunismo

Entrevista com o Secretário Geral do CC do KKE, Dimitris Koutsoumpas, para o jornal do PCPE

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Unidad y Lucha (jornal do PCPE – Partido Comunista dos Povos de Espanha): O 19º Congresso do KKE (Partido Comunista Grego), que o elegeu como Secretário Geral, ocorreu em abril. Quais foram as decisões fundamentais do Congresso?
Dimitris Koutsoumpas: Trata-se de um importante Congresso na história do Partido, dado que o 19º Congresso elaborou novos e atualizados Programa e Estatutos. Nestes 17 anos, a partir de 1996, quando se aprovou o anterior Programa de nosso Partido, acumulamos grande experiência das lutas e dos acontecimentos, tiramos conclusões de um profundo estudo sobre os acontecimentos relacionados com a construção e a derrota do socialismo na URSS. Trata-se de um estudo que enriqueceu a percepção do KKE sobre o socialismo. Tiramos conclusões gerais sobre questões de estratégia do KKE e do Movimento Comunista Internacional, baseados num estudo a fundo da História, de cuja discussão participou todo o Partido e a KNE (Juventude Comunista da Grécia).
Um assunto chave para um Partido Comunista é a elaboração de uma estratégia revolucionária atualizada para poder cumprir com sua missão básica que é orientar a classe trabalhadora e os setores populares pobres com competência ideológica, política e organizativa e capacidade, reunir as forças sociais para a Aliança Popular na luta que terá como objetivo e fim a conquista do poder popular, do socialismo. Os documentos do 19° Congresso respondem a esta questão crucial.
Focamos nossa atenção tanto na luta contra as consequências da crise capitalista como na luta contra a guerra imperialista e a participação, de qualquer modo, da Grécia nesta. Examinamos estes assuntos como um vínculo que pode impulsionar a organização ao reagrupamento do movimento operário em direção classista. Pretendemos construir uma Aliança Popular forte que tenha uma base social, que reúna a classe operária como vanguarda, assim como os semiproletários, camada social que vem crescendo na Grécia durante os anos da crise e que tem como renda básica o que ganha do trabalho assalariado, não da propriedade dos meios de produção, assim como os setores populares oprimidos de trabalhadores autônomos na cidade e camponeses pobres.
Consideramos que o papel dirigente do Partido, sua capacidade de se constituir na prática a vanguarda da classe trabalhadora, será obtido através da atividade do Partido com seus quadros e membros nos sindicatos, nas organizações de massas da aliança. Este papel não se dará com autoproclamação, nem com acordos políticos de cúpula. O próprio Partido o conquistará ao estar na cabeça da organização da luta, na orientação das organizações do movimento que constituirão a aliança em cada centro de trabalho, nas grandes fábricas, nos bairros operários. Ali se jogará o caminho da luta de classes e o KKE dá peso especial em sua política organizativa na construção de fortes organizações nas fábricas, na classe trabalhadora, com laços políticos com os operários, a quem não tratamos como votantes, de quem não nos aproximaremos em função do partido aos qual apoiem, mas por serem operários, trabalhadores autônomos, comerciantes, camponeses, potenciais companheiros de luta.
A grande maioria dos membros do Partido e da KNE (mais de 97%) votaram a favor das teses do Congresso, e isto mostra a determinação para superar obstáculos, atrasos, para que se cumpra o objetivo de ser um “partido que trabalha sob todas as circunstâncias”. Somos otimistas, mas com plena consciência das dificuldades.
UyL: Qual a explicação para o conceito “partido que trabalha sob todas as circunstâncias”?
DK: Significa que o Partido deve ser capaz de lutar sob quaisquer condições com a finalidade de reunir forças pela derrota revolucionária do poder burguês. Um Partido que não seja surpreendido pelos altos e baixos da luta de classes, que trabalhe diariamente para estar preparado no momento em que o curso da luta de classes coloca na agenda a questão da conquista do poder pela classe trabalhadora, em aliança com os setores populares pobres. Significa um Partido que seja capaz, combativo, que responda aos ataques do adversário, a todo tipo de mecanismo do Estado burguês. Um Partido com fortes laços com a classe operária, que faça um esforço constante na tarefa de criar fortes organizações partidárias nas grandes fábricas, nos centros de trabalho, que será a coluna vertebral de toda sua ação.
Para ser ainda mais claro, vou dar um exemplo: nos documentos do 19° Congresso opinamos que, no caso de implicação ativa mais direta numa guerra imperialista, as primeiras medidas de repressão serão tomadas contra o movimento trabalhador e popular e sua vanguarda. Em conclusão, é necessário que nosso Partido esteja em plena preparação. Além disso, qualquer que seja a forma que adote a participação da Grécia numa guerra imperialista, o KKE deve estar preparado para dirigir a organização independente da resistência trabalhadora e popular para que esta se vincule à luta pela derrota da burguesia nacional e estrangeira como invasor.
UyL: Nas últimas eleições gregas, o KKE foi criticado, não apenas na Grécia, por não participar numa coalizão com o SYRIZA. Qual é sua opinião sobre isto e o que responde aos que criticaram o KKE?
DK: Acreditamos que se pode tirar uma valiosa experiência da posição decisiva do KKE sobre este tema. Se o KKE, em junho de 2012, estivesse cooperado no governo com o SYRIZA, hoje em dia – em muito pouco tempo – teríamos decepcionado massivamente os trabalhadores, o movimento teria sofrido uma grande derrota. As grandes expectativas que, justamente, seriam fomentadas pelo povo, rapidamente seriam refutadas, dado que as chaves da economia se manteriam nas mãos dos capitalistas, dos monopólios. Por exemplo, como é possível resolver o problema do desemprego sem ter em suas mãos as fábricas, a produção industrial, etc..., para poder planificar a nível central? Como é possível desenvolver a economia sendo membro da UE, que impõe cotas, proíbe as exportações, etc?
O SYRIZA vai se transformando a um ritmo muito rápido numa socialdemocracia contemporânea. É um partido apologista da UE, da exploração capitalista em geral. Afirma que no marco do capitalismo é possível convencer os monopólios para que aceitem ir contra seus próprios interesses e redistribuir sua riqueza entre os trabalhadores. A própria experiência popular em condições de crise capitalista o desmente. A agressividade do capital, com o fim de tirar tudo dos trabalhadores, desfaz qualquer ilusão que seja fomentada pelo SYRIZA sobre supostos “capitalistas sãos que respeitarão as leis”, ou seja, que todo o arsenal antioperário já foi utilizado na Grécia nos últimos anos. O efeito do SYRIZA no seio da plutocracia grega não é casualidade. Seu “radicalismo útil”, como mencionado pelo próprio Presidente dos Industriais Gregos ao dar as boas vindas ao presidente do SYRIZA numa reunião com ele, prova que é conveniente para a burguesia na Grécia um partido que, em condições de crise, assegurará o tempo necessário de espera e um clima de consenso e de cooperação de classes, para que se aprovem outras medidas antioperárias. Por isso é infundado o “vamos todos juntos” para aliviar o povo.
Além disso, o KKE julgou negativamente tanto sua própria experiência de participação em governos burgueses no passado como a participação de outros partidos comunistas em governos burgueses, por exemplo, os Partidos Comunistas da Itália e da França nos governos de “centro-esquerda” quando a OTAN bombardeava a Iugoslávia. Também existem exemplos mais atuais, como as experiências do Chipre e do Brasil, que convencem inclusive os mais céticos de que a participação dos comunistas na gestão burguesa não pode oferecer nem sequer um alívio, porque o poder permanece nas mãos dos monopólios. Objetivamente, se dirigirá contra o povo, continuará a alternância dos governos burgueses que, no marco da economia capitalista, um é pior que o outro. O que tem que mudar é a classe no poder, não o administrador do poder dos monopólios.
UyL: Você diria que o processo de unificação do oportunismo é um fenômeno grego ou internacional?
DK: Não diria que se unifica em geral e em todos os lugares, mas se adapta às condições atuais e às necessidades da burguesia. Por exemplo, no caso do SYRIZA, a recente eliminação dos partidos integrantes e a criação de tendências num partido unificado com militantes, não como uma coalizão de partidos, como foi o SYRIZA até hoje, é uma adaptação necessária para levar a cabo de maneira mais eficaz a missão antipopular por eles assinada em nome do capital.
A crise capitalista nos recorda algumas características básicas do oportunismo. O oportunismo tem classe, raiz e base social. Nas condições de crise capitalista existe na Grécia, assim como na Espanha, uma experiência importante da pressão exercida, por exemplo, pelas forças pequeno-burguesas, pelas camadas médias que se destroem nestas conjunturas e buscam um rápido retorno a um estado anterior, às condições onde o capitalismo era capaz de fazer concessões sob a pressão exercida, em décadas anteriores, pelos países socialistas. Os chamados “movimentos dos indignados”, cujo papel revelaram tanto o KKE como o PCPE, em nossos países constituem uma expressão para distender o protesto popular, encaminhá-los por caminhos inofensivos. É possível observar experiência similar na chamada “primavera árabe”, onde o povo egípcio experimentou a alternância de diferentes administradores da burguesia, Mubarak, depois os “Irmãos Muçulmanos”, agora o exército.
Na Grécia, o KKE advertiu, a tempo, que a luta não será jogada apenas “nas ruas” sem planejamento, sem organização, sem o conteúdo correto de luta, mas nos centros de trabalho, através da organização da luta nos sindicatos, com a Aliança Popular e a participação dos próprios trabalhadores. O chamado movimento dos “indignados” “se desinflou”, porém deixou como “legado” as palavras de ordem reacionárias, geralmente contra “os partidos e os sindicatos”, que apontavam claramente contra o Partido Comunista e as forças classistas no movimento operário. Além disso, abriram caminho para o desenvolvimento de grupos e partidos nacionalistas, formações fascistas, como o Amanhecer Dourado nazista. As responsabilidades das forças oportunistas neste tema também são grandes.
Estes partidos são uma das cartas com que jogará a plutocracia para reformar o sistema político burguês. São sócios dispostos a participar de governos burgueses, que ajudarão para que o capital supere a crise capitalista da maneira menos dolorosa possível, levando o povo à quebra.
Porém, os partidos da chamada nova esquerda, que estiveram entre os primeiros que saudaram a derrocada do socialismo afirmando que isto inaugurava uma época de paz, tinham e, todavia, têm uma missão especial a que nunca renunciaram: a dissolução dos Partidos Comunistas, sua mutação, seu esfumaçamento em formações oportunistas como o SYRIZA ou “Esquerda Unida” na Espanha. Em termos de Europa, para alcançar estes objetivos, têm como ferramenta o chamado Partido da Esquerda Europeia, com a finalidade de manipular os Partidos Comunistas para que aceitem a eternidade do capitalismo e da UE como uma inevitabilidade.
Um ensinamento atual de Lenin é que a luta contra o imperialismo sem a luta incessante contra o oportunismo não tem sentido. Hoje em dia, destaca-se ainda mais a necessidade de um conflito tanto com a união interestatal imperialista na Europa, a UE, como com os partidos políticos que possuem esta mesma forma, como é o Partido da Esquerda Europeia, e, claro, destaca-se em geral a necessidade de um polo comunista a nível mundial.
UyL: Qual é sua análise da situação no Movimento Comunista Internacional?
DK: Desafortunadamente, a situação no Movimento Comunista Internacional permanece sendo ruim. Encontra-se numa profunda crise ideológica, política e organizativa que se manifesta nas posições dos Partidos Comunistas que abandonam o marxismo-leninismo, que se colocam na “cola” da socialdemocracia e, inclusive, abandonaram seus símbolos históricos, ou nas posições de outros partidos que se baseiam em elaborações antiquadas do Movimento Comunista Internacional, adotando uma etapa entre o capitalismo e o socialismo, que objetivamente conduz à participação em governos de gestão burguesa. Também conduz à aliança com forças burguesas e a confusões sobre o papel dos setores da burguesia e à incorreta distinção entre a burguesia “nacionalmente orientada” e a chamada “servil aos estrangeiros-compradores”. Vários Partidos Comunistas expressam posições similares sobre países tidos como dependentes, que são acompanhadas de declarações de “frentes pela libertação nacional”. Estas considerações interpretam erroneamente tanto o imperialismo (não como fase de desenvolvimento do capitalismo, mas apenas como “política de agressão”), como as relações desiguais entre os Estados capitalistas devido às diferenças que existem no ponto de partida histórico, no potencial de crescimento, na força econômica, política e militar de cada Estado.
Outros Partidos Comunistas invocam as particularidades nacionais para justificar sua renúncia às leis da revolução socialista, aos princípios da construção socialista em nome dos chamados “modelos nacionais” que, em essência, negam estas leis.
Um elemento e sinal da crise do Movimento Comunista Internacional é também a dificuldade de muitos Partidos Comunistas em superar ilusões sobre o chamado “mundo multipolar”, que reflete as agudas contradições e antagonismos interimperialistas, assim como o papel de organismos interestatais capitalistas como é a UE, BRICS, CELAC, ALBA, inclusive para reconhecer o elemento chave que determina a análise sobre a China, ou seja, que lá têm prevalecido as relações capitalistas de produção.
Particularmente na UE, a luta deve fortalecer-se. É preciso revelar seu caráter de organismo interestatal do capital, dar-se conta de que a política antipopular não se deve ao “neoliberalismo”, ao “capitalismo selvagem”, ao “capitalismo cassino”, mas ao próprio sistema de exploração. É preciso incriminar a estratégia do capital que busca reduzir o preço da força de trabalho e aumentar a rentabilidade dos monopólios.
O KKE trata com responsabilidade a necessidade de tomar iniciativas concretas no Movimento Comunista Internacional para abordar esta situação, para fortalecer as ferramentas e os recursos que têm a sua disposição os Partidos Comunistas que levam a cabo uma luta ideológica e política contra a ideologia burguesa e o oportunismo. A criação da Revista Comunista Internacional, com a contribuição essencial do PCPE, é um passo nesta direção.
UyL: As contradições interimperialistas estão se aprofundando. Você acredita que exista a possibilidade de uma nova guerra imperialista em curto prazo?
DK: Os acontecimentos avançam e neste momento está se preparando um novo ataque militar imperialista contra a Síria. Seus falsos pretextos já foram vistos em várias ocasiões, como no ocorrido no Iraque, Iugoslávia, Afeganistão e, mais recentemente, na Líbia. A provocação que montaram não só não é convincente, mas que supõe um grande desafio. Hoje em dia é importante que nós comunistas desempenhemos um papel principal na organização da luta para condenar a guerra imperialista, para impedir a participação do governo de cada país, para fortalecer a luta para que se fechem as bases e todo tipo de infraestrutura que são ponto de partida para os ataques militares dos EUA, da UE e da OTAN.
O papel dos governos de Obama e Hollande é particularmente instrutivo para os que se enganaram pelas ilusões semeadas pelas forças oportunistas na Grécia. Rapidamente demonstrou-se que “a pomba da paz”, como o SYRIZA chamava o prêmio Nobel, Obama, e o “vento da mudança” de Hollande eram falcões que, para servir de qualquer maneira aos benefícios dos monopólios, massacram os povos. Faz-se mais que evidente a relação capitalismo-crise-guerra.
Também destaca a necessidade de superar as lógicas pacifistas que estão contra a guerra em geral, não especificamente contras as guerras imperialistas. Por exemplo, hoje em dia uma oposição geral às guerras sem que se relacione às causas que as engendram conduz a uma armadilha para a classe operária e os setores populares pobres na gestão da exploração, a fomentar ilusões. Porém, já temos experiência sobre a paz imperialista com pistola na cabeça como sobre a guerra imperialista. Trata-se de duas faces da mesma moeda. Nós comunistas defendemos a guerra justa da classe trabalhadora para libertar-se das cadeias das relações capitalistas de produção.
No 19° Congresso discutimos muito sobre a possibilidade de uma guerra imperialista, uma possível participação de nosso país nesta e as tarefas dos comunistas. Um assunto principal é como se garantirá a luta ideológica, política e organizativa independente da classe trabalhadora que não se alinhará atrás de uma ou outra potência imperialista, atrás de um ou outro setor da burguesia em cada país.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)